Num cenário de baixo desemprego, os salários deverão voltar a crescer no Brasil em 2023, após dois anos seguidos de queda. De acordo com a consultoria Tendências, a previsão é de uma alta de 3,9% nos ganhos neste ano, o que representa um importante sinal de recuperação do estrago provocado no mercado de trabalho durante a pandemia de covid. Em 2021 e 2022, as quedas observadas foram de 7% e 1%, respectivamente.
O crescimento dos salários é observado em praticamente todos os locais do País. No segundo trimestre do ano, houve melhora em 24 Estados e no Distrito Federal na comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com o mapeamento baseado nos dados da Tendências. Apenas o Acre teve uma pequena queda e o Rio Grande do Norte, estabilidade.
A projeção para os salários tem como base o rendimento médio real habitual no trabalho principal, calculado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua trimestral. Desconsidera, portanto, as transferências do programa Bolsa Família, benefícios previdenciários e outras fontes de renda, como o seguro-desemprego. Mas esses programas e benefícios acabam tendo reflexo indireto nos salários.
De forma geral, os Estados do Nordeste e Centro-Oeste têm se destacado. A maior alta foi observada no Piauí (21%), seguida de Goiás (15%) e Pernambuco (14%). Os Estados do Centro-Oeste têm se beneficiado, sobretudo, pela alta dos salários na construção, enquanto o Nordeste apresenta uma melhora influenciada pelos reajustes do setor públicos. As duas regiões ainda se beneficiam do desempenho do comércio e do agronegócio, sobretudo na região do Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia).
“Vale pontuar que, apesar do crescimento relativamente superior no último ano, o rendimento médio do trabalho no Nordeste segue 1,5% inferior ao patamar de antes da pandemia”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.
Segundo ele, o quadro positivo para os indicadores de renda do trabalho, portanto, camufla a heterogeneidade econômica do País, marcada pela distribuição desigual dos rendimentos entre os trabalhadores. “Enquanto o salário médio do Centro-Oeste é de R$ 3.309, o do Nordeste mantém-se em R$ 1.914″, acrescenta.
De maneira geral, incluindo formais, informais, desempregados, inativos e crianças, a renda per capita familiar está no pico, mas próxima do pré-recessão brasileira em 2014 e pré-covid, em 2019, diz o diretor da FGV Social, Marcelo Neri. Ele explica que essa melhora, no entanto, não foi igual para todos. “A renda dos homens teve um avanço maior do que a das mulheres.”
Efeito da covid
A última alta dos salários ocorreu em 2020, mas os números foram influenciados pela crise sanitária. A covid retirou muitos trabalhadores informais e por conta própria do mercado de trabalho. São esses os profissionais que costumam ter uma remuneração mais baixa e, portanto, a saída deles acabou por provocar a subida da média do rendimento.
Os salários têm melhorado desde a metade do ano passado, quando o mercado de trabalho passou a observar a migração de postos informais para formais. Nos últimos meses, têm apresentado uma estabilidade, mas, mesmo assim, o ano será de melhora para os trabalhadores.
“A menor inflação e a maior geração de ocupações formais acabou revertendo a tendência de queda (dos salários) desde o segundo semestre de 2022″, afirma Assis, da Tendências.
O desempenho dos salários também tem sido ajudado pela política de valorização do mínimo nacional acima da inflação, o que não ocorreu nos últimos anos. Na passagem de 2022 para 2023, a remuneração saiu de R$ 1.212 para R$ 1.302. Em 1º de maio, o governo promoveu uma nova alta, para R$ 1.320.
“O mínimo serve como um balizador do mercado de trabalho formal e informal”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA.
Nesta segunda-feira, 28, o governo Lula sancionou o projeto que estabelece uma nova política de valorização anual do salário mínimo. A fórmula para o reajuste será a correção anual pelo Índice Nacional de Preço dos Consumidores (INPC) mais o PIB consolidado de dois anos anteriores. A regra deve elevar as despesas do governo em R$ 15,8 bilhões.