Com o crescente foco das empresas no bem-estar dos funcionários, o cargo de diretor de felicidade, também conhecido como chief happiness officer (CHO), está se consolidando como uma das novas apostas do mercado.
Esse profissional é responsável por promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo, avaliando desde a saúde mental dos colaboradores até o clima organizacional e as práticas de reconhecimento e recompensa.
Segundo Alexandre Rocha, especialista em desenvolvimento de novos negócios e ESG pela FGV, essa posição surge para monitorar e promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
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O que faz um diretor de felicidade?
A função principal desse profissional é identificar o bem-estar do colaborador - tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele.
Ele avalia a saúde mental, o clima organizacional e se a empresa adota práticas que afetam o rendimento dos funcionários. “Ele olha para o funcionário, para o contexto da empresa, e busca identificar se há falhas nos processos ou na cultura organizacional que estão gerando insatisfação”, afirma Rocha.
Segundo Vinicius Mutti, CHO na agência PROS, a função vai muito além de criar momentos divertidos ou proporcionar benefícios superficiais, como festas e tobogãs no escritório.
“Quando falamos de felicidade corporativa, não estamos nos referindo a sorrisos constantes. A ideia é criar um ambiente psicologicamente saudável, com feedbacks frequentes e uma liderança humanizada. Queremos garantir que as pessoas se sintam reconhecidas e com propósito no que fazem”, explica Mutti.
Essa função não se resume a um único departamento. Segundo Mutti, o diretor de felicidade, ou a pessoa responsável por isso, precisa observar o negócio e a cultura organizacional para identificar como promover a felicidade no trabalho.
Essa felicidade vai além de benefícios financeiros: abrange feedbacks constantes e o fortalecimento da liderança.
Em alguns casos, o diretor também está encarregado de analisar o potencial de desenvolvimento dos funcionários, oferecendo capacitação e suporte para que eles possam crescer dentro da empresa.
Ambev, Heineken e Chilli Beans já adotaram o cargo
No ano passado, a Chilli Beans anunciou Denize Savi como gestora executiva de felicidade. A empresa afirma que a ação é uma iniciativa contínua, com reflexões mensais baseadas em um indicador, e, que são avaliadas seis dimensões do comportamento humano: emoções positivas, engajamento, relacionamentos, significado, realização e vitalidade.
“Esse mapeamento, que tem embasamento científico, permite monitorar continuamente o bem-estar e a felicidade organizacional e propor ações de impacto, como por exemplo, rodas de conversa que integram colaboradores de diferentes áreas”, diz Denize.
A Heineken também aderiu à área em 2023, com Lívia Azevedo como líder. Raquel Zagui, diretora global de Diversidade, Equidade e Inclusão da fabricante de bebidas, explica que a ideia de criar uma área focada no bem-estar das pessoas tem relação com o pilar Social do ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).
Em 2021, a Ambev incorporou um gestor de felicidade na empresa. Durante a pandemia, a regional Nordeste da companhia criou o cargo de especialista happiness & learning. Mais detalhes aqui. A reportagem entrou em contato com a empresa para verificar se o cargo foi extinto ou ainda está ativo, mas não obteve resposta dentro do prazo de fechamento da matéria.
Quanto ganha um diretor de felicidade?
Segundo o site Glassdoor, a média salarial do cargo de diretor de felicidade no Brasil é de R$ 7.000, mas isso varia bastante, dependendo do tamanho da empresa e da região do País.
Rocha estima que a remuneração desse profissional fique na faixa de R$ 15 mil a R$ 40 mil. “O valor depende muito do tamanho da empresa e do nível de maturidade da organização, mas o teto que eu tenho visto é algo em torno de R$ 40 mil″, afirma o especialista.
Como se tornar um diretor de felicidade?
Apesar do cargo de diretor de felicidade ainda ser uma novidade, já atrai diversos profissionais, principalmente da área de recursos humanos.
No entanto, não há uma formação específica para essa função. “Esse cargo surgiu recentemente, e muitas empresas começaram a buscar pessoas cm experiência em gestão de pessoas, mas não há uma rota exata de formação para isso”, explica Rocha.
Profissionais de psicologia ou com formação em recursos humanos têm mais facilidade em ocupar esse cargo, já que possuem a sensibilidade necessária para entender o comportamento humano e identificar sinais de insatisfação.
“A psicologia se encaixa perfeitamente nessa função, pois permite ao profissional interpretar gestos, olhares e comportamentos que indicam o estado emocional do funcionário”, ressalta Rocha.
Além disso, habilidades como programação neurolinguística e técnicas de feedback são valorizadas para quem deseja seguir essa carreira.
O cargo de diretor de felicidade ainda está em ascensão, e a demanda por esse tipo de profissional tende a crescer nos próximos anos, especialmente com a pressão das agendas ESG, que exigem mais cuidado com o bem-estar social e psicológico dos trabalhadores.