A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 14, trouxe de forma clara a preocupação com a trajetória da inflação no Brasil. E, para analistas, deixou a porta aberta para um movimento que não estava no radar de ninguém até agora: o fim imediato do ciclo de cortes na Selic.
“A ata do Copom veio bastante dura e, a nosso ver, abriu a porta para o fim do ciclo de flexibilização”, diz, em relatório, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita. Por ora, no entanto, o banco ainda vê o Copom reduzindo o juro básico em 0,25 ponto na próxima reunião, em junho, com a Selic indo a 10,25%, “seguido por uma pausa prolongada”.
O Banco Inter também trabalha, neste momento, com mais uma queda de 0,25 ponto na reunião de junho. Mas a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitória, não descarta que, a depender da conjuntura, o BC opte por parar de cortar o juro já no próximo encontro.
Na avaliação da economista, a ata deixou claro que os próximos passos do comitê estão em aberto e que ainda não há consenso entre os membros do colegiado sobre qual será o nível da taxa Selic ao final do atual ciclo de cortes. “O tamanho da restrição monetária suficiente para a reancoragem de expectativas ainda é a principal dúvida”, avalia.
Alguns analistas, porém, já trabalham com uma taxa final da Selic de 10,5% ao ano - que é o patamar atual. É o caso do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. Ele avalia que a perspectiva de um novo corte de juros vai contra o rigor da ata divulgada nesta terça-feira. O cenário base da corretora incorporou a reunião de maio como o fim do ciclo de afrouxamento monetário, com a Selic permancendo em 10,5% este ano.
Ele pondera, no entanto, que a taxa de juros pode sofrer algum ajuste marginal. “Falamos de um final de ciclo que deve passar por um ajuste fino, mas frente à rigidez que foi colocada para a inflação na ata, nos parece que o BC deve interromper esse ciclo de baixa”, afirma.
Sanchez avalia ainda que não está descartada a possibilidade de um novo dissenso no próximo encontro do Copom - na última reunião, cinco diretores votaram por um corte de 0,25 ponto, enquanto outros quatro defenderam uma redução de 0,5 ponto porcentual. “Isso pode continuar, com parte votando pela interrupção do ciclo e outros por novos ajustes marginais”, salienta.
Ele destaca o cenário de um ambiente internacional mais pressionado, inflação de serviços resiliente e represamento de preços administrados como fatores para as expectativas de alta para a inflação de 2025. Ele projeta alta de 4,2% para o IPCA em 2025.
Deterioração do cenário
A equipe de macroeconomia da XP Investimentos também já coloca no seu cenário a possibilidade de fim do ciclo de redução da Selic. “Usando um modelo similar ao do Copom, nossos cálculos sugerem que a taxa Selic em ou acima da nossa projeção de 10% seria necessária para trazer a projeção de inflação de 2025 para a meta”, dizem os economistas, em relatório. “Especialmente porque vemos a expectativa de mercado de 2025 subindo ainda mais nas próximas semanas.”
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A XP destaca que, no parágrafo 19 da ata, o Copom afirmou que “todos os membros” veem a necessidade de uma política monetária restritiva e cautelosa e concordam que nenhuma orientação futura para a próxima reunião deve ser fornecida.
A corretora ainda aponta que, na sequência, o colegiado avaliou que a Selic terminal será “aquela que consolide não apenas o processo de desinflação”, e acrescentou a frase: “como também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas”.
Para Alvaro Frasson, economista do BTG Pactual, a ata foi muito clara em apontar como o cenário se deteriorou desde o encontro anterior do colegiado. Ele destaca que, desta vez, houve por parte do comitê muito mais preocupação com o cenário doméstico do que com o cenário internacional, com citações à política fiscal e suas implicações para a política monetária e ao mercado de trabalho bastante apertado. “Devido a esse mercado de trabalho, o próprio BC citou uma possível revisão metodológica para o cálculo do hiato do produto”, disse.
Com isso, o economista avalia que o cenário-base do BTG hoje, de Selic em 10% ao final do atual ciclo de afrouxamento, com mais duas reduções de 0,25 ponto no juro básico, é “otimista” e que “o ambiente está mais difícil para corte de juro”.