Chefe que estimula autoestima consegue o melhor do funcionário, diz líder de Diversidade da L’oréal


Márcia Silveira, head de Diversidade e Inclusão no Brasil da multinacional de cosméticos é a primeira entrevistada da série ‘DNA da Liderança’, que conta histórias e dicas de carreiras

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:
Foto: PEDRO KIRILOS
Entrevista comMárcia SilveiraHead de Diversidade e Inclusão da L'Oréal Brasil

Como brilhar na carreira? Que passos dar para chegar a uma cargo de chefia? Quais habilidades são necessárias para isso? Essas e outras questões serão discutidas na nova série do Estadão, DNA da Liderança, de entrevistas com profissionais inspiradores.

A estreia é com Márcia Silveira. Muita coisa mudou na vida dela desde a primeira vez em que observou o prédio da L’Oréal em Nova York. Na época, trabalhar na multinacional francesa de cosméticos era o seu grande sonho. Há quase dois anos, a meta foi realizada. Hoje, Silveira está à frente do cargo que nasceu junto com a sua entrada na empresa aqui no Brasil: head de Diversidade e Inclusão. Antes disso, o setor só existia em outros quatro países: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França.

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Para Silveira, uma das missões importantes de um líder é promover a autoestima dos liderados. “Quando você consegue fazer seu colaborador ter autoestima, você extrai os melhores resultados. Um bom líder tem sempre que puxar pela autoestima do liderado, para que ele seja seu maior aliado. Uma pessoa com autoestima baixa não vai entregar o necessário para o avanço de uma boa estratégia.”

Confira trechos da entrevista:

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Como iniciou sua carreira e quando desejou se tornar líder?

Eu sou filha única, de pais que sempre trabalharam no mundo corporativo, eles sempre foram pessoas concursadas. Meu pai trabalhou na Petrobras até se aposentar e minha mãe trabalhou no antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Eu convivi muito nesses ambientes corporativos desde criança. Comecei a decidir minha carreira na escola, em um teste vocacional aos 12 anos. Deu jornalismo e comunicação.

Comecei a focar muito em ser uma jornalista. Depois de ter sido jornalista e de ter trabalhado muito na reputação de marcas e de associações, entendi que poderia traçar uma carreira de liderança. Foi quando comecei a frequentar muitos ambientes corporativos. Aquilo me deu muita vontade de ascender na carreira e de liderar.

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Que competências e habilidades são necessárias para ser bem-sucedida?

No meu caso, passando por ser quem eu sou, uma mulher que tem uma interseccionalidade de diversidades, sou uma mulher gorda, preta, mãe solo, eu tinha que provar quem eu sou até mesmo antes de chegar.

Eu tinha que provar muito o meu conhecimento e esse conhecimento era testado de diversas maneiras. Seja numa conversa informal, seja dentro de uma reunião formal. Eu tinha que ter sempre algo que me amparasse.

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Então, os diplomas, formações e cursos, sempre me ampararam. Rapidamente fui buscar uma formação de gestão. Dali em diante, fiz um dos melhores MBA executivos do Brasil, fiz cursos no Boston College. Estudei marketing e empreendedorismo, além de ter ido para Madri estudar inovação.

Todas essas minhas formações iam me dando mais respaldo para avançar na liderança. Tinha não só a experiência profissional, mas também um título que me ajudasse a respaldar isso, a sociedade pedia isso.

Márcia diz que se encanta com pessoas que estão no seu time e dominam algum assunto que ela não saiba; para a líder, é nesse momento que ela e toda a equipe brilham  Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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O que define como sucesso na sua carreira e o que acredita ser necessário para alcançar esse objetivo?

Já foi um sucesso ter entrado na L’Oréal, porque era um desejo muito forte. Me lembro quando morava em Nova York e nos momentos de folga ia passear muito no High Line Park. O prédio da L’Oréal fica lá perto. Sempre terminava o passeio e imaginava que um dia iria trabalhar na L’Oréal.

Menos de um ano depois eu vim trabalhar aqui. Esse foi um sucesso e agora celebro muito, celebro cada etapa. O próximo passo vai ser o próximo sucesso. Eu imagino um sucesso muito tangível.

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Uma posição C-Level é o meu próximo passo, depois uma presidência, um conselho administrativo. Eu quero seguir essa trajetória um pouco mais linear.

Atrelado a isso, meu grande sucesso é ter cumprido o meu papel principal no momento. O meu papel principal é ser mãe da Manuela, uma menina negra que precisa de atenção, que precisa de um olhar, que precisa de formação.

E o meu sucesso na vida é ver a Manuela brilhando, traçando a carreira dela do jeito que ela escolher, mas muito bem amparada pela força que eu possa dar em qualquer momento. É o grande sucesso da vida.

Que conselhos dá para profissionais que desejam alcançar cargos de liderança, principalmente mulheres?

As mulheres têm uma capacidade de terem aquela visão 360º. Também acho que vem muito do feminino essa questão do gestar, do cuidar e do servir. Não servir com o cunho escravagista. Mas a gente também tem o dom de servir e de servir com nobreza. Para que seja bem servido, para que seja grandioso, zeloso.

Isso tem muito a ver com skills que essas lideranças precisam ter hoje em dia. As pessoas são muito diversas, e cada diversidade demanda uma necessidade diferente. A líder que quiser nadar de braçada nesse ambiente precisa ter esse cuidado. Tem a ver com as necessidades do que o feminino exala ancestralmente.

Como você lida com a pressão que o cargo exige?

Tenho uma maturidade sobre o meu conhecimento. A noção de aonde eu posso ir e o que eu tenho de buscar de informação. Eu sei os meus limites. Essa maturidade me ajuda muito a lidar com a pressão.

Você tem pressões de diversos níveis, a pressão local e a pressão do seu time. Você aprende a ter essas habilidades de se controlar e controlar a sua entrega. Um exemplo: a média gerência é pressionada dos dois lados.

Quando você está numa média gerência é pressionado pelo seu time. Por outro lado, essa média gerência também sofre a pressão da alta gerência. Então, é um preparatório mesmo para o C-Level. Porque te dá uma noção de jogo de cintura para poder agir nesses momentos de pressão.

Como define o seu estilo de liderança?

Sou uma liderança participativa, empática e procuro ser parceira. Parceiro para mim envolve troca, envolve ombro a ombro, envolve respeito. Sempre me mantenho de peito aberto para receber os sentimentos e análises estruturadas de todos os meus colaboradores.

Aprendi cada vez mais a ser uma liderança mais humana, tenho muitas trocas de vulnerabilidade com o meu time e isso é importante para os dois lados.

Você tem que ‘work hard, play hard’ (trabalhar bastante, se divertir bastante). E eu sou esse tipo de chefe. Na hora que liga o botão da entrega ninguém me segura, ninguém me pega. Agora, na diversão, eu celebro muito.

Que estratégias usa para engajar sua equipe?

É olhar para o meu colaborador como um ser único e com que eu possa fazer essa troca. Eu sei que ali eu vou conseguir extrair ao máximo uma entrega possível. Em um, preciso ter uma condescendência maior, mas em outro posso exigir um pouco mais. Esse olhar mais direcionado para os skills dos colaboradores, para os seus momentos de picos e vales, porque nem todo mundo é linear.

Me encanta saber que tem uma pessoa que está no meu time e sabe mais do que eu sobre algum assunto. Eu tenho uma sede de aprender e eu tenho uma sede de reverenciar quem sabe mais e passar adiante quem é que meteu a mão naquele projeto e descobriu a melhor solução.

Conta um episódio que mudou a sua carreira e permitiu você chegar onde está hoje.

A minha virada de chave mais fortalecida de liderança foi o meu lado mais interessante e o meu lado mais difícil. Foi quando entendi que realmente estava preparada para dar um passo de ir cuidar de um negócio fora do Brasil.

Um negócio que estava nascendo e que era um braço da empresa, o primeiro salão de beleza de uma empresa brasileira [Beleza Natural] nos Estados Unidos, em um lugar muito fortalecido em relação à diversidade, que é o Harlem (bairro da comunidade negra americana).

Então, estava dando um passo de liderança, de gestão de vida pessoal também. Porque deixei minha família toda aqui. Meu ex-marido ficou com a minha filha e com a minha mãe.

Então, essa tomada de decisão foi um breaking point (ponto de ruptura) na minha carreira. Eu já vinha liderando há muito tempo, mas acho que ali me deu uma casca de sobrevivência e até de poder, me fez ser a líder que estou sendo hoje.

Quais são os desafios da área de Diversidade e Inclusão?

No Grupo L’Oréal, temos uma trajetória na cadeira de diversidade. Ela já é um pouco mais longa, 20 anos, e começou com uma causa muito forte para a empresa que é o empoderamento feminino.

A empresa no Brasil é formada por 51% de mulheres e 49% de homens. Então, quando você olha para esses números, eles não nasceram agora, nasceram de uma estratégia que a empresa decidiu tomar. Não é só a maioria, a gente tem 54% de mulheres na liderança.

A diversidade na L’Oréal já vinha sendo muito bem montada, mas nos últimos cinco anos tivemos um boom de todas as outras diversidades. O maior desafio é conseguir dar a dose certa para cada comunidade numa estratégia que abranja todo o corpo da empresa.

O maior desafio é encontrar a dose certa de como você ter esse equilíbrio entre as diversidades que existem aqui, principalmente no Brasil.

Dica de um filme, livro, série que mudou sua forma de enxergar a carreira.

Um filme que me marca muito é a Cor Púrpura. É um filme que a protagonista faz do limão uma limonada, é isso que eu faço, uma limonada e uma caipirinha bem docinha.

Mesmo passando por tudo que ela passa, ainda demonstra uma alegria, um otimismo, uma paixão e no final ela se torna uma empreendedora de sucesso.

É uma história que está muito ligada ao sonho americano, mas pode ser isso. Acho que eu sempre fiz um pouco parte desse sonho americano, tanto que o Harlem (bairro de Nova York) foi meu sonho americano, e ele é um sonho que está dando certo.

Como brilhar na carreira? Que passos dar para chegar a uma cargo de chefia? Quais habilidades são necessárias para isso? Essas e outras questões serão discutidas na nova série do Estadão, DNA da Liderança, de entrevistas com profissionais inspiradores.

A estreia é com Márcia Silveira. Muita coisa mudou na vida dela desde a primeira vez em que observou o prédio da L’Oréal em Nova York. Na época, trabalhar na multinacional francesa de cosméticos era o seu grande sonho. Há quase dois anos, a meta foi realizada. Hoje, Silveira está à frente do cargo que nasceu junto com a sua entrada na empresa aqui no Brasil: head de Diversidade e Inclusão. Antes disso, o setor só existia em outros quatro países: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França.

Para Silveira, uma das missões importantes de um líder é promover a autoestima dos liderados. “Quando você consegue fazer seu colaborador ter autoestima, você extrai os melhores resultados. Um bom líder tem sempre que puxar pela autoestima do liderado, para que ele seja seu maior aliado. Uma pessoa com autoestima baixa não vai entregar o necessário para o avanço de uma boa estratégia.”

Confira trechos da entrevista:

Como iniciou sua carreira e quando desejou se tornar líder?

Eu sou filha única, de pais que sempre trabalharam no mundo corporativo, eles sempre foram pessoas concursadas. Meu pai trabalhou na Petrobras até se aposentar e minha mãe trabalhou no antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Eu convivi muito nesses ambientes corporativos desde criança. Comecei a decidir minha carreira na escola, em um teste vocacional aos 12 anos. Deu jornalismo e comunicação.

Comecei a focar muito em ser uma jornalista. Depois de ter sido jornalista e de ter trabalhado muito na reputação de marcas e de associações, entendi que poderia traçar uma carreira de liderança. Foi quando comecei a frequentar muitos ambientes corporativos. Aquilo me deu muita vontade de ascender na carreira e de liderar.

Que competências e habilidades são necessárias para ser bem-sucedida?

No meu caso, passando por ser quem eu sou, uma mulher que tem uma interseccionalidade de diversidades, sou uma mulher gorda, preta, mãe solo, eu tinha que provar quem eu sou até mesmo antes de chegar.

Eu tinha que provar muito o meu conhecimento e esse conhecimento era testado de diversas maneiras. Seja numa conversa informal, seja dentro de uma reunião formal. Eu tinha que ter sempre algo que me amparasse.

Então, os diplomas, formações e cursos, sempre me ampararam. Rapidamente fui buscar uma formação de gestão. Dali em diante, fiz um dos melhores MBA executivos do Brasil, fiz cursos no Boston College. Estudei marketing e empreendedorismo, além de ter ido para Madri estudar inovação.

Todas essas minhas formações iam me dando mais respaldo para avançar na liderança. Tinha não só a experiência profissional, mas também um título que me ajudasse a respaldar isso, a sociedade pedia isso.

Márcia diz que se encanta com pessoas que estão no seu time e dominam algum assunto que ela não saiba; para a líder, é nesse momento que ela e toda a equipe brilham  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O que define como sucesso na sua carreira e o que acredita ser necessário para alcançar esse objetivo?

Já foi um sucesso ter entrado na L’Oréal, porque era um desejo muito forte. Me lembro quando morava em Nova York e nos momentos de folga ia passear muito no High Line Park. O prédio da L’Oréal fica lá perto. Sempre terminava o passeio e imaginava que um dia iria trabalhar na L’Oréal.

Menos de um ano depois eu vim trabalhar aqui. Esse foi um sucesso e agora celebro muito, celebro cada etapa. O próximo passo vai ser o próximo sucesso. Eu imagino um sucesso muito tangível.

Uma posição C-Level é o meu próximo passo, depois uma presidência, um conselho administrativo. Eu quero seguir essa trajetória um pouco mais linear.

Atrelado a isso, meu grande sucesso é ter cumprido o meu papel principal no momento. O meu papel principal é ser mãe da Manuela, uma menina negra que precisa de atenção, que precisa de um olhar, que precisa de formação.

E o meu sucesso na vida é ver a Manuela brilhando, traçando a carreira dela do jeito que ela escolher, mas muito bem amparada pela força que eu possa dar em qualquer momento. É o grande sucesso da vida.

Que conselhos dá para profissionais que desejam alcançar cargos de liderança, principalmente mulheres?

As mulheres têm uma capacidade de terem aquela visão 360º. Também acho que vem muito do feminino essa questão do gestar, do cuidar e do servir. Não servir com o cunho escravagista. Mas a gente também tem o dom de servir e de servir com nobreza. Para que seja bem servido, para que seja grandioso, zeloso.

Isso tem muito a ver com skills que essas lideranças precisam ter hoje em dia. As pessoas são muito diversas, e cada diversidade demanda uma necessidade diferente. A líder que quiser nadar de braçada nesse ambiente precisa ter esse cuidado. Tem a ver com as necessidades do que o feminino exala ancestralmente.

Como você lida com a pressão que o cargo exige?

Tenho uma maturidade sobre o meu conhecimento. A noção de aonde eu posso ir e o que eu tenho de buscar de informação. Eu sei os meus limites. Essa maturidade me ajuda muito a lidar com a pressão.

Você tem pressões de diversos níveis, a pressão local e a pressão do seu time. Você aprende a ter essas habilidades de se controlar e controlar a sua entrega. Um exemplo: a média gerência é pressionada dos dois lados.

Quando você está numa média gerência é pressionado pelo seu time. Por outro lado, essa média gerência também sofre a pressão da alta gerência. Então, é um preparatório mesmo para o C-Level. Porque te dá uma noção de jogo de cintura para poder agir nesses momentos de pressão.

Como define o seu estilo de liderança?

Sou uma liderança participativa, empática e procuro ser parceira. Parceiro para mim envolve troca, envolve ombro a ombro, envolve respeito. Sempre me mantenho de peito aberto para receber os sentimentos e análises estruturadas de todos os meus colaboradores.

Aprendi cada vez mais a ser uma liderança mais humana, tenho muitas trocas de vulnerabilidade com o meu time e isso é importante para os dois lados.

Você tem que ‘work hard, play hard’ (trabalhar bastante, se divertir bastante). E eu sou esse tipo de chefe. Na hora que liga o botão da entrega ninguém me segura, ninguém me pega. Agora, na diversão, eu celebro muito.

Que estratégias usa para engajar sua equipe?

É olhar para o meu colaborador como um ser único e com que eu possa fazer essa troca. Eu sei que ali eu vou conseguir extrair ao máximo uma entrega possível. Em um, preciso ter uma condescendência maior, mas em outro posso exigir um pouco mais. Esse olhar mais direcionado para os skills dos colaboradores, para os seus momentos de picos e vales, porque nem todo mundo é linear.

Me encanta saber que tem uma pessoa que está no meu time e sabe mais do que eu sobre algum assunto. Eu tenho uma sede de aprender e eu tenho uma sede de reverenciar quem sabe mais e passar adiante quem é que meteu a mão naquele projeto e descobriu a melhor solução.

Conta um episódio que mudou a sua carreira e permitiu você chegar onde está hoje.

A minha virada de chave mais fortalecida de liderança foi o meu lado mais interessante e o meu lado mais difícil. Foi quando entendi que realmente estava preparada para dar um passo de ir cuidar de um negócio fora do Brasil.

Um negócio que estava nascendo e que era um braço da empresa, o primeiro salão de beleza de uma empresa brasileira [Beleza Natural] nos Estados Unidos, em um lugar muito fortalecido em relação à diversidade, que é o Harlem (bairro da comunidade negra americana).

Então, estava dando um passo de liderança, de gestão de vida pessoal também. Porque deixei minha família toda aqui. Meu ex-marido ficou com a minha filha e com a minha mãe.

Então, essa tomada de decisão foi um breaking point (ponto de ruptura) na minha carreira. Eu já vinha liderando há muito tempo, mas acho que ali me deu uma casca de sobrevivência e até de poder, me fez ser a líder que estou sendo hoje.

Quais são os desafios da área de Diversidade e Inclusão?

No Grupo L’Oréal, temos uma trajetória na cadeira de diversidade. Ela já é um pouco mais longa, 20 anos, e começou com uma causa muito forte para a empresa que é o empoderamento feminino.

A empresa no Brasil é formada por 51% de mulheres e 49% de homens. Então, quando você olha para esses números, eles não nasceram agora, nasceram de uma estratégia que a empresa decidiu tomar. Não é só a maioria, a gente tem 54% de mulheres na liderança.

A diversidade na L’Oréal já vinha sendo muito bem montada, mas nos últimos cinco anos tivemos um boom de todas as outras diversidades. O maior desafio é conseguir dar a dose certa para cada comunidade numa estratégia que abranja todo o corpo da empresa.

O maior desafio é encontrar a dose certa de como você ter esse equilíbrio entre as diversidades que existem aqui, principalmente no Brasil.

Dica de um filme, livro, série que mudou sua forma de enxergar a carreira.

Um filme que me marca muito é a Cor Púrpura. É um filme que a protagonista faz do limão uma limonada, é isso que eu faço, uma limonada e uma caipirinha bem docinha.

Mesmo passando por tudo que ela passa, ainda demonstra uma alegria, um otimismo, uma paixão e no final ela se torna uma empreendedora de sucesso.

É uma história que está muito ligada ao sonho americano, mas pode ser isso. Acho que eu sempre fiz um pouco parte desse sonho americano, tanto que o Harlem (bairro de Nova York) foi meu sonho americano, e ele é um sonho que está dando certo.

Como brilhar na carreira? Que passos dar para chegar a uma cargo de chefia? Quais habilidades são necessárias para isso? Essas e outras questões serão discutidas na nova série do Estadão, DNA da Liderança, de entrevistas com profissionais inspiradores.

A estreia é com Márcia Silveira. Muita coisa mudou na vida dela desde a primeira vez em que observou o prédio da L’Oréal em Nova York. Na época, trabalhar na multinacional francesa de cosméticos era o seu grande sonho. Há quase dois anos, a meta foi realizada. Hoje, Silveira está à frente do cargo que nasceu junto com a sua entrada na empresa aqui no Brasil: head de Diversidade e Inclusão. Antes disso, o setor só existia em outros quatro países: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França.

Para Silveira, uma das missões importantes de um líder é promover a autoestima dos liderados. “Quando você consegue fazer seu colaborador ter autoestima, você extrai os melhores resultados. Um bom líder tem sempre que puxar pela autoestima do liderado, para que ele seja seu maior aliado. Uma pessoa com autoestima baixa não vai entregar o necessário para o avanço de uma boa estratégia.”

Confira trechos da entrevista:

Como iniciou sua carreira e quando desejou se tornar líder?

Eu sou filha única, de pais que sempre trabalharam no mundo corporativo, eles sempre foram pessoas concursadas. Meu pai trabalhou na Petrobras até se aposentar e minha mãe trabalhou no antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Eu convivi muito nesses ambientes corporativos desde criança. Comecei a decidir minha carreira na escola, em um teste vocacional aos 12 anos. Deu jornalismo e comunicação.

Comecei a focar muito em ser uma jornalista. Depois de ter sido jornalista e de ter trabalhado muito na reputação de marcas e de associações, entendi que poderia traçar uma carreira de liderança. Foi quando comecei a frequentar muitos ambientes corporativos. Aquilo me deu muita vontade de ascender na carreira e de liderar.

Que competências e habilidades são necessárias para ser bem-sucedida?

No meu caso, passando por ser quem eu sou, uma mulher que tem uma interseccionalidade de diversidades, sou uma mulher gorda, preta, mãe solo, eu tinha que provar quem eu sou até mesmo antes de chegar.

Eu tinha que provar muito o meu conhecimento e esse conhecimento era testado de diversas maneiras. Seja numa conversa informal, seja dentro de uma reunião formal. Eu tinha que ter sempre algo que me amparasse.

Então, os diplomas, formações e cursos, sempre me ampararam. Rapidamente fui buscar uma formação de gestão. Dali em diante, fiz um dos melhores MBA executivos do Brasil, fiz cursos no Boston College. Estudei marketing e empreendedorismo, além de ter ido para Madri estudar inovação.

Todas essas minhas formações iam me dando mais respaldo para avançar na liderança. Tinha não só a experiência profissional, mas também um título que me ajudasse a respaldar isso, a sociedade pedia isso.

Márcia diz que se encanta com pessoas que estão no seu time e dominam algum assunto que ela não saiba; para a líder, é nesse momento que ela e toda a equipe brilham  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O que define como sucesso na sua carreira e o que acredita ser necessário para alcançar esse objetivo?

Já foi um sucesso ter entrado na L’Oréal, porque era um desejo muito forte. Me lembro quando morava em Nova York e nos momentos de folga ia passear muito no High Line Park. O prédio da L’Oréal fica lá perto. Sempre terminava o passeio e imaginava que um dia iria trabalhar na L’Oréal.

Menos de um ano depois eu vim trabalhar aqui. Esse foi um sucesso e agora celebro muito, celebro cada etapa. O próximo passo vai ser o próximo sucesso. Eu imagino um sucesso muito tangível.

Uma posição C-Level é o meu próximo passo, depois uma presidência, um conselho administrativo. Eu quero seguir essa trajetória um pouco mais linear.

Atrelado a isso, meu grande sucesso é ter cumprido o meu papel principal no momento. O meu papel principal é ser mãe da Manuela, uma menina negra que precisa de atenção, que precisa de um olhar, que precisa de formação.

E o meu sucesso na vida é ver a Manuela brilhando, traçando a carreira dela do jeito que ela escolher, mas muito bem amparada pela força que eu possa dar em qualquer momento. É o grande sucesso da vida.

Que conselhos dá para profissionais que desejam alcançar cargos de liderança, principalmente mulheres?

As mulheres têm uma capacidade de terem aquela visão 360º. Também acho que vem muito do feminino essa questão do gestar, do cuidar e do servir. Não servir com o cunho escravagista. Mas a gente também tem o dom de servir e de servir com nobreza. Para que seja bem servido, para que seja grandioso, zeloso.

Isso tem muito a ver com skills que essas lideranças precisam ter hoje em dia. As pessoas são muito diversas, e cada diversidade demanda uma necessidade diferente. A líder que quiser nadar de braçada nesse ambiente precisa ter esse cuidado. Tem a ver com as necessidades do que o feminino exala ancestralmente.

Como você lida com a pressão que o cargo exige?

Tenho uma maturidade sobre o meu conhecimento. A noção de aonde eu posso ir e o que eu tenho de buscar de informação. Eu sei os meus limites. Essa maturidade me ajuda muito a lidar com a pressão.

Você tem pressões de diversos níveis, a pressão local e a pressão do seu time. Você aprende a ter essas habilidades de se controlar e controlar a sua entrega. Um exemplo: a média gerência é pressionada dos dois lados.

Quando você está numa média gerência é pressionado pelo seu time. Por outro lado, essa média gerência também sofre a pressão da alta gerência. Então, é um preparatório mesmo para o C-Level. Porque te dá uma noção de jogo de cintura para poder agir nesses momentos de pressão.

Como define o seu estilo de liderança?

Sou uma liderança participativa, empática e procuro ser parceira. Parceiro para mim envolve troca, envolve ombro a ombro, envolve respeito. Sempre me mantenho de peito aberto para receber os sentimentos e análises estruturadas de todos os meus colaboradores.

Aprendi cada vez mais a ser uma liderança mais humana, tenho muitas trocas de vulnerabilidade com o meu time e isso é importante para os dois lados.

Você tem que ‘work hard, play hard’ (trabalhar bastante, se divertir bastante). E eu sou esse tipo de chefe. Na hora que liga o botão da entrega ninguém me segura, ninguém me pega. Agora, na diversão, eu celebro muito.

Que estratégias usa para engajar sua equipe?

É olhar para o meu colaborador como um ser único e com que eu possa fazer essa troca. Eu sei que ali eu vou conseguir extrair ao máximo uma entrega possível. Em um, preciso ter uma condescendência maior, mas em outro posso exigir um pouco mais. Esse olhar mais direcionado para os skills dos colaboradores, para os seus momentos de picos e vales, porque nem todo mundo é linear.

Me encanta saber que tem uma pessoa que está no meu time e sabe mais do que eu sobre algum assunto. Eu tenho uma sede de aprender e eu tenho uma sede de reverenciar quem sabe mais e passar adiante quem é que meteu a mão naquele projeto e descobriu a melhor solução.

Conta um episódio que mudou a sua carreira e permitiu você chegar onde está hoje.

A minha virada de chave mais fortalecida de liderança foi o meu lado mais interessante e o meu lado mais difícil. Foi quando entendi que realmente estava preparada para dar um passo de ir cuidar de um negócio fora do Brasil.

Um negócio que estava nascendo e que era um braço da empresa, o primeiro salão de beleza de uma empresa brasileira [Beleza Natural] nos Estados Unidos, em um lugar muito fortalecido em relação à diversidade, que é o Harlem (bairro da comunidade negra americana).

Então, estava dando um passo de liderança, de gestão de vida pessoal também. Porque deixei minha família toda aqui. Meu ex-marido ficou com a minha filha e com a minha mãe.

Então, essa tomada de decisão foi um breaking point (ponto de ruptura) na minha carreira. Eu já vinha liderando há muito tempo, mas acho que ali me deu uma casca de sobrevivência e até de poder, me fez ser a líder que estou sendo hoje.

Quais são os desafios da área de Diversidade e Inclusão?

No Grupo L’Oréal, temos uma trajetória na cadeira de diversidade. Ela já é um pouco mais longa, 20 anos, e começou com uma causa muito forte para a empresa que é o empoderamento feminino.

A empresa no Brasil é formada por 51% de mulheres e 49% de homens. Então, quando você olha para esses números, eles não nasceram agora, nasceram de uma estratégia que a empresa decidiu tomar. Não é só a maioria, a gente tem 54% de mulheres na liderança.

A diversidade na L’Oréal já vinha sendo muito bem montada, mas nos últimos cinco anos tivemos um boom de todas as outras diversidades. O maior desafio é conseguir dar a dose certa para cada comunidade numa estratégia que abranja todo o corpo da empresa.

O maior desafio é encontrar a dose certa de como você ter esse equilíbrio entre as diversidades que existem aqui, principalmente no Brasil.

Dica de um filme, livro, série que mudou sua forma de enxergar a carreira.

Um filme que me marca muito é a Cor Púrpura. É um filme que a protagonista faz do limão uma limonada, é isso que eu faço, uma limonada e uma caipirinha bem docinha.

Mesmo passando por tudo que ela passa, ainda demonstra uma alegria, um otimismo, uma paixão e no final ela se torna uma empreendedora de sucesso.

É uma história que está muito ligada ao sonho americano, mas pode ser isso. Acho que eu sempre fiz um pouco parte desse sonho americano, tanto que o Harlem (bairro de Nova York) foi meu sonho americano, e ele é um sonho que está dando certo.

Como brilhar na carreira? Que passos dar para chegar a uma cargo de chefia? Quais habilidades são necessárias para isso? Essas e outras questões serão discutidas na nova série do Estadão, DNA da Liderança, de entrevistas com profissionais inspiradores.

A estreia é com Márcia Silveira. Muita coisa mudou na vida dela desde a primeira vez em que observou o prédio da L’Oréal em Nova York. Na época, trabalhar na multinacional francesa de cosméticos era o seu grande sonho. Há quase dois anos, a meta foi realizada. Hoje, Silveira está à frente do cargo que nasceu junto com a sua entrada na empresa aqui no Brasil: head de Diversidade e Inclusão. Antes disso, o setor só existia em outros quatro países: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França.

Para Silveira, uma das missões importantes de um líder é promover a autoestima dos liderados. “Quando você consegue fazer seu colaborador ter autoestima, você extrai os melhores resultados. Um bom líder tem sempre que puxar pela autoestima do liderado, para que ele seja seu maior aliado. Uma pessoa com autoestima baixa não vai entregar o necessário para o avanço de uma boa estratégia.”

Confira trechos da entrevista:

Como iniciou sua carreira e quando desejou se tornar líder?

Eu sou filha única, de pais que sempre trabalharam no mundo corporativo, eles sempre foram pessoas concursadas. Meu pai trabalhou na Petrobras até se aposentar e minha mãe trabalhou no antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Eu convivi muito nesses ambientes corporativos desde criança. Comecei a decidir minha carreira na escola, em um teste vocacional aos 12 anos. Deu jornalismo e comunicação.

Comecei a focar muito em ser uma jornalista. Depois de ter sido jornalista e de ter trabalhado muito na reputação de marcas e de associações, entendi que poderia traçar uma carreira de liderança. Foi quando comecei a frequentar muitos ambientes corporativos. Aquilo me deu muita vontade de ascender na carreira e de liderar.

Que competências e habilidades são necessárias para ser bem-sucedida?

No meu caso, passando por ser quem eu sou, uma mulher que tem uma interseccionalidade de diversidades, sou uma mulher gorda, preta, mãe solo, eu tinha que provar quem eu sou até mesmo antes de chegar.

Eu tinha que provar muito o meu conhecimento e esse conhecimento era testado de diversas maneiras. Seja numa conversa informal, seja dentro de uma reunião formal. Eu tinha que ter sempre algo que me amparasse.

Então, os diplomas, formações e cursos, sempre me ampararam. Rapidamente fui buscar uma formação de gestão. Dali em diante, fiz um dos melhores MBA executivos do Brasil, fiz cursos no Boston College. Estudei marketing e empreendedorismo, além de ter ido para Madri estudar inovação.

Todas essas minhas formações iam me dando mais respaldo para avançar na liderança. Tinha não só a experiência profissional, mas também um título que me ajudasse a respaldar isso, a sociedade pedia isso.

Márcia diz que se encanta com pessoas que estão no seu time e dominam algum assunto que ela não saiba; para a líder, é nesse momento que ela e toda a equipe brilham  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O que define como sucesso na sua carreira e o que acredita ser necessário para alcançar esse objetivo?

Já foi um sucesso ter entrado na L’Oréal, porque era um desejo muito forte. Me lembro quando morava em Nova York e nos momentos de folga ia passear muito no High Line Park. O prédio da L’Oréal fica lá perto. Sempre terminava o passeio e imaginava que um dia iria trabalhar na L’Oréal.

Menos de um ano depois eu vim trabalhar aqui. Esse foi um sucesso e agora celebro muito, celebro cada etapa. O próximo passo vai ser o próximo sucesso. Eu imagino um sucesso muito tangível.

Uma posição C-Level é o meu próximo passo, depois uma presidência, um conselho administrativo. Eu quero seguir essa trajetória um pouco mais linear.

Atrelado a isso, meu grande sucesso é ter cumprido o meu papel principal no momento. O meu papel principal é ser mãe da Manuela, uma menina negra que precisa de atenção, que precisa de um olhar, que precisa de formação.

E o meu sucesso na vida é ver a Manuela brilhando, traçando a carreira dela do jeito que ela escolher, mas muito bem amparada pela força que eu possa dar em qualquer momento. É o grande sucesso da vida.

Que conselhos dá para profissionais que desejam alcançar cargos de liderança, principalmente mulheres?

As mulheres têm uma capacidade de terem aquela visão 360º. Também acho que vem muito do feminino essa questão do gestar, do cuidar e do servir. Não servir com o cunho escravagista. Mas a gente também tem o dom de servir e de servir com nobreza. Para que seja bem servido, para que seja grandioso, zeloso.

Isso tem muito a ver com skills que essas lideranças precisam ter hoje em dia. As pessoas são muito diversas, e cada diversidade demanda uma necessidade diferente. A líder que quiser nadar de braçada nesse ambiente precisa ter esse cuidado. Tem a ver com as necessidades do que o feminino exala ancestralmente.

Como você lida com a pressão que o cargo exige?

Tenho uma maturidade sobre o meu conhecimento. A noção de aonde eu posso ir e o que eu tenho de buscar de informação. Eu sei os meus limites. Essa maturidade me ajuda muito a lidar com a pressão.

Você tem pressões de diversos níveis, a pressão local e a pressão do seu time. Você aprende a ter essas habilidades de se controlar e controlar a sua entrega. Um exemplo: a média gerência é pressionada dos dois lados.

Quando você está numa média gerência é pressionado pelo seu time. Por outro lado, essa média gerência também sofre a pressão da alta gerência. Então, é um preparatório mesmo para o C-Level. Porque te dá uma noção de jogo de cintura para poder agir nesses momentos de pressão.

Como define o seu estilo de liderança?

Sou uma liderança participativa, empática e procuro ser parceira. Parceiro para mim envolve troca, envolve ombro a ombro, envolve respeito. Sempre me mantenho de peito aberto para receber os sentimentos e análises estruturadas de todos os meus colaboradores.

Aprendi cada vez mais a ser uma liderança mais humana, tenho muitas trocas de vulnerabilidade com o meu time e isso é importante para os dois lados.

Você tem que ‘work hard, play hard’ (trabalhar bastante, se divertir bastante). E eu sou esse tipo de chefe. Na hora que liga o botão da entrega ninguém me segura, ninguém me pega. Agora, na diversão, eu celebro muito.

Que estratégias usa para engajar sua equipe?

É olhar para o meu colaborador como um ser único e com que eu possa fazer essa troca. Eu sei que ali eu vou conseguir extrair ao máximo uma entrega possível. Em um, preciso ter uma condescendência maior, mas em outro posso exigir um pouco mais. Esse olhar mais direcionado para os skills dos colaboradores, para os seus momentos de picos e vales, porque nem todo mundo é linear.

Me encanta saber que tem uma pessoa que está no meu time e sabe mais do que eu sobre algum assunto. Eu tenho uma sede de aprender e eu tenho uma sede de reverenciar quem sabe mais e passar adiante quem é que meteu a mão naquele projeto e descobriu a melhor solução.

Conta um episódio que mudou a sua carreira e permitiu você chegar onde está hoje.

A minha virada de chave mais fortalecida de liderança foi o meu lado mais interessante e o meu lado mais difícil. Foi quando entendi que realmente estava preparada para dar um passo de ir cuidar de um negócio fora do Brasil.

Um negócio que estava nascendo e que era um braço da empresa, o primeiro salão de beleza de uma empresa brasileira [Beleza Natural] nos Estados Unidos, em um lugar muito fortalecido em relação à diversidade, que é o Harlem (bairro da comunidade negra americana).

Então, estava dando um passo de liderança, de gestão de vida pessoal também. Porque deixei minha família toda aqui. Meu ex-marido ficou com a minha filha e com a minha mãe.

Então, essa tomada de decisão foi um breaking point (ponto de ruptura) na minha carreira. Eu já vinha liderando há muito tempo, mas acho que ali me deu uma casca de sobrevivência e até de poder, me fez ser a líder que estou sendo hoje.

Quais são os desafios da área de Diversidade e Inclusão?

No Grupo L’Oréal, temos uma trajetória na cadeira de diversidade. Ela já é um pouco mais longa, 20 anos, e começou com uma causa muito forte para a empresa que é o empoderamento feminino.

A empresa no Brasil é formada por 51% de mulheres e 49% de homens. Então, quando você olha para esses números, eles não nasceram agora, nasceram de uma estratégia que a empresa decidiu tomar. Não é só a maioria, a gente tem 54% de mulheres na liderança.

A diversidade na L’Oréal já vinha sendo muito bem montada, mas nos últimos cinco anos tivemos um boom de todas as outras diversidades. O maior desafio é conseguir dar a dose certa para cada comunidade numa estratégia que abranja todo o corpo da empresa.

O maior desafio é encontrar a dose certa de como você ter esse equilíbrio entre as diversidades que existem aqui, principalmente no Brasil.

Dica de um filme, livro, série que mudou sua forma de enxergar a carreira.

Um filme que me marca muito é a Cor Púrpura. É um filme que a protagonista faz do limão uma limonada, é isso que eu faço, uma limonada e uma caipirinha bem docinha.

Mesmo passando por tudo que ela passa, ainda demonstra uma alegria, um otimismo, uma paixão e no final ela se torna uma empreendedora de sucesso.

É uma história que está muito ligada ao sonho americano, mas pode ser isso. Acho que eu sempre fiz um pouco parte desse sonho americano, tanto que o Harlem (bairro de Nova York) foi meu sonho americano, e ele é um sonho que está dando certo.

Como brilhar na carreira? Que passos dar para chegar a uma cargo de chefia? Quais habilidades são necessárias para isso? Essas e outras questões serão discutidas na nova série do Estadão, DNA da Liderança, de entrevistas com profissionais inspiradores.

A estreia é com Márcia Silveira. Muita coisa mudou na vida dela desde a primeira vez em que observou o prédio da L’Oréal em Nova York. Na época, trabalhar na multinacional francesa de cosméticos era o seu grande sonho. Há quase dois anos, a meta foi realizada. Hoje, Silveira está à frente do cargo que nasceu junto com a sua entrada na empresa aqui no Brasil: head de Diversidade e Inclusão. Antes disso, o setor só existia em outros quatro países: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e França.

Para Silveira, uma das missões importantes de um líder é promover a autoestima dos liderados. “Quando você consegue fazer seu colaborador ter autoestima, você extrai os melhores resultados. Um bom líder tem sempre que puxar pela autoestima do liderado, para que ele seja seu maior aliado. Uma pessoa com autoestima baixa não vai entregar o necessário para o avanço de uma boa estratégia.”

Confira trechos da entrevista:

Como iniciou sua carreira e quando desejou se tornar líder?

Eu sou filha única, de pais que sempre trabalharam no mundo corporativo, eles sempre foram pessoas concursadas. Meu pai trabalhou na Petrobras até se aposentar e minha mãe trabalhou no antigo Banespa (Banco do Estado de São Paulo). Eu convivi muito nesses ambientes corporativos desde criança. Comecei a decidir minha carreira na escola, em um teste vocacional aos 12 anos. Deu jornalismo e comunicação.

Comecei a focar muito em ser uma jornalista. Depois de ter sido jornalista e de ter trabalhado muito na reputação de marcas e de associações, entendi que poderia traçar uma carreira de liderança. Foi quando comecei a frequentar muitos ambientes corporativos. Aquilo me deu muita vontade de ascender na carreira e de liderar.

Que competências e habilidades são necessárias para ser bem-sucedida?

No meu caso, passando por ser quem eu sou, uma mulher que tem uma interseccionalidade de diversidades, sou uma mulher gorda, preta, mãe solo, eu tinha que provar quem eu sou até mesmo antes de chegar.

Eu tinha que provar muito o meu conhecimento e esse conhecimento era testado de diversas maneiras. Seja numa conversa informal, seja dentro de uma reunião formal. Eu tinha que ter sempre algo que me amparasse.

Então, os diplomas, formações e cursos, sempre me ampararam. Rapidamente fui buscar uma formação de gestão. Dali em diante, fiz um dos melhores MBA executivos do Brasil, fiz cursos no Boston College. Estudei marketing e empreendedorismo, além de ter ido para Madri estudar inovação.

Todas essas minhas formações iam me dando mais respaldo para avançar na liderança. Tinha não só a experiência profissional, mas também um título que me ajudasse a respaldar isso, a sociedade pedia isso.

Márcia diz que se encanta com pessoas que estão no seu time e dominam algum assunto que ela não saiba; para a líder, é nesse momento que ela e toda a equipe brilham  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O que define como sucesso na sua carreira e o que acredita ser necessário para alcançar esse objetivo?

Já foi um sucesso ter entrado na L’Oréal, porque era um desejo muito forte. Me lembro quando morava em Nova York e nos momentos de folga ia passear muito no High Line Park. O prédio da L’Oréal fica lá perto. Sempre terminava o passeio e imaginava que um dia iria trabalhar na L’Oréal.

Menos de um ano depois eu vim trabalhar aqui. Esse foi um sucesso e agora celebro muito, celebro cada etapa. O próximo passo vai ser o próximo sucesso. Eu imagino um sucesso muito tangível.

Uma posição C-Level é o meu próximo passo, depois uma presidência, um conselho administrativo. Eu quero seguir essa trajetória um pouco mais linear.

Atrelado a isso, meu grande sucesso é ter cumprido o meu papel principal no momento. O meu papel principal é ser mãe da Manuela, uma menina negra que precisa de atenção, que precisa de um olhar, que precisa de formação.

E o meu sucesso na vida é ver a Manuela brilhando, traçando a carreira dela do jeito que ela escolher, mas muito bem amparada pela força que eu possa dar em qualquer momento. É o grande sucesso da vida.

Que conselhos dá para profissionais que desejam alcançar cargos de liderança, principalmente mulheres?

As mulheres têm uma capacidade de terem aquela visão 360º. Também acho que vem muito do feminino essa questão do gestar, do cuidar e do servir. Não servir com o cunho escravagista. Mas a gente também tem o dom de servir e de servir com nobreza. Para que seja bem servido, para que seja grandioso, zeloso.

Isso tem muito a ver com skills que essas lideranças precisam ter hoje em dia. As pessoas são muito diversas, e cada diversidade demanda uma necessidade diferente. A líder que quiser nadar de braçada nesse ambiente precisa ter esse cuidado. Tem a ver com as necessidades do que o feminino exala ancestralmente.

Como você lida com a pressão que o cargo exige?

Tenho uma maturidade sobre o meu conhecimento. A noção de aonde eu posso ir e o que eu tenho de buscar de informação. Eu sei os meus limites. Essa maturidade me ajuda muito a lidar com a pressão.

Você tem pressões de diversos níveis, a pressão local e a pressão do seu time. Você aprende a ter essas habilidades de se controlar e controlar a sua entrega. Um exemplo: a média gerência é pressionada dos dois lados.

Quando você está numa média gerência é pressionado pelo seu time. Por outro lado, essa média gerência também sofre a pressão da alta gerência. Então, é um preparatório mesmo para o C-Level. Porque te dá uma noção de jogo de cintura para poder agir nesses momentos de pressão.

Como define o seu estilo de liderança?

Sou uma liderança participativa, empática e procuro ser parceira. Parceiro para mim envolve troca, envolve ombro a ombro, envolve respeito. Sempre me mantenho de peito aberto para receber os sentimentos e análises estruturadas de todos os meus colaboradores.

Aprendi cada vez mais a ser uma liderança mais humana, tenho muitas trocas de vulnerabilidade com o meu time e isso é importante para os dois lados.

Você tem que ‘work hard, play hard’ (trabalhar bastante, se divertir bastante). E eu sou esse tipo de chefe. Na hora que liga o botão da entrega ninguém me segura, ninguém me pega. Agora, na diversão, eu celebro muito.

Que estratégias usa para engajar sua equipe?

É olhar para o meu colaborador como um ser único e com que eu possa fazer essa troca. Eu sei que ali eu vou conseguir extrair ao máximo uma entrega possível. Em um, preciso ter uma condescendência maior, mas em outro posso exigir um pouco mais. Esse olhar mais direcionado para os skills dos colaboradores, para os seus momentos de picos e vales, porque nem todo mundo é linear.

Me encanta saber que tem uma pessoa que está no meu time e sabe mais do que eu sobre algum assunto. Eu tenho uma sede de aprender e eu tenho uma sede de reverenciar quem sabe mais e passar adiante quem é que meteu a mão naquele projeto e descobriu a melhor solução.

Conta um episódio que mudou a sua carreira e permitiu você chegar onde está hoje.

A minha virada de chave mais fortalecida de liderança foi o meu lado mais interessante e o meu lado mais difícil. Foi quando entendi que realmente estava preparada para dar um passo de ir cuidar de um negócio fora do Brasil.

Um negócio que estava nascendo e que era um braço da empresa, o primeiro salão de beleza de uma empresa brasileira [Beleza Natural] nos Estados Unidos, em um lugar muito fortalecido em relação à diversidade, que é o Harlem (bairro da comunidade negra americana).

Então, estava dando um passo de liderança, de gestão de vida pessoal também. Porque deixei minha família toda aqui. Meu ex-marido ficou com a minha filha e com a minha mãe.

Então, essa tomada de decisão foi um breaking point (ponto de ruptura) na minha carreira. Eu já vinha liderando há muito tempo, mas acho que ali me deu uma casca de sobrevivência e até de poder, me fez ser a líder que estou sendo hoje.

Quais são os desafios da área de Diversidade e Inclusão?

No Grupo L’Oréal, temos uma trajetória na cadeira de diversidade. Ela já é um pouco mais longa, 20 anos, e começou com uma causa muito forte para a empresa que é o empoderamento feminino.

A empresa no Brasil é formada por 51% de mulheres e 49% de homens. Então, quando você olha para esses números, eles não nasceram agora, nasceram de uma estratégia que a empresa decidiu tomar. Não é só a maioria, a gente tem 54% de mulheres na liderança.

A diversidade na L’Oréal já vinha sendo muito bem montada, mas nos últimos cinco anos tivemos um boom de todas as outras diversidades. O maior desafio é conseguir dar a dose certa para cada comunidade numa estratégia que abranja todo o corpo da empresa.

O maior desafio é encontrar a dose certa de como você ter esse equilíbrio entre as diversidades que existem aqui, principalmente no Brasil.

Dica de um filme, livro, série que mudou sua forma de enxergar a carreira.

Um filme que me marca muito é a Cor Púrpura. É um filme que a protagonista faz do limão uma limonada, é isso que eu faço, uma limonada e uma caipirinha bem docinha.

Mesmo passando por tudo que ela passa, ainda demonstra uma alegria, um otimismo, uma paixão e no final ela se torna uma empreendedora de sucesso.

É uma história que está muito ligada ao sonho americano, mas pode ser isso. Acho que eu sempre fiz um pouco parte desse sonho americano, tanto que o Harlem (bairro de Nova York) foi meu sonho americano, e ele é um sonho que está dando certo.

Entrevista por Jayanne Rodrigues

Formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia, é repórter de Carreiras. Cobre futuro do trabalho, tendências no mundo corporativo, lideranças e outros assuntos que impactam diretamente a cultura de trabalho no Brasil. No Estadão, também atuou como plantonista da madrugada, cobriu judiciário e tem passagem pela home page do jornal.

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