Se você lidera equipes com pessoas de diferentes gerações, provavelmente já enfrentou desafios para se comunicar com a geração Z ou construir um relacionamento sólido no longo prazo. Eles podem ser difíceis de aceitar feedbacks ou seguir regras corporativas, mas há maneiras mais adequadas e eficientes de engajar esses profissionais antes de condenar a relação profissional ou cogitar uma demissão. Talvez você ainda não saiba como fazer isso.
O Estadão conversou com os especialistas Igor Chohfi e Leticia Pavim, cofundadores da Rede Pavim, empresa especializada em recrutamento e seleção da geração Z, para identificar os primeiros passos que um líder pode dar para engajar melhor uma equipe formada por jovens talentos.
Confira as dicas:
1. Use o contexto a seu favor para motivar jovens profissionais
A fase inicial da carreira de muitos jovens vem acompanhada de uma grande carga operacional. Esse trabalho mais mecânico pode desmotivar alguns profissionais.
Um dos aspectos da geração Z é valorizar o propósito no trabalho. O jovem quer sentir que suas ações estão fazendo a diferença e que ele impacta positivamente de alguma forma.
- É importante explicar o porquê do seu escopo, mostre que o jovem é relevante para fazer o negócio girar e as metas serem alcançadas.
Exemplo: Se perceber que um jovem não está engajado, reserve cerca de 20 minutos para uma conversa com ele. Explique como as tarefas que ele realiza se encaixam no escopo geral do trabalho e qual é a finalidade de cada atividade.
Mostre que a planilha que ele organiza é usada para levantar dados estratégicos da área, que a apresentação que ele prepara é essencial nas reuniões com clientes ou que os relatórios que ele ajuda a produzir são fundamentais para a diretoria ou gestão.
Adaptar a explicação ao tipo de trabalho que ele executa ajuda a criar um maior senso de pertencimento e responsabilidade. Utilize o exemplo conforme a natureza do trabalho que executa.
2. Conte a sua trajetória profissional
Quando um jovem entra em uma empresa, ele geralmente desconhece a trajetória das pessoas e lideranças até alcançarem os cargos que ocupam. Somado a isso, o ritmo acelerado e instantâneo das redes sociais estimula os jovens a fazerem comparações e criarem expectativas irreais.
Esse contexto impacta diretamente o ambiente de trabalho e faz o jovem acreditar que sua carreira deve se desenvolver tão rápido quanto a que vê no mundo das redes sociais.
Por isso, é fundamental que o líder direto compartilhe sua própria jornada, mostre os passos e desafios enfrentados até alcançar o cargo atual. Esse diálogo oferece um direcionamento mais realista e ajuda o jovem a entender como o mundo corporativo realmente funciona.
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Exemplo: Um jovem, logo após iniciar um estágio, demonstrava ansiedade em saber sobre sua efetivação em poucos meses. O líder direto pode separar um momento rápido para conversar com ele e compartilhar sua própria trajetória e os passos que o levaram a ocupar o cargo de liderança.
Essa troca ajuda o jovem a entender que o desenvolvimento de uma carreira é um processo que leva tempo, com altos e baixos ao longo do caminho.
Depois dessa conversa, o jovem fica mais tranquilo e percebe que ainda tem muitas etapas. Esse tipo de alinhamento de expectativas tem sido eficaz para lidar com a ansiedade dos jovens em relação a efetivações ou promoções rápidas.
3. Faça acordos e seja transparente
Para que o líder construa uma relação de confiança com a geração Z, é fundamental ter, desde o início, uma conversa transparente. Nessa troca, o líder deve esclarecer o que espera dele, alinhar as expectativas sobre prazos, qualidade das entregas e outros aspectos importantes para o funcionamento da equipe.
Também é essencial entender as necessidades de flexibilidade que o jovem deseja, como horários, modelo de trabalho (remoto ou presencial) e outras preferências que, muitas vezes, não interferem nos resultados da empresa.
Esse alinhamento inicial é crucial para que o líder possa, posteriormente, fazer cobranças de forma justa e oferecer feedbacks construtivos para o desenvolvimento do profissional. Ao longo desse processo, é importante revisitar os combinados feitos na primeira conversa, reforçar o compromisso mútuo e ajustar as expectativas quando necessário.
Outra questão recorrente é o trabalho remoto em alguns dias da semana, que também se mostra extremamente benéfico. Muitos jovens, principalmente em funções operacionais, conseguem ser mais produtivos em casa, longe das interrupções do ambiente de escritório.
Exemplo: Alguns jovens de uma equipe pediram maior flexibilidade no horário de trabalho, propondo começar às 10h e terminar às 19h, mantendo o intervalo de almoço. Para a empresa, essa mudança não impactava nas entregas e ainda permitia que eles organizassem uma rotina mais equilibrada.
O importante é que tudo seja alinhado entre o jovem e o líder, sem anular a cultura e as regras da empresa. Dessa forma, é possível criar um ambiente de trabalho que favoreça o desenvolvimento individual e atenda às necessidades da organização.