Pressão política e desequilíbrio fiscal dificultam trabalho do BC, dizem economistas da FGV


Sem espaço para reduzir a taxa básica de juros, atualmente em 13,75%, tendência é de baixo crescimento, mas pressões inflacionárias continuam, segundo participantes de seminário organizado em parceria com o ‘Estadão’

Por Vinicius Neder

RIO – A condução da política monetária brasileira pelo Banco Central (BC) seguirá desafiadora em 2023. Os motivos são o cenário internacional de juros elevados e baixo crescimento, as incertezas sobre os desequilíbrios nas contas do governo e as pressões políticas sobre a autoridade monetária, em discursos e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros. A avaliação é de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que participaram nesta quinta-feira, 9, do 1º Seminário de Análise Conjuntural, organizado em parceria com o Estadão, em formato virtual.

Segundo José Júlio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários (CEM) do FGV Ibre, o cenário externo aponta para a necessidade de um ciclo mais forte de elevação dos juros americanos, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que diminuirá o espaço para o BC do Brasil reduzir a taxa básica Selic (hoje em 13,75% ao ano).

No quadro doméstico, com a inflação pressionada e as expectativas de inflação em elevação, não há espaço para o BC reduzir juros por aqui. “Não parece que haja muita coisa que o BC possa fazer. O certo é que ele não vai afrouxar a política monetária sem uma justificativa muito boa”, afirmou Senna, em palestra no seminário.

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Pesquisadores da FGV participam de seminário on-line organizado em parceria com o Estadão Foto: Reprodução/Estadão

Na visão de Senna, diante de sinalizações da equipe econômica do governo federal, principalmente no sentido de buscar aumentos da arrecadação tributária, o BC poderá até fazer ajustes em seu “balanço de riscos”, citadas em seus comunicados, mas não há atalhos para reduzir os juros.

“Nada substitui um ajuste fiscal robusto, que significa levar ao extremo a coordenação de políticas e o ajuste é no fiscal”, disse o diretor do CEM.

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Ajuste nas contas

O problema é que há pouco otimismo com a possibilidade de o atual governo federal caminhar no sentido de um ajuste, cujas esperanças estão depositadas no novo arcabouço de regras fiscais, que está para ser anunciado pelo Ministério da Fazenda. Para Armando Castelar, também pesquisador do FGV Ibre, a proposta da equipe econômica deverá ser “mais uma promessa” do que propriamente “algo que amarre os gastos”.

“Na ausência de alguma coisa que segure o gasto, governo está tentando aumentar arrecadação tributária”, afirmou Castelar, também participante do seminário on-line.

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Com isso, as expectativas de inflação seguem subindo. Castelar citou as cotações dos títulos da dívida pública, que apontariam inflação implícita de 6,3%, “muito longe da meta” de inflação, que é de 3,25% para este ano – a inflação implícita é calculada conforme as taxas de juros dos títulos públicos negociados no mercado; quando os investidores veem incertezas no horizonte, tendem a desvalorizar as cotações dos títulos, o que eleva as taxas, aumentando a inflação implícita.

“O mercado está dizendo que não acredita que a inflação vai cair nem pra baixo do teto da meta. Esse é o desafio do BC”, afirmou o pesquisador.

Para piorar, Castelar acha que a pressão política sobre o BC, com líderes do governo criticando o nível atual da taxa básica de juros, poderá surtir efeito e levar a um afrouxamento da política monetária fora de hora, desde que “a economia desacelere o suficiente”. Como o atual governo poderá indicar um novo presidente do BC no fim de 2024, as pressões políticas poderão aumentar ainda mais, reduzindo a capacidade da autoridade monetária de manter a inflação sob controle.

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“Aí, caminhamos para um cenário de inflação mais alta, um cenário mais de ‘estagflação’”, afirmou Castelar.

Menos pessimista, Senna acha que alguma pressão política sobre o BC poderá funcionar, mas seus efeitos ficariam restritos a ajustes no “balanço de riscos” citado em suas comunicações. Um afrouxamento da política monetária, com baixa na taxa de juros, dependeria “de dados mais concretos” sobre alívios nas pressões inflacionárias.

O problema, segundo a economista Silvia Matos, também pesquisadora do FGV Ibre, é que esses sinais de alívio na inflação estão longe de aparecer. Ela lembrou que, ao longo do ano passado, com a “reabertura da economia”, a inflação de serviços acelerou. E a dinâmica de preços de serviços é mais “difícil de ser combatida”. Segundo Matos, no fim do ano passado, os dados do mercado de trabalho no Brasil mostraram “aceleração forte de salários”, o que serve de combustível para a inflação de serviços, já que o aumento da renda tende a ampliar a demanda, pressionando por mais reajustes nos preços.

RIO – A condução da política monetária brasileira pelo Banco Central (BC) seguirá desafiadora em 2023. Os motivos são o cenário internacional de juros elevados e baixo crescimento, as incertezas sobre os desequilíbrios nas contas do governo e as pressões políticas sobre a autoridade monetária, em discursos e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros. A avaliação é de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que participaram nesta quinta-feira, 9, do 1º Seminário de Análise Conjuntural, organizado em parceria com o Estadão, em formato virtual.

Segundo José Júlio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários (CEM) do FGV Ibre, o cenário externo aponta para a necessidade de um ciclo mais forte de elevação dos juros americanos, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que diminuirá o espaço para o BC do Brasil reduzir a taxa básica Selic (hoje em 13,75% ao ano).

No quadro doméstico, com a inflação pressionada e as expectativas de inflação em elevação, não há espaço para o BC reduzir juros por aqui. “Não parece que haja muita coisa que o BC possa fazer. O certo é que ele não vai afrouxar a política monetária sem uma justificativa muito boa”, afirmou Senna, em palestra no seminário.

Pesquisadores da FGV participam de seminário on-line organizado em parceria com o Estadão Foto: Reprodução/Estadão

Na visão de Senna, diante de sinalizações da equipe econômica do governo federal, principalmente no sentido de buscar aumentos da arrecadação tributária, o BC poderá até fazer ajustes em seu “balanço de riscos”, citadas em seus comunicados, mas não há atalhos para reduzir os juros.

“Nada substitui um ajuste fiscal robusto, que significa levar ao extremo a coordenação de políticas e o ajuste é no fiscal”, disse o diretor do CEM.

Ajuste nas contas

O problema é que há pouco otimismo com a possibilidade de o atual governo federal caminhar no sentido de um ajuste, cujas esperanças estão depositadas no novo arcabouço de regras fiscais, que está para ser anunciado pelo Ministério da Fazenda. Para Armando Castelar, também pesquisador do FGV Ibre, a proposta da equipe econômica deverá ser “mais uma promessa” do que propriamente “algo que amarre os gastos”.

“Na ausência de alguma coisa que segure o gasto, governo está tentando aumentar arrecadação tributária”, afirmou Castelar, também participante do seminário on-line.

Com isso, as expectativas de inflação seguem subindo. Castelar citou as cotações dos títulos da dívida pública, que apontariam inflação implícita de 6,3%, “muito longe da meta” de inflação, que é de 3,25% para este ano – a inflação implícita é calculada conforme as taxas de juros dos títulos públicos negociados no mercado; quando os investidores veem incertezas no horizonte, tendem a desvalorizar as cotações dos títulos, o que eleva as taxas, aumentando a inflação implícita.

“O mercado está dizendo que não acredita que a inflação vai cair nem pra baixo do teto da meta. Esse é o desafio do BC”, afirmou o pesquisador.

Para piorar, Castelar acha que a pressão política sobre o BC, com líderes do governo criticando o nível atual da taxa básica de juros, poderá surtir efeito e levar a um afrouxamento da política monetária fora de hora, desde que “a economia desacelere o suficiente”. Como o atual governo poderá indicar um novo presidente do BC no fim de 2024, as pressões políticas poderão aumentar ainda mais, reduzindo a capacidade da autoridade monetária de manter a inflação sob controle.

“Aí, caminhamos para um cenário de inflação mais alta, um cenário mais de ‘estagflação’”, afirmou Castelar.

Menos pessimista, Senna acha que alguma pressão política sobre o BC poderá funcionar, mas seus efeitos ficariam restritos a ajustes no “balanço de riscos” citado em suas comunicações. Um afrouxamento da política monetária, com baixa na taxa de juros, dependeria “de dados mais concretos” sobre alívios nas pressões inflacionárias.

O problema, segundo a economista Silvia Matos, também pesquisadora do FGV Ibre, é que esses sinais de alívio na inflação estão longe de aparecer. Ela lembrou que, ao longo do ano passado, com a “reabertura da economia”, a inflação de serviços acelerou. E a dinâmica de preços de serviços é mais “difícil de ser combatida”. Segundo Matos, no fim do ano passado, os dados do mercado de trabalho no Brasil mostraram “aceleração forte de salários”, o que serve de combustível para a inflação de serviços, já que o aumento da renda tende a ampliar a demanda, pressionando por mais reajustes nos preços.

RIO – A condução da política monetária brasileira pelo Banco Central (BC) seguirá desafiadora em 2023. Os motivos são o cenário internacional de juros elevados e baixo crescimento, as incertezas sobre os desequilíbrios nas contas do governo e as pressões políticas sobre a autoridade monetária, em discursos e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros. A avaliação é de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), que participaram nesta quinta-feira, 9, do 1º Seminário de Análise Conjuntural, organizado em parceria com o Estadão, em formato virtual.

Segundo José Júlio Senna, diretor do Centro de Estudos Monetários (CEM) do FGV Ibre, o cenário externo aponta para a necessidade de um ciclo mais forte de elevação dos juros americanos, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que diminuirá o espaço para o BC do Brasil reduzir a taxa básica Selic (hoje em 13,75% ao ano).

No quadro doméstico, com a inflação pressionada e as expectativas de inflação em elevação, não há espaço para o BC reduzir juros por aqui. “Não parece que haja muita coisa que o BC possa fazer. O certo é que ele não vai afrouxar a política monetária sem uma justificativa muito boa”, afirmou Senna, em palestra no seminário.

Pesquisadores da FGV participam de seminário on-line organizado em parceria com o Estadão Foto: Reprodução/Estadão

Na visão de Senna, diante de sinalizações da equipe econômica do governo federal, principalmente no sentido de buscar aumentos da arrecadação tributária, o BC poderá até fazer ajustes em seu “balanço de riscos”, citadas em seus comunicados, mas não há atalhos para reduzir os juros.

“Nada substitui um ajuste fiscal robusto, que significa levar ao extremo a coordenação de políticas e o ajuste é no fiscal”, disse o diretor do CEM.

Ajuste nas contas

O problema é que há pouco otimismo com a possibilidade de o atual governo federal caminhar no sentido de um ajuste, cujas esperanças estão depositadas no novo arcabouço de regras fiscais, que está para ser anunciado pelo Ministério da Fazenda. Para Armando Castelar, também pesquisador do FGV Ibre, a proposta da equipe econômica deverá ser “mais uma promessa” do que propriamente “algo que amarre os gastos”.

“Na ausência de alguma coisa que segure o gasto, governo está tentando aumentar arrecadação tributária”, afirmou Castelar, também participante do seminário on-line.

Com isso, as expectativas de inflação seguem subindo. Castelar citou as cotações dos títulos da dívida pública, que apontariam inflação implícita de 6,3%, “muito longe da meta” de inflação, que é de 3,25% para este ano – a inflação implícita é calculada conforme as taxas de juros dos títulos públicos negociados no mercado; quando os investidores veem incertezas no horizonte, tendem a desvalorizar as cotações dos títulos, o que eleva as taxas, aumentando a inflação implícita.

“O mercado está dizendo que não acredita que a inflação vai cair nem pra baixo do teto da meta. Esse é o desafio do BC”, afirmou o pesquisador.

Para piorar, Castelar acha que a pressão política sobre o BC, com líderes do governo criticando o nível atual da taxa básica de juros, poderá surtir efeito e levar a um afrouxamento da política monetária fora de hora, desde que “a economia desacelere o suficiente”. Como o atual governo poderá indicar um novo presidente do BC no fim de 2024, as pressões políticas poderão aumentar ainda mais, reduzindo a capacidade da autoridade monetária de manter a inflação sob controle.

“Aí, caminhamos para um cenário de inflação mais alta, um cenário mais de ‘estagflação’”, afirmou Castelar.

Menos pessimista, Senna acha que alguma pressão política sobre o BC poderá funcionar, mas seus efeitos ficariam restritos a ajustes no “balanço de riscos” citado em suas comunicações. Um afrouxamento da política monetária, com baixa na taxa de juros, dependeria “de dados mais concretos” sobre alívios nas pressões inflacionárias.

O problema, segundo a economista Silvia Matos, também pesquisadora do FGV Ibre, é que esses sinais de alívio na inflação estão longe de aparecer. Ela lembrou que, ao longo do ano passado, com a “reabertura da economia”, a inflação de serviços acelerou. E a dinâmica de preços de serviços é mais “difícil de ser combatida”. Segundo Matos, no fim do ano passado, os dados do mercado de trabalho no Brasil mostraram “aceleração forte de salários”, o que serve de combustível para a inflação de serviços, já que o aumento da renda tende a ampliar a demanda, pressionando por mais reajustes nos preços.

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