Estágio e primeiro emprego: como se destacar na entrevista?


Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios, responde a dúvidas dos leitores sobre como se colocar no mercado de trabalho; assuntos foram tema de bate-papo no Telegram

Por Anna Barbosa
Atualização:

Entre aqueles que buscam uma primeira oportunidade de emprego ou estágio, surgem algumas perguntas como: O que é imprescindível para um bom currículo? Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio? Como se destacar na entrevista?  Foi durante o último bate-papo promovido pelo Estadão Carreiras e Empreendedorismo que essas e outras questões foram respondidas. Com a temática “Estágio, primeiro emprego e recolocação no mercado de trabalho”, Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees, falou sobre o tema. “Por mais que você faça um estágio e não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio”, reitera o especialista sobre a importância dessa primeira experiência no mercado de trabalho. Com mais de 18 anos de experiência na área de RH, o especialista fala sobre diversas questões envolvendo o estágio e a busca do primeiro emprego. Ele tem experiência também para falar sobre a importância de ter ou não experiência, como criar um currículo eficiente, o que é necessário saber sobre entrevistas de emprego e processos seletivos.

Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios. Foto: Divulgação
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Antes e durante a conversa, os leitores enviaram dúvidas relacionadas a currículos, processos seletivos, entrevistas e compartilharam angústias vividas dentro do mercado. Ouça na íntegra, no player abaixo, o que ocorreu no dia do evento.

Para quem não pode escutar o papo em áudio, confira os principais destaques do evento em texto.

Quais são as informações imprescindíveis para um bom currículo?

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Para um recrutador, é bastante importante ter as informações básicas no currículo. Então, desde uma forma de contato efetiva, como email e celular, até as informações da sua formação. Por exemplo: muitas pessoas colocam o curso que fazem, como administração, mas esquecem de mencionar o horário que estudam, ou não colocam a previsão de formação ou, quando colocam a previsão de formação, não colocam a duração do curso. Se é um curso de bacharelado, se é um curso tecnólogo (de dois ou três anos). Informações completas sobre a formação são bastante importantes para o recrutador entender sobre seu curso, sobre seu perfil e entender se atende ao que a vaga pede ou não.  Outro ponto são informações claras sobre formações complementares, como palestras, cursos voltados para sua área de formação ou até mesmo seu nível de inglês e de Excel, que podem ser requisitos em algumas vagas. Isso ajuda a ter um destaque, vai informar e gerar curiosidade no recrutador.  O objetivo do currículo é justamente esse, é fazer com que o recrutador te chame e consiga te entrevistar, fazer com que você seja ouvido e tenha a chance de se apresentar e de falar pessoalmente. 

Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio?

A gente faz uma pesquisa aqui na Companhia de Estágios há cinco anos consecutivos e nós sempre perguntamos para os RHs o que eles mais valorizam, o que eles buscam avaliar em um candidato. As características que mais figuravam entre as primeiras colocadas até antes da pandemia eram: flexibilidade, energia, organização e agora, depois da pandemia, a gente viu as características de criatividade, resiliência e adaptabilidade aumentarem.  É lógico que cada vaga vai buscar uma característica, uma competência e um comportamento. Você tem uma questão dos valores, então o que as empresas buscam identificar hoje é se existe fit, se existe ligação entre o que elas acreditam e o perfil desse desse candidato. Elas buscam identificar se esse candidato tem potencial.

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Uma dica de como as empresas enxergam isso é, por exemplo, se você tem uma pessoa que entrou na graduação e está prestes a concluir a graduação e lá no currículo não tem um trabalho voluntário, não tem nenhuma participação em empresa júnior, diretório acadêmico, nenhum curso complementar, nenhuma palestra, nenhum evento. E, do outro lado, você tem um currículo que tem essas informações. 

Aqui, nós não estamos falando de experiência, de pessoas que tiveram oportunidade de atuar ou não, mas da postura do candidato frente a situação. As empresas conseguem identificar esse potencial justamente quando elas veem candidatos que são proativos, que buscam informação, que são interessados, que buscam conhecimento. Dá para perceber isso pelo currículo. São indícios se o candidato tem ou não tem uma determinada característica e que postura ele tem diante de um desafio e de uma vaga.

Como você monta o currículo é uma forma de chamar atenção dos recrutadores, como você vai se apresentar e contar a sua história também é uma forma de chamar atenção dos recrutadores. 

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Uma das perguntas mais comuns agora nos processos de seleção é: O que você fez durante o período de pandemia? A sua resposta vai mostrar muito de quem você é e qual atitude você teve durante esse período. A forma como você conta essa história ou conta sobre esse desafio vai deixar o recrutador te conhecer e entender quais são os seus pontos fortes, quais são as suas características, as suas competências e onde você pode funcionar bem para aquela posição, para aquele desafio que a empresa está oferecendo. 

Outro exemplo que a gente pode trazer aqui é a questão da pessoa, por exemplo, tocar um instrumento ou tocar em uma banda. Isso diz muito de quem é a pessoa, porque quem toca em banda sabe que tem uma questão de organização e de trabalho em equipe que é bastante complexa.

Isso também vale, por exemplo, para quem pratica um esporte. A gente sabe que é necessário disciplina e organização. A forma como contar isso para o recrutador vai conseguir dar destaque a nossa história, ao nosso perfil. Lembrem-se que para primeiro emprego, para estágio, para vagas de aprendiz, o que está sendo olhado é comportamento, é potencial e, por isso, a forma como a gente conta a história e tudo que a gente faz nas atividades pessoais contam bastante para conseguir ou não a vaga. 

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Como se destacar na entrevista de estágio?

Se você conseguiu a oportunidade de fazer uma entrevista, de ter seu currículo selecionado, é porque a empresa já tem interesse em você e já entende que você atende aos requisitos básicos da vaga ou aos requisitos técnicos. 

A forma como você vai contar e se apresentar é bastante importante. Então, é importante ser objetivo. Responder exatamente o que for perguntado e estar preparado para também fazer perguntas é uma forma dos recrutadores se lembrarem de você. O candidato vai demonstrar interesse, preparação, porque para você fazer pergunta e essa pergunta ser pertinente, você vai precisar ter estudado sobre a empresa e isso já manda uma série de recados para gestora e para recrutadora que estiverem te entrevistando e avaliando. Mostra que você realmente fez a lição de casa e se preparou para aquilo. 

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A segunda dica é ser bastante sincero em relação às suas expectativas, ao seu interesse real de área de atuação, de aprendizado. É natural em um primeiro momento não ter 100% de clareza em relação à área de atuação, mas é importante falar sobre a sua disposição em aprender, sobre o seu interesse nas áreas que mais te chamam atenção, baseados em leituras que fez, nas matérias que você mais gosta na faculdade, nos seus hobbies, porque tudo isso vai passar a imagem da pessoa que é transparente, que coloca tudo que gosta e vai fazer com que a pessoa que estiver avaliando consiga identificar quais são as suas características, para entender se faz sentido ou não pra vaga.

É bom lembrar que não existe um perfil ruim ou um perfil bom, existe um perfil que naquele momento, para aquela posição, para aquele desafio que a pessoa que está avaliando entende que vai se dar melhor e que vai ter as expectativas atendidas.

Quando eu falo expectativas não são só expectativas da empresa. É importante dizer que a empresa também fica ansiosa. A empresa também quer que dê certo, também quer preencher essa posição o mais rápido possível. Mas também a expectativa do candidato, né? 

Se a gente como recursos humanos colocar uma pessoa que não vai ter suas expectativas atendidas, é péssimo porque a pessoa vai se frustrar, sair da empresa e a empresa vai precisar começar o processo todo de novo. As expectativas são dos dois lados e o recrutador tem a missão de identificar os reais interesses e objetivos do candidato para selecionar de forma adequada para aquela empresa.

Outras formas de se destacar são os cursos que você faz relacionados a sua área de formação. Podem ser cursos gratuitos, palestras, eventos online, participação em entidades estudantis como empresa júnior, diretor acadêmico, trabalho voluntário. Colocar os seus hobbies, se você eventualmente faz algum esporte, toca algum instrumento. Tudo isso vai contar mais de quem é você. 

E, certamente, cada atividade que você faz, seja um trabalho de faculdade que é mais complexo, foi mais longo e exigiu mais dedicação ou seja um intercâmbio, por exemplo, para quem tem a oportunidade de fazer, vai demonstrar uma série de características e de situações que a pessoa precisou se adaptar e precisou enfrentar para as coisas darem certo. 

É importante dizer que todas as perguntas em um processo de seleção normalmente vão ser baseadas em situações que você viveu e passou. “Puxa, você já passou por tal situação? Me conta como foi? Como você agiu?” e aí a gente investiga o comportamento e o que aconteceu no passado em projeções. “Aqui na empresa acontece assim. Se você estivesse nessa posição, o que você faria? Qual seria a sua reação?”. O recrutador tenta entender quais as suas decisões, qual vai ser o seu comportamento diante do desafio.

Essa reflexão sobre como responder e como os os avaliadores perguntam, é importante para você ter consciência da sua resposta de como se apresentar, de como contar os desafios que você passou e superou para conseguir a vaga. 

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Fui demitida, devo mencionar isso nas próximas entrevistas?

Idealmente não, você não vai iniciar uma entrevista falando sobre as suas experiências e contando que você foi demitido e o motivo, mas você deve estar preparada para responder sobre a sua saída da empresa se for perguntada e aqui é importante falar a verdade. Se você já tem uma construção de resposta preparada, acho que vai fazer isso de uma forma bastante segura e direta, que é o que importa pra empresa. 

Você pode ter sido desligada de uma empresa por um motivo como corte de pessoas, como um rearranjo da área, uma mudança de liderança. Isso pode acontecer e você pode justificar com esse motivo. Ou você pode ter sido desligada eventualmente por não atingir alguma meta, ou por ter tido um desempenho que na visão do seu gestor na época foi aquém do esperado. 

Se a pergunta acontecer e você explicar e justificar, é importante fazer isso de forma segura. Se for uma questão de entrega ou de performance, mostrar que você se preparou para solucionar aquele problema. “Olha, realmente, fui desligado por uma questão de performance, em partes eu reconheço. Realmente não estava entregando o meu melhor e isso aconteceu por causa disso e disso. Eu tomei tais ações para solucionar e entendo que essa questão já foi solucionada ou estou trabalhando em determinados pontos”, mas isso você vai responder apenas se for perguntado.

Quando você participa de um processo seletivo e a resposta começa a demorar para chegar, é de bom tom questionar sobre o resultado ou é melhor esperar o contato da empresa? E qual seria o tempo ideal para aguardar o resultado?

Cada empresa tem um tempo de processo de seleção em algumas etapas. A gente sabe que as empresas estão buscando fazer processos cada vez mais rápidos e com menos etapas, justamente para melhorar a experiência dos candidatos. 

Agora, se a gente pensar num programa de estágio com mais de 100 vagas, por exemplo, vai ter um mês que é só de divulgação e inscrição, outro mês que é de seleção na consultoria e um outro mês que é a etapa final na empresa. Então, tem um período de três meses até o processo ser concluído. 

Se você pensar numa vaga pontual, normalmente esse processo dura menos de um mês entre a divulgação, a seleção e o retorno para os candidatos já com a oferta. Normalmente, o recrutador fala dos próximos passos quando ele entrevista. No final da entrevista, ele abre para ver se você tem alguma dúvida e ele fala: “Olha, os próximos passos agora são em X tempo a gente dar um retorno. Aguarde o contato e se você tiver dúvida esses são os canais.” 

Se ele não falar, você pode perguntar. Se ele passar o prazo e vencer, não tem problema mandar uma mensagem agradecendo pela oportunidade de ser entrevistada e dizendo que você reitera que tem interesse, está a disposição da empresa. 

Demonstra interesse e preocupação do candidato em enviar uma mensagem, ainda mais se for desse jeito. Acho que uma mensagem cobrando um retorno soe um pouco estranha, mas uma mensagem reiterando o seu interesse, a sua disposição, eu acho que é super válido. Mostra que o candidato realmente está afim da vaga.

O que fazer quando o único estágio que consigo é ruim? Devo ficar pela experiência ou não?

Essa pergunta sobre conseguir um estágio e ele ser ruim, pensamos sobre o ponto de vista que tem vários aspectos. Pode ser, por exemplo, sob o ponto de vista de aprendizado e de desenvolvimento. Esse eu acho que é o é o mais crítico deles.  Se é uma empresa onde você não está aprendendo, onde você não tem desenvolvimento, você não vê perspectiva. Eu entendo que não, você deve buscar um novo estágio, porque essa é a principal finalidade do estágio. Você não precisa necessariamente sair para procurar outro estágio ou um emprego, você pode procurar o emprego enquanto você está na empresa. Se eventualmente você usa a bolsa auxílio, os benefícios para custear aí a sua formação, ajudar em casa, enfim. Esse é o ponto mais crítico.  Agora, se for em um outro aspecto, por exemplo, a remuneração, os benefícios não são tão bons, mas você tem um bom ambiente de aprendizado, eu acho que, na minha visão, pesa o aprendizado e aí vale a experiência que você vai adquirir naquela empresa.  Vale uma reflexão: uma pessoa que se forma sem ter feito estágio, o cenário dela conseguir um emprego é um, totalmente diferente de quem fez um estágio. Então, por mais que você faça um estágio e você não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio.

Aqui vale uma última reflexão também, a Companhia de Estágios faz vagas não só para o Brasil, mas para alguns outros países e muitos, quando oferecem uma vaga de estágio, não são remunerados. As pessoas vão justamente pelo aprendizado de tão necessário que é. A principal finalidade, seja um estágio remunerado ou não, um estágio de férias, enfim, é o aprendizado. Então, acho que a palavra chave aqui é aprendizado. Se você está aprendendo e está se desenvolvendo, na minha percepção, vale a pena.

Mudar de estágio muitas vezes é visto de uma maneira ruim pelo mercado?

A resposta é que não é visto de uma forma ruim pelo mercado, desde que seja bem explicado em uma entrevista e que você tenha uma justificativa coerente para isso. Então, por exemplo, uma pessoa que fica dois, três, quatro meses em cada empresa e sai, e a justificativa dela é “Ah, não gostei, não me adaptei, não é o que eu esperava”, passa uma imagem para o recrutador de uma pessoa que não pesquisou antes para entrar nessas empresas e que ela nunca se adapta. Aí é complicado porque você vê uma pessoa que passou um período curto por duas, três, quatro empresas, sempre saiu e a culpa é sempre da empresa. É no mínimo curioso, né?  É muito importante o discurso que vai estar atrelado a isso. Se você ficou, por exemplo, por mais que seja um período curto, três meses, seis meses e fala: “Puxa vida, eu cumpri o meu ciclo de aprendizado naquele local. Apareceu uma outra oportunidade que eu entendia que era um desafio maior, onde eu ia poder continuar minha curva de aprendizado ou onde eu ia dentro da minha área de formação”. Vamos pensar em uma pessoa de marketing que já atuou com uma questão de atendimento dentro de uma agência e vai poder, de repente, atuar com planejamento e explorar outras subáreas dentro da área. Eu acho que esse discurso é coerente, é bem-vindo porque no começo do curso o estudante precisa mesmo experimentar e testar. Lógico, ele tem indícios de áreas que ele gosta mais, se dá bem, com base em pesquisa, em matérias da faculdade, em colegas que trabalharam e contaram como é. Mas ele precisa ter um discurso que faça sentido. É isso que vai ser avaliado dentro dessa perspectiva de mudar de estágio várias vezes ou não.

Existe alguma forma de avaliar se eu não estou sendo explorado no meu primeiro emprego?

O que é importante você fazer é se comparar com os demais estagiários ou com as demais pessoas da área para entender se existe algum tipo de conduta diferente por parte da empresa no sentido de distribuição de tarefas, avaliação, reconhecimento, entregas. As empresas hoje, principalmente as maiores, têm uma política muito coerente e correta de avaliação. Você tem uma equiparidade de salários. Então, aquelas diferenças que a gente via entre homens e mulheres, por exemplo, no mesmo cargo, tem diminuído de forma bastante acentuada. Você tem uma política de feedbacks e, se você não tem uma política formal, você pode pedir e perguntar no que você está indo bem, no que pode melhorar.

Com base nessa comparação, da forma de avaliar, de reconhecer, de distribuir tarefas dos seus pares da área onde você atua, você talvez consiga chegar a essa conclusão de se você está sendo eventualmente explorado ou não nesse primeiro emprego, nessa vaga que você conseguiu.

De qualquer forma, vale ponderar também a reflexão sobre aprendizado e se você realmente não gostou, não está satisfeito, entende que não é a empresa, você pode primeiro conversar, pedir feedback se você quiser continuar ou buscar uma outra oportunidade no mercado já tendo saído da empresa ou enquanto você está lá. 

O que vale mais a pena: buscar um trainee ou CLT? Você pode dar dicas para recém formados que não conseguem trabalhar na área de formação?

Os propósitos são diferentes. Apesar de um trainee ser um CLT, com um contrato efetivo e temporário de trabalho, o foco dos programas de trainee (que têm poucas vagas) é formação de liderança.  É buscado um perfil que está no final da graduação ou recém-formado, mas também é comum no mercado um perfil um pouco mais maduro, que é uma pessoa que se formou há alguns anos e de repente já tem uma pós ou MBA. 

Mas é um programa com foco em formação de liderança, então é bastante exigente no processo de seleção, em que as empresas buscam identificar pessoas com alto potencial, com muita energia. Normalmente são programas muito concorridos, onde você tem o número de candidatos por vaga que chega a duzentos, trezentos, candidatos. Quer dizer, mais que o vestibular de medicina da USP. 

Não são todas as áreas que têm programa de trainee, então, você vai ter uma oferta no mercado muito maior de vagas efetivas. Em termos de facilidade de se colocar, sem dúvida, uma vaga efetiva é mais fácil.

Depende muito do teu objetivo. Existem blogs, grupos que preparam os jovens para os processos de seleção que são altamente concorridos. Se o seu foco é liderança, você é uma pessoa bastante competitiva, quer entrar em uma grande empresa, com grande desafio, busca um crescimento acelerado de carreira e se preparou para isso...

É comum os programas terem exigências técnicas altas. Aqui estamos falando de algum conhecimento anterior, eventualmente de inglês e de Excel. Hoje, o mercado tem olhado para temas de diversidade, sempre olhando mais para as pessoas, mas como é um programa bastante exigente, com foco em formação de liderança e com poucas posições, normalmente as empresas têm uma exigência técnica mínima que elas impõem para esses candidatos. 

Para quem se formou e não conseguiu uma colocação na vaga, era muito importante ter feito estágio porque isso ajudaria bastante a se colocar. Se não fez estágio, essa pessoa pode buscar cursos e informações para turbinar o currículo e aumentar as chances dela se colocar, como palestras, eventos, fóruns, webinars. Se tiver condição para um MBA, uma pós-graduação, vai ajudar essa pessoa a estar preparada tecnicamente para entrar na área.

Então, quando ela for questionada por um recrutador, ela vai falar: “Olha, eu não tive a oportunidade de entrar na área de graduação, mas eu me preparei, eu fiz uma série de cursos, porque eu realmente quero entrar. Eu realmente acho que essa é a minha área de maior interesse de formação, onde eu tenho me preparado e o que eu preciso é de uma oportunidade”. Tudo isso vai demonstrar que a pessoa não só quer, mas fez a lição de casa pra entrar. 

Bate-papo no Telegram

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  7. Longevidade no mercado de trabalho, com o fundador e CEO da Maturi Mórris Litvak

  8. Recolocação no mercado de trabalho, com a headhunter Carolina Martins

Entre aqueles que buscam uma primeira oportunidade de emprego ou estágio, surgem algumas perguntas como: O que é imprescindível para um bom currículo? Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio? Como se destacar na entrevista?  Foi durante o último bate-papo promovido pelo Estadão Carreiras e Empreendedorismo que essas e outras questões foram respondidas. Com a temática “Estágio, primeiro emprego e recolocação no mercado de trabalho”, Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees, falou sobre o tema. “Por mais que você faça um estágio e não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio”, reitera o especialista sobre a importância dessa primeira experiência no mercado de trabalho. Com mais de 18 anos de experiência na área de RH, o especialista fala sobre diversas questões envolvendo o estágio e a busca do primeiro emprego. Ele tem experiência também para falar sobre a importância de ter ou não experiência, como criar um currículo eficiente, o que é necessário saber sobre entrevistas de emprego e processos seletivos.

Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios. Foto: Divulgação

Antes e durante a conversa, os leitores enviaram dúvidas relacionadas a currículos, processos seletivos, entrevistas e compartilharam angústias vividas dentro do mercado. Ouça na íntegra, no player abaixo, o que ocorreu no dia do evento.

Para quem não pode escutar o papo em áudio, confira os principais destaques do evento em texto.

Quais são as informações imprescindíveis para um bom currículo?

Para um recrutador, é bastante importante ter as informações básicas no currículo. Então, desde uma forma de contato efetiva, como email e celular, até as informações da sua formação. Por exemplo: muitas pessoas colocam o curso que fazem, como administração, mas esquecem de mencionar o horário que estudam, ou não colocam a previsão de formação ou, quando colocam a previsão de formação, não colocam a duração do curso. Se é um curso de bacharelado, se é um curso tecnólogo (de dois ou três anos). Informações completas sobre a formação são bastante importantes para o recrutador entender sobre seu curso, sobre seu perfil e entender se atende ao que a vaga pede ou não.  Outro ponto são informações claras sobre formações complementares, como palestras, cursos voltados para sua área de formação ou até mesmo seu nível de inglês e de Excel, que podem ser requisitos em algumas vagas. Isso ajuda a ter um destaque, vai informar e gerar curiosidade no recrutador.  O objetivo do currículo é justamente esse, é fazer com que o recrutador te chame e consiga te entrevistar, fazer com que você seja ouvido e tenha a chance de se apresentar e de falar pessoalmente. 

Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio?

A gente faz uma pesquisa aqui na Companhia de Estágios há cinco anos consecutivos e nós sempre perguntamos para os RHs o que eles mais valorizam, o que eles buscam avaliar em um candidato. As características que mais figuravam entre as primeiras colocadas até antes da pandemia eram: flexibilidade, energia, organização e agora, depois da pandemia, a gente viu as características de criatividade, resiliência e adaptabilidade aumentarem.  É lógico que cada vaga vai buscar uma característica, uma competência e um comportamento. Você tem uma questão dos valores, então o que as empresas buscam identificar hoje é se existe fit, se existe ligação entre o que elas acreditam e o perfil desse desse candidato. Elas buscam identificar se esse candidato tem potencial.

Uma dica de como as empresas enxergam isso é, por exemplo, se você tem uma pessoa que entrou na graduação e está prestes a concluir a graduação e lá no currículo não tem um trabalho voluntário, não tem nenhuma participação em empresa júnior, diretório acadêmico, nenhum curso complementar, nenhuma palestra, nenhum evento. E, do outro lado, você tem um currículo que tem essas informações. 

Aqui, nós não estamos falando de experiência, de pessoas que tiveram oportunidade de atuar ou não, mas da postura do candidato frente a situação. As empresas conseguem identificar esse potencial justamente quando elas veem candidatos que são proativos, que buscam informação, que são interessados, que buscam conhecimento. Dá para perceber isso pelo currículo. São indícios se o candidato tem ou não tem uma determinada característica e que postura ele tem diante de um desafio e de uma vaga.

Como você monta o currículo é uma forma de chamar atenção dos recrutadores, como você vai se apresentar e contar a sua história também é uma forma de chamar atenção dos recrutadores. 

Uma das perguntas mais comuns agora nos processos de seleção é: O que você fez durante o período de pandemia? A sua resposta vai mostrar muito de quem você é e qual atitude você teve durante esse período. A forma como você conta essa história ou conta sobre esse desafio vai deixar o recrutador te conhecer e entender quais são os seus pontos fortes, quais são as suas características, as suas competências e onde você pode funcionar bem para aquela posição, para aquele desafio que a empresa está oferecendo. 

Outro exemplo que a gente pode trazer aqui é a questão da pessoa, por exemplo, tocar um instrumento ou tocar em uma banda. Isso diz muito de quem é a pessoa, porque quem toca em banda sabe que tem uma questão de organização e de trabalho em equipe que é bastante complexa.

Isso também vale, por exemplo, para quem pratica um esporte. A gente sabe que é necessário disciplina e organização. A forma como contar isso para o recrutador vai conseguir dar destaque a nossa história, ao nosso perfil. Lembrem-se que para primeiro emprego, para estágio, para vagas de aprendiz, o que está sendo olhado é comportamento, é potencial e, por isso, a forma como a gente conta a história e tudo que a gente faz nas atividades pessoais contam bastante para conseguir ou não a vaga. 

Como se destacar na entrevista de estágio?

Se você conseguiu a oportunidade de fazer uma entrevista, de ter seu currículo selecionado, é porque a empresa já tem interesse em você e já entende que você atende aos requisitos básicos da vaga ou aos requisitos técnicos. 

A forma como você vai contar e se apresentar é bastante importante. Então, é importante ser objetivo. Responder exatamente o que for perguntado e estar preparado para também fazer perguntas é uma forma dos recrutadores se lembrarem de você. O candidato vai demonstrar interesse, preparação, porque para você fazer pergunta e essa pergunta ser pertinente, você vai precisar ter estudado sobre a empresa e isso já manda uma série de recados para gestora e para recrutadora que estiverem te entrevistando e avaliando. Mostra que você realmente fez a lição de casa e se preparou para aquilo. 

A segunda dica é ser bastante sincero em relação às suas expectativas, ao seu interesse real de área de atuação, de aprendizado. É natural em um primeiro momento não ter 100% de clareza em relação à área de atuação, mas é importante falar sobre a sua disposição em aprender, sobre o seu interesse nas áreas que mais te chamam atenção, baseados em leituras que fez, nas matérias que você mais gosta na faculdade, nos seus hobbies, porque tudo isso vai passar a imagem da pessoa que é transparente, que coloca tudo que gosta e vai fazer com que a pessoa que estiver avaliando consiga identificar quais são as suas características, para entender se faz sentido ou não pra vaga.

É bom lembrar que não existe um perfil ruim ou um perfil bom, existe um perfil que naquele momento, para aquela posição, para aquele desafio que a pessoa que está avaliando entende que vai se dar melhor e que vai ter as expectativas atendidas.

Quando eu falo expectativas não são só expectativas da empresa. É importante dizer que a empresa também fica ansiosa. A empresa também quer que dê certo, também quer preencher essa posição o mais rápido possível. Mas também a expectativa do candidato, né? 

Se a gente como recursos humanos colocar uma pessoa que não vai ter suas expectativas atendidas, é péssimo porque a pessoa vai se frustrar, sair da empresa e a empresa vai precisar começar o processo todo de novo. As expectativas são dos dois lados e o recrutador tem a missão de identificar os reais interesses e objetivos do candidato para selecionar de forma adequada para aquela empresa.

Outras formas de se destacar são os cursos que você faz relacionados a sua área de formação. Podem ser cursos gratuitos, palestras, eventos online, participação em entidades estudantis como empresa júnior, diretor acadêmico, trabalho voluntário. Colocar os seus hobbies, se você eventualmente faz algum esporte, toca algum instrumento. Tudo isso vai contar mais de quem é você. 

E, certamente, cada atividade que você faz, seja um trabalho de faculdade que é mais complexo, foi mais longo e exigiu mais dedicação ou seja um intercâmbio, por exemplo, para quem tem a oportunidade de fazer, vai demonstrar uma série de características e de situações que a pessoa precisou se adaptar e precisou enfrentar para as coisas darem certo. 

É importante dizer que todas as perguntas em um processo de seleção normalmente vão ser baseadas em situações que você viveu e passou. “Puxa, você já passou por tal situação? Me conta como foi? Como você agiu?” e aí a gente investiga o comportamento e o que aconteceu no passado em projeções. “Aqui na empresa acontece assim. Se você estivesse nessa posição, o que você faria? Qual seria a sua reação?”. O recrutador tenta entender quais as suas decisões, qual vai ser o seu comportamento diante do desafio.

Essa reflexão sobre como responder e como os os avaliadores perguntam, é importante para você ter consciência da sua resposta de como se apresentar, de como contar os desafios que você passou e superou para conseguir a vaga. 

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Fui demitida, devo mencionar isso nas próximas entrevistas?

Idealmente não, você não vai iniciar uma entrevista falando sobre as suas experiências e contando que você foi demitido e o motivo, mas você deve estar preparada para responder sobre a sua saída da empresa se for perguntada e aqui é importante falar a verdade. Se você já tem uma construção de resposta preparada, acho que vai fazer isso de uma forma bastante segura e direta, que é o que importa pra empresa. 

Você pode ter sido desligada de uma empresa por um motivo como corte de pessoas, como um rearranjo da área, uma mudança de liderança. Isso pode acontecer e você pode justificar com esse motivo. Ou você pode ter sido desligada eventualmente por não atingir alguma meta, ou por ter tido um desempenho que na visão do seu gestor na época foi aquém do esperado. 

Se a pergunta acontecer e você explicar e justificar, é importante fazer isso de forma segura. Se for uma questão de entrega ou de performance, mostrar que você se preparou para solucionar aquele problema. “Olha, realmente, fui desligado por uma questão de performance, em partes eu reconheço. Realmente não estava entregando o meu melhor e isso aconteceu por causa disso e disso. Eu tomei tais ações para solucionar e entendo que essa questão já foi solucionada ou estou trabalhando em determinados pontos”, mas isso você vai responder apenas se for perguntado.

Quando você participa de um processo seletivo e a resposta começa a demorar para chegar, é de bom tom questionar sobre o resultado ou é melhor esperar o contato da empresa? E qual seria o tempo ideal para aguardar o resultado?

Cada empresa tem um tempo de processo de seleção em algumas etapas. A gente sabe que as empresas estão buscando fazer processos cada vez mais rápidos e com menos etapas, justamente para melhorar a experiência dos candidatos. 

Agora, se a gente pensar num programa de estágio com mais de 100 vagas, por exemplo, vai ter um mês que é só de divulgação e inscrição, outro mês que é de seleção na consultoria e um outro mês que é a etapa final na empresa. Então, tem um período de três meses até o processo ser concluído. 

Se você pensar numa vaga pontual, normalmente esse processo dura menos de um mês entre a divulgação, a seleção e o retorno para os candidatos já com a oferta. Normalmente, o recrutador fala dos próximos passos quando ele entrevista. No final da entrevista, ele abre para ver se você tem alguma dúvida e ele fala: “Olha, os próximos passos agora são em X tempo a gente dar um retorno. Aguarde o contato e se você tiver dúvida esses são os canais.” 

Se ele não falar, você pode perguntar. Se ele passar o prazo e vencer, não tem problema mandar uma mensagem agradecendo pela oportunidade de ser entrevistada e dizendo que você reitera que tem interesse, está a disposição da empresa. 

Demonstra interesse e preocupação do candidato em enviar uma mensagem, ainda mais se for desse jeito. Acho que uma mensagem cobrando um retorno soe um pouco estranha, mas uma mensagem reiterando o seu interesse, a sua disposição, eu acho que é super válido. Mostra que o candidato realmente está afim da vaga.

O que fazer quando o único estágio que consigo é ruim? Devo ficar pela experiência ou não?

Essa pergunta sobre conseguir um estágio e ele ser ruim, pensamos sobre o ponto de vista que tem vários aspectos. Pode ser, por exemplo, sob o ponto de vista de aprendizado e de desenvolvimento. Esse eu acho que é o é o mais crítico deles.  Se é uma empresa onde você não está aprendendo, onde você não tem desenvolvimento, você não vê perspectiva. Eu entendo que não, você deve buscar um novo estágio, porque essa é a principal finalidade do estágio. Você não precisa necessariamente sair para procurar outro estágio ou um emprego, você pode procurar o emprego enquanto você está na empresa. Se eventualmente você usa a bolsa auxílio, os benefícios para custear aí a sua formação, ajudar em casa, enfim. Esse é o ponto mais crítico.  Agora, se for em um outro aspecto, por exemplo, a remuneração, os benefícios não são tão bons, mas você tem um bom ambiente de aprendizado, eu acho que, na minha visão, pesa o aprendizado e aí vale a experiência que você vai adquirir naquela empresa.  Vale uma reflexão: uma pessoa que se forma sem ter feito estágio, o cenário dela conseguir um emprego é um, totalmente diferente de quem fez um estágio. Então, por mais que você faça um estágio e você não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio.

Aqui vale uma última reflexão também, a Companhia de Estágios faz vagas não só para o Brasil, mas para alguns outros países e muitos, quando oferecem uma vaga de estágio, não são remunerados. As pessoas vão justamente pelo aprendizado de tão necessário que é. A principal finalidade, seja um estágio remunerado ou não, um estágio de férias, enfim, é o aprendizado. Então, acho que a palavra chave aqui é aprendizado. Se você está aprendendo e está se desenvolvendo, na minha percepção, vale a pena.

Mudar de estágio muitas vezes é visto de uma maneira ruim pelo mercado?

A resposta é que não é visto de uma forma ruim pelo mercado, desde que seja bem explicado em uma entrevista e que você tenha uma justificativa coerente para isso. Então, por exemplo, uma pessoa que fica dois, três, quatro meses em cada empresa e sai, e a justificativa dela é “Ah, não gostei, não me adaptei, não é o que eu esperava”, passa uma imagem para o recrutador de uma pessoa que não pesquisou antes para entrar nessas empresas e que ela nunca se adapta. Aí é complicado porque você vê uma pessoa que passou um período curto por duas, três, quatro empresas, sempre saiu e a culpa é sempre da empresa. É no mínimo curioso, né?  É muito importante o discurso que vai estar atrelado a isso. Se você ficou, por exemplo, por mais que seja um período curto, três meses, seis meses e fala: “Puxa vida, eu cumpri o meu ciclo de aprendizado naquele local. Apareceu uma outra oportunidade que eu entendia que era um desafio maior, onde eu ia poder continuar minha curva de aprendizado ou onde eu ia dentro da minha área de formação”. Vamos pensar em uma pessoa de marketing que já atuou com uma questão de atendimento dentro de uma agência e vai poder, de repente, atuar com planejamento e explorar outras subáreas dentro da área. Eu acho que esse discurso é coerente, é bem-vindo porque no começo do curso o estudante precisa mesmo experimentar e testar. Lógico, ele tem indícios de áreas que ele gosta mais, se dá bem, com base em pesquisa, em matérias da faculdade, em colegas que trabalharam e contaram como é. Mas ele precisa ter um discurso que faça sentido. É isso que vai ser avaliado dentro dessa perspectiva de mudar de estágio várias vezes ou não.

Existe alguma forma de avaliar se eu não estou sendo explorado no meu primeiro emprego?

O que é importante você fazer é se comparar com os demais estagiários ou com as demais pessoas da área para entender se existe algum tipo de conduta diferente por parte da empresa no sentido de distribuição de tarefas, avaliação, reconhecimento, entregas. As empresas hoje, principalmente as maiores, têm uma política muito coerente e correta de avaliação. Você tem uma equiparidade de salários. Então, aquelas diferenças que a gente via entre homens e mulheres, por exemplo, no mesmo cargo, tem diminuído de forma bastante acentuada. Você tem uma política de feedbacks e, se você não tem uma política formal, você pode pedir e perguntar no que você está indo bem, no que pode melhorar.

Com base nessa comparação, da forma de avaliar, de reconhecer, de distribuir tarefas dos seus pares da área onde você atua, você talvez consiga chegar a essa conclusão de se você está sendo eventualmente explorado ou não nesse primeiro emprego, nessa vaga que você conseguiu.

De qualquer forma, vale ponderar também a reflexão sobre aprendizado e se você realmente não gostou, não está satisfeito, entende que não é a empresa, você pode primeiro conversar, pedir feedback se você quiser continuar ou buscar uma outra oportunidade no mercado já tendo saído da empresa ou enquanto você está lá. 

O que vale mais a pena: buscar um trainee ou CLT? Você pode dar dicas para recém formados que não conseguem trabalhar na área de formação?

Os propósitos são diferentes. Apesar de um trainee ser um CLT, com um contrato efetivo e temporário de trabalho, o foco dos programas de trainee (que têm poucas vagas) é formação de liderança.  É buscado um perfil que está no final da graduação ou recém-formado, mas também é comum no mercado um perfil um pouco mais maduro, que é uma pessoa que se formou há alguns anos e de repente já tem uma pós ou MBA. 

Mas é um programa com foco em formação de liderança, então é bastante exigente no processo de seleção, em que as empresas buscam identificar pessoas com alto potencial, com muita energia. Normalmente são programas muito concorridos, onde você tem o número de candidatos por vaga que chega a duzentos, trezentos, candidatos. Quer dizer, mais que o vestibular de medicina da USP. 

Não são todas as áreas que têm programa de trainee, então, você vai ter uma oferta no mercado muito maior de vagas efetivas. Em termos de facilidade de se colocar, sem dúvida, uma vaga efetiva é mais fácil.

Depende muito do teu objetivo. Existem blogs, grupos que preparam os jovens para os processos de seleção que são altamente concorridos. Se o seu foco é liderança, você é uma pessoa bastante competitiva, quer entrar em uma grande empresa, com grande desafio, busca um crescimento acelerado de carreira e se preparou para isso...

É comum os programas terem exigências técnicas altas. Aqui estamos falando de algum conhecimento anterior, eventualmente de inglês e de Excel. Hoje, o mercado tem olhado para temas de diversidade, sempre olhando mais para as pessoas, mas como é um programa bastante exigente, com foco em formação de liderança e com poucas posições, normalmente as empresas têm uma exigência técnica mínima que elas impõem para esses candidatos. 

Para quem se formou e não conseguiu uma colocação na vaga, era muito importante ter feito estágio porque isso ajudaria bastante a se colocar. Se não fez estágio, essa pessoa pode buscar cursos e informações para turbinar o currículo e aumentar as chances dela se colocar, como palestras, eventos, fóruns, webinars. Se tiver condição para um MBA, uma pós-graduação, vai ajudar essa pessoa a estar preparada tecnicamente para entrar na área.

Então, quando ela for questionada por um recrutador, ela vai falar: “Olha, eu não tive a oportunidade de entrar na área de graduação, mas eu me preparei, eu fiz uma série de cursos, porque eu realmente quero entrar. Eu realmente acho que essa é a minha área de maior interesse de formação, onde eu tenho me preparado e o que eu preciso é de uma oportunidade”. Tudo isso vai demonstrar que a pessoa não só quer, mas fez a lição de casa pra entrar. 

Bate-papo no Telegram

Perdeu nossos últimos encontros no Telegram? Confira outra conversas com os leitores realizadas no @gruposuacarreira:

  1. Autoconhecimento profissional: Leandro Karnal tira dúvidas

  2. Como usar o LinkedIn, com a editora de conteúdo da plataforma Claudia Gasparini

  3. Empreendedorismo feminino e carreira, com a empresária Camila Farani

  4. Diversidade e inclusão nas empresas, com a influencer e especialista em D&I Bielo Pereira

  5. Produtividade sustentável e saúde mental, com a jornalista Izabella Camargo

  6. Negócios e empreendedorismo, com Caito Maia, fundador da Chilli Beans e apresentador do Shark Tank Brasil

  7. Longevidade no mercado de trabalho, com o fundador e CEO da Maturi Mórris Litvak

  8. Recolocação no mercado de trabalho, com a headhunter Carolina Martins

Entre aqueles que buscam uma primeira oportunidade de emprego ou estágio, surgem algumas perguntas como: O que é imprescindível para um bom currículo? Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio? Como se destacar na entrevista?  Foi durante o último bate-papo promovido pelo Estadão Carreiras e Empreendedorismo que essas e outras questões foram respondidas. Com a temática “Estágio, primeiro emprego e recolocação no mercado de trabalho”, Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios, startup de RH especializada em seleção e desenvolvimento de aprendizes, estagiários e trainees, falou sobre o tema. “Por mais que você faça um estágio e não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio”, reitera o especialista sobre a importância dessa primeira experiência no mercado de trabalho. Com mais de 18 anos de experiência na área de RH, o especialista fala sobre diversas questões envolvendo o estágio e a busca do primeiro emprego. Ele tem experiência também para falar sobre a importância de ter ou não experiência, como criar um currículo eficiente, o que é necessário saber sobre entrevistas de emprego e processos seletivos.

Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios. Foto: Divulgação

Antes e durante a conversa, os leitores enviaram dúvidas relacionadas a currículos, processos seletivos, entrevistas e compartilharam angústias vividas dentro do mercado. Ouça na íntegra, no player abaixo, o que ocorreu no dia do evento.

Para quem não pode escutar o papo em áudio, confira os principais destaques do evento em texto.

Quais são as informações imprescindíveis para um bom currículo?

Para um recrutador, é bastante importante ter as informações básicas no currículo. Então, desde uma forma de contato efetiva, como email e celular, até as informações da sua formação. Por exemplo: muitas pessoas colocam o curso que fazem, como administração, mas esquecem de mencionar o horário que estudam, ou não colocam a previsão de formação ou, quando colocam a previsão de formação, não colocam a duração do curso. Se é um curso de bacharelado, se é um curso tecnólogo (de dois ou três anos). Informações completas sobre a formação são bastante importantes para o recrutador entender sobre seu curso, sobre seu perfil e entender se atende ao que a vaga pede ou não.  Outro ponto são informações claras sobre formações complementares, como palestras, cursos voltados para sua área de formação ou até mesmo seu nível de inglês e de Excel, que podem ser requisitos em algumas vagas. Isso ajuda a ter um destaque, vai informar e gerar curiosidade no recrutador.  O objetivo do currículo é justamente esse, é fazer com que o recrutador te chame e consiga te entrevistar, fazer com que você seja ouvido e tenha a chance de se apresentar e de falar pessoalmente. 

Quais as características que mais chamam atenção dos recrutadores em um candidato a vaga de estágio?

A gente faz uma pesquisa aqui na Companhia de Estágios há cinco anos consecutivos e nós sempre perguntamos para os RHs o que eles mais valorizam, o que eles buscam avaliar em um candidato. As características que mais figuravam entre as primeiras colocadas até antes da pandemia eram: flexibilidade, energia, organização e agora, depois da pandemia, a gente viu as características de criatividade, resiliência e adaptabilidade aumentarem.  É lógico que cada vaga vai buscar uma característica, uma competência e um comportamento. Você tem uma questão dos valores, então o que as empresas buscam identificar hoje é se existe fit, se existe ligação entre o que elas acreditam e o perfil desse desse candidato. Elas buscam identificar se esse candidato tem potencial.

Uma dica de como as empresas enxergam isso é, por exemplo, se você tem uma pessoa que entrou na graduação e está prestes a concluir a graduação e lá no currículo não tem um trabalho voluntário, não tem nenhuma participação em empresa júnior, diretório acadêmico, nenhum curso complementar, nenhuma palestra, nenhum evento. E, do outro lado, você tem um currículo que tem essas informações. 

Aqui, nós não estamos falando de experiência, de pessoas que tiveram oportunidade de atuar ou não, mas da postura do candidato frente a situação. As empresas conseguem identificar esse potencial justamente quando elas veem candidatos que são proativos, que buscam informação, que são interessados, que buscam conhecimento. Dá para perceber isso pelo currículo. São indícios se o candidato tem ou não tem uma determinada característica e que postura ele tem diante de um desafio e de uma vaga.

Como você monta o currículo é uma forma de chamar atenção dos recrutadores, como você vai se apresentar e contar a sua história também é uma forma de chamar atenção dos recrutadores. 

Uma das perguntas mais comuns agora nos processos de seleção é: O que você fez durante o período de pandemia? A sua resposta vai mostrar muito de quem você é e qual atitude você teve durante esse período. A forma como você conta essa história ou conta sobre esse desafio vai deixar o recrutador te conhecer e entender quais são os seus pontos fortes, quais são as suas características, as suas competências e onde você pode funcionar bem para aquela posição, para aquele desafio que a empresa está oferecendo. 

Outro exemplo que a gente pode trazer aqui é a questão da pessoa, por exemplo, tocar um instrumento ou tocar em uma banda. Isso diz muito de quem é a pessoa, porque quem toca em banda sabe que tem uma questão de organização e de trabalho em equipe que é bastante complexa.

Isso também vale, por exemplo, para quem pratica um esporte. A gente sabe que é necessário disciplina e organização. A forma como contar isso para o recrutador vai conseguir dar destaque a nossa história, ao nosso perfil. Lembrem-se que para primeiro emprego, para estágio, para vagas de aprendiz, o que está sendo olhado é comportamento, é potencial e, por isso, a forma como a gente conta a história e tudo que a gente faz nas atividades pessoais contam bastante para conseguir ou não a vaga. 

Como se destacar na entrevista de estágio?

Se você conseguiu a oportunidade de fazer uma entrevista, de ter seu currículo selecionado, é porque a empresa já tem interesse em você e já entende que você atende aos requisitos básicos da vaga ou aos requisitos técnicos. 

A forma como você vai contar e se apresentar é bastante importante. Então, é importante ser objetivo. Responder exatamente o que for perguntado e estar preparado para também fazer perguntas é uma forma dos recrutadores se lembrarem de você. O candidato vai demonstrar interesse, preparação, porque para você fazer pergunta e essa pergunta ser pertinente, você vai precisar ter estudado sobre a empresa e isso já manda uma série de recados para gestora e para recrutadora que estiverem te entrevistando e avaliando. Mostra que você realmente fez a lição de casa e se preparou para aquilo. 

A segunda dica é ser bastante sincero em relação às suas expectativas, ao seu interesse real de área de atuação, de aprendizado. É natural em um primeiro momento não ter 100% de clareza em relação à área de atuação, mas é importante falar sobre a sua disposição em aprender, sobre o seu interesse nas áreas que mais te chamam atenção, baseados em leituras que fez, nas matérias que você mais gosta na faculdade, nos seus hobbies, porque tudo isso vai passar a imagem da pessoa que é transparente, que coloca tudo que gosta e vai fazer com que a pessoa que estiver avaliando consiga identificar quais são as suas características, para entender se faz sentido ou não pra vaga.

É bom lembrar que não existe um perfil ruim ou um perfil bom, existe um perfil que naquele momento, para aquela posição, para aquele desafio que a pessoa que está avaliando entende que vai se dar melhor e que vai ter as expectativas atendidas.

Quando eu falo expectativas não são só expectativas da empresa. É importante dizer que a empresa também fica ansiosa. A empresa também quer que dê certo, também quer preencher essa posição o mais rápido possível. Mas também a expectativa do candidato, né? 

Se a gente como recursos humanos colocar uma pessoa que não vai ter suas expectativas atendidas, é péssimo porque a pessoa vai se frustrar, sair da empresa e a empresa vai precisar começar o processo todo de novo. As expectativas são dos dois lados e o recrutador tem a missão de identificar os reais interesses e objetivos do candidato para selecionar de forma adequada para aquela empresa.

Outras formas de se destacar são os cursos que você faz relacionados a sua área de formação. Podem ser cursos gratuitos, palestras, eventos online, participação em entidades estudantis como empresa júnior, diretor acadêmico, trabalho voluntário. Colocar os seus hobbies, se você eventualmente faz algum esporte, toca algum instrumento. Tudo isso vai contar mais de quem é você. 

E, certamente, cada atividade que você faz, seja um trabalho de faculdade que é mais complexo, foi mais longo e exigiu mais dedicação ou seja um intercâmbio, por exemplo, para quem tem a oportunidade de fazer, vai demonstrar uma série de características e de situações que a pessoa precisou se adaptar e precisou enfrentar para as coisas darem certo. 

É importante dizer que todas as perguntas em um processo de seleção normalmente vão ser baseadas em situações que você viveu e passou. “Puxa, você já passou por tal situação? Me conta como foi? Como você agiu?” e aí a gente investiga o comportamento e o que aconteceu no passado em projeções. “Aqui na empresa acontece assim. Se você estivesse nessa posição, o que você faria? Qual seria a sua reação?”. O recrutador tenta entender quais as suas decisões, qual vai ser o seu comportamento diante do desafio.

Essa reflexão sobre como responder e como os os avaliadores perguntam, é importante para você ter consciência da sua resposta de como se apresentar, de como contar os desafios que você passou e superou para conseguir a vaga. 

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Fui demitida, devo mencionar isso nas próximas entrevistas?

Idealmente não, você não vai iniciar uma entrevista falando sobre as suas experiências e contando que você foi demitido e o motivo, mas você deve estar preparada para responder sobre a sua saída da empresa se for perguntada e aqui é importante falar a verdade. Se você já tem uma construção de resposta preparada, acho que vai fazer isso de uma forma bastante segura e direta, que é o que importa pra empresa. 

Você pode ter sido desligada de uma empresa por um motivo como corte de pessoas, como um rearranjo da área, uma mudança de liderança. Isso pode acontecer e você pode justificar com esse motivo. Ou você pode ter sido desligada eventualmente por não atingir alguma meta, ou por ter tido um desempenho que na visão do seu gestor na época foi aquém do esperado. 

Se a pergunta acontecer e você explicar e justificar, é importante fazer isso de forma segura. Se for uma questão de entrega ou de performance, mostrar que você se preparou para solucionar aquele problema. “Olha, realmente, fui desligado por uma questão de performance, em partes eu reconheço. Realmente não estava entregando o meu melhor e isso aconteceu por causa disso e disso. Eu tomei tais ações para solucionar e entendo que essa questão já foi solucionada ou estou trabalhando em determinados pontos”, mas isso você vai responder apenas se for perguntado.

Quando você participa de um processo seletivo e a resposta começa a demorar para chegar, é de bom tom questionar sobre o resultado ou é melhor esperar o contato da empresa? E qual seria o tempo ideal para aguardar o resultado?

Cada empresa tem um tempo de processo de seleção em algumas etapas. A gente sabe que as empresas estão buscando fazer processos cada vez mais rápidos e com menos etapas, justamente para melhorar a experiência dos candidatos. 

Agora, se a gente pensar num programa de estágio com mais de 100 vagas, por exemplo, vai ter um mês que é só de divulgação e inscrição, outro mês que é de seleção na consultoria e um outro mês que é a etapa final na empresa. Então, tem um período de três meses até o processo ser concluído. 

Se você pensar numa vaga pontual, normalmente esse processo dura menos de um mês entre a divulgação, a seleção e o retorno para os candidatos já com a oferta. Normalmente, o recrutador fala dos próximos passos quando ele entrevista. No final da entrevista, ele abre para ver se você tem alguma dúvida e ele fala: “Olha, os próximos passos agora são em X tempo a gente dar um retorno. Aguarde o contato e se você tiver dúvida esses são os canais.” 

Se ele não falar, você pode perguntar. Se ele passar o prazo e vencer, não tem problema mandar uma mensagem agradecendo pela oportunidade de ser entrevistada e dizendo que você reitera que tem interesse, está a disposição da empresa. 

Demonstra interesse e preocupação do candidato em enviar uma mensagem, ainda mais se for desse jeito. Acho que uma mensagem cobrando um retorno soe um pouco estranha, mas uma mensagem reiterando o seu interesse, a sua disposição, eu acho que é super válido. Mostra que o candidato realmente está afim da vaga.

O que fazer quando o único estágio que consigo é ruim? Devo ficar pela experiência ou não?

Essa pergunta sobre conseguir um estágio e ele ser ruim, pensamos sobre o ponto de vista que tem vários aspectos. Pode ser, por exemplo, sob o ponto de vista de aprendizado e de desenvolvimento. Esse eu acho que é o é o mais crítico deles.  Se é uma empresa onde você não está aprendendo, onde você não tem desenvolvimento, você não vê perspectiva. Eu entendo que não, você deve buscar um novo estágio, porque essa é a principal finalidade do estágio. Você não precisa necessariamente sair para procurar outro estágio ou um emprego, você pode procurar o emprego enquanto você está na empresa. Se eventualmente você usa a bolsa auxílio, os benefícios para custear aí a sua formação, ajudar em casa, enfim. Esse é o ponto mais crítico.  Agora, se for em um outro aspecto, por exemplo, a remuneração, os benefícios não são tão bons, mas você tem um bom ambiente de aprendizado, eu acho que, na minha visão, pesa o aprendizado e aí vale a experiência que você vai adquirir naquela empresa.  Vale uma reflexão: uma pessoa que se forma sem ter feito estágio, o cenário dela conseguir um emprego é um, totalmente diferente de quem fez um estágio. Então, por mais que você faça um estágio e você não seja efetivado, você tem muito mais possibilidade depois de conseguir uma vaga de emprego, porque daí o mercado vai pedir experiência, vai pedir conhecimento prévio, vai exigir isso e você vai estar mais preparado. A sua vida é outra se você tiver feito um estágio.

Aqui vale uma última reflexão também, a Companhia de Estágios faz vagas não só para o Brasil, mas para alguns outros países e muitos, quando oferecem uma vaga de estágio, não são remunerados. As pessoas vão justamente pelo aprendizado de tão necessário que é. A principal finalidade, seja um estágio remunerado ou não, um estágio de férias, enfim, é o aprendizado. Então, acho que a palavra chave aqui é aprendizado. Se você está aprendendo e está se desenvolvendo, na minha percepção, vale a pena.

Mudar de estágio muitas vezes é visto de uma maneira ruim pelo mercado?

A resposta é que não é visto de uma forma ruim pelo mercado, desde que seja bem explicado em uma entrevista e que você tenha uma justificativa coerente para isso. Então, por exemplo, uma pessoa que fica dois, três, quatro meses em cada empresa e sai, e a justificativa dela é “Ah, não gostei, não me adaptei, não é o que eu esperava”, passa uma imagem para o recrutador de uma pessoa que não pesquisou antes para entrar nessas empresas e que ela nunca se adapta. Aí é complicado porque você vê uma pessoa que passou um período curto por duas, três, quatro empresas, sempre saiu e a culpa é sempre da empresa. É no mínimo curioso, né?  É muito importante o discurso que vai estar atrelado a isso. Se você ficou, por exemplo, por mais que seja um período curto, três meses, seis meses e fala: “Puxa vida, eu cumpri o meu ciclo de aprendizado naquele local. Apareceu uma outra oportunidade que eu entendia que era um desafio maior, onde eu ia poder continuar minha curva de aprendizado ou onde eu ia dentro da minha área de formação”. Vamos pensar em uma pessoa de marketing que já atuou com uma questão de atendimento dentro de uma agência e vai poder, de repente, atuar com planejamento e explorar outras subáreas dentro da área. Eu acho que esse discurso é coerente, é bem-vindo porque no começo do curso o estudante precisa mesmo experimentar e testar. Lógico, ele tem indícios de áreas que ele gosta mais, se dá bem, com base em pesquisa, em matérias da faculdade, em colegas que trabalharam e contaram como é. Mas ele precisa ter um discurso que faça sentido. É isso que vai ser avaliado dentro dessa perspectiva de mudar de estágio várias vezes ou não.

Existe alguma forma de avaliar se eu não estou sendo explorado no meu primeiro emprego?

O que é importante você fazer é se comparar com os demais estagiários ou com as demais pessoas da área para entender se existe algum tipo de conduta diferente por parte da empresa no sentido de distribuição de tarefas, avaliação, reconhecimento, entregas. As empresas hoje, principalmente as maiores, têm uma política muito coerente e correta de avaliação. Você tem uma equiparidade de salários. Então, aquelas diferenças que a gente via entre homens e mulheres, por exemplo, no mesmo cargo, tem diminuído de forma bastante acentuada. Você tem uma política de feedbacks e, se você não tem uma política formal, você pode pedir e perguntar no que você está indo bem, no que pode melhorar.

Com base nessa comparação, da forma de avaliar, de reconhecer, de distribuir tarefas dos seus pares da área onde você atua, você talvez consiga chegar a essa conclusão de se você está sendo eventualmente explorado ou não nesse primeiro emprego, nessa vaga que você conseguiu.

De qualquer forma, vale ponderar também a reflexão sobre aprendizado e se você realmente não gostou, não está satisfeito, entende que não é a empresa, você pode primeiro conversar, pedir feedback se você quiser continuar ou buscar uma outra oportunidade no mercado já tendo saído da empresa ou enquanto você está lá. 

O que vale mais a pena: buscar um trainee ou CLT? Você pode dar dicas para recém formados que não conseguem trabalhar na área de formação?

Os propósitos são diferentes. Apesar de um trainee ser um CLT, com um contrato efetivo e temporário de trabalho, o foco dos programas de trainee (que têm poucas vagas) é formação de liderança.  É buscado um perfil que está no final da graduação ou recém-formado, mas também é comum no mercado um perfil um pouco mais maduro, que é uma pessoa que se formou há alguns anos e de repente já tem uma pós ou MBA. 

Mas é um programa com foco em formação de liderança, então é bastante exigente no processo de seleção, em que as empresas buscam identificar pessoas com alto potencial, com muita energia. Normalmente são programas muito concorridos, onde você tem o número de candidatos por vaga que chega a duzentos, trezentos, candidatos. Quer dizer, mais que o vestibular de medicina da USP. 

Não são todas as áreas que têm programa de trainee, então, você vai ter uma oferta no mercado muito maior de vagas efetivas. Em termos de facilidade de se colocar, sem dúvida, uma vaga efetiva é mais fácil.

Depende muito do teu objetivo. Existem blogs, grupos que preparam os jovens para os processos de seleção que são altamente concorridos. Se o seu foco é liderança, você é uma pessoa bastante competitiva, quer entrar em uma grande empresa, com grande desafio, busca um crescimento acelerado de carreira e se preparou para isso...

É comum os programas terem exigências técnicas altas. Aqui estamos falando de algum conhecimento anterior, eventualmente de inglês e de Excel. Hoje, o mercado tem olhado para temas de diversidade, sempre olhando mais para as pessoas, mas como é um programa bastante exigente, com foco em formação de liderança e com poucas posições, normalmente as empresas têm uma exigência técnica mínima que elas impõem para esses candidatos. 

Para quem se formou e não conseguiu uma colocação na vaga, era muito importante ter feito estágio porque isso ajudaria bastante a se colocar. Se não fez estágio, essa pessoa pode buscar cursos e informações para turbinar o currículo e aumentar as chances dela se colocar, como palestras, eventos, fóruns, webinars. Se tiver condição para um MBA, uma pós-graduação, vai ajudar essa pessoa a estar preparada tecnicamente para entrar na área.

Então, quando ela for questionada por um recrutador, ela vai falar: “Olha, eu não tive a oportunidade de entrar na área de graduação, mas eu me preparei, eu fiz uma série de cursos, porque eu realmente quero entrar. Eu realmente acho que essa é a minha área de maior interesse de formação, onde eu tenho me preparado e o que eu preciso é de uma oportunidade”. Tudo isso vai demonstrar que a pessoa não só quer, mas fez a lição de casa pra entrar. 

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  4. Diversidade e inclusão nas empresas, com a influencer e especialista em D&I Bielo Pereira

  5. Produtividade sustentável e saúde mental, com a jornalista Izabella Camargo

  6. Negócios e empreendedorismo, com Caito Maia, fundador da Chilli Beans e apresentador do Shark Tank Brasil

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