Grande renúncia acabou? Movimento de desistência de emprego recua nos EUA, e trabalhador perde força


O ritmo frenético de troca de empregos nos últimos anos levou a grandes conquistas para os trabalhadores com menores salários. Mas o pêndulo pode estar voltando para o lado dos patrões

Por Ben Casselman
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Dezenas de milhões de americanos mudaram de emprego nos últimos dois anos, uma onda de pedidos de demissão que refletiu – e ajudou a criar – um raro momento de poder dos trabalhadores, à medida que eles exigiam salários mais altos e os empregadores, com poucos funcionários, muitas vezes atendiam os pedidos.

Mas a “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento, parece estar chegando ao fim. A taxa de pedidos voluntários de demissão caiu bastante nos últimos meses – embora tenha subido em maio – e está apenas ligeiramente acima daquela registrada antes de a pandemia afetar o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em alguns setores onde a rotatividade estava em seu maior nível, como hotelaria e varejo, os pedidos de demissão voltaram a atingir níveis anteriores à pandemia.

Agora, a questão é se as conquistas alcançadas pelos trabalhadores durante a grande renúncia vão sobreviver – ou se os patrões recuperarão a vantagem, principalmente se, como muitos analistas esperam, a economia entrar em recessão em algum momento do próximo ano.

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O pêndulo pode já estar voltando para o lado dos empregadores. O aumento dos salários desacelerou, sobretudo nos empregos com baixa remuneração, onde ele mais cresceu quando a rotatividade atingiu um pico no final de 2021 e início de 2022.

Os patrões, embora ainda se queixem da escassez de mão de obra, relatam que ficou mais fácil contratar e reter trabalhadores. E aqueles que mudam de emprego não estão mais recebendo aumentos gigantes que se tornaram regra nos últimos anos, de acordo com dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamento.

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“Você não vê mais anúncios com ofertas de bônus de US$ 1 mil pela contratação”, disse Nela Richardson, economista-chefe da ADP.

Ela comparou o mercado de trabalho a uma dança das cadeiras: quando a economia começou a se recuperar das paralisações provocadas pela pandemia, os trabalhadores conseguiam ir de um emprego para outro livremente. Mas, com os sinais de uma recessão no ar, eles estão se tornando apreensivos com a possibilidade de ficarem sem emprego quando menos vagas estiverem disponíveis.

“Todo mundo sabe que a música está prestes a parar”, disse Nela. “Isso vai levar as pessoas a ficarem um pouco mais onde estão.”

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A “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento de pedido de demissões nos EUA, parece estar chegando ao fim; os pedidos de desligamento voluntário caíram nos últimos meses 

Aubrey Moya fez parte da grande renúncia há cerca de um ano e meio, quando decidiu que não aguentava mais os salários baixos e o trabalho exaustivo de garçonete.

O marido dela, um soldador, estava ganhando muito bem – ele também tinha mudado de emprego em busca de melhores salários – e eles decidiram que era hora de ela começar a montar o negócio com o qual sonhava havia anos: um estúdio de fotografia.

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Aubrey, 38 anos, tornou-se um dos milhões de americanos que abriram uma pequena empresa durante a pandemia.

Hoje, no entanto, ela tem dúvidas se continuar com o sonho é viável. O marido está ganhando menos, e o custo de vida subiu. Os clientes dela, atormentados pela inflação, não estão esbanjando com os ensaios boudoir (fotografia feminina mais íntima), sua especialidade. Ela está preocupada com os pagamentos de seu estúdio em Fort Worth.

“Houve um momento de empoderamento”, disse ela. “Houve um momento de ‘não vamos voltar atrás e não vamos mais aceitar isso’. Entretanto, a verdade é que, sim, vamos, porque de que outra forma pagaremos as contas?”

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Mas Aubrey ainda não vai voltar a servir mesas por enquanto. E alguns economistas acreditam que os trabalhadores provavelmente irão manter algumas das conquistas alcançadas nos últimos anos.

“Há boas razões para pensar que pelo menos uma parte das mudanças vistas no mercado de trabalho para salários menores será duradoura”, disse Arindrajit Dube, professor da Universidade de Massachusetts que estudou a economia durante a pandemia.

A grande renúncia muitas vezes foi retratada como um fenômeno de abandono total do trabalho, mas os dados contam uma história diferente. A maioria das pessoas pediu demissão para trabalhar em outro lugar, normalmente com salários melhores – ou, como Aubrey, para abrir seu próprio negócio.

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E, embora a rotatividade tenha aumentado em praticamente todos os setores, ela se concentrou nos serviços com menor remuneração, onde os trabalhadores costumam ter pouco poder.

Para esses trabalhadores, a rápida reabertura da economia de modo presencial em 2021 proporcionou uma oportunidade rara: restaurantes, hotéis e lojas precisavam de dezenas de milhares de funcionários, quando muitas pessoas ainda evitavam empregos que exigiam interação com o público.

E mesmo enquanto as preocupações com o coronavírus desapareciam, a demanda por trabalhadores continuou a superar a oferta, em parte porque muitas pessoas que deixaram o setor de serviços não estavam interessadas em retornar para ele.

O resultado foi um aumento dos salários dos trabalhadores na base da pirâmide salarial. A média do valor pago por hora trabalhada para os funcionários de restaurantes e hotéis aumentou 28% entre o fim de 2020 e o final de 2022, superando em muito tanto a inflação como o crescimento dos salários no geral.

Em um artigo recente, Dube e dois coautores descobriram que a diferença de salários entre os trabalhadores no topo da pirâmide salarial e aquele na base, depois de aumentar durante quatro décadas, começou a diminuir: em apenas dois anos, a economia reverteu cerca de um quarto do aumento da desigualdade desde 1980.

Grande parte desse avanço, constataram, veio do aumento da possibilidade – e da vontade – dos trabalhadores de mudar de emprego.

Os salários já não estão aumentando mais depressa para os trabalhadores com salários menores do que para os outros grupos. Mas, na opinião de Dube, vale ressaltar que os trabalhadores com salários baixos não perderam terreno nos últimos dois anos, alcançando conquistas salariais ajustadas mais ou menos à inflação e aos rendimentos maiores.

Isso sugere que a rotatividade pode estar diminuindo não só porque os trabalhadores estão ficando mais cautelosos, mas também porque os empregadores precisaram aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho o suficiente para que seus funcionários não ficassem desesperados para deixar o emprego.

Danny Cron, garçom de um restaurante em Los Angeles, mudou de emprego duas vezes desde que voltou a trabalhar depois do fim das restrições da pandemia. Primeiro ele trabalhou em um bar pequeno, onde o valor pago por hora trabalhada era “terrível” e os turnos mais lucrativos eram reservados para os garçons que vendiam mais margaritas.

Ele pediu demissão para trabalhar em uma grande rede de restaurantes, que oferecia um salário melhor, mas pouca flexibilidade no horário de expediente – um problema para Cron, um aspirante a ator.

Então, no ano passado, Cron, 28 anos, pediu demissão mais uma vez e foi trabalhar no Blue Ribbon, um restaurante de sushi de luxo, onde ganha mais e os horários são mais conciliáveis com sua agenda de ator.

O mercado de trabalho aquecido depois da pandemia o deixou confiante para continuar mudando de emprego até encontrar um que se adequasse à sua realidade, afirmou.

“Eu sabia que havia uma infinidade de outras vagas disponíveis, por isso me sentia menos preso a qualquer emprego por necessidade”, escreveu Cron em um e-mail.

Mas agora que tem um emprego do qual gosta, disse ele, sente pouca vontade de continuar essa busca – em parte pela sensação de o mercado de trabalho ter esfriado, mas principalmente por estar feliz onde está.

“Procurar um novo emprego dá muito trabalho, e ser treinado para um novo emprego também”, disse. “Então, quando você encontra um bom emprego, não abre mão dele.”

O mercado de trabalho permanece aquecido, com o desemprego abaixo de 4%, e o número de empregos continua crescendo, embora mais lentamente do que em 2021 ou 2022.

Entretanto, mesmo otimistas como Dube admitem que trabalhadores como Cron podem perder vantagens se as empresas começarem a demitir em massa.

“É muito frágil”, disse Kathryn Anne Edwards, economista trabalhista e consultora de políticas que estudou o papel dos pedidos de demissão no crescimento salarial.

Segundo ela, uma recessão poderia fazer desaparecer as conquistas alcançadas pelos trabalhadores em relação ao valor pago por hora trabalhada nos últimos anos.

No entanto, alguns trabalhadores dizem que uma coisa mudou de uma forma mais duradoura: o comportamento deles. Depois de serem enaltecidos como “trabalhadores essenciais” no início da pandemia – e receberem bônus, licença médica remunerada e outros benefícios – muitas pessoas em setores como hotelaria, varejo e em empregos semelhantes dizem ter ficado decepcionadas ao ver as empresas reverterem as vantagens conforme a emergência diminuía.

A grande renúncia, dizem elas, foi, de certa forma, uma reação a essa experiência: os funcionários não estavam mais dispostos a trabalhar para empresas que não os valorizava.

Amanda Shealer, gerente de uma loja nas imediações de Hickory, na Carolina do Norte, disse que seu chefe havia dito recentemente que ela precisava encontrar novas maneiras de ajustar os expedientes dos trabalhadores pagos por hora, senão eles iriam pedir demissão para trabalhar em outros locais. A resposta dela: “Eu também”.

“Se não sentir que estou sendo apoiada, que você não está levando minhas preocupações a sério e continuar sendo sobrecarregada, posso fazer o mesmo”, disse Amanda, 40 anos. “Você não é mais leal a uma empresa, porque as empresas não são leais com você.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Dezenas de milhões de americanos mudaram de emprego nos últimos dois anos, uma onda de pedidos de demissão que refletiu – e ajudou a criar – um raro momento de poder dos trabalhadores, à medida que eles exigiam salários mais altos e os empregadores, com poucos funcionários, muitas vezes atendiam os pedidos.

Mas a “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento, parece estar chegando ao fim. A taxa de pedidos voluntários de demissão caiu bastante nos últimos meses – embora tenha subido em maio – e está apenas ligeiramente acima daquela registrada antes de a pandemia afetar o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em alguns setores onde a rotatividade estava em seu maior nível, como hotelaria e varejo, os pedidos de demissão voltaram a atingir níveis anteriores à pandemia.

Agora, a questão é se as conquistas alcançadas pelos trabalhadores durante a grande renúncia vão sobreviver – ou se os patrões recuperarão a vantagem, principalmente se, como muitos analistas esperam, a economia entrar em recessão em algum momento do próximo ano.

O pêndulo pode já estar voltando para o lado dos empregadores. O aumento dos salários desacelerou, sobretudo nos empregos com baixa remuneração, onde ele mais cresceu quando a rotatividade atingiu um pico no final de 2021 e início de 2022.

Os patrões, embora ainda se queixem da escassez de mão de obra, relatam que ficou mais fácil contratar e reter trabalhadores. E aqueles que mudam de emprego não estão mais recebendo aumentos gigantes que se tornaram regra nos últimos anos, de acordo com dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamento.

“Você não vê mais anúncios com ofertas de bônus de US$ 1 mil pela contratação”, disse Nela Richardson, economista-chefe da ADP.

Ela comparou o mercado de trabalho a uma dança das cadeiras: quando a economia começou a se recuperar das paralisações provocadas pela pandemia, os trabalhadores conseguiam ir de um emprego para outro livremente. Mas, com os sinais de uma recessão no ar, eles estão se tornando apreensivos com a possibilidade de ficarem sem emprego quando menos vagas estiverem disponíveis.

“Todo mundo sabe que a música está prestes a parar”, disse Nela. “Isso vai levar as pessoas a ficarem um pouco mais onde estão.”

A “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento de pedido de demissões nos EUA, parece estar chegando ao fim; os pedidos de desligamento voluntário caíram nos últimos meses 

Aubrey Moya fez parte da grande renúncia há cerca de um ano e meio, quando decidiu que não aguentava mais os salários baixos e o trabalho exaustivo de garçonete.

O marido dela, um soldador, estava ganhando muito bem – ele também tinha mudado de emprego em busca de melhores salários – e eles decidiram que era hora de ela começar a montar o negócio com o qual sonhava havia anos: um estúdio de fotografia.

Aubrey, 38 anos, tornou-se um dos milhões de americanos que abriram uma pequena empresa durante a pandemia.

Hoje, no entanto, ela tem dúvidas se continuar com o sonho é viável. O marido está ganhando menos, e o custo de vida subiu. Os clientes dela, atormentados pela inflação, não estão esbanjando com os ensaios boudoir (fotografia feminina mais íntima), sua especialidade. Ela está preocupada com os pagamentos de seu estúdio em Fort Worth.

“Houve um momento de empoderamento”, disse ela. “Houve um momento de ‘não vamos voltar atrás e não vamos mais aceitar isso’. Entretanto, a verdade é que, sim, vamos, porque de que outra forma pagaremos as contas?”

Mas Aubrey ainda não vai voltar a servir mesas por enquanto. E alguns economistas acreditam que os trabalhadores provavelmente irão manter algumas das conquistas alcançadas nos últimos anos.

“Há boas razões para pensar que pelo menos uma parte das mudanças vistas no mercado de trabalho para salários menores será duradoura”, disse Arindrajit Dube, professor da Universidade de Massachusetts que estudou a economia durante a pandemia.

A grande renúncia muitas vezes foi retratada como um fenômeno de abandono total do trabalho, mas os dados contam uma história diferente. A maioria das pessoas pediu demissão para trabalhar em outro lugar, normalmente com salários melhores – ou, como Aubrey, para abrir seu próprio negócio.

E, embora a rotatividade tenha aumentado em praticamente todos os setores, ela se concentrou nos serviços com menor remuneração, onde os trabalhadores costumam ter pouco poder.

Para esses trabalhadores, a rápida reabertura da economia de modo presencial em 2021 proporcionou uma oportunidade rara: restaurantes, hotéis e lojas precisavam de dezenas de milhares de funcionários, quando muitas pessoas ainda evitavam empregos que exigiam interação com o público.

E mesmo enquanto as preocupações com o coronavírus desapareciam, a demanda por trabalhadores continuou a superar a oferta, em parte porque muitas pessoas que deixaram o setor de serviços não estavam interessadas em retornar para ele.

O resultado foi um aumento dos salários dos trabalhadores na base da pirâmide salarial. A média do valor pago por hora trabalhada para os funcionários de restaurantes e hotéis aumentou 28% entre o fim de 2020 e o final de 2022, superando em muito tanto a inflação como o crescimento dos salários no geral.

Em um artigo recente, Dube e dois coautores descobriram que a diferença de salários entre os trabalhadores no topo da pirâmide salarial e aquele na base, depois de aumentar durante quatro décadas, começou a diminuir: em apenas dois anos, a economia reverteu cerca de um quarto do aumento da desigualdade desde 1980.

Grande parte desse avanço, constataram, veio do aumento da possibilidade – e da vontade – dos trabalhadores de mudar de emprego.

Os salários já não estão aumentando mais depressa para os trabalhadores com salários menores do que para os outros grupos. Mas, na opinião de Dube, vale ressaltar que os trabalhadores com salários baixos não perderam terreno nos últimos dois anos, alcançando conquistas salariais ajustadas mais ou menos à inflação e aos rendimentos maiores.

Isso sugere que a rotatividade pode estar diminuindo não só porque os trabalhadores estão ficando mais cautelosos, mas também porque os empregadores precisaram aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho o suficiente para que seus funcionários não ficassem desesperados para deixar o emprego.

Danny Cron, garçom de um restaurante em Los Angeles, mudou de emprego duas vezes desde que voltou a trabalhar depois do fim das restrições da pandemia. Primeiro ele trabalhou em um bar pequeno, onde o valor pago por hora trabalhada era “terrível” e os turnos mais lucrativos eram reservados para os garçons que vendiam mais margaritas.

Ele pediu demissão para trabalhar em uma grande rede de restaurantes, que oferecia um salário melhor, mas pouca flexibilidade no horário de expediente – um problema para Cron, um aspirante a ator.

Então, no ano passado, Cron, 28 anos, pediu demissão mais uma vez e foi trabalhar no Blue Ribbon, um restaurante de sushi de luxo, onde ganha mais e os horários são mais conciliáveis com sua agenda de ator.

O mercado de trabalho aquecido depois da pandemia o deixou confiante para continuar mudando de emprego até encontrar um que se adequasse à sua realidade, afirmou.

“Eu sabia que havia uma infinidade de outras vagas disponíveis, por isso me sentia menos preso a qualquer emprego por necessidade”, escreveu Cron em um e-mail.

Mas agora que tem um emprego do qual gosta, disse ele, sente pouca vontade de continuar essa busca – em parte pela sensação de o mercado de trabalho ter esfriado, mas principalmente por estar feliz onde está.

“Procurar um novo emprego dá muito trabalho, e ser treinado para um novo emprego também”, disse. “Então, quando você encontra um bom emprego, não abre mão dele.”

O mercado de trabalho permanece aquecido, com o desemprego abaixo de 4%, e o número de empregos continua crescendo, embora mais lentamente do que em 2021 ou 2022.

Entretanto, mesmo otimistas como Dube admitem que trabalhadores como Cron podem perder vantagens se as empresas começarem a demitir em massa.

“É muito frágil”, disse Kathryn Anne Edwards, economista trabalhista e consultora de políticas que estudou o papel dos pedidos de demissão no crescimento salarial.

Segundo ela, uma recessão poderia fazer desaparecer as conquistas alcançadas pelos trabalhadores em relação ao valor pago por hora trabalhada nos últimos anos.

No entanto, alguns trabalhadores dizem que uma coisa mudou de uma forma mais duradoura: o comportamento deles. Depois de serem enaltecidos como “trabalhadores essenciais” no início da pandemia – e receberem bônus, licença médica remunerada e outros benefícios – muitas pessoas em setores como hotelaria, varejo e em empregos semelhantes dizem ter ficado decepcionadas ao ver as empresas reverterem as vantagens conforme a emergência diminuía.

A grande renúncia, dizem elas, foi, de certa forma, uma reação a essa experiência: os funcionários não estavam mais dispostos a trabalhar para empresas que não os valorizava.

Amanda Shealer, gerente de uma loja nas imediações de Hickory, na Carolina do Norte, disse que seu chefe havia dito recentemente que ela precisava encontrar novas maneiras de ajustar os expedientes dos trabalhadores pagos por hora, senão eles iriam pedir demissão para trabalhar em outros locais. A resposta dela: “Eu também”.

“Se não sentir que estou sendo apoiada, que você não está levando minhas preocupações a sério e continuar sendo sobrecarregada, posso fazer o mesmo”, disse Amanda, 40 anos. “Você não é mais leal a uma empresa, porque as empresas não são leais com você.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Dezenas de milhões de americanos mudaram de emprego nos últimos dois anos, uma onda de pedidos de demissão que refletiu – e ajudou a criar – um raro momento de poder dos trabalhadores, à medida que eles exigiam salários mais altos e os empregadores, com poucos funcionários, muitas vezes atendiam os pedidos.

Mas a “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento, parece estar chegando ao fim. A taxa de pedidos voluntários de demissão caiu bastante nos últimos meses – embora tenha subido em maio – e está apenas ligeiramente acima daquela registrada antes de a pandemia afetar o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em alguns setores onde a rotatividade estava em seu maior nível, como hotelaria e varejo, os pedidos de demissão voltaram a atingir níveis anteriores à pandemia.

Agora, a questão é se as conquistas alcançadas pelos trabalhadores durante a grande renúncia vão sobreviver – ou se os patrões recuperarão a vantagem, principalmente se, como muitos analistas esperam, a economia entrar em recessão em algum momento do próximo ano.

O pêndulo pode já estar voltando para o lado dos empregadores. O aumento dos salários desacelerou, sobretudo nos empregos com baixa remuneração, onde ele mais cresceu quando a rotatividade atingiu um pico no final de 2021 e início de 2022.

Os patrões, embora ainda se queixem da escassez de mão de obra, relatam que ficou mais fácil contratar e reter trabalhadores. E aqueles que mudam de emprego não estão mais recebendo aumentos gigantes que se tornaram regra nos últimos anos, de acordo com dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamento.

“Você não vê mais anúncios com ofertas de bônus de US$ 1 mil pela contratação”, disse Nela Richardson, economista-chefe da ADP.

Ela comparou o mercado de trabalho a uma dança das cadeiras: quando a economia começou a se recuperar das paralisações provocadas pela pandemia, os trabalhadores conseguiam ir de um emprego para outro livremente. Mas, com os sinais de uma recessão no ar, eles estão se tornando apreensivos com a possibilidade de ficarem sem emprego quando menos vagas estiverem disponíveis.

“Todo mundo sabe que a música está prestes a parar”, disse Nela. “Isso vai levar as pessoas a ficarem um pouco mais onde estão.”

A “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento de pedido de demissões nos EUA, parece estar chegando ao fim; os pedidos de desligamento voluntário caíram nos últimos meses 

Aubrey Moya fez parte da grande renúncia há cerca de um ano e meio, quando decidiu que não aguentava mais os salários baixos e o trabalho exaustivo de garçonete.

O marido dela, um soldador, estava ganhando muito bem – ele também tinha mudado de emprego em busca de melhores salários – e eles decidiram que era hora de ela começar a montar o negócio com o qual sonhava havia anos: um estúdio de fotografia.

Aubrey, 38 anos, tornou-se um dos milhões de americanos que abriram uma pequena empresa durante a pandemia.

Hoje, no entanto, ela tem dúvidas se continuar com o sonho é viável. O marido está ganhando menos, e o custo de vida subiu. Os clientes dela, atormentados pela inflação, não estão esbanjando com os ensaios boudoir (fotografia feminina mais íntima), sua especialidade. Ela está preocupada com os pagamentos de seu estúdio em Fort Worth.

“Houve um momento de empoderamento”, disse ela. “Houve um momento de ‘não vamos voltar atrás e não vamos mais aceitar isso’. Entretanto, a verdade é que, sim, vamos, porque de que outra forma pagaremos as contas?”

Mas Aubrey ainda não vai voltar a servir mesas por enquanto. E alguns economistas acreditam que os trabalhadores provavelmente irão manter algumas das conquistas alcançadas nos últimos anos.

“Há boas razões para pensar que pelo menos uma parte das mudanças vistas no mercado de trabalho para salários menores será duradoura”, disse Arindrajit Dube, professor da Universidade de Massachusetts que estudou a economia durante a pandemia.

A grande renúncia muitas vezes foi retratada como um fenômeno de abandono total do trabalho, mas os dados contam uma história diferente. A maioria das pessoas pediu demissão para trabalhar em outro lugar, normalmente com salários melhores – ou, como Aubrey, para abrir seu próprio negócio.

E, embora a rotatividade tenha aumentado em praticamente todos os setores, ela se concentrou nos serviços com menor remuneração, onde os trabalhadores costumam ter pouco poder.

Para esses trabalhadores, a rápida reabertura da economia de modo presencial em 2021 proporcionou uma oportunidade rara: restaurantes, hotéis e lojas precisavam de dezenas de milhares de funcionários, quando muitas pessoas ainda evitavam empregos que exigiam interação com o público.

E mesmo enquanto as preocupações com o coronavírus desapareciam, a demanda por trabalhadores continuou a superar a oferta, em parte porque muitas pessoas que deixaram o setor de serviços não estavam interessadas em retornar para ele.

O resultado foi um aumento dos salários dos trabalhadores na base da pirâmide salarial. A média do valor pago por hora trabalhada para os funcionários de restaurantes e hotéis aumentou 28% entre o fim de 2020 e o final de 2022, superando em muito tanto a inflação como o crescimento dos salários no geral.

Em um artigo recente, Dube e dois coautores descobriram que a diferença de salários entre os trabalhadores no topo da pirâmide salarial e aquele na base, depois de aumentar durante quatro décadas, começou a diminuir: em apenas dois anos, a economia reverteu cerca de um quarto do aumento da desigualdade desde 1980.

Grande parte desse avanço, constataram, veio do aumento da possibilidade – e da vontade – dos trabalhadores de mudar de emprego.

Os salários já não estão aumentando mais depressa para os trabalhadores com salários menores do que para os outros grupos. Mas, na opinião de Dube, vale ressaltar que os trabalhadores com salários baixos não perderam terreno nos últimos dois anos, alcançando conquistas salariais ajustadas mais ou menos à inflação e aos rendimentos maiores.

Isso sugere que a rotatividade pode estar diminuindo não só porque os trabalhadores estão ficando mais cautelosos, mas também porque os empregadores precisaram aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho o suficiente para que seus funcionários não ficassem desesperados para deixar o emprego.

Danny Cron, garçom de um restaurante em Los Angeles, mudou de emprego duas vezes desde que voltou a trabalhar depois do fim das restrições da pandemia. Primeiro ele trabalhou em um bar pequeno, onde o valor pago por hora trabalhada era “terrível” e os turnos mais lucrativos eram reservados para os garçons que vendiam mais margaritas.

Ele pediu demissão para trabalhar em uma grande rede de restaurantes, que oferecia um salário melhor, mas pouca flexibilidade no horário de expediente – um problema para Cron, um aspirante a ator.

Então, no ano passado, Cron, 28 anos, pediu demissão mais uma vez e foi trabalhar no Blue Ribbon, um restaurante de sushi de luxo, onde ganha mais e os horários são mais conciliáveis com sua agenda de ator.

O mercado de trabalho aquecido depois da pandemia o deixou confiante para continuar mudando de emprego até encontrar um que se adequasse à sua realidade, afirmou.

“Eu sabia que havia uma infinidade de outras vagas disponíveis, por isso me sentia menos preso a qualquer emprego por necessidade”, escreveu Cron em um e-mail.

Mas agora que tem um emprego do qual gosta, disse ele, sente pouca vontade de continuar essa busca – em parte pela sensação de o mercado de trabalho ter esfriado, mas principalmente por estar feliz onde está.

“Procurar um novo emprego dá muito trabalho, e ser treinado para um novo emprego também”, disse. “Então, quando você encontra um bom emprego, não abre mão dele.”

O mercado de trabalho permanece aquecido, com o desemprego abaixo de 4%, e o número de empregos continua crescendo, embora mais lentamente do que em 2021 ou 2022.

Entretanto, mesmo otimistas como Dube admitem que trabalhadores como Cron podem perder vantagens se as empresas começarem a demitir em massa.

“É muito frágil”, disse Kathryn Anne Edwards, economista trabalhista e consultora de políticas que estudou o papel dos pedidos de demissão no crescimento salarial.

Segundo ela, uma recessão poderia fazer desaparecer as conquistas alcançadas pelos trabalhadores em relação ao valor pago por hora trabalhada nos últimos anos.

No entanto, alguns trabalhadores dizem que uma coisa mudou de uma forma mais duradoura: o comportamento deles. Depois de serem enaltecidos como “trabalhadores essenciais” no início da pandemia – e receberem bônus, licença médica remunerada e outros benefícios – muitas pessoas em setores como hotelaria, varejo e em empregos semelhantes dizem ter ficado decepcionadas ao ver as empresas reverterem as vantagens conforme a emergência diminuía.

A grande renúncia, dizem elas, foi, de certa forma, uma reação a essa experiência: os funcionários não estavam mais dispostos a trabalhar para empresas que não os valorizava.

Amanda Shealer, gerente de uma loja nas imediações de Hickory, na Carolina do Norte, disse que seu chefe havia dito recentemente que ela precisava encontrar novas maneiras de ajustar os expedientes dos trabalhadores pagos por hora, senão eles iriam pedir demissão para trabalhar em outros locais. A resposta dela: “Eu também”.

“Se não sentir que estou sendo apoiada, que você não está levando minhas preocupações a sério e continuar sendo sobrecarregada, posso fazer o mesmo”, disse Amanda, 40 anos. “Você não é mais leal a uma empresa, porque as empresas não são leais com você.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Dezenas de milhões de americanos mudaram de emprego nos últimos dois anos, uma onda de pedidos de demissão que refletiu – e ajudou a criar – um raro momento de poder dos trabalhadores, à medida que eles exigiam salários mais altos e os empregadores, com poucos funcionários, muitas vezes atendiam os pedidos.

Mas a “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento, parece estar chegando ao fim. A taxa de pedidos voluntários de demissão caiu bastante nos últimos meses – embora tenha subido em maio – e está apenas ligeiramente acima daquela registrada antes de a pandemia afetar o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em alguns setores onde a rotatividade estava em seu maior nível, como hotelaria e varejo, os pedidos de demissão voltaram a atingir níveis anteriores à pandemia.

Agora, a questão é se as conquistas alcançadas pelos trabalhadores durante a grande renúncia vão sobreviver – ou se os patrões recuperarão a vantagem, principalmente se, como muitos analistas esperam, a economia entrar em recessão em algum momento do próximo ano.

O pêndulo pode já estar voltando para o lado dos empregadores. O aumento dos salários desacelerou, sobretudo nos empregos com baixa remuneração, onde ele mais cresceu quando a rotatividade atingiu um pico no final de 2021 e início de 2022.

Os patrões, embora ainda se queixem da escassez de mão de obra, relatam que ficou mais fácil contratar e reter trabalhadores. E aqueles que mudam de emprego não estão mais recebendo aumentos gigantes que se tornaram regra nos últimos anos, de acordo com dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamento.

“Você não vê mais anúncios com ofertas de bônus de US$ 1 mil pela contratação”, disse Nela Richardson, economista-chefe da ADP.

Ela comparou o mercado de trabalho a uma dança das cadeiras: quando a economia começou a se recuperar das paralisações provocadas pela pandemia, os trabalhadores conseguiam ir de um emprego para outro livremente. Mas, com os sinais de uma recessão no ar, eles estão se tornando apreensivos com a possibilidade de ficarem sem emprego quando menos vagas estiverem disponíveis.

“Todo mundo sabe que a música está prestes a parar”, disse Nela. “Isso vai levar as pessoas a ficarem um pouco mais onde estão.”

A “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento de pedido de demissões nos EUA, parece estar chegando ao fim; os pedidos de desligamento voluntário caíram nos últimos meses 

Aubrey Moya fez parte da grande renúncia há cerca de um ano e meio, quando decidiu que não aguentava mais os salários baixos e o trabalho exaustivo de garçonete.

O marido dela, um soldador, estava ganhando muito bem – ele também tinha mudado de emprego em busca de melhores salários – e eles decidiram que era hora de ela começar a montar o negócio com o qual sonhava havia anos: um estúdio de fotografia.

Aubrey, 38 anos, tornou-se um dos milhões de americanos que abriram uma pequena empresa durante a pandemia.

Hoje, no entanto, ela tem dúvidas se continuar com o sonho é viável. O marido está ganhando menos, e o custo de vida subiu. Os clientes dela, atormentados pela inflação, não estão esbanjando com os ensaios boudoir (fotografia feminina mais íntima), sua especialidade. Ela está preocupada com os pagamentos de seu estúdio em Fort Worth.

“Houve um momento de empoderamento”, disse ela. “Houve um momento de ‘não vamos voltar atrás e não vamos mais aceitar isso’. Entretanto, a verdade é que, sim, vamos, porque de que outra forma pagaremos as contas?”

Mas Aubrey ainda não vai voltar a servir mesas por enquanto. E alguns economistas acreditam que os trabalhadores provavelmente irão manter algumas das conquistas alcançadas nos últimos anos.

“Há boas razões para pensar que pelo menos uma parte das mudanças vistas no mercado de trabalho para salários menores será duradoura”, disse Arindrajit Dube, professor da Universidade de Massachusetts que estudou a economia durante a pandemia.

A grande renúncia muitas vezes foi retratada como um fenômeno de abandono total do trabalho, mas os dados contam uma história diferente. A maioria das pessoas pediu demissão para trabalhar em outro lugar, normalmente com salários melhores – ou, como Aubrey, para abrir seu próprio negócio.

E, embora a rotatividade tenha aumentado em praticamente todos os setores, ela se concentrou nos serviços com menor remuneração, onde os trabalhadores costumam ter pouco poder.

Para esses trabalhadores, a rápida reabertura da economia de modo presencial em 2021 proporcionou uma oportunidade rara: restaurantes, hotéis e lojas precisavam de dezenas de milhares de funcionários, quando muitas pessoas ainda evitavam empregos que exigiam interação com o público.

E mesmo enquanto as preocupações com o coronavírus desapareciam, a demanda por trabalhadores continuou a superar a oferta, em parte porque muitas pessoas que deixaram o setor de serviços não estavam interessadas em retornar para ele.

O resultado foi um aumento dos salários dos trabalhadores na base da pirâmide salarial. A média do valor pago por hora trabalhada para os funcionários de restaurantes e hotéis aumentou 28% entre o fim de 2020 e o final de 2022, superando em muito tanto a inflação como o crescimento dos salários no geral.

Em um artigo recente, Dube e dois coautores descobriram que a diferença de salários entre os trabalhadores no topo da pirâmide salarial e aquele na base, depois de aumentar durante quatro décadas, começou a diminuir: em apenas dois anos, a economia reverteu cerca de um quarto do aumento da desigualdade desde 1980.

Grande parte desse avanço, constataram, veio do aumento da possibilidade – e da vontade – dos trabalhadores de mudar de emprego.

Os salários já não estão aumentando mais depressa para os trabalhadores com salários menores do que para os outros grupos. Mas, na opinião de Dube, vale ressaltar que os trabalhadores com salários baixos não perderam terreno nos últimos dois anos, alcançando conquistas salariais ajustadas mais ou menos à inflação e aos rendimentos maiores.

Isso sugere que a rotatividade pode estar diminuindo não só porque os trabalhadores estão ficando mais cautelosos, mas também porque os empregadores precisaram aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho o suficiente para que seus funcionários não ficassem desesperados para deixar o emprego.

Danny Cron, garçom de um restaurante em Los Angeles, mudou de emprego duas vezes desde que voltou a trabalhar depois do fim das restrições da pandemia. Primeiro ele trabalhou em um bar pequeno, onde o valor pago por hora trabalhada era “terrível” e os turnos mais lucrativos eram reservados para os garçons que vendiam mais margaritas.

Ele pediu demissão para trabalhar em uma grande rede de restaurantes, que oferecia um salário melhor, mas pouca flexibilidade no horário de expediente – um problema para Cron, um aspirante a ator.

Então, no ano passado, Cron, 28 anos, pediu demissão mais uma vez e foi trabalhar no Blue Ribbon, um restaurante de sushi de luxo, onde ganha mais e os horários são mais conciliáveis com sua agenda de ator.

O mercado de trabalho aquecido depois da pandemia o deixou confiante para continuar mudando de emprego até encontrar um que se adequasse à sua realidade, afirmou.

“Eu sabia que havia uma infinidade de outras vagas disponíveis, por isso me sentia menos preso a qualquer emprego por necessidade”, escreveu Cron em um e-mail.

Mas agora que tem um emprego do qual gosta, disse ele, sente pouca vontade de continuar essa busca – em parte pela sensação de o mercado de trabalho ter esfriado, mas principalmente por estar feliz onde está.

“Procurar um novo emprego dá muito trabalho, e ser treinado para um novo emprego também”, disse. “Então, quando você encontra um bom emprego, não abre mão dele.”

O mercado de trabalho permanece aquecido, com o desemprego abaixo de 4%, e o número de empregos continua crescendo, embora mais lentamente do que em 2021 ou 2022.

Entretanto, mesmo otimistas como Dube admitem que trabalhadores como Cron podem perder vantagens se as empresas começarem a demitir em massa.

“É muito frágil”, disse Kathryn Anne Edwards, economista trabalhista e consultora de políticas que estudou o papel dos pedidos de demissão no crescimento salarial.

Segundo ela, uma recessão poderia fazer desaparecer as conquistas alcançadas pelos trabalhadores em relação ao valor pago por hora trabalhada nos últimos anos.

No entanto, alguns trabalhadores dizem que uma coisa mudou de uma forma mais duradoura: o comportamento deles. Depois de serem enaltecidos como “trabalhadores essenciais” no início da pandemia – e receberem bônus, licença médica remunerada e outros benefícios – muitas pessoas em setores como hotelaria, varejo e em empregos semelhantes dizem ter ficado decepcionadas ao ver as empresas reverterem as vantagens conforme a emergência diminuía.

A grande renúncia, dizem elas, foi, de certa forma, uma reação a essa experiência: os funcionários não estavam mais dispostos a trabalhar para empresas que não os valorizava.

Amanda Shealer, gerente de uma loja nas imediações de Hickory, na Carolina do Norte, disse que seu chefe havia dito recentemente que ela precisava encontrar novas maneiras de ajustar os expedientes dos trabalhadores pagos por hora, senão eles iriam pedir demissão para trabalhar em outros locais. A resposta dela: “Eu também”.

“Se não sentir que estou sendo apoiada, que você não está levando minhas preocupações a sério e continuar sendo sobrecarregada, posso fazer o mesmo”, disse Amanda, 40 anos. “Você não é mais leal a uma empresa, porque as empresas não são leais com você.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Dezenas de milhões de americanos mudaram de emprego nos últimos dois anos, uma onda de pedidos de demissão que refletiu – e ajudou a criar – um raro momento de poder dos trabalhadores, à medida que eles exigiam salários mais altos e os empregadores, com poucos funcionários, muitas vezes atendiam os pedidos.

Mas a “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento, parece estar chegando ao fim. A taxa de pedidos voluntários de demissão caiu bastante nos últimos meses – embora tenha subido em maio – e está apenas ligeiramente acima daquela registrada antes de a pandemia afetar o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Em alguns setores onde a rotatividade estava em seu maior nível, como hotelaria e varejo, os pedidos de demissão voltaram a atingir níveis anteriores à pandemia.

Agora, a questão é se as conquistas alcançadas pelos trabalhadores durante a grande renúncia vão sobreviver – ou se os patrões recuperarão a vantagem, principalmente se, como muitos analistas esperam, a economia entrar em recessão em algum momento do próximo ano.

O pêndulo pode já estar voltando para o lado dos empregadores. O aumento dos salários desacelerou, sobretudo nos empregos com baixa remuneração, onde ele mais cresceu quando a rotatividade atingiu um pico no final de 2021 e início de 2022.

Os patrões, embora ainda se queixem da escassez de mão de obra, relatam que ficou mais fácil contratar e reter trabalhadores. E aqueles que mudam de emprego não estão mais recebendo aumentos gigantes que se tornaram regra nos últimos anos, de acordo com dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamento.

“Você não vê mais anúncios com ofertas de bônus de US$ 1 mil pela contratação”, disse Nela Richardson, economista-chefe da ADP.

Ela comparou o mercado de trabalho a uma dança das cadeiras: quando a economia começou a se recuperar das paralisações provocadas pela pandemia, os trabalhadores conseguiam ir de um emprego para outro livremente. Mas, com os sinais de uma recessão no ar, eles estão se tornando apreensivos com a possibilidade de ficarem sem emprego quando menos vagas estiverem disponíveis.

“Todo mundo sabe que a música está prestes a parar”, disse Nela. “Isso vai levar as pessoas a ficarem um pouco mais onde estão.”

A “grande renúncia”, como ficou conhecido o movimento de pedido de demissões nos EUA, parece estar chegando ao fim; os pedidos de desligamento voluntário caíram nos últimos meses 

Aubrey Moya fez parte da grande renúncia há cerca de um ano e meio, quando decidiu que não aguentava mais os salários baixos e o trabalho exaustivo de garçonete.

O marido dela, um soldador, estava ganhando muito bem – ele também tinha mudado de emprego em busca de melhores salários – e eles decidiram que era hora de ela começar a montar o negócio com o qual sonhava havia anos: um estúdio de fotografia.

Aubrey, 38 anos, tornou-se um dos milhões de americanos que abriram uma pequena empresa durante a pandemia.

Hoje, no entanto, ela tem dúvidas se continuar com o sonho é viável. O marido está ganhando menos, e o custo de vida subiu. Os clientes dela, atormentados pela inflação, não estão esbanjando com os ensaios boudoir (fotografia feminina mais íntima), sua especialidade. Ela está preocupada com os pagamentos de seu estúdio em Fort Worth.

“Houve um momento de empoderamento”, disse ela. “Houve um momento de ‘não vamos voltar atrás e não vamos mais aceitar isso’. Entretanto, a verdade é que, sim, vamos, porque de que outra forma pagaremos as contas?”

Mas Aubrey ainda não vai voltar a servir mesas por enquanto. E alguns economistas acreditam que os trabalhadores provavelmente irão manter algumas das conquistas alcançadas nos últimos anos.

“Há boas razões para pensar que pelo menos uma parte das mudanças vistas no mercado de trabalho para salários menores será duradoura”, disse Arindrajit Dube, professor da Universidade de Massachusetts que estudou a economia durante a pandemia.

A grande renúncia muitas vezes foi retratada como um fenômeno de abandono total do trabalho, mas os dados contam uma história diferente. A maioria das pessoas pediu demissão para trabalhar em outro lugar, normalmente com salários melhores – ou, como Aubrey, para abrir seu próprio negócio.

E, embora a rotatividade tenha aumentado em praticamente todos os setores, ela se concentrou nos serviços com menor remuneração, onde os trabalhadores costumam ter pouco poder.

Para esses trabalhadores, a rápida reabertura da economia de modo presencial em 2021 proporcionou uma oportunidade rara: restaurantes, hotéis e lojas precisavam de dezenas de milhares de funcionários, quando muitas pessoas ainda evitavam empregos que exigiam interação com o público.

E mesmo enquanto as preocupações com o coronavírus desapareciam, a demanda por trabalhadores continuou a superar a oferta, em parte porque muitas pessoas que deixaram o setor de serviços não estavam interessadas em retornar para ele.

O resultado foi um aumento dos salários dos trabalhadores na base da pirâmide salarial. A média do valor pago por hora trabalhada para os funcionários de restaurantes e hotéis aumentou 28% entre o fim de 2020 e o final de 2022, superando em muito tanto a inflação como o crescimento dos salários no geral.

Em um artigo recente, Dube e dois coautores descobriram que a diferença de salários entre os trabalhadores no topo da pirâmide salarial e aquele na base, depois de aumentar durante quatro décadas, começou a diminuir: em apenas dois anos, a economia reverteu cerca de um quarto do aumento da desigualdade desde 1980.

Grande parte desse avanço, constataram, veio do aumento da possibilidade – e da vontade – dos trabalhadores de mudar de emprego.

Os salários já não estão aumentando mais depressa para os trabalhadores com salários menores do que para os outros grupos. Mas, na opinião de Dube, vale ressaltar que os trabalhadores com salários baixos não perderam terreno nos últimos dois anos, alcançando conquistas salariais ajustadas mais ou menos à inflação e aos rendimentos maiores.

Isso sugere que a rotatividade pode estar diminuindo não só porque os trabalhadores estão ficando mais cautelosos, mas também porque os empregadores precisaram aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho o suficiente para que seus funcionários não ficassem desesperados para deixar o emprego.

Danny Cron, garçom de um restaurante em Los Angeles, mudou de emprego duas vezes desde que voltou a trabalhar depois do fim das restrições da pandemia. Primeiro ele trabalhou em um bar pequeno, onde o valor pago por hora trabalhada era “terrível” e os turnos mais lucrativos eram reservados para os garçons que vendiam mais margaritas.

Ele pediu demissão para trabalhar em uma grande rede de restaurantes, que oferecia um salário melhor, mas pouca flexibilidade no horário de expediente – um problema para Cron, um aspirante a ator.

Então, no ano passado, Cron, 28 anos, pediu demissão mais uma vez e foi trabalhar no Blue Ribbon, um restaurante de sushi de luxo, onde ganha mais e os horários são mais conciliáveis com sua agenda de ator.

O mercado de trabalho aquecido depois da pandemia o deixou confiante para continuar mudando de emprego até encontrar um que se adequasse à sua realidade, afirmou.

“Eu sabia que havia uma infinidade de outras vagas disponíveis, por isso me sentia menos preso a qualquer emprego por necessidade”, escreveu Cron em um e-mail.

Mas agora que tem um emprego do qual gosta, disse ele, sente pouca vontade de continuar essa busca – em parte pela sensação de o mercado de trabalho ter esfriado, mas principalmente por estar feliz onde está.

“Procurar um novo emprego dá muito trabalho, e ser treinado para um novo emprego também”, disse. “Então, quando você encontra um bom emprego, não abre mão dele.”

O mercado de trabalho permanece aquecido, com o desemprego abaixo de 4%, e o número de empregos continua crescendo, embora mais lentamente do que em 2021 ou 2022.

Entretanto, mesmo otimistas como Dube admitem que trabalhadores como Cron podem perder vantagens se as empresas começarem a demitir em massa.

“É muito frágil”, disse Kathryn Anne Edwards, economista trabalhista e consultora de políticas que estudou o papel dos pedidos de demissão no crescimento salarial.

Segundo ela, uma recessão poderia fazer desaparecer as conquistas alcançadas pelos trabalhadores em relação ao valor pago por hora trabalhada nos últimos anos.

No entanto, alguns trabalhadores dizem que uma coisa mudou de uma forma mais duradoura: o comportamento deles. Depois de serem enaltecidos como “trabalhadores essenciais” no início da pandemia – e receberem bônus, licença médica remunerada e outros benefícios – muitas pessoas em setores como hotelaria, varejo e em empregos semelhantes dizem ter ficado decepcionadas ao ver as empresas reverterem as vantagens conforme a emergência diminuía.

A grande renúncia, dizem elas, foi, de certa forma, uma reação a essa experiência: os funcionários não estavam mais dispostos a trabalhar para empresas que não os valorizava.

Amanda Shealer, gerente de uma loja nas imediações de Hickory, na Carolina do Norte, disse que seu chefe havia dito recentemente que ela precisava encontrar novas maneiras de ajustar os expedientes dos trabalhadores pagos por hora, senão eles iriam pedir demissão para trabalhar em outros locais. A resposta dela: “Eu também”.

“Se não sentir que estou sendo apoiada, que você não está levando minhas preocupações a sério e continuar sendo sobrecarregada, posso fazer o mesmo”, disse Amanda, 40 anos. “Você não é mais leal a uma empresa, porque as empresas não são leais com você.”/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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