Selic maior em setembro? Crescem apostas do mercado no aumento e alta de 0,5 ponto entra no radar


Indicadores recentes que mostram atividade econômica aquecida e declarações de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto levam instituições a mudarem cenário para os rumos da Selic

Por Daniel Tozzi Mendes, Gabriela Jucá e Anna Scabello
Atualização:

Após os últimos indicadores mostrarem uma economia aquecida e inflação se afastando do centro da meta perseguida pelo Banco Central (de 3% ao ano), cresce no mercado a expectativa de que a taxa de juros no País possa ser elevada já na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Levantamento feito pelo Projeções Broadcast com 61 instituições financeiras aponta que 25 delas (ou 42%) esperam um aumento da Selic em setembro. No levantamento anterior, feito em 6 de agosto, apenas uma de 45 instituições ouvidas esperava alta já no próximo mês.

Além disso, chama a atenção o fato de que, dessas 25 instituições que esperam alta em setembro, cinco projetam um aumento de 0,5 ponto porcentual, o que levaria a taxa de juros dos atuais 10,5% para 11% ao ano — as outras 20 projetam aumento de 0,25 ponto porcentual. As outras 36 instituições ouvidas acreditam, no entanto, que a taxa de juros não sofrerá modificação este ano.

Sede do BC em Brasília: próxima reunião do Copom será em setembro Foto: Dida Sampaio/Estadão
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Outra mudança apontada no levantamento é em relação à taxa de juros no final do próximo ano. Na pesquisa anterior, a mediana das respostas mostrava uma Selic de 9,5% em dezembro de 2025. Agora, esse número subiu para 10%.

A mudança no humor do mercado em relação aos juros vem após declarações em tom mais duro, ao longo da última semana, de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo (apontado no mercado como o provável substituto de Campos Neto a partir de 2025). Indicadores como o IBC-Br (dado do BC que mede o nível de atividade econômica), que veio mais forte que o esperado pelo mercado, e o relatório Focus, que mostra uma expectativa de inflação mais alta, reforçaram esse novo cenário.

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Aperto monetário

Instituições como a XP Investimentos, BTG Pactual, Banco ABC Brasil, Banco BV e Banco Master estão entre a que anteveem a retomada do ciclo de aperto monetário já a partir da reunião de setembro do Copom. Além dos indicativos nas falas dos membros do comitê, economistas dessas casas apontam que os dados mais fortes do que o esperado da atividade doméstica no segundo trimestre endossaram a avaliação de necessidade de elevação do juro, em um ambiente já deteriorado pelas expectativas de inflação desancoradas e a pressão no câmbio.

“O que realmente nos fez mudar o cenário-base para a taxa Selic foi a recente comunicação dos membros do Copom”, resumiu o time de economistas da XP em relatório divulgado na segunda-feira, 19. A corretora espera alta de 0,25 ponto no juro em setembro, seguida, nas reuniões seguintes, de duas elevações de 0,50 ponto e uma última de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 12% no início do próximo ano e ficando nesse nível até o final de 2025.

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A XP considera que os dados robustos na atividade econômica e no mercado de trabalho e a manutenção das expectativas de inflação descoladas do centro da meta, de 3%, são “evidências de que a política monetária não está suficientemente restritiva” e seriam suficientes para uma reação do Banco Central.

O diagnóstico é corroborado pelo economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, que também passou a esperar a retomada do aperto monetário em setembro. “O principal driver foram falas mais cautelosas de Galípolo, referendadas depois pelo próprio Campos Neto, de que a alta dos juros está na mesa do Copom”, considera.

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Xavier também relembra declarações do diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, que durante evento organizado pelo Broadcast na última terça-feira, 13, reforçou que o papel do Copom é reancorar expectativas e que há uma visão da necessidade de consenso dentro do colegiado. “As mensagens têm sido claras de que o BC está desconfortável com esse 0,20 ponto de desvio da meta no cenário alternativo”, observa Xavier, em alusão à projeção do colegiado de IPCA em 3,2% no fim do primeiro trimestre de 2026 caso a Selic fique estacionada no atual nível por todo o horizonte relevante (o cenário levado em conta pelo BC).

Na avaliação de Xavier, um “orçamento” de 0,75 ponto de elevação na Selic até o final do ano seria suficiente para conter esse desvio. “No final do segundo trimestre de 2025 já vemos espaço para o Copom ‘mudar o sinal’ e passar a cortar juro”, diz o economista, ponderando que isso também depende do ganho de credibilidade do BC após a troca de presidente da autarquia.

Cenário mais benigno

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Para 36 de 61 instituições consultadas, porém, o cenário deve ser de Selic inalterada ao menos até o final do ano. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, reconhece que há um risco de alta, mas avalia que o cenário econômico está mais benigno em comparação ao exposto na última ata do Copom. “O cenário não deteriorou e não vemos deteriorando para justificar essa alta”, afirma.

Ela destaca que hoje há uma menor pressão na taxa de câmbio — que está mais próximo de R$ 5,40 — em relação ao Copom de julho, quando a taxa de referência era de R$ 5,55. Além disso, detalha, os últimos dados de inflação e atividade nos Estados Unidos corroboram um cenário de desaceleração da economia americana e confirmam a expectativa de redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Traz uma menor aversão a risco e favorece os mercados emergentes”, frisa.

Em âmbito doméstico, a economista não vê uma deterioração ainda mais expressiva das expectativas de inflação. De acordo com edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, exemplifica, a expectativa de inflação para 2025 caiu de 3,97% para 3,91%. “Isso já é um sinal positivo e mostra que a Selic já está em um patamar suficientemente restritivo”, afirma.

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Vitória acrescenta ainda que o dissenso na reunião de maio do Copom, junto às críticas mais duras do governo à política monetária, geraram um receio de possível interferência política no Banco Central. Depois desses episódios, ela avalia que a autarquia deve continuar a reforçar a credibilidade. “Não precisa reforçar subindo os juros, mas o discurso duro deve continuar.”

Após os últimos indicadores mostrarem uma economia aquecida e inflação se afastando do centro da meta perseguida pelo Banco Central (de 3% ao ano), cresce no mercado a expectativa de que a taxa de juros no País possa ser elevada já na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Levantamento feito pelo Projeções Broadcast com 61 instituições financeiras aponta que 25 delas (ou 42%) esperam um aumento da Selic em setembro. No levantamento anterior, feito em 6 de agosto, apenas uma de 45 instituições ouvidas esperava alta já no próximo mês.

Além disso, chama a atenção o fato de que, dessas 25 instituições que esperam alta em setembro, cinco projetam um aumento de 0,5 ponto porcentual, o que levaria a taxa de juros dos atuais 10,5% para 11% ao ano — as outras 20 projetam aumento de 0,25 ponto porcentual. As outras 36 instituições ouvidas acreditam, no entanto, que a taxa de juros não sofrerá modificação este ano.

Sede do BC em Brasília: próxima reunião do Copom será em setembro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Outra mudança apontada no levantamento é em relação à taxa de juros no final do próximo ano. Na pesquisa anterior, a mediana das respostas mostrava uma Selic de 9,5% em dezembro de 2025. Agora, esse número subiu para 10%.

A mudança no humor do mercado em relação aos juros vem após declarações em tom mais duro, ao longo da última semana, de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo (apontado no mercado como o provável substituto de Campos Neto a partir de 2025). Indicadores como o IBC-Br (dado do BC que mede o nível de atividade econômica), que veio mais forte que o esperado pelo mercado, e o relatório Focus, que mostra uma expectativa de inflação mais alta, reforçaram esse novo cenário.

Aperto monetário

Instituições como a XP Investimentos, BTG Pactual, Banco ABC Brasil, Banco BV e Banco Master estão entre a que anteveem a retomada do ciclo de aperto monetário já a partir da reunião de setembro do Copom. Além dos indicativos nas falas dos membros do comitê, economistas dessas casas apontam que os dados mais fortes do que o esperado da atividade doméstica no segundo trimestre endossaram a avaliação de necessidade de elevação do juro, em um ambiente já deteriorado pelas expectativas de inflação desancoradas e a pressão no câmbio.

“O que realmente nos fez mudar o cenário-base para a taxa Selic foi a recente comunicação dos membros do Copom”, resumiu o time de economistas da XP em relatório divulgado na segunda-feira, 19. A corretora espera alta de 0,25 ponto no juro em setembro, seguida, nas reuniões seguintes, de duas elevações de 0,50 ponto e uma última de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 12% no início do próximo ano e ficando nesse nível até o final de 2025.

A XP considera que os dados robustos na atividade econômica e no mercado de trabalho e a manutenção das expectativas de inflação descoladas do centro da meta, de 3%, são “evidências de que a política monetária não está suficientemente restritiva” e seriam suficientes para uma reação do Banco Central.

O diagnóstico é corroborado pelo economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, que também passou a esperar a retomada do aperto monetário em setembro. “O principal driver foram falas mais cautelosas de Galípolo, referendadas depois pelo próprio Campos Neto, de que a alta dos juros está na mesa do Copom”, considera.

Xavier também relembra declarações do diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, que durante evento organizado pelo Broadcast na última terça-feira, 13, reforçou que o papel do Copom é reancorar expectativas e que há uma visão da necessidade de consenso dentro do colegiado. “As mensagens têm sido claras de que o BC está desconfortável com esse 0,20 ponto de desvio da meta no cenário alternativo”, observa Xavier, em alusão à projeção do colegiado de IPCA em 3,2% no fim do primeiro trimestre de 2026 caso a Selic fique estacionada no atual nível por todo o horizonte relevante (o cenário levado em conta pelo BC).

Na avaliação de Xavier, um “orçamento” de 0,75 ponto de elevação na Selic até o final do ano seria suficiente para conter esse desvio. “No final do segundo trimestre de 2025 já vemos espaço para o Copom ‘mudar o sinal’ e passar a cortar juro”, diz o economista, ponderando que isso também depende do ganho de credibilidade do BC após a troca de presidente da autarquia.

Cenário mais benigno

Para 36 de 61 instituições consultadas, porém, o cenário deve ser de Selic inalterada ao menos até o final do ano. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, reconhece que há um risco de alta, mas avalia que o cenário econômico está mais benigno em comparação ao exposto na última ata do Copom. “O cenário não deteriorou e não vemos deteriorando para justificar essa alta”, afirma.

Ela destaca que hoje há uma menor pressão na taxa de câmbio — que está mais próximo de R$ 5,40 — em relação ao Copom de julho, quando a taxa de referência era de R$ 5,55. Além disso, detalha, os últimos dados de inflação e atividade nos Estados Unidos corroboram um cenário de desaceleração da economia americana e confirmam a expectativa de redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Traz uma menor aversão a risco e favorece os mercados emergentes”, frisa.

Em âmbito doméstico, a economista não vê uma deterioração ainda mais expressiva das expectativas de inflação. De acordo com edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, exemplifica, a expectativa de inflação para 2025 caiu de 3,97% para 3,91%. “Isso já é um sinal positivo e mostra que a Selic já está em um patamar suficientemente restritivo”, afirma.

Vitória acrescenta ainda que o dissenso na reunião de maio do Copom, junto às críticas mais duras do governo à política monetária, geraram um receio de possível interferência política no Banco Central. Depois desses episódios, ela avalia que a autarquia deve continuar a reforçar a credibilidade. “Não precisa reforçar subindo os juros, mas o discurso duro deve continuar.”

Após os últimos indicadores mostrarem uma economia aquecida e inflação se afastando do centro da meta perseguida pelo Banco Central (de 3% ao ano), cresce no mercado a expectativa de que a taxa de juros no País possa ser elevada já na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Levantamento feito pelo Projeções Broadcast com 61 instituições financeiras aponta que 25 delas (ou 42%) esperam um aumento da Selic em setembro. No levantamento anterior, feito em 6 de agosto, apenas uma de 45 instituições ouvidas esperava alta já no próximo mês.

Além disso, chama a atenção o fato de que, dessas 25 instituições que esperam alta em setembro, cinco projetam um aumento de 0,5 ponto porcentual, o que levaria a taxa de juros dos atuais 10,5% para 11% ao ano — as outras 20 projetam aumento de 0,25 ponto porcentual. As outras 36 instituições ouvidas acreditam, no entanto, que a taxa de juros não sofrerá modificação este ano.

Sede do BC em Brasília: próxima reunião do Copom será em setembro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Outra mudança apontada no levantamento é em relação à taxa de juros no final do próximo ano. Na pesquisa anterior, a mediana das respostas mostrava uma Selic de 9,5% em dezembro de 2025. Agora, esse número subiu para 10%.

A mudança no humor do mercado em relação aos juros vem após declarações em tom mais duro, ao longo da última semana, de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo (apontado no mercado como o provável substituto de Campos Neto a partir de 2025). Indicadores como o IBC-Br (dado do BC que mede o nível de atividade econômica), que veio mais forte que o esperado pelo mercado, e o relatório Focus, que mostra uma expectativa de inflação mais alta, reforçaram esse novo cenário.

Aperto monetário

Instituições como a XP Investimentos, BTG Pactual, Banco ABC Brasil, Banco BV e Banco Master estão entre a que anteveem a retomada do ciclo de aperto monetário já a partir da reunião de setembro do Copom. Além dos indicativos nas falas dos membros do comitê, economistas dessas casas apontam que os dados mais fortes do que o esperado da atividade doméstica no segundo trimestre endossaram a avaliação de necessidade de elevação do juro, em um ambiente já deteriorado pelas expectativas de inflação desancoradas e a pressão no câmbio.

“O que realmente nos fez mudar o cenário-base para a taxa Selic foi a recente comunicação dos membros do Copom”, resumiu o time de economistas da XP em relatório divulgado na segunda-feira, 19. A corretora espera alta de 0,25 ponto no juro em setembro, seguida, nas reuniões seguintes, de duas elevações de 0,50 ponto e uma última de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 12% no início do próximo ano e ficando nesse nível até o final de 2025.

A XP considera que os dados robustos na atividade econômica e no mercado de trabalho e a manutenção das expectativas de inflação descoladas do centro da meta, de 3%, são “evidências de que a política monetária não está suficientemente restritiva” e seriam suficientes para uma reação do Banco Central.

O diagnóstico é corroborado pelo economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, que também passou a esperar a retomada do aperto monetário em setembro. “O principal driver foram falas mais cautelosas de Galípolo, referendadas depois pelo próprio Campos Neto, de que a alta dos juros está na mesa do Copom”, considera.

Xavier também relembra declarações do diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, que durante evento organizado pelo Broadcast na última terça-feira, 13, reforçou que o papel do Copom é reancorar expectativas e que há uma visão da necessidade de consenso dentro do colegiado. “As mensagens têm sido claras de que o BC está desconfortável com esse 0,20 ponto de desvio da meta no cenário alternativo”, observa Xavier, em alusão à projeção do colegiado de IPCA em 3,2% no fim do primeiro trimestre de 2026 caso a Selic fique estacionada no atual nível por todo o horizonte relevante (o cenário levado em conta pelo BC).

Na avaliação de Xavier, um “orçamento” de 0,75 ponto de elevação na Selic até o final do ano seria suficiente para conter esse desvio. “No final do segundo trimestre de 2025 já vemos espaço para o Copom ‘mudar o sinal’ e passar a cortar juro”, diz o economista, ponderando que isso também depende do ganho de credibilidade do BC após a troca de presidente da autarquia.

Cenário mais benigno

Para 36 de 61 instituições consultadas, porém, o cenário deve ser de Selic inalterada ao menos até o final do ano. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, reconhece que há um risco de alta, mas avalia que o cenário econômico está mais benigno em comparação ao exposto na última ata do Copom. “O cenário não deteriorou e não vemos deteriorando para justificar essa alta”, afirma.

Ela destaca que hoje há uma menor pressão na taxa de câmbio — que está mais próximo de R$ 5,40 — em relação ao Copom de julho, quando a taxa de referência era de R$ 5,55. Além disso, detalha, os últimos dados de inflação e atividade nos Estados Unidos corroboram um cenário de desaceleração da economia americana e confirmam a expectativa de redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Traz uma menor aversão a risco e favorece os mercados emergentes”, frisa.

Em âmbito doméstico, a economista não vê uma deterioração ainda mais expressiva das expectativas de inflação. De acordo com edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, exemplifica, a expectativa de inflação para 2025 caiu de 3,97% para 3,91%. “Isso já é um sinal positivo e mostra que a Selic já está em um patamar suficientemente restritivo”, afirma.

Vitória acrescenta ainda que o dissenso na reunião de maio do Copom, junto às críticas mais duras do governo à política monetária, geraram um receio de possível interferência política no Banco Central. Depois desses episódios, ela avalia que a autarquia deve continuar a reforçar a credibilidade. “Não precisa reforçar subindo os juros, mas o discurso duro deve continuar.”

Após os últimos indicadores mostrarem uma economia aquecida e inflação se afastando do centro da meta perseguida pelo Banco Central (de 3% ao ano), cresce no mercado a expectativa de que a taxa de juros no País possa ser elevada já na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Levantamento feito pelo Projeções Broadcast com 61 instituições financeiras aponta que 25 delas (ou 42%) esperam um aumento da Selic em setembro. No levantamento anterior, feito em 6 de agosto, apenas uma de 45 instituições ouvidas esperava alta já no próximo mês.

Além disso, chama a atenção o fato de que, dessas 25 instituições que esperam alta em setembro, cinco projetam um aumento de 0,5 ponto porcentual, o que levaria a taxa de juros dos atuais 10,5% para 11% ao ano — as outras 20 projetam aumento de 0,25 ponto porcentual. As outras 36 instituições ouvidas acreditam, no entanto, que a taxa de juros não sofrerá modificação este ano.

Sede do BC em Brasília: próxima reunião do Copom será em setembro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Outra mudança apontada no levantamento é em relação à taxa de juros no final do próximo ano. Na pesquisa anterior, a mediana das respostas mostrava uma Selic de 9,5% em dezembro de 2025. Agora, esse número subiu para 10%.

A mudança no humor do mercado em relação aos juros vem após declarações em tom mais duro, ao longo da última semana, de Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, e do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo (apontado no mercado como o provável substituto de Campos Neto a partir de 2025). Indicadores como o IBC-Br (dado do BC que mede o nível de atividade econômica), que veio mais forte que o esperado pelo mercado, e o relatório Focus, que mostra uma expectativa de inflação mais alta, reforçaram esse novo cenário.

Aperto monetário

Instituições como a XP Investimentos, BTG Pactual, Banco ABC Brasil, Banco BV e Banco Master estão entre a que anteveem a retomada do ciclo de aperto monetário já a partir da reunião de setembro do Copom. Além dos indicativos nas falas dos membros do comitê, economistas dessas casas apontam que os dados mais fortes do que o esperado da atividade doméstica no segundo trimestre endossaram a avaliação de necessidade de elevação do juro, em um ambiente já deteriorado pelas expectativas de inflação desancoradas e a pressão no câmbio.

“O que realmente nos fez mudar o cenário-base para a taxa Selic foi a recente comunicação dos membros do Copom”, resumiu o time de economistas da XP em relatório divulgado na segunda-feira, 19. A corretora espera alta de 0,25 ponto no juro em setembro, seguida, nas reuniões seguintes, de duas elevações de 0,50 ponto e uma última de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 12% no início do próximo ano e ficando nesse nível até o final de 2025.

A XP considera que os dados robustos na atividade econômica e no mercado de trabalho e a manutenção das expectativas de inflação descoladas do centro da meta, de 3%, são “evidências de que a política monetária não está suficientemente restritiva” e seriam suficientes para uma reação do Banco Central.

O diagnóstico é corroborado pelo economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, que também passou a esperar a retomada do aperto monetário em setembro. “O principal driver foram falas mais cautelosas de Galípolo, referendadas depois pelo próprio Campos Neto, de que a alta dos juros está na mesa do Copom”, considera.

Xavier também relembra declarações do diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, que durante evento organizado pelo Broadcast na última terça-feira, 13, reforçou que o papel do Copom é reancorar expectativas e que há uma visão da necessidade de consenso dentro do colegiado. “As mensagens têm sido claras de que o BC está desconfortável com esse 0,20 ponto de desvio da meta no cenário alternativo”, observa Xavier, em alusão à projeção do colegiado de IPCA em 3,2% no fim do primeiro trimestre de 2026 caso a Selic fique estacionada no atual nível por todo o horizonte relevante (o cenário levado em conta pelo BC).

Na avaliação de Xavier, um “orçamento” de 0,75 ponto de elevação na Selic até o final do ano seria suficiente para conter esse desvio. “No final do segundo trimestre de 2025 já vemos espaço para o Copom ‘mudar o sinal’ e passar a cortar juro”, diz o economista, ponderando que isso também depende do ganho de credibilidade do BC após a troca de presidente da autarquia.

Cenário mais benigno

Para 36 de 61 instituições consultadas, porém, o cenário deve ser de Selic inalterada ao menos até o final do ano. A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, reconhece que há um risco de alta, mas avalia que o cenário econômico está mais benigno em comparação ao exposto na última ata do Copom. “O cenário não deteriorou e não vemos deteriorando para justificar essa alta”, afirma.

Ela destaca que hoje há uma menor pressão na taxa de câmbio — que está mais próximo de R$ 5,40 — em relação ao Copom de julho, quando a taxa de referência era de R$ 5,55. Além disso, detalha, os últimos dados de inflação e atividade nos Estados Unidos corroboram um cenário de desaceleração da economia americana e confirmam a expectativa de redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Traz uma menor aversão a risco e favorece os mercados emergentes”, frisa.

Em âmbito doméstico, a economista não vê uma deterioração ainda mais expressiva das expectativas de inflação. De acordo com edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, exemplifica, a expectativa de inflação para 2025 caiu de 3,97% para 3,91%. “Isso já é um sinal positivo e mostra que a Selic já está em um patamar suficientemente restritivo”, afirma.

Vitória acrescenta ainda que o dissenso na reunião de maio do Copom, junto às críticas mais duras do governo à política monetária, geraram um receio de possível interferência política no Banco Central. Depois desses episódios, ela avalia que a autarquia deve continuar a reforçar a credibilidade. “Não precisa reforçar subindo os juros, mas o discurso duro deve continuar.”

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