Vagas de emprego tentadoras, em grandes empresas, com salários altos e baixa carga horária. E tudo pode ser feito de casa. Esta descrição costuma ser bem atraente. E é feita para ser mesmo. Esses são alguns dos gatilhos que golpistas estão utilizando para ter acesso a dados pessoais e bancários de potenciais vítimas.
O chamado “golpe do home office” consiste em uma mensagem enviada por fraudadores, via SMS ou Whatsapp, em que eles se passam por recrutadores de companhias de grande porte, como varejistas, gigantes da tecnologia, entre muitos outros setores. A dinâmica é semelhante em vários aspectos: proposta chamativa; envio de número para contato; e uma necessidade - inicialmente não justificada - de que a potencial vítima, que é tratada como candidata nas mensagens, utilize Pix.
“Eles (golpistas) usam gatilhos mentais fortes. Até por isso não fazem abordagens via ligação, porque, a partir do momento que a pessoa desliga o telefone, pode perceber que se trata de um golpe”, explica o porta-voz da Nethone no Brasil, empresa especializada em segurança digital, Thiago Bertacchini. Segundo ele, para que a tentativa de golpe dê certo, tudo tem de acontecer muito rapidamente, para que a pessoa não tenha tempo para pensar. E, muitas vezes, os golpistas usam esses gatilhos emocionais para apelar à necessidade por dinheiro das pessoas.
E onde está o risco nesse tipo de situação? Bertacchini explica que, de início, o fraudador vai se apresentar como recrutador de uma empresa conhecida, para tentar passar credibilidade, oferecendo aquele combo atrativo: vaga boa, com salário alto e home office. Em seguida, haverá uma segunda mensagem para acessar um link - e é aqui que mora o grande perigo.
“Eles falam que é para fazer um cadastro. Mas, se a pessoa acessa, os golpistas já vão ter os seus dados pessoais. Ou seja, enquanto você acessa esse link, ele pode abrir uma ‘backdoor’ no seu celular e instalar um outro aplicativo que vai interferir no funcionamento de transferência bancária, por exemplo. Você acha que está fazendo uma transferência de R$ 10 para um familiar, mas, na verdade, estão limpando sua conta”, diz Bertacchini.
Ele também complementa que, caso a pessoa caia, não deve ter vergonha. É necessário que a vítima faça boletim de ocorrência, para ajudar a derrubar grupos de fraudadores. “A pessoa acha que só aconteceu com ela e não reporta para autoridades, o que acaba sendo um ‘incentivo’ para que os fraudadores continuem atuando.”
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Como ficar atento ao golpe do home office?
De acordo com o especialista da Nethone, há alguns pontos que podem ajudar a prevenir que a pessoa caia neste - em outros - tipo de golpe.
- Língua portuguesa - Se o texto estiver com problemas na escrita, com erros de ortografia ou concordância, já serve como ponto de alerta.
- Salário - Se é um retorno financeiro muito alto, principalmente se for em pouco tempo, suspeite. “Não existe dinheiro fácil assim. Você precisa desconfiar.”
- Contato - Fique atento à foto de perfil, às informações que o perfil tem no aplicativo de mensagens, veja se condiz com alguém real, se não é montagem, banco de imagens ou até mesmo alguma foto genérica.
- Recrutador - Pesquise o nome da pessoa. Veja se ela tem perfil no LinkedIn. Thiago explica que dificilmente uma empresa de RH vai ter recrutadores sem página na rede social corporativa.
- Desconfie - O resumo das dicas é desconfiar. Se você receber uma oferta de emprego em que você não sabe qual o cargo, o que é exatamente o trabalho e já te passam o salário, está muito suspeito.
- Faça perguntas - É bom fazer perguntas, sobre como é a vaga, como é o processo seletivo, quais são as etapas e como aquele contato chegou a você. Se for golpe, isso vai fazer com que eles possivelmente desistam, já que querem facilidades, não perder tempo.
O que as empresas fazem sobre o tema?
O Estadão procurou algumas das grandes empresas que já tiveram seus nomes usados neste tipo de golpe.
O Mercado Livre diz que não divulga oportunidades de trabalho via SMS, WhatsApp, Telegram “ou outros grupos e redes colaborativas”. Segundo eles, apenas os canais oficiais são utilizados, como LinkedIn e uma página de carreiras. Os contatos são feitos por telefone ou e-mail da companhia. “Temos alertado sobre eventuais golpes relacionados a vagas na empresa. Quando identificados, os números suspeitos são denunciados às operadoras telefônicas e às empresas que controlam grupos e redes colaborativas, pedindo ainda a instauração de inquérito policial para que as autoridades possam iniciar investigações”, explica a empresa, em nota.
O Magalu também esclareceu que não convoca candidatos para processos seletivos de emprego por mensagens. “São falsas as mensagens que algumas pessoas têm recebido. A companhia destaca que os interessados em fazer parte do quadro de colaboradores devem acessar o site e cadastrar currículo, de acordo com a vaga desejada.”
O Sebrae já produziu até um material (que pode ser acessado aqui) com dicas para que a pessoa não caia neste tipo de golpe. Isso porque o próprio Sebrae já teve o nome utilizado por fraudadores. “Muitas pessoas estão recebendo SMS com a falsa promessa de contratação de equipes para trabalhar para o Sebrae e com um link que redireciona para um número de WhatsApp. É tudo mentira”, diz a entidade.