Uma campanha de publicidade da petroleira Shell foi banida nesta quarta-feira, 7, pela agência de fiscalização de publicidade do Reino Unido, por sugerir que uma grande proporção de seus negócios eram em energia de baixo carbono, embora os combustíveis fósseis constituam a “grande maioria” de suas operações.
Um comercial de televisão, um vídeo do YouTube e uma campanha de pôsteres em Bristol, Inglaterra, descreviam de várias maneiras o fornecimento de energia 100% renovável a um grande número de residências britânicas, a instalação de pontos de carregamento de veículos elétricos e a condução da transição energética pela Shell.
Em sua decisão por escrito, a Advertising Standards Authority - ASA (Autoridade de Padrões de Publicidade, em português) decidiu que os consumidores interpretariam os materiais de publicidade como fazendo uma “reivindicação mais ampla sobre a Shell como um todo fornecendo energia mais limpa”.
Embora a Shell tenha um negócio de energia limpa, a empresa estima que suas operações tenham liberado quase 1,4 bilhão de toneladas de dióxido de carbono retentor de calor em 2021. Em um comunicado, a porta-voz da Shell, Tara Lemay, afirmou que a companhia discorda “fortemente” da decisão da ASA, “que poderia desacelerar o impulso do Reino Unido em direção à energia renovável”.
O grupo de campanha Adfree Cities apresentou uma reclamação à ASA sobre os comerciais, argumentando que eles deixaram de fora informações significativas sobre o impacto ambiental geral da Shell. Também argumentou que a alegação de que 78 mil residências no sudoeste da Inglaterra e 1,4 milhão de residências no Reino Unido usam 100% de energia limpa da Shell era enganosa.
A decisão da ASA aponta que a campanha deu a impressão de que “os produtos de energia com baixo teor de carbono representavam uma proporção significativa dos produtos de energia nos quais a Shell investiu e vendeu no Reino Unido em 2022, ou provavelmente se tornariam em um futuro próximo”. A agência também descobriu que a Shell havia provado suas alegações de fornecer 100% de energia renovável para muitos lares britânicos, e essa parte da reclamação não foi mantida. A ASA ordenou que a Shell não executasse a campanha novamente em sua forma atual.
A ativista Veronica Wignall, do Adfree Cities, que liderou a reclamação, disse que a decisão “marca o fim da linha para o greenwashing de combustíveis fósseis no Reino Unido”, mas acrescentou que a decisão “não vai longe o suficiente”. O termo greenwashing se refere à falsa promoção de iniciativas ambientalmente responsáveis. Veronica pediu uma legislação robusta para impedir a publicidade de combustíveis fósseis.
Mas Tara Lemay, da Shell, argumentou que “as pessoas já estão bem cientes de que a Shell produz o petróleo e o gás de que dependem hoje”. Lemay citou uma pesquisa com 1.700 adultos britânicos que descobriu que 83% associavam a empresa a postos de gasolina. “O que muitas pessoas não sabem é que também estamos investindo pesadamente em energia de baixo e zero carbono”, disse ela. “É isso que nossos anúncios pretendem mostrar, e é por isso que estamos preocupados com essa decisão míope.”
A Shell já enfrentou alegações de greenwashing em materiais promocionais. Em 2021, o órgão holandês de fiscalização de publicidade disse à empresa para parar de veicular uma campanha dizendo que seu combustível era neutro em carbono, uma alegação baseada em seu programa de compensação. / AP