Procurar o primeiro emprego costuma ser desafiador para os jovens. Mas um currículo bem estruturado pode ajudar nessa empreitada. Em entrevista ao Estadão, o gerente de gente e gestão da empresa de tecnologia de RH LG lugar de gente, Danilo Camapum, dá dicas de como construir o currículo ideal para os novatos.
O currículo deve conter com clareza informações sobre experiência profissional, formação acadêmica, referências e conhecimentos técnicos e profissionais.
De acordo com Camapum, é neste documento que o candidato pode demonstrar como suas habilidades conversam com as necessidades da posições ofertadas pela companhias. “No currículo, é essencial inserir informações verdadeiras, períodos e formações reais, conhecimentos e nível de proficiência de maneira transparente”, indica.
Cada vez mais se pede um currículo objetivo e resumido, acrescenta o gerente. “Isso acontece para facilitar o processo de triagem, tornando o processo mais dinâmico e rápido, o que ajuda o recrutador a ter uma visão mais eficiente dos candidatos”, explica.
Informações essenciais
Para Camapum, é essencial que o currículo contenha:
- Dados para contato do candidato, como telefone e e-mail
- Informações sobre a formação/escolaridade
- Descrição de habilidades. Neste campo, pode-se citar uma boa escrita, capacidade de comunicação, organização, proficiência em idiomas, entre outros
- Experiências gerais
Como citar experiências profissionais sem ter passado pelo mercado de trabalho?
Não é necessário estar no mercado de trabalho para acumular experiências que desenvolvam habilidades interessantes para o mundo profissional. De acordo com Camapum, há uma gama de atividades extracurriculares que vale a pena citar. Por exemplo:
- Trabalhos voluntários
- Liderança em projetos e grupos de trabalho extracurriculares na escola e/ou faculdade
- Trabalhos com a família ou em outros ambientes, como igrejas
- Intercâmbio: explique as atividades feitas no período e aponte os principais aprendizados
Ele indica adicionar um resumo do documento, com as expectativas profissionais. Nesse campo, o candidato de primeira viagem pode dizer que, por mais que não tenha experiência de trabalho, algumas vivências contribuíram para o desenvolvimento de habilidades que podem ser utilizadas no ambiente profissional.
“Além disso, é importante demonstrar a intenção e a disponibilidade para o aprendizado”, ressalta.
Como descrever o objetivo profissional?
Camapum avalia que a melhor maneira de descrever o objetivo profissional para quem está procurando o primeiro emprego é tentar fazer uma conexão das informações da vaga desejada com a jornada percorrida pelo candidato.
“O candidato formado em publicidade e propaganda que tem interesse pelas áreas de marketing e direção de arte pode apontar o desejo de desenvolver a carreira nestes setores no resumo do currículo, de forma direta e objetiva”, exemplifica.
O profissional sugere que o candidato explique brevemente como as experiências que ele tem podem contribuir com as atividades da posição buscada.
Habilidades e competências
Apesar de serem pontos especialmente abordados na entrevista como recrutador, Camapum avalia que a maneira como o candidato escreve o currículo pode antecipar a observação das empresas sobre as habilidades e competências do candidato.
“É imprescindível se preocupar muito com a escrita, com a clareza no que está sendo informado e com a coesão das informações do currículo”, recomenda.
Ele sugere que, no resumo, o candidato demonstre disponibilidade, vontade, e intenção de aprender. “Não é necessário escrever, por exemplo, que dispõe de um perfil proativo, de análise crítica, porque isso o recrutador vai entender no momento da entrevista”, destaca.
Aqui são interessantes também informações de possíveis cursos profissionalizantes, como Excel avançado, ou de idiomas. “Essas competências técnicas são sempre importantes de serem inseridas no documento”, afirma.
Como destacar a formação acadêmica?
É importante inserir o nome da instituição frequentada pelo candidato, tanto no nível de ensino médio, como graduação ou pós-graduação, aponta o especialista em gente e gestão. Ele destaca que o candidato deve incluir de forma clara o período da formação (ano de início e término, ou da previsão de conclusão).
“O resumo do currículo também é um excelente espaço para desenvolver melhor sobre as conquistas acadêmicas. Deve falar sobre a área de atuação (comercial, administrativa, tecnologia, saúde), sobre as experiências e habilidades adquiridas durante a formação, além de expor conhecimentos de ferramentas ou processos específicos do setor. Essas são excelentes formas de dar destaque para a jornada acadêmica”, diz.
Como organizar as informações?
Para Camapum, “dispor de uma boa formatação e escrita é fundamental para qualquer currículo”.
A ordem ideal para a disposição das informações do currículo é primeiro o nome e os dados pessoais. Depois, a formação. Em seguida, as experiências, ordenadas das mais recentes para as mais antigas. Caso deseje adicionar um título, pode ser o próprio nome do candidato, mas não é necessário.
Não há uma regra específica para a quantidade de páginas, mas Camapum orienta que o currículo tenha até duas laudas. “Quanto mais objetivo, melhor”, avalia. A fonte do texto não pode ser nem muito pequena, nem muito grande.
Em relação ao design, ele vê como necessário balancear a criatividade a depender da vaga para à qual o candidato está concorrendo.
“Por exemplo, para atuação como designer gráfico, faz sentido algo mais criativo, fora de padrão. Sempre se questione qual é a mensagem que quer passar com o currículo”, orienta.
Erros comuns a serem evitados
Os erros que o gerente mais observa nos currículos são os gramaticais e ortográficos. “É muito importante ter o português claro, correto e coeso. Com isso, o candidato demonstra que teve preocupação e cuidado com o seu currículo, com a comunicação que o documento quer passar. Ter uma boa escrita já é uma primeira impressão positiva”, declara.
Além disso, ele diz que muitos currículos não informam as datas das experiências do candidato, como empregos passados e formação acadêmica. “Isso para os recrutadores é ruim porque eles não conseguem ter noção desses períodos.”, justifica.
Ele recomenda inserir o mês e o ano de início e o mês e o ano da finalização de cada posição profissional. Já na formação acadêmica, apenas o ano de conclusão é suficiente.
Por fim, ele indica que a foto no currículo só seja inserida se de fato for pedida na descrição da seleção da vaga desejada. “Hoje em dia a foto é mais para o LinkedIn”, afirma.
Como adaptar o currículo para diferentes vagas e empresas?
O currículo não é um documento único, especialmente para iniciantes. Para cada seleção de emprego, ele deve ser adaptado para se adequar aos conhecimentos de ferramentas e processos habituais da área desejada.
“Adaptar o currículo é inserir informações que façam mais sentido para a vaga. Por exemplo, um candidato que fez uma transição de carreira, saindo da área financeira para a comercial, pode se candidatar a uma vaga desse setor e incluir no currículo apenas as experiências direcionadas à área comercial”, diz.
Ele orienta que o candidato leia com atenção a descrição da oportunidade para dar destaque aos conhecimentos pedidos pela empresa.
Carta de recomendação?
“Caso o candidato tenha uma carta de recomendação, é interessante, mas não é essencial. Um bom currículo é mais importante”, diz Camapum.
Ele recomenda enviar a carta de apresentação ou recomendação apenas quando são pedidas.
Use o LinkedIn
Para complementar o currículo, o candidato pode anexar no documento o link ou QR code do seu perfil no LinkedIn, rede social usada para compartilhar informações, formações, referências, conhecimentos técnicos e experiências profissionais.
Para Camapum, ter um perfil na rede social é importante hoje para todo mundo que trabalha em ambiente corporativo, independentemente de ter experiência.
“Por meio do LinkedIn, é possível interagir com pessoas da mesma área profissional, conhecer e entrar em contato com recrutadores, publicar e consumir conteúdos interessantes que promovam desenvolvimento e crescimento no setor profissional escolhido, além de ter visibilidade de tendências da área profissional”, explica.
Além disso, o gerente destaca que o LinkedIn é um canal para encontrar, filtrar e se candidatar a vagas disponíveis na área onde o candidato deseja atuar.
A foto do perfil na rede social não precisa necessariamente ser formal, com uma vestimenta séria, mas é importante ter cuidado por ser uma foto que inspira a postura no trabalho. “Pode ser sorrindo, descontraída, mas não pode ser uma foto no clube, de óculos escuros”, exemplifica.
Como achar vagas?
“Uma dica muito importante para quem está procurando emprego é aquecer o networking”, acredita Camapum. Ou seja, entrar em contato com pessoas conhecidas, que trabalham na área desejada em empresas que o candidato entende que façam sentido, e demonstrar para essas pessoas o interesse e a intenção de trabalhar nesses locais. “Isso pode ajudar para que a pessoa seja recomendada dentro da companhia”, afirma.
“Se quer trabalhar em uma empresa X, e vê uma vaga na companhia e conhece alguém que trabalha lá, não tem problema nenhum em procurar essa pessoa e mostrar o interesse nesta vaga e pedir uma indicação”, diz.
É possível também procurar a pessoa que está oferecendo a vaga no LinkedIn e entrar em contato. “Como o recrutador recebe, normalmente, um número grande de currículos, pode acontecer de o seu passar batido”, alerta. Em contato com essa pessoa, é mais fácil que o seu perfil não se perca entre os outros e seja analisado.
Para se destacar na triagem digital de currículo, Camapum recomenda que o candidato estude a vaga e insira palavras-chave no documento, contidas geralmente na descrição da posição. “Isso facilita que o documento apareça nas buscas que o recrutador fizer”, explica.