BRASÍLIA - Os novos seguros cambiais voltados a investidores da “agenda verde” - que deverão contar com garantias do Tesouro Nacional, via BNDES, e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - poderão custar caro ao governo. É o que alerta o CEO da Bradesco Asset e ex-secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, em entrevista ao Estadão.
“Acho ruim. É um subsídio, né? Qualquer investidor internacional, que entra em qualquer lugar, tem como principal risco o câmbio. Em um país emergente, com câmbio muito volátil, como é o caso do Brasil, isso se acentua. Agora, até que ponto a gente está disposto a pagar para diminuir esse risco?”, questiona Funchal. “Precisa ver quanto custa, eu acho que pode ser caro”, diz.
Para Funchal, que hoje comanda a terceira maior gestora de recursos do País, com R$ 655,9 bilhões, esse é um risco que o dono do capital deveria tomar. “Investidor, para botar dinheiro em qualquer investimento no Brasil, seja ativo real ou financeiro, vai encarar a variação cambial na data que entra e que sai”, afirma. Ele avalia, porém, que se trata de uma decisão política: “Tem que ponderar custos e benefícios”.
Fontes da equipe econômica apontam que o Fundo Clima, gerido pelo BNDES, e recursos do BID deverão ser usados como garantia a esses novos seguros cambiais - como forma de estimular a oferta desses produtos, por meio de bancos privados, e atrair investimento estrangeiro ao novo Plano de Transformação Ecológica, encampado pelo governo.
A engenharia financeira, segundo interlocutores, será similar à que foi empregada no Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), só que voltada exclusivamente a investidores da agenda verde.
No caso do Pronampe, o Fundo Garantidor de Operações (FGO), atrelado ao Banco do Brasil, financia o risco dos empréstimos concedidos a pequenos empresários e empreendedores. Também é o FGO que garante as operações do Desenrola, programa de negociação de dívidas criado pelo governo Lula e que foi prorrogado até março.
Já no caso dos seguros cambiais, a garantia seria via Fundo Clima e BID, fazendo com que as instituições privadas dividissem com o governo o risco das operações.
Plano de Transformação Ecológica
Hoje, investidores estrangeiros que queiram investir no Brasil só encontram proteção contra a volatilidade do dólar para um período médio de até dois anos. Acima desse prazo, o produto acaba ficando muito caro e praticamente inacessível, alegam interlocutores da equipe econômica.
O governo ainda estuda uma forma de criar uma triagem para os projetos que poderão ter acesso a esse tipo de seguro com garantia do governo. Esse filtro, apurou o Estadão, poderá ser feito pelo próprio BNDES, uma vez que a instituição já tem a expertise de análise de investimentos de longo prazo.
Poderiam ser atendidos, por exemplo, projetos ligados a hidrogênio verde, bateria de lítio, bioinsumos e investimentos estruturantes para reciclagem de materiais.