Meditação, esporte e bom sono são chave para CEOs melhorarem desempenho, diz ex-atleta olímpico


O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance

Por Jayanne Rodrigues
Foto: Tiago Queiroz
Entrevista comMarcelo ApovianEx-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

Há 30 anos, o desafio de Marcelo Apovian estava no mundo esportivo, enquanto competia com atletas de alto rendimento na modalidade de esqui alpino em jogos olímpicos. Da neve ao escritório, Apovian migrou para uma longeva carreira como headhunter, na qual entrevistou mais de 5 mil profissionais de média gerência e alto escalão para grandes empresas.

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O resultado desse mapeamento é que hoje, aos 50 anos, o ex-atleta olímpico criou um método que promete melhorar desempenho de CEOs e outros executivos. É baseado numa mistura de meditação, sono, alimentação e convívio com a família. “As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração”, afirma.

Confira trechos da entrevista:

O que o esporte de esqui te ensinou sobre liderança e performance?

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Comecei a competir aos 14 anos. Obviamente, não sabia nem o que era liderança. A minha preocupação era me tornar o melhor possível naquele esporte que era tão difícil porque não tinha neve no Brasil. Mas quando você vai para o mundo corporativo o quebra-cabeça é montado. O mundo esportivo e o mundo corporativo são muito parecidos. Você aprende a perder, aprende a ganhar, ter foco, ter resiliência e arriscar. Só vai bem quem arrisca.

Comecei com judô, depois esqui e, por último, o atletismo. No esporte individual, há uma estrutura por trás que te suporta. Então, as pessoas têm que acreditar em você. Independentemente de o sonho ser montar uma empresa de educação, ser presidente de uma empresa de bilhões, ou se é para descer uma montanha. O líder, o atleta e o empreendedor têm que ter essa liderança.

O bom líder te dá a gasolina que você precisa naquele momento, ele tira o combustível na hora em que você está muito enérgico, é quem tem a sensibilidade para fazer as coisas acontecerem. No esporte, se quiser se tornar um campeão, é exatamente isso: a equipe que está em volta precisa acreditar nos seus comandos, que vão te levar para ser o melhor do mundo.

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Em que momento você percebeu que o esporte havia te preparado para o mundo corporativo?

Quando você é atleta, aprende muito com o treinador. É a pessoa que coloca ordem na casa. Eu via como ele me treinava. Quando ele tinha que apertar, apertava. Quando tinha que elogiar, elogiava. Descobri que as minhas habilidades no esporte serviam para o mundo corporativo quando tive um chefe ruim.

Pensava que os comandos que ele estava dando eram horríveis, eu não concordava e sabia que não ia funcionar. Lembro direitinho, ele falava: ‘ah, sexta-feira a gente sai meio-dia do escritório para melhorar a qualidade de vida’. Isso foi em 2006, não tinha esse negócio de sair cedo. Eu falava: vamos trabalhar, não quero ir para casa, a gente tem que entregar o número para o diretor. Ele era meu gerente [o chefe], eu era o consultor. Foi ali que descobri que eu poderia ser um bom líder.

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Qual é, na sua perspectiva, a habilidade mais importante de uma liderança?

A humildade. O pé no chão para saber ouvir, saber escutar os outros. Quando você está lá em cima, seja político ou executivo, a tendência é se blindar de notícias ruins ao seu perfil. Então, as pessoas querem sempre bajular, querem sempre falar que você é bom.

A alta liderança nunca tem uma visão clara, de fato, de como está. Às vezes, o conselho está em cima falando, mas é difícil a [alta liderança] ter uma visão dela, mesmo. Tem muita informação imprecisa. E a humildade te faz saber escutar, aceitar um feedback de um subordinado, te faz andar pelos corredores da empresa, conversar com todos, da faxineira ao vice-presidente que reporta direto a você.

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Por exemplo, o Paulo Kakinoff, ex-CEO da Gol, antes de assumir o cargo, ficava voando, conversando com os comissários e com os pilotos. E aí, em todo final de voo, se apresentava e dizia que ia estar no final da escada e gostaria de ouvir as pessoas.

Ele tinha um caderninho e ficava anotando os feedbacks dos comissários, dos comandantes e dos clientes. Quando ele foi para a cadeira de CEO já sabia o que precisava ser feito porque ouviu as pessoas. É um exemplo de liderança de altíssima performance. Pé no chão e humildade.

Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

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Qual é o perfil da liderança com alta performance?

Performance é fazer o seu melhor naquilo que você se propôs a fazer. Existem dois tipos de liderança: a momentânea e a perene. A liderança momentânea é aquele líder, aquele CEO que tem ego grande, que gosta de falar dele e que supervaloriza as conquistas que ele e a equipe tiveram. Temos mais líderes nesse estilo de liderança de egocentrismo do que com maior capacidade de visão.

Líderes perenes são pessoas que estão num patamar de performance muito elevado. Por exemplo, um dos meus critérios para investir em uma ação na Bolsa é saber se o líder da empresa é egocêntrico. Com o egocêntrico, as ações em algum momento vão cair. O CEO perene pode ter uma baixa nas ações por uma questão de resultado, de inflação, ou alguma variável que ele não controla, mas tendo a acreditar que sobem mais pela gestão do líder perene.

De que forma a felicidade e a saúde mental entram como fator de engajamento das equipes?

Eu já vi muita liderança tóxica que destruiu a equipe. Assim como vi muito treinador tóxico que destruiu atletas. Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

A vida do CEO é muito difícil, porque recebe pressão do conselho, do acionista e tem que saber filtrar essa pressão para não passar para o time de baixo. Mas também tem que ter produção do time de baixo para entregar resultado.

O CEO sempre tem o seguinte cenário: conversa com a turma de baixo e conversa com os reportados diretos e com os acionistas. Quando ele se tranca na sala, a decisão é dele. É uma decisão solitária.

Se der certo, recebe os parabéns. Se der errado, recebe a demissão ou as ações caindo. Não é fácil ser um líder, e quando você tem pressão para manter o ambiente saudável é muito mais difícil. Não podemos confundir foco no resultado com saúde mental. Podemos ter entrega e resultado com saúde mental.

A vida é muito mais de descidas do que subidas. Essas pessoas de altíssima performance se dão melhor porque elas conseguem na baixa ter a frieza e a criatividade de sair muito mais forte.

O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como as lideranças podem alcançar essa alta performance?

É preciso estudar, ter humildade para ouvir e estar aberto a novos aprendizados. É sempre bom ter um mentor. Pai, mãe, algum amigo, chefe, ou alguém que possa ajudar nesse caminho de muita disciplina e foco.

As lideranças focadas e disciplinadas sabem cair e subir muito rápido. Outra coisa é saber se reinventar. O que está fazendo, o que deu certo até aqui não é necessariamente o que vai dar certo daqui para frente.

O medo é outro fator para a procrastinação. O medo te impede de dar o próximo passo e é um gatilho destruidor para sua carreira.

Como combater essa cultura do medo na vida profissional?

As lideranças com alta performance transformam medo em combustível. O que é diferente da fragilidade, que faz parte do jogo. Em algum momento, as pessoas ficam vulneráveis. O medo também faz parte do jogo, mas as pessoas precisam controlar porque pode ser muito tóxico.

O medo de o meu chefe não gostar de mim, o medo de não ser promovido, por exemplo. É saber filtrar o que escuta.

Por isso, acredito em lideranças humildes, pois estão dispostas a errar e a corrigir rápido a rota. A pessoa com ego grande nunca erra, ou demora para admitir o erro, ou imputa para alguém o erro, ou não toma o risco que precisa tomar porque não quer arriscar se expor.

No seu livro “Muito acima da média”, você defende a inteligência estrutural. O que significa e qual importância para atingir a alta performance?

É um patamar que precede a inteligência emocional. Se existir inteligência estrutural, vai passar bem pelo problema da inteligência emocional. Então, criei o método M.E.S.A + família: Mindfulness, Esporte, Sono e Alimentação. Se fizer esses cinco com frequência, tem muito mais chance de performar. As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração.

Pode ser um jogo de xadrez, golfe, dominó, alguma coisa que tire da rotina dura. O esporte diminui ansiedade, o sono diminui ansiedade. É preciso comer bem e ter convívio social.

Porque você nunca vai ouvir um propósito de uma empresa que não envolva pessoas. Não fazemos nada se não tiver alguém envolvido na história. Então, a convivência familiar que eu chamo de família é a convivência social de modo geral.

Esses cinco elementos são fatores que trazem equilíbrio para ter inteligência emocional quando passar por um momento de baixa e ter mais condições de subir rápido de novo.

Como esses elementos funcionam na prática?

A meditação é tão poderosa que deveria ser obrigatória para qualquer CEO, qualquer presidente fazer porque essas pessoas vivem em momentos de tensões absurdas. A meditação oferece uma tranquilidade de pensamento para que a liderança raciocine de uma maneira mais clara.

Para quem precisa tomar decisão sobre um resultado que o conselho está cobrando com uma pressão violenta, por exemplo, ter meditado, ter um conhecimento sobre meditação, sobre como se conectar com você mesmo naquele momento é fundamental.

E para quem não gosta de meditar?

Algumas pessoas não gostam de meditar, mas gostam de correr. A corrida é uma meditação. Andar de bicicleta é uma meditação.

Se você está correndo sozinho, o que está fazendo? Você está respirando, os seus pensamentos vêm e você manda embora. Ou às vezes você deixa lá e curte aquele pensamento. Depois você muda de pensamento, é um tipo de meditação.

Mas se você pedala com alguém ou em um grupo não é meditação, está trocando ideias com alguém. Muitas pessoas meditam sem saber.

Há 30 anos, o desafio de Marcelo Apovian estava no mundo esportivo, enquanto competia com atletas de alto rendimento na modalidade de esqui alpino em jogos olímpicos. Da neve ao escritório, Apovian migrou para uma longeva carreira como headhunter, na qual entrevistou mais de 5 mil profissionais de média gerência e alto escalão para grandes empresas.

O resultado desse mapeamento é que hoje, aos 50 anos, o ex-atleta olímpico criou um método que promete melhorar desempenho de CEOs e outros executivos. É baseado numa mistura de meditação, sono, alimentação e convívio com a família. “As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração”, afirma.

Confira trechos da entrevista:

O que o esporte de esqui te ensinou sobre liderança e performance?

Comecei a competir aos 14 anos. Obviamente, não sabia nem o que era liderança. A minha preocupação era me tornar o melhor possível naquele esporte que era tão difícil porque não tinha neve no Brasil. Mas quando você vai para o mundo corporativo o quebra-cabeça é montado. O mundo esportivo e o mundo corporativo são muito parecidos. Você aprende a perder, aprende a ganhar, ter foco, ter resiliência e arriscar. Só vai bem quem arrisca.

Comecei com judô, depois esqui e, por último, o atletismo. No esporte individual, há uma estrutura por trás que te suporta. Então, as pessoas têm que acreditar em você. Independentemente de o sonho ser montar uma empresa de educação, ser presidente de uma empresa de bilhões, ou se é para descer uma montanha. O líder, o atleta e o empreendedor têm que ter essa liderança.

O bom líder te dá a gasolina que você precisa naquele momento, ele tira o combustível na hora em que você está muito enérgico, é quem tem a sensibilidade para fazer as coisas acontecerem. No esporte, se quiser se tornar um campeão, é exatamente isso: a equipe que está em volta precisa acreditar nos seus comandos, que vão te levar para ser o melhor do mundo.

Em que momento você percebeu que o esporte havia te preparado para o mundo corporativo?

Quando você é atleta, aprende muito com o treinador. É a pessoa que coloca ordem na casa. Eu via como ele me treinava. Quando ele tinha que apertar, apertava. Quando tinha que elogiar, elogiava. Descobri que as minhas habilidades no esporte serviam para o mundo corporativo quando tive um chefe ruim.

Pensava que os comandos que ele estava dando eram horríveis, eu não concordava e sabia que não ia funcionar. Lembro direitinho, ele falava: ‘ah, sexta-feira a gente sai meio-dia do escritório para melhorar a qualidade de vida’. Isso foi em 2006, não tinha esse negócio de sair cedo. Eu falava: vamos trabalhar, não quero ir para casa, a gente tem que entregar o número para o diretor. Ele era meu gerente [o chefe], eu era o consultor. Foi ali que descobri que eu poderia ser um bom líder.

Qual é, na sua perspectiva, a habilidade mais importante de uma liderança?

A humildade. O pé no chão para saber ouvir, saber escutar os outros. Quando você está lá em cima, seja político ou executivo, a tendência é se blindar de notícias ruins ao seu perfil. Então, as pessoas querem sempre bajular, querem sempre falar que você é bom.

A alta liderança nunca tem uma visão clara, de fato, de como está. Às vezes, o conselho está em cima falando, mas é difícil a [alta liderança] ter uma visão dela, mesmo. Tem muita informação imprecisa. E a humildade te faz saber escutar, aceitar um feedback de um subordinado, te faz andar pelos corredores da empresa, conversar com todos, da faxineira ao vice-presidente que reporta direto a você.

Por exemplo, o Paulo Kakinoff, ex-CEO da Gol, antes de assumir o cargo, ficava voando, conversando com os comissários e com os pilotos. E aí, em todo final de voo, se apresentava e dizia que ia estar no final da escada e gostaria de ouvir as pessoas.

Ele tinha um caderninho e ficava anotando os feedbacks dos comissários, dos comandantes e dos clientes. Quando ele foi para a cadeira de CEO já sabia o que precisava ser feito porque ouviu as pessoas. É um exemplo de liderança de altíssima performance. Pé no chão e humildade.

Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

Qual é o perfil da liderança com alta performance?

Performance é fazer o seu melhor naquilo que você se propôs a fazer. Existem dois tipos de liderança: a momentânea e a perene. A liderança momentânea é aquele líder, aquele CEO que tem ego grande, que gosta de falar dele e que supervaloriza as conquistas que ele e a equipe tiveram. Temos mais líderes nesse estilo de liderança de egocentrismo do que com maior capacidade de visão.

Líderes perenes são pessoas que estão num patamar de performance muito elevado. Por exemplo, um dos meus critérios para investir em uma ação na Bolsa é saber se o líder da empresa é egocêntrico. Com o egocêntrico, as ações em algum momento vão cair. O CEO perene pode ter uma baixa nas ações por uma questão de resultado, de inflação, ou alguma variável que ele não controla, mas tendo a acreditar que sobem mais pela gestão do líder perene.

De que forma a felicidade e a saúde mental entram como fator de engajamento das equipes?

Eu já vi muita liderança tóxica que destruiu a equipe. Assim como vi muito treinador tóxico que destruiu atletas. Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

A vida do CEO é muito difícil, porque recebe pressão do conselho, do acionista e tem que saber filtrar essa pressão para não passar para o time de baixo. Mas também tem que ter produção do time de baixo para entregar resultado.

O CEO sempre tem o seguinte cenário: conversa com a turma de baixo e conversa com os reportados diretos e com os acionistas. Quando ele se tranca na sala, a decisão é dele. É uma decisão solitária.

Se der certo, recebe os parabéns. Se der errado, recebe a demissão ou as ações caindo. Não é fácil ser um líder, e quando você tem pressão para manter o ambiente saudável é muito mais difícil. Não podemos confundir foco no resultado com saúde mental. Podemos ter entrega e resultado com saúde mental.

A vida é muito mais de descidas do que subidas. Essas pessoas de altíssima performance se dão melhor porque elas conseguem na baixa ter a frieza e a criatividade de sair muito mais forte.

O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como as lideranças podem alcançar essa alta performance?

É preciso estudar, ter humildade para ouvir e estar aberto a novos aprendizados. É sempre bom ter um mentor. Pai, mãe, algum amigo, chefe, ou alguém que possa ajudar nesse caminho de muita disciplina e foco.

As lideranças focadas e disciplinadas sabem cair e subir muito rápido. Outra coisa é saber se reinventar. O que está fazendo, o que deu certo até aqui não é necessariamente o que vai dar certo daqui para frente.

O medo é outro fator para a procrastinação. O medo te impede de dar o próximo passo e é um gatilho destruidor para sua carreira.

Como combater essa cultura do medo na vida profissional?

As lideranças com alta performance transformam medo em combustível. O que é diferente da fragilidade, que faz parte do jogo. Em algum momento, as pessoas ficam vulneráveis. O medo também faz parte do jogo, mas as pessoas precisam controlar porque pode ser muito tóxico.

O medo de o meu chefe não gostar de mim, o medo de não ser promovido, por exemplo. É saber filtrar o que escuta.

Por isso, acredito em lideranças humildes, pois estão dispostas a errar e a corrigir rápido a rota. A pessoa com ego grande nunca erra, ou demora para admitir o erro, ou imputa para alguém o erro, ou não toma o risco que precisa tomar porque não quer arriscar se expor.

No seu livro “Muito acima da média”, você defende a inteligência estrutural. O que significa e qual importância para atingir a alta performance?

É um patamar que precede a inteligência emocional. Se existir inteligência estrutural, vai passar bem pelo problema da inteligência emocional. Então, criei o método M.E.S.A + família: Mindfulness, Esporte, Sono e Alimentação. Se fizer esses cinco com frequência, tem muito mais chance de performar. As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração.

Pode ser um jogo de xadrez, golfe, dominó, alguma coisa que tire da rotina dura. O esporte diminui ansiedade, o sono diminui ansiedade. É preciso comer bem e ter convívio social.

Porque você nunca vai ouvir um propósito de uma empresa que não envolva pessoas. Não fazemos nada se não tiver alguém envolvido na história. Então, a convivência familiar que eu chamo de família é a convivência social de modo geral.

Esses cinco elementos são fatores que trazem equilíbrio para ter inteligência emocional quando passar por um momento de baixa e ter mais condições de subir rápido de novo.

Como esses elementos funcionam na prática?

A meditação é tão poderosa que deveria ser obrigatória para qualquer CEO, qualquer presidente fazer porque essas pessoas vivem em momentos de tensões absurdas. A meditação oferece uma tranquilidade de pensamento para que a liderança raciocine de uma maneira mais clara.

Para quem precisa tomar decisão sobre um resultado que o conselho está cobrando com uma pressão violenta, por exemplo, ter meditado, ter um conhecimento sobre meditação, sobre como se conectar com você mesmo naquele momento é fundamental.

E para quem não gosta de meditar?

Algumas pessoas não gostam de meditar, mas gostam de correr. A corrida é uma meditação. Andar de bicicleta é uma meditação.

Se você está correndo sozinho, o que está fazendo? Você está respirando, os seus pensamentos vêm e você manda embora. Ou às vezes você deixa lá e curte aquele pensamento. Depois você muda de pensamento, é um tipo de meditação.

Mas se você pedala com alguém ou em um grupo não é meditação, está trocando ideias com alguém. Muitas pessoas meditam sem saber.

Há 30 anos, o desafio de Marcelo Apovian estava no mundo esportivo, enquanto competia com atletas de alto rendimento na modalidade de esqui alpino em jogos olímpicos. Da neve ao escritório, Apovian migrou para uma longeva carreira como headhunter, na qual entrevistou mais de 5 mil profissionais de média gerência e alto escalão para grandes empresas.

O resultado desse mapeamento é que hoje, aos 50 anos, o ex-atleta olímpico criou um método que promete melhorar desempenho de CEOs e outros executivos. É baseado numa mistura de meditação, sono, alimentação e convívio com a família. “As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração”, afirma.

Confira trechos da entrevista:

O que o esporte de esqui te ensinou sobre liderança e performance?

Comecei a competir aos 14 anos. Obviamente, não sabia nem o que era liderança. A minha preocupação era me tornar o melhor possível naquele esporte que era tão difícil porque não tinha neve no Brasil. Mas quando você vai para o mundo corporativo o quebra-cabeça é montado. O mundo esportivo e o mundo corporativo são muito parecidos. Você aprende a perder, aprende a ganhar, ter foco, ter resiliência e arriscar. Só vai bem quem arrisca.

Comecei com judô, depois esqui e, por último, o atletismo. No esporte individual, há uma estrutura por trás que te suporta. Então, as pessoas têm que acreditar em você. Independentemente de o sonho ser montar uma empresa de educação, ser presidente de uma empresa de bilhões, ou se é para descer uma montanha. O líder, o atleta e o empreendedor têm que ter essa liderança.

O bom líder te dá a gasolina que você precisa naquele momento, ele tira o combustível na hora em que você está muito enérgico, é quem tem a sensibilidade para fazer as coisas acontecerem. No esporte, se quiser se tornar um campeão, é exatamente isso: a equipe que está em volta precisa acreditar nos seus comandos, que vão te levar para ser o melhor do mundo.

Em que momento você percebeu que o esporte havia te preparado para o mundo corporativo?

Quando você é atleta, aprende muito com o treinador. É a pessoa que coloca ordem na casa. Eu via como ele me treinava. Quando ele tinha que apertar, apertava. Quando tinha que elogiar, elogiava. Descobri que as minhas habilidades no esporte serviam para o mundo corporativo quando tive um chefe ruim.

Pensava que os comandos que ele estava dando eram horríveis, eu não concordava e sabia que não ia funcionar. Lembro direitinho, ele falava: ‘ah, sexta-feira a gente sai meio-dia do escritório para melhorar a qualidade de vida’. Isso foi em 2006, não tinha esse negócio de sair cedo. Eu falava: vamos trabalhar, não quero ir para casa, a gente tem que entregar o número para o diretor. Ele era meu gerente [o chefe], eu era o consultor. Foi ali que descobri que eu poderia ser um bom líder.

Qual é, na sua perspectiva, a habilidade mais importante de uma liderança?

A humildade. O pé no chão para saber ouvir, saber escutar os outros. Quando você está lá em cima, seja político ou executivo, a tendência é se blindar de notícias ruins ao seu perfil. Então, as pessoas querem sempre bajular, querem sempre falar que você é bom.

A alta liderança nunca tem uma visão clara, de fato, de como está. Às vezes, o conselho está em cima falando, mas é difícil a [alta liderança] ter uma visão dela, mesmo. Tem muita informação imprecisa. E a humildade te faz saber escutar, aceitar um feedback de um subordinado, te faz andar pelos corredores da empresa, conversar com todos, da faxineira ao vice-presidente que reporta direto a você.

Por exemplo, o Paulo Kakinoff, ex-CEO da Gol, antes de assumir o cargo, ficava voando, conversando com os comissários e com os pilotos. E aí, em todo final de voo, se apresentava e dizia que ia estar no final da escada e gostaria de ouvir as pessoas.

Ele tinha um caderninho e ficava anotando os feedbacks dos comissários, dos comandantes e dos clientes. Quando ele foi para a cadeira de CEO já sabia o que precisava ser feito porque ouviu as pessoas. É um exemplo de liderança de altíssima performance. Pé no chão e humildade.

Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

Qual é o perfil da liderança com alta performance?

Performance é fazer o seu melhor naquilo que você se propôs a fazer. Existem dois tipos de liderança: a momentânea e a perene. A liderança momentânea é aquele líder, aquele CEO que tem ego grande, que gosta de falar dele e que supervaloriza as conquistas que ele e a equipe tiveram. Temos mais líderes nesse estilo de liderança de egocentrismo do que com maior capacidade de visão.

Líderes perenes são pessoas que estão num patamar de performance muito elevado. Por exemplo, um dos meus critérios para investir em uma ação na Bolsa é saber se o líder da empresa é egocêntrico. Com o egocêntrico, as ações em algum momento vão cair. O CEO perene pode ter uma baixa nas ações por uma questão de resultado, de inflação, ou alguma variável que ele não controla, mas tendo a acreditar que sobem mais pela gestão do líder perene.

De que forma a felicidade e a saúde mental entram como fator de engajamento das equipes?

Eu já vi muita liderança tóxica que destruiu a equipe. Assim como vi muito treinador tóxico que destruiu atletas. Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

A vida do CEO é muito difícil, porque recebe pressão do conselho, do acionista e tem que saber filtrar essa pressão para não passar para o time de baixo. Mas também tem que ter produção do time de baixo para entregar resultado.

O CEO sempre tem o seguinte cenário: conversa com a turma de baixo e conversa com os reportados diretos e com os acionistas. Quando ele se tranca na sala, a decisão é dele. É uma decisão solitária.

Se der certo, recebe os parabéns. Se der errado, recebe a demissão ou as ações caindo. Não é fácil ser um líder, e quando você tem pressão para manter o ambiente saudável é muito mais difícil. Não podemos confundir foco no resultado com saúde mental. Podemos ter entrega e resultado com saúde mental.

A vida é muito mais de descidas do que subidas. Essas pessoas de altíssima performance se dão melhor porque elas conseguem na baixa ter a frieza e a criatividade de sair muito mais forte.

O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como as lideranças podem alcançar essa alta performance?

É preciso estudar, ter humildade para ouvir e estar aberto a novos aprendizados. É sempre bom ter um mentor. Pai, mãe, algum amigo, chefe, ou alguém que possa ajudar nesse caminho de muita disciplina e foco.

As lideranças focadas e disciplinadas sabem cair e subir muito rápido. Outra coisa é saber se reinventar. O que está fazendo, o que deu certo até aqui não é necessariamente o que vai dar certo daqui para frente.

O medo é outro fator para a procrastinação. O medo te impede de dar o próximo passo e é um gatilho destruidor para sua carreira.

Como combater essa cultura do medo na vida profissional?

As lideranças com alta performance transformam medo em combustível. O que é diferente da fragilidade, que faz parte do jogo. Em algum momento, as pessoas ficam vulneráveis. O medo também faz parte do jogo, mas as pessoas precisam controlar porque pode ser muito tóxico.

O medo de o meu chefe não gostar de mim, o medo de não ser promovido, por exemplo. É saber filtrar o que escuta.

Por isso, acredito em lideranças humildes, pois estão dispostas a errar e a corrigir rápido a rota. A pessoa com ego grande nunca erra, ou demora para admitir o erro, ou imputa para alguém o erro, ou não toma o risco que precisa tomar porque não quer arriscar se expor.

No seu livro “Muito acima da média”, você defende a inteligência estrutural. O que significa e qual importância para atingir a alta performance?

É um patamar que precede a inteligência emocional. Se existir inteligência estrutural, vai passar bem pelo problema da inteligência emocional. Então, criei o método M.E.S.A + família: Mindfulness, Esporte, Sono e Alimentação. Se fizer esses cinco com frequência, tem muito mais chance de performar. As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração.

Pode ser um jogo de xadrez, golfe, dominó, alguma coisa que tire da rotina dura. O esporte diminui ansiedade, o sono diminui ansiedade. É preciso comer bem e ter convívio social.

Porque você nunca vai ouvir um propósito de uma empresa que não envolva pessoas. Não fazemos nada se não tiver alguém envolvido na história. Então, a convivência familiar que eu chamo de família é a convivência social de modo geral.

Esses cinco elementos são fatores que trazem equilíbrio para ter inteligência emocional quando passar por um momento de baixa e ter mais condições de subir rápido de novo.

Como esses elementos funcionam na prática?

A meditação é tão poderosa que deveria ser obrigatória para qualquer CEO, qualquer presidente fazer porque essas pessoas vivem em momentos de tensões absurdas. A meditação oferece uma tranquilidade de pensamento para que a liderança raciocine de uma maneira mais clara.

Para quem precisa tomar decisão sobre um resultado que o conselho está cobrando com uma pressão violenta, por exemplo, ter meditado, ter um conhecimento sobre meditação, sobre como se conectar com você mesmo naquele momento é fundamental.

E para quem não gosta de meditar?

Algumas pessoas não gostam de meditar, mas gostam de correr. A corrida é uma meditação. Andar de bicicleta é uma meditação.

Se você está correndo sozinho, o que está fazendo? Você está respirando, os seus pensamentos vêm e você manda embora. Ou às vezes você deixa lá e curte aquele pensamento. Depois você muda de pensamento, é um tipo de meditação.

Mas se você pedala com alguém ou em um grupo não é meditação, está trocando ideias com alguém. Muitas pessoas meditam sem saber.

Há 30 anos, o desafio de Marcelo Apovian estava no mundo esportivo, enquanto competia com atletas de alto rendimento na modalidade de esqui alpino em jogos olímpicos. Da neve ao escritório, Apovian migrou para uma longeva carreira como headhunter, na qual entrevistou mais de 5 mil profissionais de média gerência e alto escalão para grandes empresas.

O resultado desse mapeamento é que hoje, aos 50 anos, o ex-atleta olímpico criou um método que promete melhorar desempenho de CEOs e outros executivos. É baseado numa mistura de meditação, sono, alimentação e convívio com a família. “As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração”, afirma.

Confira trechos da entrevista:

O que o esporte de esqui te ensinou sobre liderança e performance?

Comecei a competir aos 14 anos. Obviamente, não sabia nem o que era liderança. A minha preocupação era me tornar o melhor possível naquele esporte que era tão difícil porque não tinha neve no Brasil. Mas quando você vai para o mundo corporativo o quebra-cabeça é montado. O mundo esportivo e o mundo corporativo são muito parecidos. Você aprende a perder, aprende a ganhar, ter foco, ter resiliência e arriscar. Só vai bem quem arrisca.

Comecei com judô, depois esqui e, por último, o atletismo. No esporte individual, há uma estrutura por trás que te suporta. Então, as pessoas têm que acreditar em você. Independentemente de o sonho ser montar uma empresa de educação, ser presidente de uma empresa de bilhões, ou se é para descer uma montanha. O líder, o atleta e o empreendedor têm que ter essa liderança.

O bom líder te dá a gasolina que você precisa naquele momento, ele tira o combustível na hora em que você está muito enérgico, é quem tem a sensibilidade para fazer as coisas acontecerem. No esporte, se quiser se tornar um campeão, é exatamente isso: a equipe que está em volta precisa acreditar nos seus comandos, que vão te levar para ser o melhor do mundo.

Em que momento você percebeu que o esporte havia te preparado para o mundo corporativo?

Quando você é atleta, aprende muito com o treinador. É a pessoa que coloca ordem na casa. Eu via como ele me treinava. Quando ele tinha que apertar, apertava. Quando tinha que elogiar, elogiava. Descobri que as minhas habilidades no esporte serviam para o mundo corporativo quando tive um chefe ruim.

Pensava que os comandos que ele estava dando eram horríveis, eu não concordava e sabia que não ia funcionar. Lembro direitinho, ele falava: ‘ah, sexta-feira a gente sai meio-dia do escritório para melhorar a qualidade de vida’. Isso foi em 2006, não tinha esse negócio de sair cedo. Eu falava: vamos trabalhar, não quero ir para casa, a gente tem que entregar o número para o diretor. Ele era meu gerente [o chefe], eu era o consultor. Foi ali que descobri que eu poderia ser um bom líder.

Qual é, na sua perspectiva, a habilidade mais importante de uma liderança?

A humildade. O pé no chão para saber ouvir, saber escutar os outros. Quando você está lá em cima, seja político ou executivo, a tendência é se blindar de notícias ruins ao seu perfil. Então, as pessoas querem sempre bajular, querem sempre falar que você é bom.

A alta liderança nunca tem uma visão clara, de fato, de como está. Às vezes, o conselho está em cima falando, mas é difícil a [alta liderança] ter uma visão dela, mesmo. Tem muita informação imprecisa. E a humildade te faz saber escutar, aceitar um feedback de um subordinado, te faz andar pelos corredores da empresa, conversar com todos, da faxineira ao vice-presidente que reporta direto a você.

Por exemplo, o Paulo Kakinoff, ex-CEO da Gol, antes de assumir o cargo, ficava voando, conversando com os comissários e com os pilotos. E aí, em todo final de voo, se apresentava e dizia que ia estar no final da escada e gostaria de ouvir as pessoas.

Ele tinha um caderninho e ficava anotando os feedbacks dos comissários, dos comandantes e dos clientes. Quando ele foi para a cadeira de CEO já sabia o que precisava ser feito porque ouviu as pessoas. É um exemplo de liderança de altíssima performance. Pé no chão e humildade.

Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

Qual é o perfil da liderança com alta performance?

Performance é fazer o seu melhor naquilo que você se propôs a fazer. Existem dois tipos de liderança: a momentânea e a perene. A liderança momentânea é aquele líder, aquele CEO que tem ego grande, que gosta de falar dele e que supervaloriza as conquistas que ele e a equipe tiveram. Temos mais líderes nesse estilo de liderança de egocentrismo do que com maior capacidade de visão.

Líderes perenes são pessoas que estão num patamar de performance muito elevado. Por exemplo, um dos meus critérios para investir em uma ação na Bolsa é saber se o líder da empresa é egocêntrico. Com o egocêntrico, as ações em algum momento vão cair. O CEO perene pode ter uma baixa nas ações por uma questão de resultado, de inflação, ou alguma variável que ele não controla, mas tendo a acreditar que sobem mais pela gestão do líder perene.

De que forma a felicidade e a saúde mental entram como fator de engajamento das equipes?

Eu já vi muita liderança tóxica que destruiu a equipe. Assim como vi muito treinador tóxico que destruiu atletas. Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

A vida do CEO é muito difícil, porque recebe pressão do conselho, do acionista e tem que saber filtrar essa pressão para não passar para o time de baixo. Mas também tem que ter produção do time de baixo para entregar resultado.

O CEO sempre tem o seguinte cenário: conversa com a turma de baixo e conversa com os reportados diretos e com os acionistas. Quando ele se tranca na sala, a decisão é dele. É uma decisão solitária.

Se der certo, recebe os parabéns. Se der errado, recebe a demissão ou as ações caindo. Não é fácil ser um líder, e quando você tem pressão para manter o ambiente saudável é muito mais difícil. Não podemos confundir foco no resultado com saúde mental. Podemos ter entrega e resultado com saúde mental.

A vida é muito mais de descidas do que subidas. Essas pessoas de altíssima performance se dão melhor porque elas conseguem na baixa ter a frieza e a criatividade de sair muito mais forte.

O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como as lideranças podem alcançar essa alta performance?

É preciso estudar, ter humildade para ouvir e estar aberto a novos aprendizados. É sempre bom ter um mentor. Pai, mãe, algum amigo, chefe, ou alguém que possa ajudar nesse caminho de muita disciplina e foco.

As lideranças focadas e disciplinadas sabem cair e subir muito rápido. Outra coisa é saber se reinventar. O que está fazendo, o que deu certo até aqui não é necessariamente o que vai dar certo daqui para frente.

O medo é outro fator para a procrastinação. O medo te impede de dar o próximo passo e é um gatilho destruidor para sua carreira.

Como combater essa cultura do medo na vida profissional?

As lideranças com alta performance transformam medo em combustível. O que é diferente da fragilidade, que faz parte do jogo. Em algum momento, as pessoas ficam vulneráveis. O medo também faz parte do jogo, mas as pessoas precisam controlar porque pode ser muito tóxico.

O medo de o meu chefe não gostar de mim, o medo de não ser promovido, por exemplo. É saber filtrar o que escuta.

Por isso, acredito em lideranças humildes, pois estão dispostas a errar e a corrigir rápido a rota. A pessoa com ego grande nunca erra, ou demora para admitir o erro, ou imputa para alguém o erro, ou não toma o risco que precisa tomar porque não quer arriscar se expor.

No seu livro “Muito acima da média”, você defende a inteligência estrutural. O que significa e qual importância para atingir a alta performance?

É um patamar que precede a inteligência emocional. Se existir inteligência estrutural, vai passar bem pelo problema da inteligência emocional. Então, criei o método M.E.S.A + família: Mindfulness, Esporte, Sono e Alimentação. Se fizer esses cinco com frequência, tem muito mais chance de performar. As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração.

Pode ser um jogo de xadrez, golfe, dominó, alguma coisa que tire da rotina dura. O esporte diminui ansiedade, o sono diminui ansiedade. É preciso comer bem e ter convívio social.

Porque você nunca vai ouvir um propósito de uma empresa que não envolva pessoas. Não fazemos nada se não tiver alguém envolvido na história. Então, a convivência familiar que eu chamo de família é a convivência social de modo geral.

Esses cinco elementos são fatores que trazem equilíbrio para ter inteligência emocional quando passar por um momento de baixa e ter mais condições de subir rápido de novo.

Como esses elementos funcionam na prática?

A meditação é tão poderosa que deveria ser obrigatória para qualquer CEO, qualquer presidente fazer porque essas pessoas vivem em momentos de tensões absurdas. A meditação oferece uma tranquilidade de pensamento para que a liderança raciocine de uma maneira mais clara.

Para quem precisa tomar decisão sobre um resultado que o conselho está cobrando com uma pressão violenta, por exemplo, ter meditado, ter um conhecimento sobre meditação, sobre como se conectar com você mesmo naquele momento é fundamental.

E para quem não gosta de meditar?

Algumas pessoas não gostam de meditar, mas gostam de correr. A corrida é uma meditação. Andar de bicicleta é uma meditação.

Se você está correndo sozinho, o que está fazendo? Você está respirando, os seus pensamentos vêm e você manda embora. Ou às vezes você deixa lá e curte aquele pensamento. Depois você muda de pensamento, é um tipo de meditação.

Mas se você pedala com alguém ou em um grupo não é meditação, está trocando ideias com alguém. Muitas pessoas meditam sem saber.

Há 30 anos, o desafio de Marcelo Apovian estava no mundo esportivo, enquanto competia com atletas de alto rendimento na modalidade de esqui alpino em jogos olímpicos. Da neve ao escritório, Apovian migrou para uma longeva carreira como headhunter, na qual entrevistou mais de 5 mil profissionais de média gerência e alto escalão para grandes empresas.

O resultado desse mapeamento é que hoje, aos 50 anos, o ex-atleta olímpico criou um método que promete melhorar desempenho de CEOs e outros executivos. É baseado numa mistura de meditação, sono, alimentação e convívio com a família. “As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração”, afirma.

Confira trechos da entrevista:

O que o esporte de esqui te ensinou sobre liderança e performance?

Comecei a competir aos 14 anos. Obviamente, não sabia nem o que era liderança. A minha preocupação era me tornar o melhor possível naquele esporte que era tão difícil porque não tinha neve no Brasil. Mas quando você vai para o mundo corporativo o quebra-cabeça é montado. O mundo esportivo e o mundo corporativo são muito parecidos. Você aprende a perder, aprende a ganhar, ter foco, ter resiliência e arriscar. Só vai bem quem arrisca.

Comecei com judô, depois esqui e, por último, o atletismo. No esporte individual, há uma estrutura por trás que te suporta. Então, as pessoas têm que acreditar em você. Independentemente de o sonho ser montar uma empresa de educação, ser presidente de uma empresa de bilhões, ou se é para descer uma montanha. O líder, o atleta e o empreendedor têm que ter essa liderança.

O bom líder te dá a gasolina que você precisa naquele momento, ele tira o combustível na hora em que você está muito enérgico, é quem tem a sensibilidade para fazer as coisas acontecerem. No esporte, se quiser se tornar um campeão, é exatamente isso: a equipe que está em volta precisa acreditar nos seus comandos, que vão te levar para ser o melhor do mundo.

Em que momento você percebeu que o esporte havia te preparado para o mundo corporativo?

Quando você é atleta, aprende muito com o treinador. É a pessoa que coloca ordem na casa. Eu via como ele me treinava. Quando ele tinha que apertar, apertava. Quando tinha que elogiar, elogiava. Descobri que as minhas habilidades no esporte serviam para o mundo corporativo quando tive um chefe ruim.

Pensava que os comandos que ele estava dando eram horríveis, eu não concordava e sabia que não ia funcionar. Lembro direitinho, ele falava: ‘ah, sexta-feira a gente sai meio-dia do escritório para melhorar a qualidade de vida’. Isso foi em 2006, não tinha esse negócio de sair cedo. Eu falava: vamos trabalhar, não quero ir para casa, a gente tem que entregar o número para o diretor. Ele era meu gerente [o chefe], eu era o consultor. Foi ali que descobri que eu poderia ser um bom líder.

Qual é, na sua perspectiva, a habilidade mais importante de uma liderança?

A humildade. O pé no chão para saber ouvir, saber escutar os outros. Quando você está lá em cima, seja político ou executivo, a tendência é se blindar de notícias ruins ao seu perfil. Então, as pessoas querem sempre bajular, querem sempre falar que você é bom.

A alta liderança nunca tem uma visão clara, de fato, de como está. Às vezes, o conselho está em cima falando, mas é difícil a [alta liderança] ter uma visão dela, mesmo. Tem muita informação imprecisa. E a humildade te faz saber escutar, aceitar um feedback de um subordinado, te faz andar pelos corredores da empresa, conversar com todos, da faxineira ao vice-presidente que reporta direto a você.

Por exemplo, o Paulo Kakinoff, ex-CEO da Gol, antes de assumir o cargo, ficava voando, conversando com os comissários e com os pilotos. E aí, em todo final de voo, se apresentava e dizia que ia estar no final da escada e gostaria de ouvir as pessoas.

Ele tinha um caderninho e ficava anotando os feedbacks dos comissários, dos comandantes e dos clientes. Quando ele foi para a cadeira de CEO já sabia o que precisava ser feito porque ouviu as pessoas. É um exemplo de liderança de altíssima performance. Pé no chão e humildade.

Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

Marcelo Apovian, ex-atleta olímpico, headhunter e estudioso em performance para lideranças

Qual é o perfil da liderança com alta performance?

Performance é fazer o seu melhor naquilo que você se propôs a fazer. Existem dois tipos de liderança: a momentânea e a perene. A liderança momentânea é aquele líder, aquele CEO que tem ego grande, que gosta de falar dele e que supervaloriza as conquistas que ele e a equipe tiveram. Temos mais líderes nesse estilo de liderança de egocentrismo do que com maior capacidade de visão.

Líderes perenes são pessoas que estão num patamar de performance muito elevado. Por exemplo, um dos meus critérios para investir em uma ação na Bolsa é saber se o líder da empresa é egocêntrico. Com o egocêntrico, as ações em algum momento vão cair. O CEO perene pode ter uma baixa nas ações por uma questão de resultado, de inflação, ou alguma variável que ele não controla, mas tendo a acreditar que sobem mais pela gestão do líder perene.

De que forma a felicidade e a saúde mental entram como fator de engajamento das equipes?

Eu já vi muita liderança tóxica que destruiu a equipe. Assim como vi muito treinador tóxico que destruiu atletas. Uma liderança humilde, que mantém o foco, não se perde pelo glamour e por resultados, consegue manter um ambiente saudável mesmo quando tem pressão.

A vida do CEO é muito difícil, porque recebe pressão do conselho, do acionista e tem que saber filtrar essa pressão para não passar para o time de baixo. Mas também tem que ter produção do time de baixo para entregar resultado.

O CEO sempre tem o seguinte cenário: conversa com a turma de baixo e conversa com os reportados diretos e com os acionistas. Quando ele se tranca na sala, a decisão é dele. É uma decisão solitária.

Se der certo, recebe os parabéns. Se der errado, recebe a demissão ou as ações caindo. Não é fácil ser um líder, e quando você tem pressão para manter o ambiente saudável é muito mais difícil. Não podemos confundir foco no resultado com saúde mental. Podemos ter entrega e resultado com saúde mental.

A vida é muito mais de descidas do que subidas. Essas pessoas de altíssima performance se dão melhor porque elas conseguem na baixa ter a frieza e a criatividade de sair muito mais forte.

O ex-esquiador Marcelo Apovian usa aprendizados do esporte para orientar executivos a atingirem alta performance. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Como as lideranças podem alcançar essa alta performance?

É preciso estudar, ter humildade para ouvir e estar aberto a novos aprendizados. É sempre bom ter um mentor. Pai, mãe, algum amigo, chefe, ou alguém que possa ajudar nesse caminho de muita disciplina e foco.

As lideranças focadas e disciplinadas sabem cair e subir muito rápido. Outra coisa é saber se reinventar. O que está fazendo, o que deu certo até aqui não é necessariamente o que vai dar certo daqui para frente.

O medo é outro fator para a procrastinação. O medo te impede de dar o próximo passo e é um gatilho destruidor para sua carreira.

Como combater essa cultura do medo na vida profissional?

As lideranças com alta performance transformam medo em combustível. O que é diferente da fragilidade, que faz parte do jogo. Em algum momento, as pessoas ficam vulneráveis. O medo também faz parte do jogo, mas as pessoas precisam controlar porque pode ser muito tóxico.

O medo de o meu chefe não gostar de mim, o medo de não ser promovido, por exemplo. É saber filtrar o que escuta.

Por isso, acredito em lideranças humildes, pois estão dispostas a errar e a corrigir rápido a rota. A pessoa com ego grande nunca erra, ou demora para admitir o erro, ou imputa para alguém o erro, ou não toma o risco que precisa tomar porque não quer arriscar se expor.

No seu livro “Muito acima da média”, você defende a inteligência estrutural. O que significa e qual importância para atingir a alta performance?

É um patamar que precede a inteligência emocional. Se existir inteligência estrutural, vai passar bem pelo problema da inteligência emocional. Então, criei o método M.E.S.A + família: Mindfulness, Esporte, Sono e Alimentação. Se fizer esses cinco com frequência, tem muito mais chance de performar. As lideranças precisam ter um momento de calmaria, respiração.

Pode ser um jogo de xadrez, golfe, dominó, alguma coisa que tire da rotina dura. O esporte diminui ansiedade, o sono diminui ansiedade. É preciso comer bem e ter convívio social.

Porque você nunca vai ouvir um propósito de uma empresa que não envolva pessoas. Não fazemos nada se não tiver alguém envolvido na história. Então, a convivência familiar que eu chamo de família é a convivência social de modo geral.

Esses cinco elementos são fatores que trazem equilíbrio para ter inteligência emocional quando passar por um momento de baixa e ter mais condições de subir rápido de novo.

Como esses elementos funcionam na prática?

A meditação é tão poderosa que deveria ser obrigatória para qualquer CEO, qualquer presidente fazer porque essas pessoas vivem em momentos de tensões absurdas. A meditação oferece uma tranquilidade de pensamento para que a liderança raciocine de uma maneira mais clara.

Para quem precisa tomar decisão sobre um resultado que o conselho está cobrando com uma pressão violenta, por exemplo, ter meditado, ter um conhecimento sobre meditação, sobre como se conectar com você mesmo naquele momento é fundamental.

E para quem não gosta de meditar?

Algumas pessoas não gostam de meditar, mas gostam de correr. A corrida é uma meditação. Andar de bicicleta é uma meditação.

Se você está correndo sozinho, o que está fazendo? Você está respirando, os seus pensamentos vêm e você manda embora. Ou às vezes você deixa lá e curte aquele pensamento. Depois você muda de pensamento, é um tipo de meditação.

Mas se você pedala com alguém ou em um grupo não é meditação, está trocando ideias com alguém. Muitas pessoas meditam sem saber.

Entrevista por Jayanne Rodrigues

Formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia, é repórter de Carreiras. Cobre futuro do trabalho, tendências no mundo corporativo, lideranças e outros assuntos que impactam diretamente a cultura de trabalho no Brasil. No Estadão, também atuou como plantonista da madrugada, cobriu judiciário e tem passagem pela home page do jornal.

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