O Senado da França está prestes a passar a impopular reforma previdenciária defendida pelo governo do presidente Nicolas Sarkozy nesta sexta-feira, enquanto vários protestos e greves ocorrem pelo país. Há problemas de falta de combustível, casos esporádicos de violência e outros protestos contra a reforma oficial, que inclui o aumento da idade mínima para a aposentadoria de 60 para 62 anos. A aprovação do texto no Senado pode ocorrer ainda no fim desta sexta-feira.
Na véspera do início das férias escolares de outono no país, a falta de combustível deve causar longas filas nos postos que ainda tem combustível. O governo afirmou, nesta sexta-feira, que não tem nenhum plano imediato para racionamento, apesar da falta do produto ocorrida em alguns pontos do país.
Uma pesquisa mostra que dois terços da população francesa apoiam a manutenção da greve contra o impopular Sarkozy. Na quinta-feira, os sindicatos sinalizaram que não pretendem reduzir a pressão sobre o governo, convocando outro dia nacional de protestos para a próxima quinta-feira e também mais manifestações em 6 de novembro.
A polícia antidistúrbio foi enviada para conter a ação de manifestantes mais violentos em Lyon, terceira maior cidade do país, informou a agência de notícias France Press. Perto de Toulouse, no sul, a polícia usou gás lacrimogêneo para conter cerca de 200 manifestantes que tentavam bloquear um depósito de combustível. O bloqueio do depósito Lespinasse, da companhia Total, durou uma hora, até que os manifestantes recuaram. Em seguida, eles fizeram um bloqueio em uma rodovia próxima, disse Gisele Vidallet, funcionária da Confederação Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical da França.
A polícia antidistúrbio continua a agir para acabar com os bloqueios apoiados pelo sindicatos. Segundo o ministro da Energia, Jean-Louis Borloo, o suprimento de combustível está melhorando, ainda que nesta sexta-feira cerca de 20% dos 12.300 postos do país permaneçam sem nenhum produto. Até 40% dos postos estavam com falta de pelo menos um combustível mais cedo nesta semana. Nesta sexta-feira, a polícia também rompeu um bloqueio na refinaria Grandpuits, que serve a região de Paris. Todas as 12 refinarias da França são afetadas pelas greves.
O primeiro-ministro François Fillon realiza nesta sexta-feira seu segundo encontro da semana com altos funcionários da indústria petrolífera francesa para discutir o problema dos gargalos do suprimento pelo país. Mais cedo nesta semana, as empresas concordaram em compartilhar seus estoques para ajudar na distribuição da gasolina e do diesel. Houve casos de motoristas que corriam para tentar garantir o produto, que tem acabado pouco após os postos serem reabastecidos.
Ironicamente, como esperado, um tribunal de recursos da França deu permissão nesta sexta-feira para que a gigante Total feche uma de suas operações de refino de petróleo em uma grande fábrica perto de Dunkirk. A empresa transformará o local em uma instalação para estocagem e pesquisa, por causa do excesso de refinarias na Europa.
O Senado da França continua a debater a reforma previdenciária. Na quinta-feira, a situação conseguiu utilizar um mecanismo para apressar o debate, o que pode resultar na votação do tema ainda nesta sexta-feira. A legislação deve então voltar para a Câmara dos Deputados, onde os conservadores governistas são maioria folgada.
A reforma pode virar lei perto do fim do mês, ainda que isso não necessariamente interrompa os protestos de sindicatos e outros grupos, que têm também trazido à tona temas como a educação e reformas portuárias. Além disso, Sarkozy planeja discutir um plano potencialmente polêmico para uma reforma fiscal em 2011, apenas um ano antes das eleições nacionais, marcadas para o meio de 2012.
Uma pesquisa da empresa de pesquisas BVA publicou nesta sexta-feira sua mais recente pesquisa, mostrando que o apoio público aos protestos é forte, de 69%. A sondagem mostrou que 52% dos franceses apoiam até greves no transporte público.
Usina Nuclear. Cerca de 150 manifestantes estão realizando um piquete na usina nuclear de Civaux, onde está sendo liberada a entrada apenas de itens essenciais. Segundo um funcionário da usina, não há riscos para a segurança e o funcionamento aparentemente não foi afetado.
No complexo portuário de Fos-Lavera, no sul do país, uma greve continua ocorrendo há 26 dias. Autoridades portuárias informaram em comunicado que 71 embarcações com cargas relacionadas ao petróleo estão atracadas nessa área, aguardando que seus produtos sejam descarregados. Todos os outros portos de Marselha voltaram a funcionar, afirma o comunicado. As informações são da Dow Jones.