‘Se a Argentina não tem dinheiro, não deve gastar', diz economista


Para ex-secretário de Finanças do país, governo se precipitou ao procurar ajuda do Fundo Monetário Internacional

Por Luciana Dyniewicz

Secretário de Finanças da Argentina entre 2002 e 2005, o economista Guillermo Nielsen foi o responsável por renegociar, em 2005, as dívidas de seu país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em um acordo que permitiu à Argentina deixar para trás, pelo menos temporariamente, o calote de 2001. Hoje, Nielsen vê como precipitado o pedido de ajuda feito pelo presidente Mauricio Macri ao Fundo Monetário Internacional e acredita que o governo deveria lançar mão de um ajuste fiscal duro, pondo fim a atual política econômica gradualista. “É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se pode gastar”, disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.

+ Na Argentina, reformas difíceis e crise de confiança

Avaliação.Para Nielsen, faltou etapa do ajuste fiscal Foto: Reuters
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Mais de dez anos após o sr. ter negociado com o FMI, como vê o governo Macri voltando a conversar com o Fundo?

Me chama a atenção no sentido de que foi muito rápido tudo isso, de que a equipe econômica de Macri não tenha tentado solucionar o problema sozinha. Não dá para entender isso muito facilmente. + Em dificuldade, Argentina recorre ao FMI para conter disparada do dólar

De que forma o governo poderia ter solucionado o problema?

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A Argentina tem mais de US$ 55 bilhões de reservas internacionais, não é um país que está com uma crise de balança de pagamentos e que tem de pedir ajuda ao FMI.

+ Para governo brasileiro, risco de contaminação é pequeno

Então o governo errou?

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Não é que errou, mas se precipitou demais sem fazer um esforço próprio, mesmo que isso acabasse tendo de ser feito. Faltou a etapa em que o governo faz o ajuste fiscal (antes de pedir ajuda). Pode haver uma motivação política para isso. Pode ser que o governo não queira anunciar o ajuste, e, sim, colocar a culpa no FMI (por um ajuste futuro). Então o governo se apresenta como se não fosse responsável. Isso acontece porque a oposição se colocou contra o aumento das tarifas (de serviços básicos, como energia e transporte, que ainda são parcialmente subsidiados pelo governo). 

+ ‘Era urgente frear a escalada do dólar’, diz sócio de consultoria argentina

A economia da Argentina vinha crescendo. Após a desvalorização do peso nas últimas semanas, o aumento da taxa de juros e o pedido de ajuda ao FMI, o que mudará?

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Agora vamos ter mais inflação e menos crescimento. A economia argentina sofreu um ataque especulativo grande nesses dias. Mas acho que o mercado esperava das autoridades um anúncio de ajuste fiscal mais forte, não foi o que ocorreu. O governo anunciou uma redução dos gastos de US$ 3,2 bilhões, o que é insignificante. 

+ Fortalecimento do dólar pressiona economia de países emergentes

Para fazer um ajuste fiscal seria necessário abandonar a política econômica gradualista...

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Claro. O gradualismo tem de mudar. A política gradual se baseia no endividamento externo. É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se não pode gastar.+ Eurásia alerta para situação da Argentina

Esse ajuste teria um custo político muito alto, não?

Aqui, para onde quer que se vá, haverá um custo político ao país.

Secretário de Finanças da Argentina entre 2002 e 2005, o economista Guillermo Nielsen foi o responsável por renegociar, em 2005, as dívidas de seu país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em um acordo que permitiu à Argentina deixar para trás, pelo menos temporariamente, o calote de 2001. Hoje, Nielsen vê como precipitado o pedido de ajuda feito pelo presidente Mauricio Macri ao Fundo Monetário Internacional e acredita que o governo deveria lançar mão de um ajuste fiscal duro, pondo fim a atual política econômica gradualista. “É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se pode gastar”, disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.

+ Na Argentina, reformas difíceis e crise de confiança

Avaliação.Para Nielsen, faltou etapa do ajuste fiscal Foto: Reuters

Mais de dez anos após o sr. ter negociado com o FMI, como vê o governo Macri voltando a conversar com o Fundo?

Me chama a atenção no sentido de que foi muito rápido tudo isso, de que a equipe econômica de Macri não tenha tentado solucionar o problema sozinha. Não dá para entender isso muito facilmente. + Em dificuldade, Argentina recorre ao FMI para conter disparada do dólar

De que forma o governo poderia ter solucionado o problema?

A Argentina tem mais de US$ 55 bilhões de reservas internacionais, não é um país que está com uma crise de balança de pagamentos e que tem de pedir ajuda ao FMI.

+ Para governo brasileiro, risco de contaminação é pequeno

Então o governo errou?

Não é que errou, mas se precipitou demais sem fazer um esforço próprio, mesmo que isso acabasse tendo de ser feito. Faltou a etapa em que o governo faz o ajuste fiscal (antes de pedir ajuda). Pode haver uma motivação política para isso. Pode ser que o governo não queira anunciar o ajuste, e, sim, colocar a culpa no FMI (por um ajuste futuro). Então o governo se apresenta como se não fosse responsável. Isso acontece porque a oposição se colocou contra o aumento das tarifas (de serviços básicos, como energia e transporte, que ainda são parcialmente subsidiados pelo governo). 

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A economia da Argentina vinha crescendo. Após a desvalorização do peso nas últimas semanas, o aumento da taxa de juros e o pedido de ajuda ao FMI, o que mudará?

Agora vamos ter mais inflação e menos crescimento. A economia argentina sofreu um ataque especulativo grande nesses dias. Mas acho que o mercado esperava das autoridades um anúncio de ajuste fiscal mais forte, não foi o que ocorreu. O governo anunciou uma redução dos gastos de US$ 3,2 bilhões, o que é insignificante. 

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Para fazer um ajuste fiscal seria necessário abandonar a política econômica gradualista...

Claro. O gradualismo tem de mudar. A política gradual se baseia no endividamento externo. É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se não pode gastar.+ Eurásia alerta para situação da Argentina

Esse ajuste teria um custo político muito alto, não?

Aqui, para onde quer que se vá, haverá um custo político ao país.

Secretário de Finanças da Argentina entre 2002 e 2005, o economista Guillermo Nielsen foi o responsável por renegociar, em 2005, as dívidas de seu país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em um acordo que permitiu à Argentina deixar para trás, pelo menos temporariamente, o calote de 2001. Hoje, Nielsen vê como precipitado o pedido de ajuda feito pelo presidente Mauricio Macri ao Fundo Monetário Internacional e acredita que o governo deveria lançar mão de um ajuste fiscal duro, pondo fim a atual política econômica gradualista. “É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se pode gastar”, disse. A seguir, os principais trechos da entrevista.

+ Na Argentina, reformas difíceis e crise de confiança

Avaliação.Para Nielsen, faltou etapa do ajuste fiscal Foto: Reuters

Mais de dez anos após o sr. ter negociado com o FMI, como vê o governo Macri voltando a conversar com o Fundo?

Me chama a atenção no sentido de que foi muito rápido tudo isso, de que a equipe econômica de Macri não tenha tentado solucionar o problema sozinha. Não dá para entender isso muito facilmente. + Em dificuldade, Argentina recorre ao FMI para conter disparada do dólar

De que forma o governo poderia ter solucionado o problema?

A Argentina tem mais de US$ 55 bilhões de reservas internacionais, não é um país que está com uma crise de balança de pagamentos e que tem de pedir ajuda ao FMI.

+ Para governo brasileiro, risco de contaminação é pequeno

Então o governo errou?

Não é que errou, mas se precipitou demais sem fazer um esforço próprio, mesmo que isso acabasse tendo de ser feito. Faltou a etapa em que o governo faz o ajuste fiscal (antes de pedir ajuda). Pode haver uma motivação política para isso. Pode ser que o governo não queira anunciar o ajuste, e, sim, colocar a culpa no FMI (por um ajuste futuro). Então o governo se apresenta como se não fosse responsável. Isso acontece porque a oposição se colocou contra o aumento das tarifas (de serviços básicos, como energia e transporte, que ainda são parcialmente subsidiados pelo governo). 

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A economia da Argentina vinha crescendo. Após a desvalorização do peso nas últimas semanas, o aumento da taxa de juros e o pedido de ajuda ao FMI, o que mudará?

Agora vamos ter mais inflação e menos crescimento. A economia argentina sofreu um ataque especulativo grande nesses dias. Mas acho que o mercado esperava das autoridades um anúncio de ajuste fiscal mais forte, não foi o que ocorreu. O governo anunciou uma redução dos gastos de US$ 3,2 bilhões, o que é insignificante. 

+ Fortalecimento do dólar pressiona economia de países emergentes

Para fazer um ajuste fiscal seria necessário abandonar a política econômica gradualista...

Claro. O gradualismo tem de mudar. A política gradual se baseia no endividamento externo. É preciso fazer um ajuste. Se não tem dinheiro, não se não pode gastar.+ Eurásia alerta para situação da Argentina

Esse ajuste teria um custo político muito alto, não?

Aqui, para onde quer que se vá, haverá um custo político ao país.

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