Siderúrgicas e indústrias travam disputa por causa de aço importado; governo pode arbitrar questão


Produtores nacionais pedem sobretaxa para os produtos de fora, sobretudo o chinês, devido à ‘invasão’ ao mercado brasileiro; indústrias consumidoras falam em desindustrialização e aumento de preços

Por Jorge Barbosa

Uma guerra instalada entre os produtores de aço e as indústrias consumidoras do insumo deve forçar o governo a arbitrar a questão. De um lado, siderúrgicas como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%.

Na direção oposta, mais de 120 mil empresas trabalham para impedir a sobretaxa. São companhias que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, liderados por uma coalizão de 16 entidades.

O Instituto Aço Brasil tenta marcar um encontro com Lula o mais rápido possível para convencer o governo a implantar a sobretaxa aos importados. A entidade prevê que o aço estrangeiro somará um quarto do total consumido no País em 2024, valor superior ao registrado em 2023, que foi de cerca de 20%. O governo confirmou a solicitação por uma reunião, mas não detalhou se ela acontecerá ou quando.

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Usina da Aperam em Timóteo (MG): empresa anunciou suspensão do plano de expansão Foto: Elvira Nascimento/Divulgação

As siderúrgicas vêm ameaçando suspender investimentos ou promover demissões devido ao que chamam de “invasão” do aço importado, sobretudo da China. Recentemente, o grupo siderúrgico Aperam South America decidiu postergar a terceira fase de seu plano de investimentos no Brasil, previsto para 2024/2025, considerando o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado no mercado e a queda nas vendas”. O projeto adiado incluía a instalação de um novo laminador a frio na usina de Timóteo (MG), com a criação de até 1,5 mil vagas temporárias.

Os consumidores do aço, por sua vez, dizem haver um risco de desindustrialização caso o Brasil aumente a taxação das importações do produto. “O aumento de taxas do aço importado poderia gerar impacto direto nos custos para a fabricação de máquinas”, diz José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

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“Dependendo do tipo, a produção deve ficar 2,3% a 10% mais cara. Portanto, se houver aumento no preço dos nossos produtos, ocorre aumento no custo de investimento do Brasil, além da perda de competitividade das máquinas nacionais ante as importadas.”

O vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, acrescentou que o setor de construção civil é forte consumidor de vergalhão, um tipo de aço incluído na lista dos 18 produtos importados que poderiam ser sobretaxados. Segundo ele, o aço representa entre 6% a 8% dos custos das obras de moradias populares que contemplam o programa Minha Casa, Minha Vida, além de 8% a 15% para empreendimentos de infraestrutura e 8% a 9% para construções imobiliárias no geral.

A responsabilidade por analisar o mérito de aumentar o imposto para o aço importado é do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), composto por representantes de dez ministérios e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Há um encontro mensal para deliberar sobre os pleitos de defesa comercial protocolados por grupos empresariais do País.

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O MDIC, por sua vez, informou ao Estadão/Broadcast que não há data prevista para o colegiado apreciar o pleito do Instituto Aço Brasil, mas que o pedido estaria “em análise”. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), membro do colegiado, mencionou que o Brasil tem atuado no Fórum Global sobre o Excesso de Capacidade de Aço (GFSEC) e busca maior cooperação para fortalecer a transparência e o diálogo com “países produtores com relevante participação nos fluxos globais de produtos siderúrgicos”. Procurado, o Ministério da Fazenda não se manifestou.

Guerra entre os setores

As disputas sobre a mudança na taxa de importação vêm se intensificando nos últimos meses. O setor siderúrgico é criticado pelos consumidores de aço, que apontam a sobretaxa do insumo estrangeiro como uma medida indireta para favorecer o aumento de preços do produto nacional. O argumento é que, se o aço chinês ficar com o mesmo preço do aço nacional, as companhias locais vão ter um ambiente mais favorável para aumentar seus preços.

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Segundo especialistas, as importações de aço costumam ser vantajosas apenas quando o produto estrangeiro é mais barato em uma faixa acima de 15%, por conta de riscos relacionados ao frete marítimo e variação de câmbio.

Hoje, a tonelada do aço doméstico é negociada na faixa de US$ 825. Já o mesmo produto chinês no Brasil custa US$ 725 a tonelada, segundo dados da consultoria CRU. A diferença entre preços alcançou intervalos próximos a 30% em 2023 para alguns modelos.

Os compradores de aço também apontam que, se o interesse real fosse garantir condições de igualdade contra a China, acusada pelas usinas nacionais de promover dumping (concorrência desleal), o pleito oficial do segmento seria direcionado apenas para as importações do aço chinês, e não para todos os países estrangeiros.

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O setor siderúrgico, por sua vez, defende que a forte entrada de aço chinês traz riscos ao País de desorganização da cadeia produtiva, capaz de provocar a falta do insumo no futuro para o mercado interno, por meio da paralisação de usinas. Outro ponto levantado é que a sobretaxa atingiria 18 produtos, classificados como os principais que estariam sofrendo ou sob risco de serem afetados pela concorrência desleal, de um total de mais de 270.

“A situação é extremamente difícil. Se nada for feito, esses mesmos setores que estão fazendo essas ilações vão sofrer as consequências por conta do desdobramento desta crise. O que vai acontecer é que veremos novas paralisações de usinas, vai faltar aço no mercado interno e haverá um desarranjo da cadeia produtiva”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Já com relação à sobretaxa para 25%, ela não poderia ser colocada diretamente contra a China, segundo uma pessoa ligada às siderúrgicas, visto que tal pleito poderia comprometer a relação comercial entre o Brasil e seu maior parceiro comercial. Especialistas também endossam a preocupação e apontam que, mesmo aumentando o imposto para importados no geral, não há garantias de que a China aceitaria a ação pacificamente.

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Mudança de jogo

Analistas de consultorias de preço, corretoras e bancos apontam que o cenário que as usinas nacionais enfrentam atualmente passaria por uma “grande mudança” positiva, para elas, caso o governo atenda o pedido de aumentar o imposto de importação do aço.

Para a analista sênior de siderurgia da CRU, Thais Terzian, um aumento na taxação para 25% dos importados poderia permitir às usinas um reajuste de 10% no aço, mas ela aponta preocupações com a demanda.

“Se aumentar o imposto, eles provavelmente vão aumentar o preço. O risco é um efeito colateral. Estamos falando de uma alta forte nos preços, que podem provocar uma destruição de demanda. As usinas falam em proteger o mercado, mas isso pode acabar prejudicando os consumidores”, afirmou.

A editora-chefe da consultoria S&P Global Platts, Adriana Carvalho, acrescenta que, por outro lado, os preços das matérias-primas do setor siderúrgico aumentaram, mas as usinas mantiveram os preços domésticos, o que coibiu reajustes desde o terceiro trimestre de 2023.

“O prêmio do material nacional sobre o material importado ficou abaixo dos 15% durante todo o mês de dezembro, o que indica um esforço das siderúrgicas em conter as importações e se manterem competitivas no âmbito mundial”, acrescentou.

Outro cenário

Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, diz estar cético com relação ao governo sobretaxar em 25% a importação de aço. O especialista, contudo, reconhece que haveria uma “mudança no jogo” caso o cenário aconteça. Para ele, a Usiminas seria a empresa mais beneficiada.

“Vemos a Usiminas se beneficiando um pouco mais pela maior exposição ao negócio de siderurgia doméstico. É importante lembrar que a Gerdau tem metade dos resultados fora do Brasil, e para a Companhia Siderúrgica Nacional, metade dos resultados são apurados a partir das atividades de mineração. Então, eu diria que a Usiminas deve ser a mais beneficiada nesse cenário”, afirmou.

Já o analista Igor Guedes, da Genial Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas estão “desesperadas” para aumentar preços, em função das margens (diferença entre custo e venda do produto) estarem registrando um nível abaixo do valor tradicional. Para ele, o governo pode realizar algum movimento de defesa comercial no primeiro trimestre de 2024, com algum nível menor de aumento na taxa de importação do aço, mas fora dos 25% pleiteados pelas siderúrgicas.

“Trabalhamos com a possibilidade de aumento para algum valor próximo de 17%”, afirmou Guedes. O analista acrescentou que o pedido do setor siderúrgico não é excessivo, mas há dificuldade por conta dos riscos de danos à demanda em um movimento do tipo.

Uma guerra instalada entre os produtores de aço e as indústrias consumidoras do insumo deve forçar o governo a arbitrar a questão. De um lado, siderúrgicas como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%.

Na direção oposta, mais de 120 mil empresas trabalham para impedir a sobretaxa. São companhias que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, liderados por uma coalizão de 16 entidades.

O Instituto Aço Brasil tenta marcar um encontro com Lula o mais rápido possível para convencer o governo a implantar a sobretaxa aos importados. A entidade prevê que o aço estrangeiro somará um quarto do total consumido no País em 2024, valor superior ao registrado em 2023, que foi de cerca de 20%. O governo confirmou a solicitação por uma reunião, mas não detalhou se ela acontecerá ou quando.

Usina da Aperam em Timóteo (MG): empresa anunciou suspensão do plano de expansão Foto: Elvira Nascimento/Divulgação

As siderúrgicas vêm ameaçando suspender investimentos ou promover demissões devido ao que chamam de “invasão” do aço importado, sobretudo da China. Recentemente, o grupo siderúrgico Aperam South America decidiu postergar a terceira fase de seu plano de investimentos no Brasil, previsto para 2024/2025, considerando o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado no mercado e a queda nas vendas”. O projeto adiado incluía a instalação de um novo laminador a frio na usina de Timóteo (MG), com a criação de até 1,5 mil vagas temporárias.

Os consumidores do aço, por sua vez, dizem haver um risco de desindustrialização caso o Brasil aumente a taxação das importações do produto. “O aumento de taxas do aço importado poderia gerar impacto direto nos custos para a fabricação de máquinas”, diz José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

“Dependendo do tipo, a produção deve ficar 2,3% a 10% mais cara. Portanto, se houver aumento no preço dos nossos produtos, ocorre aumento no custo de investimento do Brasil, além da perda de competitividade das máquinas nacionais ante as importadas.”

O vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, acrescentou que o setor de construção civil é forte consumidor de vergalhão, um tipo de aço incluído na lista dos 18 produtos importados que poderiam ser sobretaxados. Segundo ele, o aço representa entre 6% a 8% dos custos das obras de moradias populares que contemplam o programa Minha Casa, Minha Vida, além de 8% a 15% para empreendimentos de infraestrutura e 8% a 9% para construções imobiliárias no geral.

A responsabilidade por analisar o mérito de aumentar o imposto para o aço importado é do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), composto por representantes de dez ministérios e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Há um encontro mensal para deliberar sobre os pleitos de defesa comercial protocolados por grupos empresariais do País.

O MDIC, por sua vez, informou ao Estadão/Broadcast que não há data prevista para o colegiado apreciar o pleito do Instituto Aço Brasil, mas que o pedido estaria “em análise”. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), membro do colegiado, mencionou que o Brasil tem atuado no Fórum Global sobre o Excesso de Capacidade de Aço (GFSEC) e busca maior cooperação para fortalecer a transparência e o diálogo com “países produtores com relevante participação nos fluxos globais de produtos siderúrgicos”. Procurado, o Ministério da Fazenda não se manifestou.

Guerra entre os setores

As disputas sobre a mudança na taxa de importação vêm se intensificando nos últimos meses. O setor siderúrgico é criticado pelos consumidores de aço, que apontam a sobretaxa do insumo estrangeiro como uma medida indireta para favorecer o aumento de preços do produto nacional. O argumento é que, se o aço chinês ficar com o mesmo preço do aço nacional, as companhias locais vão ter um ambiente mais favorável para aumentar seus preços.

Segundo especialistas, as importações de aço costumam ser vantajosas apenas quando o produto estrangeiro é mais barato em uma faixa acima de 15%, por conta de riscos relacionados ao frete marítimo e variação de câmbio.

Hoje, a tonelada do aço doméstico é negociada na faixa de US$ 825. Já o mesmo produto chinês no Brasil custa US$ 725 a tonelada, segundo dados da consultoria CRU. A diferença entre preços alcançou intervalos próximos a 30% em 2023 para alguns modelos.

Os compradores de aço também apontam que, se o interesse real fosse garantir condições de igualdade contra a China, acusada pelas usinas nacionais de promover dumping (concorrência desleal), o pleito oficial do segmento seria direcionado apenas para as importações do aço chinês, e não para todos os países estrangeiros.

O setor siderúrgico, por sua vez, defende que a forte entrada de aço chinês traz riscos ao País de desorganização da cadeia produtiva, capaz de provocar a falta do insumo no futuro para o mercado interno, por meio da paralisação de usinas. Outro ponto levantado é que a sobretaxa atingiria 18 produtos, classificados como os principais que estariam sofrendo ou sob risco de serem afetados pela concorrência desleal, de um total de mais de 270.

“A situação é extremamente difícil. Se nada for feito, esses mesmos setores que estão fazendo essas ilações vão sofrer as consequências por conta do desdobramento desta crise. O que vai acontecer é que veremos novas paralisações de usinas, vai faltar aço no mercado interno e haverá um desarranjo da cadeia produtiva”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Já com relação à sobretaxa para 25%, ela não poderia ser colocada diretamente contra a China, segundo uma pessoa ligada às siderúrgicas, visto que tal pleito poderia comprometer a relação comercial entre o Brasil e seu maior parceiro comercial. Especialistas também endossam a preocupação e apontam que, mesmo aumentando o imposto para importados no geral, não há garantias de que a China aceitaria a ação pacificamente.

Mudança de jogo

Analistas de consultorias de preço, corretoras e bancos apontam que o cenário que as usinas nacionais enfrentam atualmente passaria por uma “grande mudança” positiva, para elas, caso o governo atenda o pedido de aumentar o imposto de importação do aço.

Para a analista sênior de siderurgia da CRU, Thais Terzian, um aumento na taxação para 25% dos importados poderia permitir às usinas um reajuste de 10% no aço, mas ela aponta preocupações com a demanda.

“Se aumentar o imposto, eles provavelmente vão aumentar o preço. O risco é um efeito colateral. Estamos falando de uma alta forte nos preços, que podem provocar uma destruição de demanda. As usinas falam em proteger o mercado, mas isso pode acabar prejudicando os consumidores”, afirmou.

A editora-chefe da consultoria S&P Global Platts, Adriana Carvalho, acrescenta que, por outro lado, os preços das matérias-primas do setor siderúrgico aumentaram, mas as usinas mantiveram os preços domésticos, o que coibiu reajustes desde o terceiro trimestre de 2023.

“O prêmio do material nacional sobre o material importado ficou abaixo dos 15% durante todo o mês de dezembro, o que indica um esforço das siderúrgicas em conter as importações e se manterem competitivas no âmbito mundial”, acrescentou.

Outro cenário

Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, diz estar cético com relação ao governo sobretaxar em 25% a importação de aço. O especialista, contudo, reconhece que haveria uma “mudança no jogo” caso o cenário aconteça. Para ele, a Usiminas seria a empresa mais beneficiada.

“Vemos a Usiminas se beneficiando um pouco mais pela maior exposição ao negócio de siderurgia doméstico. É importante lembrar que a Gerdau tem metade dos resultados fora do Brasil, e para a Companhia Siderúrgica Nacional, metade dos resultados são apurados a partir das atividades de mineração. Então, eu diria que a Usiminas deve ser a mais beneficiada nesse cenário”, afirmou.

Já o analista Igor Guedes, da Genial Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas estão “desesperadas” para aumentar preços, em função das margens (diferença entre custo e venda do produto) estarem registrando um nível abaixo do valor tradicional. Para ele, o governo pode realizar algum movimento de defesa comercial no primeiro trimestre de 2024, com algum nível menor de aumento na taxa de importação do aço, mas fora dos 25% pleiteados pelas siderúrgicas.

“Trabalhamos com a possibilidade de aumento para algum valor próximo de 17%”, afirmou Guedes. O analista acrescentou que o pedido do setor siderúrgico não é excessivo, mas há dificuldade por conta dos riscos de danos à demanda em um movimento do tipo.

Uma guerra instalada entre os produtores de aço e as indústrias consumidoras do insumo deve forçar o governo a arbitrar a questão. De um lado, siderúrgicas como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%.

Na direção oposta, mais de 120 mil empresas trabalham para impedir a sobretaxa. São companhias que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, liderados por uma coalizão de 16 entidades.

O Instituto Aço Brasil tenta marcar um encontro com Lula o mais rápido possível para convencer o governo a implantar a sobretaxa aos importados. A entidade prevê que o aço estrangeiro somará um quarto do total consumido no País em 2024, valor superior ao registrado em 2023, que foi de cerca de 20%. O governo confirmou a solicitação por uma reunião, mas não detalhou se ela acontecerá ou quando.

Usina da Aperam em Timóteo (MG): empresa anunciou suspensão do plano de expansão Foto: Elvira Nascimento/Divulgação

As siderúrgicas vêm ameaçando suspender investimentos ou promover demissões devido ao que chamam de “invasão” do aço importado, sobretudo da China. Recentemente, o grupo siderúrgico Aperam South America decidiu postergar a terceira fase de seu plano de investimentos no Brasil, previsto para 2024/2025, considerando o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado no mercado e a queda nas vendas”. O projeto adiado incluía a instalação de um novo laminador a frio na usina de Timóteo (MG), com a criação de até 1,5 mil vagas temporárias.

Os consumidores do aço, por sua vez, dizem haver um risco de desindustrialização caso o Brasil aumente a taxação das importações do produto. “O aumento de taxas do aço importado poderia gerar impacto direto nos custos para a fabricação de máquinas”, diz José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

“Dependendo do tipo, a produção deve ficar 2,3% a 10% mais cara. Portanto, se houver aumento no preço dos nossos produtos, ocorre aumento no custo de investimento do Brasil, além da perda de competitividade das máquinas nacionais ante as importadas.”

O vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, acrescentou que o setor de construção civil é forte consumidor de vergalhão, um tipo de aço incluído na lista dos 18 produtos importados que poderiam ser sobretaxados. Segundo ele, o aço representa entre 6% a 8% dos custos das obras de moradias populares que contemplam o programa Minha Casa, Minha Vida, além de 8% a 15% para empreendimentos de infraestrutura e 8% a 9% para construções imobiliárias no geral.

A responsabilidade por analisar o mérito de aumentar o imposto para o aço importado é do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), composto por representantes de dez ministérios e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Há um encontro mensal para deliberar sobre os pleitos de defesa comercial protocolados por grupos empresariais do País.

O MDIC, por sua vez, informou ao Estadão/Broadcast que não há data prevista para o colegiado apreciar o pleito do Instituto Aço Brasil, mas que o pedido estaria “em análise”. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), membro do colegiado, mencionou que o Brasil tem atuado no Fórum Global sobre o Excesso de Capacidade de Aço (GFSEC) e busca maior cooperação para fortalecer a transparência e o diálogo com “países produtores com relevante participação nos fluxos globais de produtos siderúrgicos”. Procurado, o Ministério da Fazenda não se manifestou.

Guerra entre os setores

As disputas sobre a mudança na taxa de importação vêm se intensificando nos últimos meses. O setor siderúrgico é criticado pelos consumidores de aço, que apontam a sobretaxa do insumo estrangeiro como uma medida indireta para favorecer o aumento de preços do produto nacional. O argumento é que, se o aço chinês ficar com o mesmo preço do aço nacional, as companhias locais vão ter um ambiente mais favorável para aumentar seus preços.

Segundo especialistas, as importações de aço costumam ser vantajosas apenas quando o produto estrangeiro é mais barato em uma faixa acima de 15%, por conta de riscos relacionados ao frete marítimo e variação de câmbio.

Hoje, a tonelada do aço doméstico é negociada na faixa de US$ 825. Já o mesmo produto chinês no Brasil custa US$ 725 a tonelada, segundo dados da consultoria CRU. A diferença entre preços alcançou intervalos próximos a 30% em 2023 para alguns modelos.

Os compradores de aço também apontam que, se o interesse real fosse garantir condições de igualdade contra a China, acusada pelas usinas nacionais de promover dumping (concorrência desleal), o pleito oficial do segmento seria direcionado apenas para as importações do aço chinês, e não para todos os países estrangeiros.

O setor siderúrgico, por sua vez, defende que a forte entrada de aço chinês traz riscos ao País de desorganização da cadeia produtiva, capaz de provocar a falta do insumo no futuro para o mercado interno, por meio da paralisação de usinas. Outro ponto levantado é que a sobretaxa atingiria 18 produtos, classificados como os principais que estariam sofrendo ou sob risco de serem afetados pela concorrência desleal, de um total de mais de 270.

“A situação é extremamente difícil. Se nada for feito, esses mesmos setores que estão fazendo essas ilações vão sofrer as consequências por conta do desdobramento desta crise. O que vai acontecer é que veremos novas paralisações de usinas, vai faltar aço no mercado interno e haverá um desarranjo da cadeia produtiva”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Já com relação à sobretaxa para 25%, ela não poderia ser colocada diretamente contra a China, segundo uma pessoa ligada às siderúrgicas, visto que tal pleito poderia comprometer a relação comercial entre o Brasil e seu maior parceiro comercial. Especialistas também endossam a preocupação e apontam que, mesmo aumentando o imposto para importados no geral, não há garantias de que a China aceitaria a ação pacificamente.

Mudança de jogo

Analistas de consultorias de preço, corretoras e bancos apontam que o cenário que as usinas nacionais enfrentam atualmente passaria por uma “grande mudança” positiva, para elas, caso o governo atenda o pedido de aumentar o imposto de importação do aço.

Para a analista sênior de siderurgia da CRU, Thais Terzian, um aumento na taxação para 25% dos importados poderia permitir às usinas um reajuste de 10% no aço, mas ela aponta preocupações com a demanda.

“Se aumentar o imposto, eles provavelmente vão aumentar o preço. O risco é um efeito colateral. Estamos falando de uma alta forte nos preços, que podem provocar uma destruição de demanda. As usinas falam em proteger o mercado, mas isso pode acabar prejudicando os consumidores”, afirmou.

A editora-chefe da consultoria S&P Global Platts, Adriana Carvalho, acrescenta que, por outro lado, os preços das matérias-primas do setor siderúrgico aumentaram, mas as usinas mantiveram os preços domésticos, o que coibiu reajustes desde o terceiro trimestre de 2023.

“O prêmio do material nacional sobre o material importado ficou abaixo dos 15% durante todo o mês de dezembro, o que indica um esforço das siderúrgicas em conter as importações e se manterem competitivas no âmbito mundial”, acrescentou.

Outro cenário

Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, diz estar cético com relação ao governo sobretaxar em 25% a importação de aço. O especialista, contudo, reconhece que haveria uma “mudança no jogo” caso o cenário aconteça. Para ele, a Usiminas seria a empresa mais beneficiada.

“Vemos a Usiminas se beneficiando um pouco mais pela maior exposição ao negócio de siderurgia doméstico. É importante lembrar que a Gerdau tem metade dos resultados fora do Brasil, e para a Companhia Siderúrgica Nacional, metade dos resultados são apurados a partir das atividades de mineração. Então, eu diria que a Usiminas deve ser a mais beneficiada nesse cenário”, afirmou.

Já o analista Igor Guedes, da Genial Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas estão “desesperadas” para aumentar preços, em função das margens (diferença entre custo e venda do produto) estarem registrando um nível abaixo do valor tradicional. Para ele, o governo pode realizar algum movimento de defesa comercial no primeiro trimestre de 2024, com algum nível menor de aumento na taxa de importação do aço, mas fora dos 25% pleiteados pelas siderúrgicas.

“Trabalhamos com a possibilidade de aumento para algum valor próximo de 17%”, afirmou Guedes. O analista acrescentou que o pedido do setor siderúrgico não é excessivo, mas há dificuldade por conta dos riscos de danos à demanda em um movimento do tipo.

Uma guerra instalada entre os produtores de aço e as indústrias consumidoras do insumo deve forçar o governo a arbitrar a questão. De um lado, siderúrgicas como a Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas, representadas pelo Instituto Aço Brasil e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de forma independente, tentam aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%.

Na direção oposta, mais de 120 mil empresas trabalham para impedir a sobretaxa. São companhias que atuam nos mercados de construção civil, automotivo, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, indústria naval, transportes, ferrovias, entre outros, liderados por uma coalizão de 16 entidades.

O Instituto Aço Brasil tenta marcar um encontro com Lula o mais rápido possível para convencer o governo a implantar a sobretaxa aos importados. A entidade prevê que o aço estrangeiro somará um quarto do total consumido no País em 2024, valor superior ao registrado em 2023, que foi de cerca de 20%. O governo confirmou a solicitação por uma reunião, mas não detalhou se ela acontecerá ou quando.

Usina da Aperam em Timóteo (MG): empresa anunciou suspensão do plano de expansão Foto: Elvira Nascimento/Divulgação

As siderúrgicas vêm ameaçando suspender investimentos ou promover demissões devido ao que chamam de “invasão” do aço importado, sobretudo da China. Recentemente, o grupo siderúrgico Aperam South America decidiu postergar a terceira fase de seu plano de investimentos no Brasil, previsto para 2024/2025, considerando o “momento de adversidade enfrentado pela indústria siderúrgica brasileira, com o excesso de aço importado no mercado e a queda nas vendas”. O projeto adiado incluía a instalação de um novo laminador a frio na usina de Timóteo (MG), com a criação de até 1,5 mil vagas temporárias.

Os consumidores do aço, por sua vez, dizem haver um risco de desindustrialização caso o Brasil aumente a taxação das importações do produto. “O aumento de taxas do aço importado poderia gerar impacto direto nos custos para a fabricação de máquinas”, diz José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

“Dependendo do tipo, a produção deve ficar 2,3% a 10% mais cara. Portanto, se houver aumento no preço dos nossos produtos, ocorre aumento no custo de investimento do Brasil, além da perda de competitividade das máquinas nacionais ante as importadas.”

O vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Eduardo Aroeira, acrescentou que o setor de construção civil é forte consumidor de vergalhão, um tipo de aço incluído na lista dos 18 produtos importados que poderiam ser sobretaxados. Segundo ele, o aço representa entre 6% a 8% dos custos das obras de moradias populares que contemplam o programa Minha Casa, Minha Vida, além de 8% a 15% para empreendimentos de infraestrutura e 8% a 9% para construções imobiliárias no geral.

A responsabilidade por analisar o mérito de aumentar o imposto para o aço importado é do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), composto por representantes de dez ministérios e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Há um encontro mensal para deliberar sobre os pleitos de defesa comercial protocolados por grupos empresariais do País.

O MDIC, por sua vez, informou ao Estadão/Broadcast que não há data prevista para o colegiado apreciar o pleito do Instituto Aço Brasil, mas que o pedido estaria “em análise”. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), membro do colegiado, mencionou que o Brasil tem atuado no Fórum Global sobre o Excesso de Capacidade de Aço (GFSEC) e busca maior cooperação para fortalecer a transparência e o diálogo com “países produtores com relevante participação nos fluxos globais de produtos siderúrgicos”. Procurado, o Ministério da Fazenda não se manifestou.

Guerra entre os setores

As disputas sobre a mudança na taxa de importação vêm se intensificando nos últimos meses. O setor siderúrgico é criticado pelos consumidores de aço, que apontam a sobretaxa do insumo estrangeiro como uma medida indireta para favorecer o aumento de preços do produto nacional. O argumento é que, se o aço chinês ficar com o mesmo preço do aço nacional, as companhias locais vão ter um ambiente mais favorável para aumentar seus preços.

Segundo especialistas, as importações de aço costumam ser vantajosas apenas quando o produto estrangeiro é mais barato em uma faixa acima de 15%, por conta de riscos relacionados ao frete marítimo e variação de câmbio.

Hoje, a tonelada do aço doméstico é negociada na faixa de US$ 825. Já o mesmo produto chinês no Brasil custa US$ 725 a tonelada, segundo dados da consultoria CRU. A diferença entre preços alcançou intervalos próximos a 30% em 2023 para alguns modelos.

Os compradores de aço também apontam que, se o interesse real fosse garantir condições de igualdade contra a China, acusada pelas usinas nacionais de promover dumping (concorrência desleal), o pleito oficial do segmento seria direcionado apenas para as importações do aço chinês, e não para todos os países estrangeiros.

O setor siderúrgico, por sua vez, defende que a forte entrada de aço chinês traz riscos ao País de desorganização da cadeia produtiva, capaz de provocar a falta do insumo no futuro para o mercado interno, por meio da paralisação de usinas. Outro ponto levantado é que a sobretaxa atingiria 18 produtos, classificados como os principais que estariam sofrendo ou sob risco de serem afetados pela concorrência desleal, de um total de mais de 270.

“A situação é extremamente difícil. Se nada for feito, esses mesmos setores que estão fazendo essas ilações vão sofrer as consequências por conta do desdobramento desta crise. O que vai acontecer é que veremos novas paralisações de usinas, vai faltar aço no mercado interno e haverá um desarranjo da cadeia produtiva”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Já com relação à sobretaxa para 25%, ela não poderia ser colocada diretamente contra a China, segundo uma pessoa ligada às siderúrgicas, visto que tal pleito poderia comprometer a relação comercial entre o Brasil e seu maior parceiro comercial. Especialistas também endossam a preocupação e apontam que, mesmo aumentando o imposto para importados no geral, não há garantias de que a China aceitaria a ação pacificamente.

Mudança de jogo

Analistas de consultorias de preço, corretoras e bancos apontam que o cenário que as usinas nacionais enfrentam atualmente passaria por uma “grande mudança” positiva, para elas, caso o governo atenda o pedido de aumentar o imposto de importação do aço.

Para a analista sênior de siderurgia da CRU, Thais Terzian, um aumento na taxação para 25% dos importados poderia permitir às usinas um reajuste de 10% no aço, mas ela aponta preocupações com a demanda.

“Se aumentar o imposto, eles provavelmente vão aumentar o preço. O risco é um efeito colateral. Estamos falando de uma alta forte nos preços, que podem provocar uma destruição de demanda. As usinas falam em proteger o mercado, mas isso pode acabar prejudicando os consumidores”, afirmou.

A editora-chefe da consultoria S&P Global Platts, Adriana Carvalho, acrescenta que, por outro lado, os preços das matérias-primas do setor siderúrgico aumentaram, mas as usinas mantiveram os preços domésticos, o que coibiu reajustes desde o terceiro trimestre de 2023.

“O prêmio do material nacional sobre o material importado ficou abaixo dos 15% durante todo o mês de dezembro, o que indica um esforço das siderúrgicas em conter as importações e se manterem competitivas no âmbito mundial”, acrescentou.

Outro cenário

Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, diz estar cético com relação ao governo sobretaxar em 25% a importação de aço. O especialista, contudo, reconhece que haveria uma “mudança no jogo” caso o cenário aconteça. Para ele, a Usiminas seria a empresa mais beneficiada.

“Vemos a Usiminas se beneficiando um pouco mais pela maior exposição ao negócio de siderurgia doméstico. É importante lembrar que a Gerdau tem metade dos resultados fora do Brasil, e para a Companhia Siderúrgica Nacional, metade dos resultados são apurados a partir das atividades de mineração. Então, eu diria que a Usiminas deve ser a mais beneficiada nesse cenário”, afirmou.

Já o analista Igor Guedes, da Genial Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas estão “desesperadas” para aumentar preços, em função das margens (diferença entre custo e venda do produto) estarem registrando um nível abaixo do valor tradicional. Para ele, o governo pode realizar algum movimento de defesa comercial no primeiro trimestre de 2024, com algum nível menor de aumento na taxa de importação do aço, mas fora dos 25% pleiteados pelas siderúrgicas.

“Trabalhamos com a possibilidade de aumento para algum valor próximo de 17%”, afirmou Guedes. O analista acrescentou que o pedido do setor siderúrgico não é excessivo, mas há dificuldade por conta dos riscos de danos à demanda em um movimento do tipo.

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