RIO - O setor de serviços encerrou o primeiro semestre com crescimento. O volume de serviços prestados no País teve uma expansão de 0,7% em junho ante maio, com avanços em quatro das cinco atividades pesquisadas, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados nesta quinta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os destaques foram os desempenhos de transportes (0,6%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,7%). As demais altas ocorreram em outros serviços (0,8%) e serviços prestados às famílias (0,6%). A única taxa negativa em junho foi registrada pelo segmento de informação e comunicação (-0,2%).
Após a divulgação do resultado, o Itaú Unibanco aumentou sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre, de 0,8% para 1,0%, na comparação com o primeiro trimestre deste ano. A revisão foi atribuída a “dados mensais robustos”. A expectativa de um segundo trimestre mais forte elevou ainda a estimativa do banco para o PIB do ano de 2022, de uma alta de 2,0% para 2,2%. Para 2023, o Itaú manteve a expectativa de crescimento de apenas 0,2%.
Já o C6 Bank manteve sua previsão de um avanço de 1,4% para o PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre deste ano. Para 2022, o banco prevê uma elevação de 2% no PIB, que seria sucedida por uma estagnação em 2023.
“Apesar do dado mais forte de serviços em junho, o segundo semestre deste ano deve mostrar trajetória de desaceleração da atividade. A desaceleração da economia global, o impacto dos efeitos dos juros elevados e a queda nos preços de commodities são fatores que contribuem para esta perspectiva”, avaliou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em nota.
Cadeia de petróleo e transporte de cargas
No mês de junho, o transporte de cargas voltou a ser destaque positivo na Pesquisa Mensal de Serviços, beneficiado pelo escoamento de insumos e produtos da agropecuária, da indústria e do “boom” do comércio eletrônico. O impulso da cadeia de petróleo também foi importante para os serviços de engenharia (dentro dos serviços técnicos e complementares) e para o transporte dutoviário (dentro do transporte terrestre).
“A gente não pode desvincular o resultado positivo deste mês da força que essa cadeia de petróleo vem exercendo”, disse Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, lembrando que a prospecção e exploração de petróleo geram um encadeamento grande com diferentes atividades.
O setor de serviços teve três resultados positivos nos últimos quatro meses, na série que desconta efeitos sazonais: março (1,3%), abril (-0,2%), maio (0,4%) e junho (0,7%). De março a junho, houve um ganho acumulado de 2,2%.
Segundo o IBGE, o bom desempenho do setor de serviços como um todo desde a pandemia tem como protagonistas os setores de tecnologia da informação e transporte de cargas. Com o avanço da vacinação contra a covid-19 e o fim das restrições ao funcionamento de estabelecimentos, os serviços presenciais também permanecem em recuperação.
“Os serviços de caráter presencial, a gente tem um processo paulatino de retomada ao nível pré-pandemia, dando conta ali do processo de disseminação da vacina, do fim das restrições inicialmente impostas sobre o funcionamento presencial”, lembrou Rodrigo Lobo. “Boa parte deles ainda não recuperou o período pré-pandemia. Esses serviços de caráter presencial, ainda que tenham mostrado recuperação, não retomaram ainda o pré-pandemia”, ponderou.
O setor de serviços funcionava em junho em patamar 7,5% superior ao de fevereiro de 2020, antes do agravamento da crise sanitária no País. Os transportes operavam 16,9% acima do nível pré-covid, enquanto os serviços prestados às famílias ainda estavam 6,1% abaixo. Os serviços de informação e comunicação estavam 12,1% acima do pré-pandemia; o segmento de outros serviços, 2,0% além; e os serviços profissionais e administrativos, 7,1% acima.
“Os serviços voltados às empresas têm um papel preponderante para entender o patamar em que o setor de serviços se encontra hoje”, frisou Rodrigo Lobo.
Abaixo do nível pré-covid
Por outro lado, a alta do juro, a renda ainda sem avanços significativos e o desemprego elevado têm relação com a dificuldade de o segmento de serviços às famílias retornarem ao nível pré-covid, enumerou o gerente do IBGE.
“A massa de rendimentos acaba não evoluindo de maneira tão satisfatória assim”, explicou Lobo. “Os serviços prestados às famílias são consumidos, em grande parte, por famílias de classe média e classe média alta. Restaurantes, hotéis, que são os serviços de maior peso (em serviços prestados às famílias), são considerados serviços supérfluos. Em momentos de contenção orçamentaria e pressão inflacionaria, eles tendem a ser cortados”, relatou.
Em um cenário de aumento geral de preços, a escolha de consumo das famílias é afetada, uma vez elas que são levadas a priorizar gastos essenciais. “Ele (consumidor) deixa de comer num restaurante fora de casa, deixa de fazer alguma viagem”, ilustrou Lobo.
A inflação atrapalha o desempenho dos serviços também via deflator, ou seja, o aumento de preços de determinados itens, como alimentação fora de casa e passagens aéreas, reduz o resultado das empresas desses setores (como restaurantes e companhias de transporte aéreo de passageiros) quando usado como base para a transformação da receita em volume de serviços prestados.
O volume de serviços prestados subiu 1,1% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre deste ano. Na comparação com o segundo trimestre de 2021, o volume de serviços prestados avançou 8,2% no segundo trimestre de 2022.
No mês de junho de 2022 em relação a junho de 2021, o volume de serviços prestados teve uma alta de 6,3%, a 16ª taxa positiva consecutiva. (Colaborou Renata Pedini)