Decisão sobre meta da inflação não deve ser antecipada, diz economista-chefe do Credit Suisse


Para Solange Srour, o País está ‘voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar’

Por Cícero Cotrim e Renata Pedini
Entrevista comSolange SrourEconomista-chefe do Credit Suisse

O aumento das metas de inflação pode ampliar a desancoragem das expectativas, prejudicar a credibilidade do Banco Central e, no limite, exigir uma retomada do ciclo de aperto monetário. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, que vê no debate uma ameaça à confiança na economia do País, especialmente diante da piora de perspectivas para a política fiscal e da falta de sinais sobre a âncora que substituirá o teto de gastos. Mesmo com os prejuízos decorrentes da incerteza sobre as metas, Srour argumenta que seria um erro que o CMN alterasse os alvos já na reunião da próxima quinta-feira, 16, devido às incertezas em torno da política fiscal no País.

“Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar”, afirma, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que vai ser cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o Conselho Monetário Nacional pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e rápida da confiança na economia.”

continua após a publicidade

O Credit Suisse espera que o IPCA atinja 5,8% este ano - com viés de alta a 6,4% caso o governo retome a cobrança de impostos federais sobre combustíveis - e fique em 4% no ano que vem, em um cenário que considera a manutenção da meta em 3,0%. “Essa projeção vai mudar se a meta for mudada. Rapidamente. Porque isso vai afetar as expectativas de mercado e nossa projeção”, diz Srour. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual é a sua avaliação sobre a discussão em torno das metas de inflação?

Quando você tem um risco fiscal elevado, e ele já começa a afetar as expectativas de inflação, a discussão de aumentar a meta de inflação é muito contraproducente, porque desancora ainda mais as expectativas e deixa a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo na marra. É contraproducente, porque estamos começando a colher agora os frutos do juro real alto em termos de desinflação, mas vem uma discussão sobre mudança de meta em um momento em que estamos sem âncora fiscal e com uma incerteza muito grande sobre a sustentabilidade da dívida.

continua após a publicidade
Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse, reforça importância do controle da inflação para a economia Foto: Wilton Junior / Estadão

Existe um nível razoável para se aumentar a meta?

Eu acho que não. Acho que qualquer mudança da meta vai acabar gerando a sensação de que, mesmo sem uma âncora fiscal, vamos tentar forçar a queda da Selic. Mesmo que seja 3,5% - e, se for 3,5%, não vai haver espaço para reduzir juros nos modelos do BC -, vai trazer a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo, ainda que as expectativas continuem desancoradas. Se for 4% ou 4,5%, acho que é muito pior, porque a reação do mercado vai ser de elevar ainda mais as expectativas de inflação, e isso pode acabar até levando o BC a ter de subir os juros.

continua após a publicidade

O CMN deveria antecipar a decisão sobre as metas para diminuir a incerteza ou aguardar a apresentação do novo arcabouço fiscal?

Se a decisão do CMN for chegar na quinta-feira e dizer que as metas estão mantidas, seria super positivo, diminuiria a incerteza e o resultado seria uma melhora da confiança de que as metas vão ser cumpridas, ainda que não imediatamente, e a curva de juros não ficaria tão inclinada. Agora, se a decisão é elevar a meta, eu não sou a favor de fazer isso logo, sem antes dar alguma sinalização sobre o fiscal. Porque isso vai ser visto como voluntarismo, de tentar forçar uma queda da Selic sem ter nenhum tipo de previsibilidade. Além de aprovar a regra fiscal, o governo vai precisar mostrar como essa regra vai ser cumprida de fato, quais são os mecanismos de controle de gastos que vão impedir que essa regra seja modificada tantas vezes quanto foi o teto. É importante mostrar como ela vai ser cumprida.

O que uma elevação das metas implicaria para as expectativas do mercado?

continua após a publicidade

Tudo depende de qual vai ser a meta e se vão mudar o intervalo de tolerância. Se a meta for para 4% ou 4,5%, mesmo com o intervalo de tolerância sendo mantido em 1,5 ponto porcentual, acho que as expectativas ainda têm mais a subir e vão buscar o topo da meta, porque a sensação é de que esse aumento da meta é para gerar um corte de juros antecipado e, sem âncora fiscal, isso vai resultar em mais inflação. Se além de tudo ainda se mudar o intervalo para dois pontos, a situação vai ficar muito ruim, sinalizando que se busca um topo mais alto ainda. Se fosse apresentada antes não só a regra fiscal como um meio de se alcançar a meta fiscal, as expectativas poderiam não ir logo para o topo da meta.

Podemos voltar a um equilíbrio próximo ao do governo Dilma, quando as expectativas se situavam sistematicamente no teto da meta?

Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar. Até essas iniciativas de tentar constranger o BC, não tínhamos âncora fiscal, que se foi na PEC da Transição. Se perdermos a âncora monetária, se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que será cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o CMN pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e muito rápida da confiança na economia. Foi o que vimos justamente em 2015: essa perda de confiança gera mais inflação via câmbio e expectativas desancoradas; um juro mais alto na curva, mesmo que a Selic fique constante; e uma desaceleração do PIB. É um mix bastante inflacionário e recessivo.

continua após a publicidade

Em que medida a substituição de diretores do BC cujos mandatos terminam em fevereiro vai marcar a relação do governo com o BC?

Essas escolhas são uma sinalização importante, porque, se forem nomeados dois diretores que não forem vistos como técnicos independentes, mesmo com a autonomia do BC na lei, cria uma sensação de que o BC de fato não vai atuar como autônomo, mesmo que seja uma minoria. É preciso que as escolhas sejam técnicas e vistas como independentes, mesmo mantendo autonomia na lei. É por isso que colocamos tanto peso nessas escolhas. Principalmente num momento em se discute mudar a meta. Essas duas nomeações ganharam muita importância por conta dessa discussão toda de mudar a meta e pressão para cair juros. É importante manter o BC de uma certa maneira isolado de pressões políticas e essas nomeações são cruciais para isso.

O aumento das metas de inflação pode ampliar a desancoragem das expectativas, prejudicar a credibilidade do Banco Central e, no limite, exigir uma retomada do ciclo de aperto monetário. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, que vê no debate uma ameaça à confiança na economia do País, especialmente diante da piora de perspectivas para a política fiscal e da falta de sinais sobre a âncora que substituirá o teto de gastos. Mesmo com os prejuízos decorrentes da incerteza sobre as metas, Srour argumenta que seria um erro que o CMN alterasse os alvos já na reunião da próxima quinta-feira, 16, devido às incertezas em torno da política fiscal no País.

“Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar”, afirma, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que vai ser cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o Conselho Monetário Nacional pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e rápida da confiança na economia.”

O Credit Suisse espera que o IPCA atinja 5,8% este ano - com viés de alta a 6,4% caso o governo retome a cobrança de impostos federais sobre combustíveis - e fique em 4% no ano que vem, em um cenário que considera a manutenção da meta em 3,0%. “Essa projeção vai mudar se a meta for mudada. Rapidamente. Porque isso vai afetar as expectativas de mercado e nossa projeção”, diz Srour. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual é a sua avaliação sobre a discussão em torno das metas de inflação?

Quando você tem um risco fiscal elevado, e ele já começa a afetar as expectativas de inflação, a discussão de aumentar a meta de inflação é muito contraproducente, porque desancora ainda mais as expectativas e deixa a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo na marra. É contraproducente, porque estamos começando a colher agora os frutos do juro real alto em termos de desinflação, mas vem uma discussão sobre mudança de meta em um momento em que estamos sem âncora fiscal e com uma incerteza muito grande sobre a sustentabilidade da dívida.

Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse, reforça importância do controle da inflação para a economia Foto: Wilton Junior / Estadão

Existe um nível razoável para se aumentar a meta?

Eu acho que não. Acho que qualquer mudança da meta vai acabar gerando a sensação de que, mesmo sem uma âncora fiscal, vamos tentar forçar a queda da Selic. Mesmo que seja 3,5% - e, se for 3,5%, não vai haver espaço para reduzir juros nos modelos do BC -, vai trazer a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo, ainda que as expectativas continuem desancoradas. Se for 4% ou 4,5%, acho que é muito pior, porque a reação do mercado vai ser de elevar ainda mais as expectativas de inflação, e isso pode acabar até levando o BC a ter de subir os juros.

O CMN deveria antecipar a decisão sobre as metas para diminuir a incerteza ou aguardar a apresentação do novo arcabouço fiscal?

Se a decisão do CMN for chegar na quinta-feira e dizer que as metas estão mantidas, seria super positivo, diminuiria a incerteza e o resultado seria uma melhora da confiança de que as metas vão ser cumpridas, ainda que não imediatamente, e a curva de juros não ficaria tão inclinada. Agora, se a decisão é elevar a meta, eu não sou a favor de fazer isso logo, sem antes dar alguma sinalização sobre o fiscal. Porque isso vai ser visto como voluntarismo, de tentar forçar uma queda da Selic sem ter nenhum tipo de previsibilidade. Além de aprovar a regra fiscal, o governo vai precisar mostrar como essa regra vai ser cumprida de fato, quais são os mecanismos de controle de gastos que vão impedir que essa regra seja modificada tantas vezes quanto foi o teto. É importante mostrar como ela vai ser cumprida.

O que uma elevação das metas implicaria para as expectativas do mercado?

Tudo depende de qual vai ser a meta e se vão mudar o intervalo de tolerância. Se a meta for para 4% ou 4,5%, mesmo com o intervalo de tolerância sendo mantido em 1,5 ponto porcentual, acho que as expectativas ainda têm mais a subir e vão buscar o topo da meta, porque a sensação é de que esse aumento da meta é para gerar um corte de juros antecipado e, sem âncora fiscal, isso vai resultar em mais inflação. Se além de tudo ainda se mudar o intervalo para dois pontos, a situação vai ficar muito ruim, sinalizando que se busca um topo mais alto ainda. Se fosse apresentada antes não só a regra fiscal como um meio de se alcançar a meta fiscal, as expectativas poderiam não ir logo para o topo da meta.

Podemos voltar a um equilíbrio próximo ao do governo Dilma, quando as expectativas se situavam sistematicamente no teto da meta?

Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar. Até essas iniciativas de tentar constranger o BC, não tínhamos âncora fiscal, que se foi na PEC da Transição. Se perdermos a âncora monetária, se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que será cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o CMN pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e muito rápida da confiança na economia. Foi o que vimos justamente em 2015: essa perda de confiança gera mais inflação via câmbio e expectativas desancoradas; um juro mais alto na curva, mesmo que a Selic fique constante; e uma desaceleração do PIB. É um mix bastante inflacionário e recessivo.

Em que medida a substituição de diretores do BC cujos mandatos terminam em fevereiro vai marcar a relação do governo com o BC?

Essas escolhas são uma sinalização importante, porque, se forem nomeados dois diretores que não forem vistos como técnicos independentes, mesmo com a autonomia do BC na lei, cria uma sensação de que o BC de fato não vai atuar como autônomo, mesmo que seja uma minoria. É preciso que as escolhas sejam técnicas e vistas como independentes, mesmo mantendo autonomia na lei. É por isso que colocamos tanto peso nessas escolhas. Principalmente num momento em se discute mudar a meta. Essas duas nomeações ganharam muita importância por conta dessa discussão toda de mudar a meta e pressão para cair juros. É importante manter o BC de uma certa maneira isolado de pressões políticas e essas nomeações são cruciais para isso.

O aumento das metas de inflação pode ampliar a desancoragem das expectativas, prejudicar a credibilidade do Banco Central e, no limite, exigir uma retomada do ciclo de aperto monetário. A avaliação é da economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, que vê no debate uma ameaça à confiança na economia do País, especialmente diante da piora de perspectivas para a política fiscal e da falta de sinais sobre a âncora que substituirá o teto de gastos. Mesmo com os prejuízos decorrentes da incerteza sobre as metas, Srour argumenta que seria um erro que o CMN alterasse os alvos já na reunião da próxima quinta-feira, 16, devido às incertezas em torno da política fiscal no País.

“Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar”, afirma, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que vai ser cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o Conselho Monetário Nacional pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e rápida da confiança na economia.”

O Credit Suisse espera que o IPCA atinja 5,8% este ano - com viés de alta a 6,4% caso o governo retome a cobrança de impostos federais sobre combustíveis - e fique em 4% no ano que vem, em um cenário que considera a manutenção da meta em 3,0%. “Essa projeção vai mudar se a meta for mudada. Rapidamente. Porque isso vai afetar as expectativas de mercado e nossa projeção”, diz Srour. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual é a sua avaliação sobre a discussão em torno das metas de inflação?

Quando você tem um risco fiscal elevado, e ele já começa a afetar as expectativas de inflação, a discussão de aumentar a meta de inflação é muito contraproducente, porque desancora ainda mais as expectativas e deixa a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo na marra. É contraproducente, porque estamos começando a colher agora os frutos do juro real alto em termos de desinflação, mas vem uma discussão sobre mudança de meta em um momento em que estamos sem âncora fiscal e com uma incerteza muito grande sobre a sustentabilidade da dívida.

Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse, reforça importância do controle da inflação para a economia Foto: Wilton Junior / Estadão

Existe um nível razoável para se aumentar a meta?

Eu acho que não. Acho que qualquer mudança da meta vai acabar gerando a sensação de que, mesmo sem uma âncora fiscal, vamos tentar forçar a queda da Selic. Mesmo que seja 3,5% - e, se for 3,5%, não vai haver espaço para reduzir juros nos modelos do BC -, vai trazer a sensação de que há uma tentativa de puxar a Selic para baixo, ainda que as expectativas continuem desancoradas. Se for 4% ou 4,5%, acho que é muito pior, porque a reação do mercado vai ser de elevar ainda mais as expectativas de inflação, e isso pode acabar até levando o BC a ter de subir os juros.

O CMN deveria antecipar a decisão sobre as metas para diminuir a incerteza ou aguardar a apresentação do novo arcabouço fiscal?

Se a decisão do CMN for chegar na quinta-feira e dizer que as metas estão mantidas, seria super positivo, diminuiria a incerteza e o resultado seria uma melhora da confiança de que as metas vão ser cumpridas, ainda que não imediatamente, e a curva de juros não ficaria tão inclinada. Agora, se a decisão é elevar a meta, eu não sou a favor de fazer isso logo, sem antes dar alguma sinalização sobre o fiscal. Porque isso vai ser visto como voluntarismo, de tentar forçar uma queda da Selic sem ter nenhum tipo de previsibilidade. Além de aprovar a regra fiscal, o governo vai precisar mostrar como essa regra vai ser cumprida de fato, quais são os mecanismos de controle de gastos que vão impedir que essa regra seja modificada tantas vezes quanto foi o teto. É importante mostrar como ela vai ser cumprida.

O que uma elevação das metas implicaria para as expectativas do mercado?

Tudo depende de qual vai ser a meta e se vão mudar o intervalo de tolerância. Se a meta for para 4% ou 4,5%, mesmo com o intervalo de tolerância sendo mantido em 1,5 ponto porcentual, acho que as expectativas ainda têm mais a subir e vão buscar o topo da meta, porque a sensação é de que esse aumento da meta é para gerar um corte de juros antecipado e, sem âncora fiscal, isso vai resultar em mais inflação. Se além de tudo ainda se mudar o intervalo para dois pontos, a situação vai ficar muito ruim, sinalizando que se busca um topo mais alto ainda. Se fosse apresentada antes não só a regra fiscal como um meio de se alcançar a meta fiscal, as expectativas poderiam não ir logo para o topo da meta.

Podemos voltar a um equilíbrio próximo ao do governo Dilma, quando as expectativas se situavam sistematicamente no teto da meta?

Estamos voltando a um mix de perda de âncora fiscal e monetária ao mesmo tempo, que não é um mix bom de se estar. Até essas iniciativas de tentar constranger o BC, não tínhamos âncora fiscal, que se foi na PEC da Transição. Se perdermos a âncora monetária, se a meta de inflação for elevada de forma que ninguém mais acredite que será cumprida no seu centro, ou se começarmos a acreditar que o BC não vai ter mais autonomia de fato, porque a qualquer momento o CMN pode mudar a meta de novo, esse mix acaba gerando uma perda muito grande e muito rápida da confiança na economia. Foi o que vimos justamente em 2015: essa perda de confiança gera mais inflação via câmbio e expectativas desancoradas; um juro mais alto na curva, mesmo que a Selic fique constante; e uma desaceleração do PIB. É um mix bastante inflacionário e recessivo.

Em que medida a substituição de diretores do BC cujos mandatos terminam em fevereiro vai marcar a relação do governo com o BC?

Essas escolhas são uma sinalização importante, porque, se forem nomeados dois diretores que não forem vistos como técnicos independentes, mesmo com a autonomia do BC na lei, cria uma sensação de que o BC de fato não vai atuar como autônomo, mesmo que seja uma minoria. É preciso que as escolhas sejam técnicas e vistas como independentes, mesmo mantendo autonomia na lei. É por isso que colocamos tanto peso nessas escolhas. Principalmente num momento em se discute mudar a meta. Essas duas nomeações ganharam muita importância por conta dessa discussão toda de mudar a meta e pressão para cair juros. É importante manter o BC de uma certa maneira isolado de pressões políticas e essas nomeações são cruciais para isso.

Entrevista por Cícero Cotrim

Cícero Cotrim é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Renata Pedini

Renata Pedini é editora de Macroeconomia e Mercados do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, e colunista da Rádio Eldorado. Foi produtora e chefe de reportagem na Rádio CBN. Formada pela PUC-SP, cursou o MBA em Derivativos e informações econômico-financeiras da FIA e o Master em Jornalismo Econômico IICS.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.