Geração Z rompe hierarquia e evita horas extras, mas não é preguiçosa, diz jovem líder na L’Oréal


Aos 27 anos, Thainá Santos ocupa cargo de liderança na L’Oréal Brasil; a executiva diz que a geração Z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que os jovens têm preguiça de trabalhar

Por Jayanne Rodrigues
Foto: Pedro Kirilos; Artes/Estadão
Entrevista comThainá SantosCoordenadora de Pesquisa e Inovação na L'Oréal Brasil

Antes de ocupar um cargo de liderança, a engenheira de bioprocessos e biotecnologia Thainá Santos, 27, temia não acertar quando chegasse o momento de liderar. “É uma responsabilidade guiar a carreira das pessoas”, afirma. No entanto, ao assumir a posição de coordenadora de pesquisa e inovação na L’Oréal, ela não encontrou as dificuldades que imaginava. Como representante da geração Z, a jovem executiva concorda que a gen z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que eles têm preguiça de trabalhar.

“Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, vem rompendo modelos tradicionais”, respondeu Thainá Santos ao Estadão, quando questionada sobre as características atribuídas aos mais jovens.

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Para a série Lideranças da Geração Z, a executiva, que lidera uma equipe composta por pessoas de diferentes gerações, compartilha como o grupo influencia seu estilo de liderança e como mantém a sinergia no time.

Confira trechos da entrevista:

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Como o fato de ser uma pessoa da geração Z influencia o seu estilo de liderança?

Nós, da geração Z, somos movidos pelo propósito, pela identificação e pelo impacto. É impossível não trazer essas características para a minha forma de gestão e de liderança.

Sempre tento incorporar a escuta ativa, entender a particularidade, a diversidade e o individualismo de cada pessoa do meu time.

Thainá Santos, coordenadora de pesquisa e inovação da L'Oréal Brasil

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Busco entender como posso me adaptar melhor para que eles também se sintam confortáveis e vejam o sentido e o propósito não só na função do dia a dia, como também na nossa convivência como equipe.

Você sempre idealizou um cargo de liderança?

Não é como imaginava, mas fui positivamente surpreendida.

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Antes existia um certo frio na barriga em liderar porque você tem uma responsabilidade sobre a carreira das pessoas que está liderando. Tinha um medo envolvido, mas quando assumi a posição vi que era muito mais leve.

Hoje, liderar pessoas é o que mais gosto de fazer na minha rotina semanal. Posso conversar individualmente, seja a respeito de projeto, perspectiva de carreira ou planos de desenvolvimento.

Por que você tinha receio de assumir um cargo de liderança?

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Acredito que tinha mais receio em relação ao impacto que o líder tem na carreira dos seus liderados.

Enquanto líder, de alguma forma, você consegue moldar o local de trabalho. Qual é o diferencial da sua gestão?

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O diferencial vem muito com o peso da contribuição da geração Z. Somos movidos pelos impactos e pelos propósitos, não consigo deixar isso de fora no meu modelo de gestão.

Então, entender que temos as nossas diversidades entre nós, somos de diferentes gerações, gêneros e orientações sexuais, isso impacta nos projetos. Porque quando temos várias cabeças diferentes pensantes resulta positivamente na resolução dos nossos desafios e nas entregas.

Thainá Santos acredita que a geração Z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que os jovens têm preguiça de trabalhar.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Você mencionou que tem pessoas de diferentes gerações na equipe, o que faz para equilibrar essa diferença?

Todo mundo tem algo a agregar. Os millennials com as suas particularidades, a geração Z e as anteriores também. Cada um consegue trazer as suas perspectivas.

Confesso que a geração Z está mais aberta, anseia mais por mudanças e por remexer as estruturas. Isso traz um olhar muito novo e rico.

Thainá Santos

Claro, ao mesmo tempo, as gerações anteriores têm experiências do que não funcionou muito bem. Então, todas as gerações se casam nesse sentido de somar.

O Estadão pediu para Thainá Santos responder a algumas perguntas usando apenas emojis. Veja como ela reagiu a cada uma delas no quadro abaixo:

Existe uma percepção de que a geração Z tem preguiça de trabalhar, rompe hierarquias e tem dificuldade de se relacionar no trabalho. Você considera avaliações justas?

Não. Acredito que a geração Z é a primeira que está questionando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Pelo contrário, a nossa produtividade acaba sendo mais saudável e acaba refletindo nas entregas.

Thainá Santos

Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, é uma geração que vem rompendo modelos tradicionais, mas vejo esse movimento de forma positiva. Isso desmistifica e deixa o ambiente mais confortável. Conseguimos acessar líderes mais seniores de uma maneira mais tranquila, sem ter tanto receio. Aqui nunca foi um problema.

Esse mito de que trabalhamos menos ou somos mais preguiçosos não se encaixam. Na verdade, conseguimos estabelecer mais limites entre o profissional e o pessoal para não sermos prejudicados.

Thainá Santos

E você, como equilibra a sua vida pessoal e profissional?

De fato, estabeleço meus limites e os da equipe. Temos as nossas horas para trabalhar durante a semana e sempre faço o seguinte exercício com eles: “Deu algum problema, mas faltam cinco minutos para terminar o expediente. Qual o impacto que isso vai ter se nós deixarmos para resolver no dia seguinte às 8h da manhã quando a gente voltar?”

É entender o que realmente é urgente. Vamos todo mundo para casa descansar, no dia seguinte resolvemos. Isso dá uma boa equilibrada porque todo dia vai acontecer algum imprevisto. Se todo dia for preciso passar do horário e resolver tudo, não vai ser saudável.

Então, bati o ponto e agora só no dia seguinte. Às sextas, saímos às 15h. Nos meus dias livres, pratico ioga.

Thainá Santos, de 27 anos, é coordenadora de pesquisa e inovação na L'Oréal Brasil. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
O ioga traz a gente para o agora, me ajuda a colocar a minha intenção no presente. Então, consigo focar no que está acontecendo no momento, entendo o que está fora da nossa alçada e não me prendo muito no amanhã.

Thainá Santos

Ao longo desses três anos na L’oréal, houve algum erro na sua gestão que enxerga como aprendizado?

Assim que assumi o time filtrava algumas informações (situações mais desafiadoras) para não impactar diretamente o time. Mas depois entendi que é importante compartilhar como parte do desenvolvimento.

Em algum momento, alguém vai ter que entrar em uma discussão um pouco mais acirrada para definir alguns acordos e prazos. Às vezes, também vamos ter que lidar com algumas respostas negativas e frustrações, faz parte da rotina.

Então, essa visão de privá-los na intenção de cuidar, depois entendi que não os desenvolve para quando eles estiverem em uma posição de liderança. Claro, não é tudo que passo para a equipe, mas tem que puxar as pessoas para assuntos mais desafiadores quando há oportunidade.

Na sua perspectiva, qual é a qualidade primordial da liderança da geração Z?

O questionamento. Quando equilibrados, esses questionamentos se tornam muito benéficos. Isso define a geração Z no mundo corporativo, desde questões básicas até perguntas como: “Por que estou aqui?”, “Por que estou fazendo isso?” e “Qual o impacto do meu trabalho?”.

Sempre com muito equilíbrio e respeito, porque existem gerações que vieram antes da gente e que estão fazendo acontecer. Faz a diferença o quanto podemos aprender com eles e como nos preparamos para as gerações que estão chegando ao mercado.

Thainá Santos, 27, afirma que a geração Z é marcada pelo questionamento. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Quais são as referências das gerações anteriores que aplica no seu jeito de liderar?

Admiro a fidelidade das gerações anteriores. A forma como vestem a camisa das empresas em que trabalham é algo que também valorizo.

Um exemplo é a geração dos meus pais. Eles tinham a ambição de entrar em um emprego e construir toda a carreira lá, até se aposentarem. Isso demonstra muita resiliência. Lidar com diferentes ciclos de pessoas, projetos e fases da empresa ao longo de uma carreira é desafiador.

Então, você é uma líder que veste a camisa e incentiva os funcionários a fazerem o mesmo?

Sim, desde que a camiseta esteja confortável (risadas).

Vamos pensar em um processo seletivo hipotético. O que pode te levar a desistir de uma contratação?

Acredito que quando uma pessoa tem muita resistência em novos pontos de vista fica bem difícil. Não parto do ideal de que todo mundo precisa ter o mesmo pensamento e as mesmas opiniões. Mas se você tem uma resistência para enxergar o ponto de vista da outra pessoa dificulta a convivência como um todo.

As pessoas têm que saber se colocar e defender o seu ponto de vista e, ao mesmo tempo, respeitar o do outro, além de entender que, em algum momento, o ponto de vista do outro vai prevalecer em alguma decisão.

"A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo", aponta a líder.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Como você enxerga a liderança do futuro?

Vejo uma liderança cada vez mais diversa. Acho que estamos caminhando para um futuro onde a diversidade étnico-racial, de gênero, orientação sexual e geracional se tornará a norma. O mercado ainda está atrasado nesse aspecto, mas estamos avançando.

A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo. O movimento que vejo na L’Oréal está à frente do mercado de trabalho em termos de diversidade nas posições de liderança, independentemente dos níveis de senioridade.

Thainá Santos

Um exemplo disso é o programa ProLíder da Mover (associação sem fins lucrativos que fomenta o desenvolvimento de carreiras e negócios de pessoas negras). Foi um divisor de águas na minha carreira.

Como mulher negra, normalmente enfrentamos algumas dificuldades, como a síndrome da impostora e desigualdade salarial.

A experiência, junto com o apoio que recebo da L’Oréal, me deixa cada vez mais confiante e confortável de estar na minha posição. Isso me permite enxergar que posso alcançar ainda mais, mesmo em um sistema que muitas vezes não reconhece o potencial de mulheres negras.

Antes de ocupar um cargo de liderança, a engenheira de bioprocessos e biotecnologia Thainá Santos, 27, temia não acertar quando chegasse o momento de liderar. “É uma responsabilidade guiar a carreira das pessoas”, afirma. No entanto, ao assumir a posição de coordenadora de pesquisa e inovação na L’Oréal, ela não encontrou as dificuldades que imaginava. Como representante da geração Z, a jovem executiva concorda que a gen z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que eles têm preguiça de trabalhar.

“Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, vem rompendo modelos tradicionais”, respondeu Thainá Santos ao Estadão, quando questionada sobre as características atribuídas aos mais jovens.

Para a série Lideranças da Geração Z, a executiva, que lidera uma equipe composta por pessoas de diferentes gerações, compartilha como o grupo influencia seu estilo de liderança e como mantém a sinergia no time.

Confira trechos da entrevista:

Como o fato de ser uma pessoa da geração Z influencia o seu estilo de liderança?

Nós, da geração Z, somos movidos pelo propósito, pela identificação e pelo impacto. É impossível não trazer essas características para a minha forma de gestão e de liderança.

Sempre tento incorporar a escuta ativa, entender a particularidade, a diversidade e o individualismo de cada pessoa do meu time.

Thainá Santos, coordenadora de pesquisa e inovação da L'Oréal Brasil

Busco entender como posso me adaptar melhor para que eles também se sintam confortáveis e vejam o sentido e o propósito não só na função do dia a dia, como também na nossa convivência como equipe.

Você sempre idealizou um cargo de liderança?

Não é como imaginava, mas fui positivamente surpreendida.

Antes existia um certo frio na barriga em liderar porque você tem uma responsabilidade sobre a carreira das pessoas que está liderando. Tinha um medo envolvido, mas quando assumi a posição vi que era muito mais leve.

Hoje, liderar pessoas é o que mais gosto de fazer na minha rotina semanal. Posso conversar individualmente, seja a respeito de projeto, perspectiva de carreira ou planos de desenvolvimento.

Por que você tinha receio de assumir um cargo de liderança?

Acredito que tinha mais receio em relação ao impacto que o líder tem na carreira dos seus liderados.

Enquanto líder, de alguma forma, você consegue moldar o local de trabalho. Qual é o diferencial da sua gestão?

O diferencial vem muito com o peso da contribuição da geração Z. Somos movidos pelos impactos e pelos propósitos, não consigo deixar isso de fora no meu modelo de gestão.

Então, entender que temos as nossas diversidades entre nós, somos de diferentes gerações, gêneros e orientações sexuais, isso impacta nos projetos. Porque quando temos várias cabeças diferentes pensantes resulta positivamente na resolução dos nossos desafios e nas entregas.

Thainá Santos acredita que a geração Z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que os jovens têm preguiça de trabalhar.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Você mencionou que tem pessoas de diferentes gerações na equipe, o que faz para equilibrar essa diferença?

Todo mundo tem algo a agregar. Os millennials com as suas particularidades, a geração Z e as anteriores também. Cada um consegue trazer as suas perspectivas.

Confesso que a geração Z está mais aberta, anseia mais por mudanças e por remexer as estruturas. Isso traz um olhar muito novo e rico.

Thainá Santos

Claro, ao mesmo tempo, as gerações anteriores têm experiências do que não funcionou muito bem. Então, todas as gerações se casam nesse sentido de somar.

O Estadão pediu para Thainá Santos responder a algumas perguntas usando apenas emojis. Veja como ela reagiu a cada uma delas no quadro abaixo:

Existe uma percepção de que a geração Z tem preguiça de trabalhar, rompe hierarquias e tem dificuldade de se relacionar no trabalho. Você considera avaliações justas?

Não. Acredito que a geração Z é a primeira que está questionando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Pelo contrário, a nossa produtividade acaba sendo mais saudável e acaba refletindo nas entregas.

Thainá Santos

Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, é uma geração que vem rompendo modelos tradicionais, mas vejo esse movimento de forma positiva. Isso desmistifica e deixa o ambiente mais confortável. Conseguimos acessar líderes mais seniores de uma maneira mais tranquila, sem ter tanto receio. Aqui nunca foi um problema.

Esse mito de que trabalhamos menos ou somos mais preguiçosos não se encaixam. Na verdade, conseguimos estabelecer mais limites entre o profissional e o pessoal para não sermos prejudicados.

Thainá Santos

E você, como equilibra a sua vida pessoal e profissional?

De fato, estabeleço meus limites e os da equipe. Temos as nossas horas para trabalhar durante a semana e sempre faço o seguinte exercício com eles: “Deu algum problema, mas faltam cinco minutos para terminar o expediente. Qual o impacto que isso vai ter se nós deixarmos para resolver no dia seguinte às 8h da manhã quando a gente voltar?”

É entender o que realmente é urgente. Vamos todo mundo para casa descansar, no dia seguinte resolvemos. Isso dá uma boa equilibrada porque todo dia vai acontecer algum imprevisto. Se todo dia for preciso passar do horário e resolver tudo, não vai ser saudável.

Então, bati o ponto e agora só no dia seguinte. Às sextas, saímos às 15h. Nos meus dias livres, pratico ioga.

Thainá Santos, de 27 anos, é coordenadora de pesquisa e inovação na L'Oréal Brasil. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
O ioga traz a gente para o agora, me ajuda a colocar a minha intenção no presente. Então, consigo focar no que está acontecendo no momento, entendo o que está fora da nossa alçada e não me prendo muito no amanhã.

Thainá Santos

Ao longo desses três anos na L’oréal, houve algum erro na sua gestão que enxerga como aprendizado?

Assim que assumi o time filtrava algumas informações (situações mais desafiadoras) para não impactar diretamente o time. Mas depois entendi que é importante compartilhar como parte do desenvolvimento.

Em algum momento, alguém vai ter que entrar em uma discussão um pouco mais acirrada para definir alguns acordos e prazos. Às vezes, também vamos ter que lidar com algumas respostas negativas e frustrações, faz parte da rotina.

Então, essa visão de privá-los na intenção de cuidar, depois entendi que não os desenvolve para quando eles estiverem em uma posição de liderança. Claro, não é tudo que passo para a equipe, mas tem que puxar as pessoas para assuntos mais desafiadores quando há oportunidade.

Na sua perspectiva, qual é a qualidade primordial da liderança da geração Z?

O questionamento. Quando equilibrados, esses questionamentos se tornam muito benéficos. Isso define a geração Z no mundo corporativo, desde questões básicas até perguntas como: “Por que estou aqui?”, “Por que estou fazendo isso?” e “Qual o impacto do meu trabalho?”.

Sempre com muito equilíbrio e respeito, porque existem gerações que vieram antes da gente e que estão fazendo acontecer. Faz a diferença o quanto podemos aprender com eles e como nos preparamos para as gerações que estão chegando ao mercado.

Thainá Santos, 27, afirma que a geração Z é marcada pelo questionamento. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Quais são as referências das gerações anteriores que aplica no seu jeito de liderar?

Admiro a fidelidade das gerações anteriores. A forma como vestem a camisa das empresas em que trabalham é algo que também valorizo.

Um exemplo é a geração dos meus pais. Eles tinham a ambição de entrar em um emprego e construir toda a carreira lá, até se aposentarem. Isso demonstra muita resiliência. Lidar com diferentes ciclos de pessoas, projetos e fases da empresa ao longo de uma carreira é desafiador.

Então, você é uma líder que veste a camisa e incentiva os funcionários a fazerem o mesmo?

Sim, desde que a camiseta esteja confortável (risadas).

Vamos pensar em um processo seletivo hipotético. O que pode te levar a desistir de uma contratação?

Acredito que quando uma pessoa tem muita resistência em novos pontos de vista fica bem difícil. Não parto do ideal de que todo mundo precisa ter o mesmo pensamento e as mesmas opiniões. Mas se você tem uma resistência para enxergar o ponto de vista da outra pessoa dificulta a convivência como um todo.

As pessoas têm que saber se colocar e defender o seu ponto de vista e, ao mesmo tempo, respeitar o do outro, além de entender que, em algum momento, o ponto de vista do outro vai prevalecer em alguma decisão.

"A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo", aponta a líder.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Como você enxerga a liderança do futuro?

Vejo uma liderança cada vez mais diversa. Acho que estamos caminhando para um futuro onde a diversidade étnico-racial, de gênero, orientação sexual e geracional se tornará a norma. O mercado ainda está atrasado nesse aspecto, mas estamos avançando.

A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo. O movimento que vejo na L’Oréal está à frente do mercado de trabalho em termos de diversidade nas posições de liderança, independentemente dos níveis de senioridade.

Thainá Santos

Um exemplo disso é o programa ProLíder da Mover (associação sem fins lucrativos que fomenta o desenvolvimento de carreiras e negócios de pessoas negras). Foi um divisor de águas na minha carreira.

Como mulher negra, normalmente enfrentamos algumas dificuldades, como a síndrome da impostora e desigualdade salarial.

A experiência, junto com o apoio que recebo da L’Oréal, me deixa cada vez mais confiante e confortável de estar na minha posição. Isso me permite enxergar que posso alcançar ainda mais, mesmo em um sistema que muitas vezes não reconhece o potencial de mulheres negras.

Antes de ocupar um cargo de liderança, a engenheira de bioprocessos e biotecnologia Thainá Santos, 27, temia não acertar quando chegasse o momento de liderar. “É uma responsabilidade guiar a carreira das pessoas”, afirma. No entanto, ao assumir a posição de coordenadora de pesquisa e inovação na L’Oréal, ela não encontrou as dificuldades que imaginava. Como representante da geração Z, a jovem executiva concorda que a gen z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que eles têm preguiça de trabalhar.

“Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, vem rompendo modelos tradicionais”, respondeu Thainá Santos ao Estadão, quando questionada sobre as características atribuídas aos mais jovens.

Para a série Lideranças da Geração Z, a executiva, que lidera uma equipe composta por pessoas de diferentes gerações, compartilha como o grupo influencia seu estilo de liderança e como mantém a sinergia no time.

Confira trechos da entrevista:

Como o fato de ser uma pessoa da geração Z influencia o seu estilo de liderança?

Nós, da geração Z, somos movidos pelo propósito, pela identificação e pelo impacto. É impossível não trazer essas características para a minha forma de gestão e de liderança.

Sempre tento incorporar a escuta ativa, entender a particularidade, a diversidade e o individualismo de cada pessoa do meu time.

Thainá Santos, coordenadora de pesquisa e inovação da L'Oréal Brasil

Busco entender como posso me adaptar melhor para que eles também se sintam confortáveis e vejam o sentido e o propósito não só na função do dia a dia, como também na nossa convivência como equipe.

Você sempre idealizou um cargo de liderança?

Não é como imaginava, mas fui positivamente surpreendida.

Antes existia um certo frio na barriga em liderar porque você tem uma responsabilidade sobre a carreira das pessoas que está liderando. Tinha um medo envolvido, mas quando assumi a posição vi que era muito mais leve.

Hoje, liderar pessoas é o que mais gosto de fazer na minha rotina semanal. Posso conversar individualmente, seja a respeito de projeto, perspectiva de carreira ou planos de desenvolvimento.

Por que você tinha receio de assumir um cargo de liderança?

Acredito que tinha mais receio em relação ao impacto que o líder tem na carreira dos seus liderados.

Enquanto líder, de alguma forma, você consegue moldar o local de trabalho. Qual é o diferencial da sua gestão?

O diferencial vem muito com o peso da contribuição da geração Z. Somos movidos pelos impactos e pelos propósitos, não consigo deixar isso de fora no meu modelo de gestão.

Então, entender que temos as nossas diversidades entre nós, somos de diferentes gerações, gêneros e orientações sexuais, isso impacta nos projetos. Porque quando temos várias cabeças diferentes pensantes resulta positivamente na resolução dos nossos desafios e nas entregas.

Thainá Santos acredita que a geração Z rompe hierarquias, mas rebate a ideia de que os jovens têm preguiça de trabalhar.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Você mencionou que tem pessoas de diferentes gerações na equipe, o que faz para equilibrar essa diferença?

Todo mundo tem algo a agregar. Os millennials com as suas particularidades, a geração Z e as anteriores também. Cada um consegue trazer as suas perspectivas.

Confesso que a geração Z está mais aberta, anseia mais por mudanças e por remexer as estruturas. Isso traz um olhar muito novo e rico.

Thainá Santos

Claro, ao mesmo tempo, as gerações anteriores têm experiências do que não funcionou muito bem. Então, todas as gerações se casam nesse sentido de somar.

O Estadão pediu para Thainá Santos responder a algumas perguntas usando apenas emojis. Veja como ela reagiu a cada uma delas no quadro abaixo:

Existe uma percepção de que a geração Z tem preguiça de trabalhar, rompe hierarquias e tem dificuldade de se relacionar no trabalho. Você considera avaliações justas?

Não. Acredito que a geração Z é a primeira que está questionando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Talvez a geração Z não passe muitas horas além do necessário trabalhando, mas não vejo isso impactando o resultado dos projetos. Pelo contrário, a nossa produtividade acaba sendo mais saudável e acaba refletindo nas entregas.

Thainá Santos

Em relação a romper hierarquias, concordo. De fato, é uma geração que vem rompendo modelos tradicionais, mas vejo esse movimento de forma positiva. Isso desmistifica e deixa o ambiente mais confortável. Conseguimos acessar líderes mais seniores de uma maneira mais tranquila, sem ter tanto receio. Aqui nunca foi um problema.

Esse mito de que trabalhamos menos ou somos mais preguiçosos não se encaixam. Na verdade, conseguimos estabelecer mais limites entre o profissional e o pessoal para não sermos prejudicados.

Thainá Santos

E você, como equilibra a sua vida pessoal e profissional?

De fato, estabeleço meus limites e os da equipe. Temos as nossas horas para trabalhar durante a semana e sempre faço o seguinte exercício com eles: “Deu algum problema, mas faltam cinco minutos para terminar o expediente. Qual o impacto que isso vai ter se nós deixarmos para resolver no dia seguinte às 8h da manhã quando a gente voltar?”

É entender o que realmente é urgente. Vamos todo mundo para casa descansar, no dia seguinte resolvemos. Isso dá uma boa equilibrada porque todo dia vai acontecer algum imprevisto. Se todo dia for preciso passar do horário e resolver tudo, não vai ser saudável.

Então, bati o ponto e agora só no dia seguinte. Às sextas, saímos às 15h. Nos meus dias livres, pratico ioga.

Thainá Santos, de 27 anos, é coordenadora de pesquisa e inovação na L'Oréal Brasil. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
O ioga traz a gente para o agora, me ajuda a colocar a minha intenção no presente. Então, consigo focar no que está acontecendo no momento, entendo o que está fora da nossa alçada e não me prendo muito no amanhã.

Thainá Santos

Ao longo desses três anos na L’oréal, houve algum erro na sua gestão que enxerga como aprendizado?

Assim que assumi o time filtrava algumas informações (situações mais desafiadoras) para não impactar diretamente o time. Mas depois entendi que é importante compartilhar como parte do desenvolvimento.

Em algum momento, alguém vai ter que entrar em uma discussão um pouco mais acirrada para definir alguns acordos e prazos. Às vezes, também vamos ter que lidar com algumas respostas negativas e frustrações, faz parte da rotina.

Então, essa visão de privá-los na intenção de cuidar, depois entendi que não os desenvolve para quando eles estiverem em uma posição de liderança. Claro, não é tudo que passo para a equipe, mas tem que puxar as pessoas para assuntos mais desafiadores quando há oportunidade.

Na sua perspectiva, qual é a qualidade primordial da liderança da geração Z?

O questionamento. Quando equilibrados, esses questionamentos se tornam muito benéficos. Isso define a geração Z no mundo corporativo, desde questões básicas até perguntas como: “Por que estou aqui?”, “Por que estou fazendo isso?” e “Qual o impacto do meu trabalho?”.

Sempre com muito equilíbrio e respeito, porque existem gerações que vieram antes da gente e que estão fazendo acontecer. Faz a diferença o quanto podemos aprender com eles e como nos preparamos para as gerações que estão chegando ao mercado.

Thainá Santos, 27, afirma que a geração Z é marcada pelo questionamento. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Quais são as referências das gerações anteriores que aplica no seu jeito de liderar?

Admiro a fidelidade das gerações anteriores. A forma como vestem a camisa das empresas em que trabalham é algo que também valorizo.

Um exemplo é a geração dos meus pais. Eles tinham a ambição de entrar em um emprego e construir toda a carreira lá, até se aposentarem. Isso demonstra muita resiliência. Lidar com diferentes ciclos de pessoas, projetos e fases da empresa ao longo de uma carreira é desafiador.

Então, você é uma líder que veste a camisa e incentiva os funcionários a fazerem o mesmo?

Sim, desde que a camiseta esteja confortável (risadas).

Vamos pensar em um processo seletivo hipotético. O que pode te levar a desistir de uma contratação?

Acredito que quando uma pessoa tem muita resistência em novos pontos de vista fica bem difícil. Não parto do ideal de que todo mundo precisa ter o mesmo pensamento e as mesmas opiniões. Mas se você tem uma resistência para enxergar o ponto de vista da outra pessoa dificulta a convivência como um todo.

As pessoas têm que saber se colocar e defender o seu ponto de vista e, ao mesmo tempo, respeitar o do outro, além de entender que, em algum momento, o ponto de vista do outro vai prevalecer em alguma decisão.

"A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo", aponta a líder.  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Como você enxerga a liderança do futuro?

Vejo uma liderança cada vez mais diversa. Acho que estamos caminhando para um futuro onde a diversidade étnico-racial, de gênero, orientação sexual e geracional se tornará a norma. O mercado ainda está atrasado nesse aspecto, mas estamos avançando.

A liderança futura diversa e inclusiva trará impactos positivos para o mundo corporativo. O movimento que vejo na L’Oréal está à frente do mercado de trabalho em termos de diversidade nas posições de liderança, independentemente dos níveis de senioridade.

Thainá Santos

Um exemplo disso é o programa ProLíder da Mover (associação sem fins lucrativos que fomenta o desenvolvimento de carreiras e negócios de pessoas negras). Foi um divisor de águas na minha carreira.

Como mulher negra, normalmente enfrentamos algumas dificuldades, como a síndrome da impostora e desigualdade salarial.

A experiência, junto com o apoio que recebo da L’Oréal, me deixa cada vez mais confiante e confortável de estar na minha posição. Isso me permite enxergar que posso alcançar ainda mais, mesmo em um sistema que muitas vezes não reconhece o potencial de mulheres negras.

Entrevista por Jayanne Rodrigues

Formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia, é repórter de Carreiras. Cobre futuro do trabalho, tendências no mundo corporativo, lideranças e outros assuntos que impactam diretamente a cultura de trabalho no Brasil. No Estadão, também atuou como plantonista da madrugada, cobriu judiciário e tem passagem pela home page do jornal.

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