Sem Angra 3, conta sobe para a União e a Eletrobras, diz o presidente da Eletronuclear


Situação da empresa piora se a nova usina não for concluída, diz Raul Lycurgo, que lista uma série de medidas de austeridade desde que assumiu o posto, em dezembro de 2023

Por Denise Luna
Atualização:

RIO - O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, diz confiar no perfil desenvolvimentista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ver a usina nuclear Angra 3 ser concluída. Enquanto aguarda o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) bater o martelo sobre o projeto de R$ 23 bilhões, em reunião prevista para o dia 18, e sem querer se envolver nas desavenças entre a União e a Eletrobras, controladoras da empresa, o executivo se concentra em equilibrar as contas para pelo menos sustentar a operação e a segurança das duas usinas existentes.

Desde que chegou à Eletronuclear, em dezembro de 2023, Lycurgo vem adotando medidas de austeridade. O Plano de Demissão Voluntária (PDV) lançado no ano passado, visando ao desligamento de 489 profissionais, só atraiu 133. Sem poder fazer um novo PDV — que precisa ser autorizado pelo sindicato da categoria, que se recusou —, a solução será a demissão direta, que deve envolver de 80 a 90 trabalhadores já aposentados e que não aderiram ao PDV.

Além disso, um Plano de Demissão Incentivada (PDI), que abrange todos os empregados, começa a ser gestado na companhia.

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“Moral da história, o PDV me deu uma economia de R$ 90 milhões (por ano), mas eu tenho de fazer mais e partir para o desligamento daqueles que já estão aposentados. Óbvio que com critério. Ninguém vai ser desligado desde que tenha ligação com segurança na usina, que tenha atividade de operação na usina”, frisou Lycurgo.

Foto da obra de Angra 3 em 2015; usina ainda não foi concluída
Foto da obra de Angra 3 em 2015; usina ainda não foi concluída Foto: Fabio Motta/Estadão

Privatização

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O desequilíbrio econômico da Eletronuclear, agravado pela privatização da Eletrobras, que suspendeu os aportes milionários anuais da União, é na maior parte causado pelo quadro inchado da estatal e gastos com material e serviços (PMSO). Para se ter uma ideia, Lycurgo explica que uma usina nuclear, em média, possui 600 empregados por gigawatt (GW).

“Como eu tenho 2 GW (Angra 1 e 2), eu teria de ter 1,2 mil empregados e tenho 3,6 mil, sendo 2 mil empregados próprios e 1,6 mil terceirizados. Em 2021, por conta de Angra 3, que nem existe, foi realizado um concurso público que trouxe mais 400 empregados, um absurdo”, explicou. “Outro exemplo de economia é o serviço de manutenção de Angra 2, que em 2023 custou 240 mil horas extras, em 2024 foi realizada com 40 mil horas extras, só com gestão.”

Outra medida será acabar com um benefício que também não é visto em nenhuma usina nuclear do mundo, destacou Lycurgo, que são as 1,2 mil casas de empregados em Angra dos Reis pagos pela Eletronuclear.

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“Lugar nenhum no mundo tem isso. A única que tem próximo a isso é uma usina nos Emirados Árabes, porque ela fica, obviamente, afastada, e os operadores trabalham em um regime como se fosse uma plataforma de petróleo”, informou o executivo, que também cortou viagens. “Eram mais de três mil viagens de carro por mês entre Rio e Angra.”

Também os 500 empregados lotados no escritório da empresa no Rio de Janeiro, uma distância de três horas de Angra dos Reis, serão reduzidos ao mínimo, e os demais terão que ir para a localização das usinas, ou cerca de 450 pessoas.

Equilíbrio

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Todas essas ações têm por objetivo equilibrar as contas da Eletronuclear, que gasta R$ 1 bilhão por ano para manter os equipamentos de Angra 3, usina que, se a conclusão for aprovada, deve começar a operar em 2031.

“Em 2022 (ano da privatização da Eletrobras), a luz laranja já acendeu, deveria ter sido feito um ajuste. O que a Eletrobras estava gastando com o pessoal, com o material, com o serviço e outros, já estava R$ 500 milhões descasado da tarifa. Significa que não tem cobertura tarifária”, explicou Lycurgo, ressaltando que o aporte de R$ 3,5 bilhões na empresa, feito na época da privatização da Eletrobras foi utilizado na aceleração do caminho crítico de Angra 3, ou seja, a parte de engenharia civil do projeto.

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De acordo com as regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os gastos da Eletronuclear com PMSO (Pessoal, material, serviços e outros) em 2022 deveriam ser de R$ 1,1 bilhão e estava em R$ 1,6 bilhão. Em 2023, a Aneel continuou com R$ 1,1 bilhão e o PMSO da empresa subiu para R$ 1,78 bilhão.

“Ou seja, em 2022 estava 45% acima da cobertura tarifária, e em 2023 foi para 61% essa diferença. Eu ia ter R$ 500 milhões de ‘gap’ (diferença) em 2022, R$ 700 milhões em ‘gap’ em 2023 e, se eu tudo desse, ‘entre aspas’, certo no orçamento de 2024, eu teria um ‘gap’ de R$ 1 bilhão em 2024. Essa foi a realidade que eu encontrei quando cheguei. Tanto é, que no dia 17 de janeiro de 2024, eu puxei o freio de mão e automaticamente pedi o quê? O ‘waiver’ (renegociação de dívida) do BNDES”, destacou.

Atualmente, a dívida da Eletronuclear é de mais de R$ 7 bilhões, e as medidas de austeridade têm por objetivo obter uma economia de pelo menos R$ 500 milhões. Mas, se Angra 3 não for construída, a situação piora. “A Eletronuclear não vai ter os R$ 14 bilhões para colocar. Esse é o problema. Vai subir para os acionistas”, disse Lycurgo, referindo-se ao custo estimado para abandonar a construção da usina nuclear Angra 3.

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“Eu estou muito confiante porque os números estão aí postos. O presidente Lula é um desenvolvimentista por natureza. Nós estamos falando num investimento de R$ 23 bilhões que vai ser pago gerando energia. Uma usina que vai operar por 50, 100 anos, vai ser paga nos próximos 20 anos, com o recurso da energia produzida, sendo que os R$ 14 bilhões (para desmontar) teria de ser (desembolsado) no curtíssimo prazo”, concluiu.

RIO - O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, diz confiar no perfil desenvolvimentista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ver a usina nuclear Angra 3 ser concluída. Enquanto aguarda o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) bater o martelo sobre o projeto de R$ 23 bilhões, em reunião prevista para o dia 18, e sem querer se envolver nas desavenças entre a União e a Eletrobras, controladoras da empresa, o executivo se concentra em equilibrar as contas para pelo menos sustentar a operação e a segurança das duas usinas existentes.

Desde que chegou à Eletronuclear, em dezembro de 2023, Lycurgo vem adotando medidas de austeridade. O Plano de Demissão Voluntária (PDV) lançado no ano passado, visando ao desligamento de 489 profissionais, só atraiu 133. Sem poder fazer um novo PDV — que precisa ser autorizado pelo sindicato da categoria, que se recusou —, a solução será a demissão direta, que deve envolver de 80 a 90 trabalhadores já aposentados e que não aderiram ao PDV.

Além disso, um Plano de Demissão Incentivada (PDI), que abrange todos os empregados, começa a ser gestado na companhia.

“Moral da história, o PDV me deu uma economia de R$ 90 milhões (por ano), mas eu tenho de fazer mais e partir para o desligamento daqueles que já estão aposentados. Óbvio que com critério. Ninguém vai ser desligado desde que tenha ligação com segurança na usina, que tenha atividade de operação na usina”, frisou Lycurgo.

Foto da obra de Angra 3 em 2015; usina ainda não foi concluída Foto: Fabio Motta/Estadão

Privatização

O desequilíbrio econômico da Eletronuclear, agravado pela privatização da Eletrobras, que suspendeu os aportes milionários anuais da União, é na maior parte causado pelo quadro inchado da estatal e gastos com material e serviços (PMSO). Para se ter uma ideia, Lycurgo explica que uma usina nuclear, em média, possui 600 empregados por gigawatt (GW).

“Como eu tenho 2 GW (Angra 1 e 2), eu teria de ter 1,2 mil empregados e tenho 3,6 mil, sendo 2 mil empregados próprios e 1,6 mil terceirizados. Em 2021, por conta de Angra 3, que nem existe, foi realizado um concurso público que trouxe mais 400 empregados, um absurdo”, explicou. “Outro exemplo de economia é o serviço de manutenção de Angra 2, que em 2023 custou 240 mil horas extras, em 2024 foi realizada com 40 mil horas extras, só com gestão.”

Outra medida será acabar com um benefício que também não é visto em nenhuma usina nuclear do mundo, destacou Lycurgo, que são as 1,2 mil casas de empregados em Angra dos Reis pagos pela Eletronuclear.

“Lugar nenhum no mundo tem isso. A única que tem próximo a isso é uma usina nos Emirados Árabes, porque ela fica, obviamente, afastada, e os operadores trabalham em um regime como se fosse uma plataforma de petróleo”, informou o executivo, que também cortou viagens. “Eram mais de três mil viagens de carro por mês entre Rio e Angra.”

Também os 500 empregados lotados no escritório da empresa no Rio de Janeiro, uma distância de três horas de Angra dos Reis, serão reduzidos ao mínimo, e os demais terão que ir para a localização das usinas, ou cerca de 450 pessoas.

Equilíbrio

Todas essas ações têm por objetivo equilibrar as contas da Eletronuclear, que gasta R$ 1 bilhão por ano para manter os equipamentos de Angra 3, usina que, se a conclusão for aprovada, deve começar a operar em 2031.

“Em 2022 (ano da privatização da Eletrobras), a luz laranja já acendeu, deveria ter sido feito um ajuste. O que a Eletrobras estava gastando com o pessoal, com o material, com o serviço e outros, já estava R$ 500 milhões descasado da tarifa. Significa que não tem cobertura tarifária”, explicou Lycurgo, ressaltando que o aporte de R$ 3,5 bilhões na empresa, feito na época da privatização da Eletrobras foi utilizado na aceleração do caminho crítico de Angra 3, ou seja, a parte de engenharia civil do projeto.

De acordo com as regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os gastos da Eletronuclear com PMSO (Pessoal, material, serviços e outros) em 2022 deveriam ser de R$ 1,1 bilhão e estava em R$ 1,6 bilhão. Em 2023, a Aneel continuou com R$ 1,1 bilhão e o PMSO da empresa subiu para R$ 1,78 bilhão.

“Ou seja, em 2022 estava 45% acima da cobertura tarifária, e em 2023 foi para 61% essa diferença. Eu ia ter R$ 500 milhões de ‘gap’ (diferença) em 2022, R$ 700 milhões em ‘gap’ em 2023 e, se eu tudo desse, ‘entre aspas’, certo no orçamento de 2024, eu teria um ‘gap’ de R$ 1 bilhão em 2024. Essa foi a realidade que eu encontrei quando cheguei. Tanto é, que no dia 17 de janeiro de 2024, eu puxei o freio de mão e automaticamente pedi o quê? O ‘waiver’ (renegociação de dívida) do BNDES”, destacou.

Atualmente, a dívida da Eletronuclear é de mais de R$ 7 bilhões, e as medidas de austeridade têm por objetivo obter uma economia de pelo menos R$ 500 milhões. Mas, se Angra 3 não for construída, a situação piora. “A Eletronuclear não vai ter os R$ 14 bilhões para colocar. Esse é o problema. Vai subir para os acionistas”, disse Lycurgo, referindo-se ao custo estimado para abandonar a construção da usina nuclear Angra 3.

“Eu estou muito confiante porque os números estão aí postos. O presidente Lula é um desenvolvimentista por natureza. Nós estamos falando num investimento de R$ 23 bilhões que vai ser pago gerando energia. Uma usina que vai operar por 50, 100 anos, vai ser paga nos próximos 20 anos, com o recurso da energia produzida, sendo que os R$ 14 bilhões (para desmontar) teria de ser (desembolsado) no curtíssimo prazo”, concluiu.

RIO - O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, diz confiar no perfil desenvolvimentista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ver a usina nuclear Angra 3 ser concluída. Enquanto aguarda o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) bater o martelo sobre o projeto de R$ 23 bilhões, em reunião prevista para o dia 18, e sem querer se envolver nas desavenças entre a União e a Eletrobras, controladoras da empresa, o executivo se concentra em equilibrar as contas para pelo menos sustentar a operação e a segurança das duas usinas existentes.

Desde que chegou à Eletronuclear, em dezembro de 2023, Lycurgo vem adotando medidas de austeridade. O Plano de Demissão Voluntária (PDV) lançado no ano passado, visando ao desligamento de 489 profissionais, só atraiu 133. Sem poder fazer um novo PDV — que precisa ser autorizado pelo sindicato da categoria, que se recusou —, a solução será a demissão direta, que deve envolver de 80 a 90 trabalhadores já aposentados e que não aderiram ao PDV.

Além disso, um Plano de Demissão Incentivada (PDI), que abrange todos os empregados, começa a ser gestado na companhia.

“Moral da história, o PDV me deu uma economia de R$ 90 milhões (por ano), mas eu tenho de fazer mais e partir para o desligamento daqueles que já estão aposentados. Óbvio que com critério. Ninguém vai ser desligado desde que tenha ligação com segurança na usina, que tenha atividade de operação na usina”, frisou Lycurgo.

Foto da obra de Angra 3 em 2015; usina ainda não foi concluída Foto: Fabio Motta/Estadão

Privatização

O desequilíbrio econômico da Eletronuclear, agravado pela privatização da Eletrobras, que suspendeu os aportes milionários anuais da União, é na maior parte causado pelo quadro inchado da estatal e gastos com material e serviços (PMSO). Para se ter uma ideia, Lycurgo explica que uma usina nuclear, em média, possui 600 empregados por gigawatt (GW).

“Como eu tenho 2 GW (Angra 1 e 2), eu teria de ter 1,2 mil empregados e tenho 3,6 mil, sendo 2 mil empregados próprios e 1,6 mil terceirizados. Em 2021, por conta de Angra 3, que nem existe, foi realizado um concurso público que trouxe mais 400 empregados, um absurdo”, explicou. “Outro exemplo de economia é o serviço de manutenção de Angra 2, que em 2023 custou 240 mil horas extras, em 2024 foi realizada com 40 mil horas extras, só com gestão.”

Outra medida será acabar com um benefício que também não é visto em nenhuma usina nuclear do mundo, destacou Lycurgo, que são as 1,2 mil casas de empregados em Angra dos Reis pagos pela Eletronuclear.

“Lugar nenhum no mundo tem isso. A única que tem próximo a isso é uma usina nos Emirados Árabes, porque ela fica, obviamente, afastada, e os operadores trabalham em um regime como se fosse uma plataforma de petróleo”, informou o executivo, que também cortou viagens. “Eram mais de três mil viagens de carro por mês entre Rio e Angra.”

Também os 500 empregados lotados no escritório da empresa no Rio de Janeiro, uma distância de três horas de Angra dos Reis, serão reduzidos ao mínimo, e os demais terão que ir para a localização das usinas, ou cerca de 450 pessoas.

Equilíbrio

Todas essas ações têm por objetivo equilibrar as contas da Eletronuclear, que gasta R$ 1 bilhão por ano para manter os equipamentos de Angra 3, usina que, se a conclusão for aprovada, deve começar a operar em 2031.

“Em 2022 (ano da privatização da Eletrobras), a luz laranja já acendeu, deveria ter sido feito um ajuste. O que a Eletrobras estava gastando com o pessoal, com o material, com o serviço e outros, já estava R$ 500 milhões descasado da tarifa. Significa que não tem cobertura tarifária”, explicou Lycurgo, ressaltando que o aporte de R$ 3,5 bilhões na empresa, feito na época da privatização da Eletrobras foi utilizado na aceleração do caminho crítico de Angra 3, ou seja, a parte de engenharia civil do projeto.

De acordo com as regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os gastos da Eletronuclear com PMSO (Pessoal, material, serviços e outros) em 2022 deveriam ser de R$ 1,1 bilhão e estava em R$ 1,6 bilhão. Em 2023, a Aneel continuou com R$ 1,1 bilhão e o PMSO da empresa subiu para R$ 1,78 bilhão.

“Ou seja, em 2022 estava 45% acima da cobertura tarifária, e em 2023 foi para 61% essa diferença. Eu ia ter R$ 500 milhões de ‘gap’ (diferença) em 2022, R$ 700 milhões em ‘gap’ em 2023 e, se eu tudo desse, ‘entre aspas’, certo no orçamento de 2024, eu teria um ‘gap’ de R$ 1 bilhão em 2024. Essa foi a realidade que eu encontrei quando cheguei. Tanto é, que no dia 17 de janeiro de 2024, eu puxei o freio de mão e automaticamente pedi o quê? O ‘waiver’ (renegociação de dívida) do BNDES”, destacou.

Atualmente, a dívida da Eletronuclear é de mais de R$ 7 bilhões, e as medidas de austeridade têm por objetivo obter uma economia de pelo menos R$ 500 milhões. Mas, se Angra 3 não for construída, a situação piora. “A Eletronuclear não vai ter os R$ 14 bilhões para colocar. Esse é o problema. Vai subir para os acionistas”, disse Lycurgo, referindo-se ao custo estimado para abandonar a construção da usina nuclear Angra 3.

“Eu estou muito confiante porque os números estão aí postos. O presidente Lula é um desenvolvimentista por natureza. Nós estamos falando num investimento de R$ 23 bilhões que vai ser pago gerando energia. Uma usina que vai operar por 50, 100 anos, vai ser paga nos próximos 20 anos, com o recurso da energia produzida, sendo que os R$ 14 bilhões (para desmontar) teria de ser (desembolsado) no curtíssimo prazo”, concluiu.