A Serasa Experian sabe quem é o bom pagador e a ClearSale tenta descobrir se quem está fazendo uma compra é mesmo a pessoa que diz ser. Na prática, a Serasa sabe dos atrasos e das prestações em dia e a ClearSale “vê” os hábitos de consumo ligados à tecnologia, como geolocalização e uso de aparelhos nos quais são feitas as compras. De maneira simples, essa junção de pontas antifraude foi o racional da aquisição anunciada nesta sexta-feira, 4, na qual a Experian pagará R$ 2 bilhões pela ClearSale.
“Em um mundo cada vez mais digital e movido por inteligência artificial, no qual grande parte das operações acontece online, o investimento em tecnologia e na melhoria de ferramentas de prevenção à fraude é essencial”, afirmou Valdemir Bertolo, CEO da Serasa Experian, em comunicado. “Quanto mais transparência e inteligência analítica pudermos fornecer ao mercado, mais as empresas estarão preparadas para tomar decisões, diferenciando os bons consumidores dos fraudadores.”
Com o negócio, a ClearSale, que abriu capital há três anos quando captou R$ 700 milhões, sairá da Bolsa. A controladora da Serasa pagará R$ 10,56 por ação da empresa, com prêmio de 23,5% em relação ao fechamento do dia anterior.
Apesar de, na transação, o preço da ClearSale ter sido avaliada em menos da metade do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), quando valia R$ 4,7 bilhões, a ida à Bolsa não foi considerada um erro, segundo fontes a par da informação. Isso porque a empresa usou o valor captado para avançar no desenvolvimento de tecnologias de prevenção a fraudes, que era o que se propunha.
De acordo com a fonte, a baixa no valor das ações aconteceu com todas as empresas de tecnologia e houve casos bem mais graves. De toda forma, a empresa jamais deixou de ser uma small cap e os investidores iniciais perderam dinheiro.
Com presença nos EUA, a ClearSale percebeu que teria mais facilidade de avançar no exterior caso fizesse parte de um grupo internacional. O processo de busca por um comprador começou há cerca de um ano e a companhia foi oferecida a grandes grupos financeiros, como Visa, Mastercard e Boavista Equifax.
A proposta que melhor se encaixou foi a da Experian, que já havia tido experiências positivas no País com a compra da Serasa, em 2007. De lá para cá, a companhia com sede em Dublin e capital aberto na bolsa de Londres fez pelo menos 11 aquisições no País.
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Segundo uma pessoa a parte da estratégia, como o Brasil está entre os países com mais tentativas de fraudes de golpes online, a expertise da ClearSale já testada aqui antecipadamente será levada a outros lugares do mundo. Além disso, o modelo de remuneração da empresa por sucesso de fraude evitada, com o menor número de compras interrompidas possível, também tende a ser bem-sucedido lá fora.
Com o negócio, os acionistas da ClearSale poderão receber em dinheiro pela venda de seus papéis, em BDRs da Experian ou 95% em dinheiro e 5% em BDRs com ganhos de até R$ 1,25 por ação, ligados a metas do contrato. A Experian vale quase US$ 40 bilhões na Bolsa de Londres.