Os segredos do sucesso de executivos brasileiros na Coca-Cola, LinkedIn, JP Morgan e outras empresas


Profissionais que assumiram postos de liderança em outros países têm em comum o crescente desenvolvimento na carreira e disposição para aprender

Por Ludimila Honorato

A atuação de executivos brasileiros em empresas multinacionais pode ir além do território local. Seja de caso pensado ou pelas oportunidades inesperadas que surgem na carreira, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles buscaram manifestar o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos ao aprendizado.

Entenda o contexto da região em que irá trabalhar

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Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de desenvolvimento internacional. Na nova posição, ele agrega Japão, Coreia do Sul, Grande China, Mongólia, Índia, África e países da Eurásia, Oriente Médio, sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é estar constantemente com a lente de aprendizado. “É importante tentar entender o contexto daquela região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que nos permite entender o consumidor, o cliente e o contexto das comunidades.”

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Não espera a oportunidade bater à porta

Para Suelen Marcolino, o cargo de gerente de diversidade, inclusão e pertencimento no LinkedIn veio há cerca de sete meses, com a responsabilidade de cuidar de América Latina, Europa, Oriente Médio e África. O ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais.

Suelen Marcolino teve experiências diversas com outros países antes de assumir um cargo de liderança regional Foto: werther Santana/Estadão
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As experiências abriram as portas para o mundo, seja pelo trabalho em si ou por meio de bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam na porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições atuais.

Transforme as adversidades do cenário brasileiro em pontos a seu favor

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo para as multinacionais. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente, como demanda uma grande companhia.

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Além disso, o crescimento do mercado de inovação nacional, pouco visto em outras localidades, também é fator-chave. “Quando alia esses dois lados, de resiliência e experiência em cenários adversos com a inovação, traz nova proposta de valor e capacita o profissional”, diz o especialista.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, completa. Cunha também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal. São recursos que se destacam num trabalho global que precisa conectar diferentes culturas.

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Deixe claro para a empresa as suas pretensões globais

Para atuar fora do Brasil, é preciso ter uma base profissional sólida e uma grande dose de disposição para os desafios, como demonstram os executivos. “Eu sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de recursos humanos do J.P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, Aires sabia que teria oportunidades. Ele buscou entender as possibilidades de trabalho, quais países eram viáveis e falou abertamente sobre seu interesse. O começo foi num cargo generalista em recursos humanos, mas foi ganhando exposição conforme teve contato com os negócios internacionais.

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Gustavo Aires já tinha o objetivo da carreira internacional e manifestou o desejo no J.P. Morgan Foto: Claudio Belli

Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Eu já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, o diretor foi atuar em Nova York no segmento de private bank, com o qual já trabalhava no Brasil. Quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira no ramo de RH, ela atuou a maior parte desse tempo em multinacionais que incentivavam a trajetória internacional dos funcionários, o que alimentou o desejo.

Em janeiro de 2021, ela entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul e, depois de sete meses, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, a executiva foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

Esteja pronto para reaprender coisas básicas

Os executivos são unânimes em dizer que se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar muitas surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Além disso, se aprofundou nas leis trabalhistas locais e no novo negócio que abraçaria.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane. Além das questões de trabalho, ela terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero na nova cidade. Aires lembra que uma mudança tranquila de país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco. “São coisas necessárias que tomam tempo e adicionam uma carga de estresse que a gente não coloca em conta.”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH na Ingredion, assume as Américas do Sul e do Norte Foto: Mario Sérgio Esteves

Mas antes de entender a nova cultura, Suelen considera importante e desafiador compreender a si para lidar com pessoas de diferentes regiões. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma. Do contrário, a autossabotagem é quase certa.

O próximo passo, diz, é comunicar falhas ao outro. “Desenvolver essa comunicação assertiva, que não seja pessoal, é muito difícil. Leva tempo, tem que se expor e tentar, mas não é uma opção não desenvolvê-la.” Por lidar com diversidade e inclusão, a gerente conta que o desafio é o mesmo de toda companhia global: escalar políticas sem perder de vista o local.

O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH da Ingredion para América do Norte e América do Sul

“Embora haja pessoas negras no Brasil, nos EUA, afrodescendentes na Europa e saibamos o que é racismo, cada sociedade tem seu próprio histórico e isso pesa muito em como lidar com esses enfrentamentos no dia a dia”, comenta.

Para Braun, da Coca-Cola, o desafio de unificar a agenda de sustentabilidade em diferentes países é encarado com uma narrativa sólida. A empresa almeja destinar corretamente 100% das embalagens que vão ao mercado e reduzir o uso de plástico. “A unificação vem também de uma boa comunicação com todos os nossos stakeholders, como engarrafadores, clientes, catadores, associações, concorrentes e governos locais, para criar soluções.”

Use as experiências globais para adaptar e fortalecer sua liderança

Braun acredita que a facilidade de se adaptar a diferentes cenários e culturas contribuiu para galgar o posto atual, reportando-se diretamente ao presidente e CEO da companhia. “Quando fazemos essa transição de pensar global e local, o caminho fica mais fácil e este é um papel fundamental para os líderes regionais”, diz. “Sem dúvida, é uma habilidade aprendida ao longo da carreira.”

Ele avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois, diante de um cenário difícil, há um repertório de situações similares em outras localidades que pode acrescentar no presente. “É o olhar de otimismo, de co-criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Henrique Braun entrou na Coca-Cola como trainee nos EUA e hoje é presidente de desenvolvimento internacional Foto: Zô Guimarães

Viviane, da Ingredion, diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. “Eu não consigo implementar na velocidade que eu implementava no Brasil. É respeitar as ‘desvantagens’, o que não significa que a gente não vai entregar”, diz.

No caso de Suelen, do LinkedIn, aprender a ter paciência consigo para dar um passo atrás e refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para má interpretação.”

A atuação de executivos brasileiros em empresas multinacionais pode ir além do território local. Seja de caso pensado ou pelas oportunidades inesperadas que surgem na carreira, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles buscaram manifestar o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos ao aprendizado.

Entenda o contexto da região em que irá trabalhar

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de desenvolvimento internacional. Na nova posição, ele agrega Japão, Coreia do Sul, Grande China, Mongólia, Índia, África e países da Eurásia, Oriente Médio, sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é estar constantemente com a lente de aprendizado. “É importante tentar entender o contexto daquela região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que nos permite entender o consumidor, o cliente e o contexto das comunidades.”

Não espera a oportunidade bater à porta

Para Suelen Marcolino, o cargo de gerente de diversidade, inclusão e pertencimento no LinkedIn veio há cerca de sete meses, com a responsabilidade de cuidar de América Latina, Europa, Oriente Médio e África. O ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais.

Suelen Marcolino teve experiências diversas com outros países antes de assumir um cargo de liderança regional Foto: werther Santana/Estadão

As experiências abriram as portas para o mundo, seja pelo trabalho em si ou por meio de bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam na porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições atuais.

Transforme as adversidades do cenário brasileiro em pontos a seu favor

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo para as multinacionais. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente, como demanda uma grande companhia.

Além disso, o crescimento do mercado de inovação nacional, pouco visto em outras localidades, também é fator-chave. “Quando alia esses dois lados, de resiliência e experiência em cenários adversos com a inovação, traz nova proposta de valor e capacita o profissional”, diz o especialista.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, completa. Cunha também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal. São recursos que se destacam num trabalho global que precisa conectar diferentes culturas.

Deixe claro para a empresa as suas pretensões globais

Para atuar fora do Brasil, é preciso ter uma base profissional sólida e uma grande dose de disposição para os desafios, como demonstram os executivos. “Eu sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de recursos humanos do J.P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, Aires sabia que teria oportunidades. Ele buscou entender as possibilidades de trabalho, quais países eram viáveis e falou abertamente sobre seu interesse. O começo foi num cargo generalista em recursos humanos, mas foi ganhando exposição conforme teve contato com os negócios internacionais.

Gustavo Aires já tinha o objetivo da carreira internacional e manifestou o desejo no J.P. Morgan Foto: Claudio Belli

Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Eu já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, o diretor foi atuar em Nova York no segmento de private bank, com o qual já trabalhava no Brasil. Quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira no ramo de RH, ela atuou a maior parte desse tempo em multinacionais que incentivavam a trajetória internacional dos funcionários, o que alimentou o desejo.

Em janeiro de 2021, ela entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul e, depois de sete meses, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, a executiva foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

Esteja pronto para reaprender coisas básicas

Os executivos são unânimes em dizer que se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar muitas surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Além disso, se aprofundou nas leis trabalhistas locais e no novo negócio que abraçaria.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane. Além das questões de trabalho, ela terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero na nova cidade. Aires lembra que uma mudança tranquila de país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco. “São coisas necessárias que tomam tempo e adicionam uma carga de estresse que a gente não coloca em conta.”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH na Ingredion, assume as Américas do Sul e do Norte Foto: Mario Sérgio Esteves

Mas antes de entender a nova cultura, Suelen considera importante e desafiador compreender a si para lidar com pessoas de diferentes regiões. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma. Do contrário, a autossabotagem é quase certa.

O próximo passo, diz, é comunicar falhas ao outro. “Desenvolver essa comunicação assertiva, que não seja pessoal, é muito difícil. Leva tempo, tem que se expor e tentar, mas não é uma opção não desenvolvê-la.” Por lidar com diversidade e inclusão, a gerente conta que o desafio é o mesmo de toda companhia global: escalar políticas sem perder de vista o local.

O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH da Ingredion para América do Norte e América do Sul

“Embora haja pessoas negras no Brasil, nos EUA, afrodescendentes na Europa e saibamos o que é racismo, cada sociedade tem seu próprio histórico e isso pesa muito em como lidar com esses enfrentamentos no dia a dia”, comenta.

Para Braun, da Coca-Cola, o desafio de unificar a agenda de sustentabilidade em diferentes países é encarado com uma narrativa sólida. A empresa almeja destinar corretamente 100% das embalagens que vão ao mercado e reduzir o uso de plástico. “A unificação vem também de uma boa comunicação com todos os nossos stakeholders, como engarrafadores, clientes, catadores, associações, concorrentes e governos locais, para criar soluções.”

Use as experiências globais para adaptar e fortalecer sua liderança

Braun acredita que a facilidade de se adaptar a diferentes cenários e culturas contribuiu para galgar o posto atual, reportando-se diretamente ao presidente e CEO da companhia. “Quando fazemos essa transição de pensar global e local, o caminho fica mais fácil e este é um papel fundamental para os líderes regionais”, diz. “Sem dúvida, é uma habilidade aprendida ao longo da carreira.”

Ele avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois, diante de um cenário difícil, há um repertório de situações similares em outras localidades que pode acrescentar no presente. “É o olhar de otimismo, de co-criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Henrique Braun entrou na Coca-Cola como trainee nos EUA e hoje é presidente de desenvolvimento internacional Foto: Zô Guimarães

Viviane, da Ingredion, diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. “Eu não consigo implementar na velocidade que eu implementava no Brasil. É respeitar as ‘desvantagens’, o que não significa que a gente não vai entregar”, diz.

No caso de Suelen, do LinkedIn, aprender a ter paciência consigo para dar um passo atrás e refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para má interpretação.”

A atuação de executivos brasileiros em empresas multinacionais pode ir além do território local. Seja de caso pensado ou pelas oportunidades inesperadas que surgem na carreira, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles buscaram manifestar o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos ao aprendizado.

Entenda o contexto da região em que irá trabalhar

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de desenvolvimento internacional. Na nova posição, ele agrega Japão, Coreia do Sul, Grande China, Mongólia, Índia, África e países da Eurásia, Oriente Médio, sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é estar constantemente com a lente de aprendizado. “É importante tentar entender o contexto daquela região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que nos permite entender o consumidor, o cliente e o contexto das comunidades.”

Não espera a oportunidade bater à porta

Para Suelen Marcolino, o cargo de gerente de diversidade, inclusão e pertencimento no LinkedIn veio há cerca de sete meses, com a responsabilidade de cuidar de América Latina, Europa, Oriente Médio e África. O ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais.

Suelen Marcolino teve experiências diversas com outros países antes de assumir um cargo de liderança regional Foto: werther Santana/Estadão

As experiências abriram as portas para o mundo, seja pelo trabalho em si ou por meio de bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam na porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições atuais.

Transforme as adversidades do cenário brasileiro em pontos a seu favor

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo para as multinacionais. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente, como demanda uma grande companhia.

Além disso, o crescimento do mercado de inovação nacional, pouco visto em outras localidades, também é fator-chave. “Quando alia esses dois lados, de resiliência e experiência em cenários adversos com a inovação, traz nova proposta de valor e capacita o profissional”, diz o especialista.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, completa. Cunha também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal. São recursos que se destacam num trabalho global que precisa conectar diferentes culturas.

Deixe claro para a empresa as suas pretensões globais

Para atuar fora do Brasil, é preciso ter uma base profissional sólida e uma grande dose de disposição para os desafios, como demonstram os executivos. “Eu sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de recursos humanos do J.P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, Aires sabia que teria oportunidades. Ele buscou entender as possibilidades de trabalho, quais países eram viáveis e falou abertamente sobre seu interesse. O começo foi num cargo generalista em recursos humanos, mas foi ganhando exposição conforme teve contato com os negócios internacionais.

Gustavo Aires já tinha o objetivo da carreira internacional e manifestou o desejo no J.P. Morgan Foto: Claudio Belli

Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Eu já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, o diretor foi atuar em Nova York no segmento de private bank, com o qual já trabalhava no Brasil. Quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira no ramo de RH, ela atuou a maior parte desse tempo em multinacionais que incentivavam a trajetória internacional dos funcionários, o que alimentou o desejo.

Em janeiro de 2021, ela entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul e, depois de sete meses, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, a executiva foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

Esteja pronto para reaprender coisas básicas

Os executivos são unânimes em dizer que se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar muitas surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Além disso, se aprofundou nas leis trabalhistas locais e no novo negócio que abraçaria.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane. Além das questões de trabalho, ela terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero na nova cidade. Aires lembra que uma mudança tranquila de país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco. “São coisas necessárias que tomam tempo e adicionam uma carga de estresse que a gente não coloca em conta.”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH na Ingredion, assume as Américas do Sul e do Norte Foto: Mario Sérgio Esteves

Mas antes de entender a nova cultura, Suelen considera importante e desafiador compreender a si para lidar com pessoas de diferentes regiões. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma. Do contrário, a autossabotagem é quase certa.

O próximo passo, diz, é comunicar falhas ao outro. “Desenvolver essa comunicação assertiva, que não seja pessoal, é muito difícil. Leva tempo, tem que se expor e tentar, mas não é uma opção não desenvolvê-la.” Por lidar com diversidade e inclusão, a gerente conta que o desafio é o mesmo de toda companhia global: escalar políticas sem perder de vista o local.

O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH da Ingredion para América do Norte e América do Sul

“Embora haja pessoas negras no Brasil, nos EUA, afrodescendentes na Europa e saibamos o que é racismo, cada sociedade tem seu próprio histórico e isso pesa muito em como lidar com esses enfrentamentos no dia a dia”, comenta.

Para Braun, da Coca-Cola, o desafio de unificar a agenda de sustentabilidade em diferentes países é encarado com uma narrativa sólida. A empresa almeja destinar corretamente 100% das embalagens que vão ao mercado e reduzir o uso de plástico. “A unificação vem também de uma boa comunicação com todos os nossos stakeholders, como engarrafadores, clientes, catadores, associações, concorrentes e governos locais, para criar soluções.”

Use as experiências globais para adaptar e fortalecer sua liderança

Braun acredita que a facilidade de se adaptar a diferentes cenários e culturas contribuiu para galgar o posto atual, reportando-se diretamente ao presidente e CEO da companhia. “Quando fazemos essa transição de pensar global e local, o caminho fica mais fácil e este é um papel fundamental para os líderes regionais”, diz. “Sem dúvida, é uma habilidade aprendida ao longo da carreira.”

Ele avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois, diante de um cenário difícil, há um repertório de situações similares em outras localidades que pode acrescentar no presente. “É o olhar de otimismo, de co-criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Henrique Braun entrou na Coca-Cola como trainee nos EUA e hoje é presidente de desenvolvimento internacional Foto: Zô Guimarães

Viviane, da Ingredion, diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. “Eu não consigo implementar na velocidade que eu implementava no Brasil. É respeitar as ‘desvantagens’, o que não significa que a gente não vai entregar”, diz.

No caso de Suelen, do LinkedIn, aprender a ter paciência consigo para dar um passo atrás e refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para má interpretação.”

A atuação de executivos brasileiros em empresas multinacionais pode ir além do território local. Seja de caso pensado ou pelas oportunidades inesperadas que surgem na carreira, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles buscaram manifestar o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos ao aprendizado.

Entenda o contexto da região em que irá trabalhar

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de desenvolvimento internacional. Na nova posição, ele agrega Japão, Coreia do Sul, Grande China, Mongólia, Índia, África e países da Eurásia, Oriente Médio, sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é estar constantemente com a lente de aprendizado. “É importante tentar entender o contexto daquela região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que nos permite entender o consumidor, o cliente e o contexto das comunidades.”

Não espera a oportunidade bater à porta

Para Suelen Marcolino, o cargo de gerente de diversidade, inclusão e pertencimento no LinkedIn veio há cerca de sete meses, com a responsabilidade de cuidar de América Latina, Europa, Oriente Médio e África. O ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais.

Suelen Marcolino teve experiências diversas com outros países antes de assumir um cargo de liderança regional Foto: werther Santana/Estadão

As experiências abriram as portas para o mundo, seja pelo trabalho em si ou por meio de bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam na porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições atuais.

Transforme as adversidades do cenário brasileiro em pontos a seu favor

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo para as multinacionais. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente, como demanda uma grande companhia.

Além disso, o crescimento do mercado de inovação nacional, pouco visto em outras localidades, também é fator-chave. “Quando alia esses dois lados, de resiliência e experiência em cenários adversos com a inovação, traz nova proposta de valor e capacita o profissional”, diz o especialista.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, completa. Cunha também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal. São recursos que se destacam num trabalho global que precisa conectar diferentes culturas.

Deixe claro para a empresa as suas pretensões globais

Para atuar fora do Brasil, é preciso ter uma base profissional sólida e uma grande dose de disposição para os desafios, como demonstram os executivos. “Eu sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de recursos humanos do J.P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, Aires sabia que teria oportunidades. Ele buscou entender as possibilidades de trabalho, quais países eram viáveis e falou abertamente sobre seu interesse. O começo foi num cargo generalista em recursos humanos, mas foi ganhando exposição conforme teve contato com os negócios internacionais.

Gustavo Aires já tinha o objetivo da carreira internacional e manifestou o desejo no J.P. Morgan Foto: Claudio Belli

Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Eu já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, o diretor foi atuar em Nova York no segmento de private bank, com o qual já trabalhava no Brasil. Quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira no ramo de RH, ela atuou a maior parte desse tempo em multinacionais que incentivavam a trajetória internacional dos funcionários, o que alimentou o desejo.

Em janeiro de 2021, ela entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul e, depois de sete meses, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, a executiva foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

Esteja pronto para reaprender coisas básicas

Os executivos são unânimes em dizer que se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar muitas surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Além disso, se aprofundou nas leis trabalhistas locais e no novo negócio que abraçaria.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane. Além das questões de trabalho, ela terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero na nova cidade. Aires lembra que uma mudança tranquila de país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco. “São coisas necessárias que tomam tempo e adicionam uma carga de estresse que a gente não coloca em conta.”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH na Ingredion, assume as Américas do Sul e do Norte Foto: Mario Sérgio Esteves

Mas antes de entender a nova cultura, Suelen considera importante e desafiador compreender a si para lidar com pessoas de diferentes regiões. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma. Do contrário, a autossabotagem é quase certa.

O próximo passo, diz, é comunicar falhas ao outro. “Desenvolver essa comunicação assertiva, que não seja pessoal, é muito difícil. Leva tempo, tem que se expor e tentar, mas não é uma opção não desenvolvê-la.” Por lidar com diversidade e inclusão, a gerente conta que o desafio é o mesmo de toda companhia global: escalar políticas sem perder de vista o local.

O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH da Ingredion para América do Norte e América do Sul

“Embora haja pessoas negras no Brasil, nos EUA, afrodescendentes na Europa e saibamos o que é racismo, cada sociedade tem seu próprio histórico e isso pesa muito em como lidar com esses enfrentamentos no dia a dia”, comenta.

Para Braun, da Coca-Cola, o desafio de unificar a agenda de sustentabilidade em diferentes países é encarado com uma narrativa sólida. A empresa almeja destinar corretamente 100% das embalagens que vão ao mercado e reduzir o uso de plástico. “A unificação vem também de uma boa comunicação com todos os nossos stakeholders, como engarrafadores, clientes, catadores, associações, concorrentes e governos locais, para criar soluções.”

Use as experiências globais para adaptar e fortalecer sua liderança

Braun acredita que a facilidade de se adaptar a diferentes cenários e culturas contribuiu para galgar o posto atual, reportando-se diretamente ao presidente e CEO da companhia. “Quando fazemos essa transição de pensar global e local, o caminho fica mais fácil e este é um papel fundamental para os líderes regionais”, diz. “Sem dúvida, é uma habilidade aprendida ao longo da carreira.”

Ele avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois, diante de um cenário difícil, há um repertório de situações similares em outras localidades que pode acrescentar no presente. “É o olhar de otimismo, de co-criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Henrique Braun entrou na Coca-Cola como trainee nos EUA e hoje é presidente de desenvolvimento internacional Foto: Zô Guimarães

Viviane, da Ingredion, diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. “Eu não consigo implementar na velocidade que eu implementava no Brasil. É respeitar as ‘desvantagens’, o que não significa que a gente não vai entregar”, diz.

No caso de Suelen, do LinkedIn, aprender a ter paciência consigo para dar um passo atrás e refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para má interpretação.”

A atuação de executivos brasileiros em empresas multinacionais pode ir além do território local. Seja de caso pensado ou pelas oportunidades inesperadas que surgem na carreira, profissionais têm ganhado espaço para assumir posições globais. Em comum, eles buscaram manifestar o desejo da internacionalização, estavam previamente preparados e dispostos ao aprendizado.

Entenda o contexto da região em que irá trabalhar

Henrique Braun, por exemplo, entrou na Coca-Cola como trainee nos Estados Unidos há 26 anos. Em dezembro de 2022, passou de presidente da marca para a América Latina para presidente de desenvolvimento internacional. Na nova posição, ele agrega Japão, Coreia do Sul, Grande China, Mongólia, Índia, África e países da Eurásia, Oriente Médio, sudeste e sudoeste asiático.

O desafio, ele diz, é estar constantemente com a lente de aprendizado. “É importante tentar entender o contexto daquela região, estar interessado nas diferenças culturais, porque, no final das contas, é esse olhar que nos permite entender o consumidor, o cliente e o contexto das comunidades.”

Não espera a oportunidade bater à porta

Para Suelen Marcolino, o cargo de gerente de diversidade, inclusão e pertencimento no LinkedIn veio há cerca de sete meses, com a responsabilidade de cuidar de América Latina, Europa, Oriente Médio e África. O ímpeto de sempre estudar a levou a dominar três idiomas (inglês, espanhol e alemão), começar engenharia mecânica e depois transitar para relações internacionais.

Suelen Marcolino teve experiências diversas com outros países antes de assumir um cargo de liderança regional Foto: werther Santana/Estadão

As experiências abriram as portas para o mundo, seja pelo trabalho em si ou por meio de bolsas para estudar fora. “Quando as oportunidades surgiram, eu já estava preparada de certa forma. É não esperar que as oportunidades batam na porta, porque são muito escassas e a gente não tem o ‘quem indica’”, afirma, incentivando que principalmente mulheres e negros se qualifiquem ao máximo dentro das condições atuais.

Transforme as adversidades do cenário brasileiro em pontos a seu favor

Para Fábio Cunha, fundador e co-CEO da Woke, empresa focada em recrutamento de executivos, o cenário brasileiro molda um profissional atrativo para as multinacionais. As adversidades econômicas do País são um ambiente de teste para lidar com instabilidades em pouco tempo e de forma eficiente, como demanda uma grande companhia.

Além disso, o crescimento do mercado de inovação nacional, pouco visto em outras localidades, também é fator-chave. “Quando alia esses dois lados, de resiliência e experiência em cenários adversos com a inovação, traz nova proposta de valor e capacita o profissional”, diz o especialista.

“Quando analisa as competências da liderança, o brasileiro traz como diferencial o direcionamento de resultado e a qualidade na tomada de decisão”, completa. Cunha também destaca habilidades comportamentais, como carisma, criatividade, motivação de equipe e bom relacionamento pessoal. São recursos que se destacam num trabalho global que precisa conectar diferentes culturas.

Deixe claro para a empresa as suas pretensões globais

Para atuar fora do Brasil, é preciso ter uma base profissional sólida e uma grande dose de disposição para os desafios, como demonstram os executivos. “Eu sempre tive interesse em ter parte da minha carreira internacional”, diz Gustavo Aires, superintendente executivo e diretor de recursos humanos do J.P. Morgan no Brasil e para o segmento de banco de investimentos internacional.

A empresa tem um programa de mobilidade interna, então, quando chegou à companhia em 2014, Aires sabia que teria oportunidades. Ele buscou entender as possibilidades de trabalho, quais países eram viáveis e falou abertamente sobre seu interesse. O começo foi num cargo generalista em recursos humanos, mas foi ganhando exposição conforme teve contato com os negócios internacionais.

Gustavo Aires já tinha o objetivo da carreira internacional e manifestou o desejo no J.P. Morgan Foto: Claudio Belli

Como consequência, recebeu uma proposta para se candidatar a uma vaga nos EUA. “Eu já estava bem preparado quando chegou a oportunidade”, afirma, destacando o domínio do inglês. Em 2017, o diretor foi atuar em Nova York no segmento de private bank, com o qual já trabalhava no Brasil. Quatro anos depois, de volta ao País, passou a oferecer suporte regional para um grupo internacional.

Viviane Gaspari também sonhava em morar e trabalhar nos EUA. Com 26 anos de carreira no ramo de RH, ela atuou a maior parte desse tempo em multinacionais que incentivavam a trajetória internacional dos funcionários, o que alimentou o desejo.

Em janeiro de 2021, ela entrou na Ingredion com o desafio de comandar a América do Sul e, depois de sete meses, recebeu a oferta para liderar também a América do Norte. No final de março de 2022, a executiva foi transferida para Chicago e hoje é vice-presidente de RH para as regiões.

“O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”, ela comenta. “Tem o lado da abertura da empresa para não desmotivar o profissional, mas tem um pouco dessa coragem de ser vocal, se desafiar, pensar diferente.”

Esteja pronto para reaprender coisas básicas

Os executivos são unânimes em dizer que se adaptar à cultura do outro país é o desafio número um. Aires diz que antecipou estudos sobre os EUA para evitar muitas surpresas, o que o ajudou a entender a nova rotina e criar novas amizades. Além disso, se aprofundou nas leis trabalhistas locais e no novo negócio que abraçaria.

“Você dá 15 passos atrás e tem de entender coisas básicas para operar na estratégia”, resume Viviane. Além das questões de trabalho, ela terá de se acostumar também à temperatura abaixo de zero na nova cidade. Aires lembra que uma mudança tranquila de país demanda saber questões básicas como emitir novos documentos e abrir conta em banco. “São coisas necessárias que tomam tempo e adicionam uma carga de estresse que a gente não coloca em conta.”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH na Ingredion, assume as Américas do Sul e do Norte Foto: Mario Sérgio Esteves

Mas antes de entender a nova cultura, Suelen considera importante e desafiador compreender a si para lidar com pessoas de diferentes regiões. “Quando se trabalha com time global, com gestores que não estão presencialmente, você precisa estar consciente das suas capacidades e habilidades”, afirma. Do contrário, a autossabotagem é quase certa.

O próximo passo, diz, é comunicar falhas ao outro. “Desenvolver essa comunicação assertiva, que não seja pessoal, é muito difícil. Leva tempo, tem que se expor e tentar, mas não é uma opção não desenvolvê-la.” Por lidar com diversidade e inclusão, a gerente conta que o desafio é o mesmo de toda companhia global: escalar políticas sem perder de vista o local.

O que te faz receber um convite é o que você entrega hoje. A questão dos resultados é inquestionável”

Viviane Gaspari, vice-presidente de RH da Ingredion para América do Norte e América do Sul

“Embora haja pessoas negras no Brasil, nos EUA, afrodescendentes na Europa e saibamos o que é racismo, cada sociedade tem seu próprio histórico e isso pesa muito em como lidar com esses enfrentamentos no dia a dia”, comenta.

Para Braun, da Coca-Cola, o desafio de unificar a agenda de sustentabilidade em diferentes países é encarado com uma narrativa sólida. A empresa almeja destinar corretamente 100% das embalagens que vão ao mercado e reduzir o uso de plástico. “A unificação vem também de uma boa comunicação com todos os nossos stakeholders, como engarrafadores, clientes, catadores, associações, concorrentes e governos locais, para criar soluções.”

Use as experiências globais para adaptar e fortalecer sua liderança

Braun acredita que a facilidade de se adaptar a diferentes cenários e culturas contribuiu para galgar o posto atual, reportando-se diretamente ao presidente e CEO da companhia. “Quando fazemos essa transição de pensar global e local, o caminho fica mais fácil e este é um papel fundamental para os líderes regionais”, diz. “Sem dúvida, é uma habilidade aprendida ao longo da carreira.”

Ele avalia que viver experiências globais agregou para sua liderança, pois, diante de um cenário difícil, há um repertório de situações similares em outras localidades que pode acrescentar no presente. “É o olhar de otimismo, de co-criar uma solução e saber que algo já foi feito em outro lugar, que é possível escrever uma história de sucesso constantemente.”

Henrique Braun entrou na Coca-Cola como trainee nos EUA e hoje é presidente de desenvolvimento internacional Foto: Zô Guimarães

Viviane, da Ingredion, diz que algumas habilidades se intensificam com a atuação internacional, como escuta ativa e resiliência para tomar decisões que vão impactar mais pessoas. “Eu não consigo implementar na velocidade que eu implementava no Brasil. É respeitar as ‘desvantagens’, o que não significa que a gente não vai entregar”, diz.

No caso de Suelen, do LinkedIn, aprender a ter paciência consigo para dar um passo atrás e refletir antes de passar alguma mensagem foi essencial. “É questão de prudência para não dar margem para má interpretação.”

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