Home office e presencial: como se preparar para o trabalho híbrido


Redução de custos e retenção de talentos levam empregadores a apostar na flexibilidade de jornada; especialista aponta soft skills necessárias para todos os níveis hierárquicos

Por Letícia Ginak, Anna Barbosa e Marina Dayrell

Depois de um 2020 marcado pelo home office, empresas brasileiras começam a repensar seus modelos de trabalho para uma realidade pós-pandemia. Para os especialistas, ainda neste primeiro trimestre o trabalho 100% remoto deve permanecer, mas a flexibilidade da jornada e a entrega de escritórios feita pelas empresas apontam o modelo híbrido, que mescla o trabalho presencial com o remoto, como o futuro do trabalho. 

“100% em home office acredito que não é saudável, porque você precisa ter uma interação com os seus colegas, existe por trás uma questão de saúde mental que nós, como gestores, começamos a perceber”, explica Lucas Nogueira, diretor de recrutamento da Robert Half, companhia de recrutamento e seleção. “Por outro lado, 100% no escritório deixou de ser um modelo totalmente gerenciável, não só por uma questão de custo, mas também pelo lado da retenção dos profissionais. Caso a empresa não ofereça essa flexibilidade, pode perder bons talentos”, finaliza. 

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Com a nova realidade batendo à porta, como se preparar para o modelo híbrido de trabalho? Assim como no home office, trabalhar dias em casa e dias no escritório exige o aprimoramento de soft skills para funcionários de qualquer posição. Para Lucas Nogueira, autogerenciamento e empatia estão entre elas. O Sua Carreira selecionou as principais dicas do especialista de acordo com o nível hierárquico. 

Funcionário: pratique o autogerenciamento

O mercado de trabalho não funciona mais com a lógica “eu só faço o que me mandam”. Invista na capacidade de autogestão do seu trabalho e entenda a importância dele. Essa é uma habilidade que será extremamente exigida neste modelo.

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Rodrigo Alvarez, funcionário da Hewlett Packard Enterprise, foi designado para o trabalho remoto e espera que, ao fim da pandemia, possa adotar o modelo híbrido de trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Crie uma rotina. Entenda quais são os melhores dias para trabalhar em casa e para trabalhar no escritório. Pensando em cada dia, estabeleça clusters de atividades: pela manhã e pela tarde. Privilegie as atividades de acordo com o período do dia em que você tem mais foco. Rotinas mais definidas podem ajudar no modelo híbrido.

Gestores: foco na empatia

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Entenda um pouco mais sobre a realidade do seu funcionário. Ex.: ele/a tem filhos? Será que ligar às 18h30 é um bom horário? Eu não posso esperar para o próximo dia?

Estipule e deixe claro para todos qual é o seu horário de trabalho. E um alerta: se o gestor não der o exemplo de que o híbrido é bom e ir todos os dias para o escritório, todos os subordinados vão querer seguir a mesma lógica. 

Confie no time e tenha a cabeça voltada para a entrega e os indicadores de produtividade e não para o horário de trabalho do funcionário. Acredite na autogestão dos colaboradores. 

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Para os profissionais recém-contratados, os gestores têm papel fundamental para a experiência positiva no modelo híbrido. Separe os momentos que requerem com o novo funcionário mais interação para a ida ao escritório. 

Para todos: saiba se comunicar

Será que estou sendo claro? Isso passa pela redação de um e-mail bem redigido, em um momento em que não estamos mais ao lado da pessoa. Tenha certeza de que o receptor entendeu a sua mensagem. 

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Trabalho híbrido já é a realidade de multinacionais no Brasil

Uma pesquisa realizada pela multinacional Cisco com cerca de 25 mil profissionais em 27 países, inclusive o Brasil, mostrou que, embora apenas 4% dos entrevistados brasileiros trabalhassem em casa na maior parte do tempo antes da pandemia do novo coronavírus, 88% espera ter autonomia para decidir como e quando usar o escritório físico no futuro. 

Se por um lado o home office foi adotado às pressas, agora as empresas têm mais tempo para planejar o trabalho no modelo híbrido. A multinacional brasileira de tecnologia Tivit se prepara para a futura jornada híbrida desde o início da pandemia. Mesmo com 90% dos 6.400 funcionários atuando em home office total desde março de 2020 - 10% trabalham presencialmente por conta de data centers -, a empresa nunca cogitou adotar o modelo remoto de forma definitiva, conta Tatiana Lorenzi, diretora de RH.

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“A gente não acredita no home office full time. Pela cultura da empresa, acreditamos que o modelo híbrido é o melhor, promove o equilíbrio e, emocionalmente, pode ajudar mais as pessoas do que ficar só em casa ou só no escritório”, diz 

A Tivit, no momento, estabeleceu três modelos de jornada: presencial, home office part time (jornada híbrida) e home office integral. A partir disso, um censo na empresa mapeou as necessidades de todos os colaboradores e chegou aos seguintes resultados: 27% dos funcionários conseguem fazer o trabalho totalmente remoto, 23% precisam trabalhar presencialmente (alocados nas empresas que são são seus clientes ou em data centers) e 50% se enquadram na jornada híbrida. 

Tatiana, no entanto, explica que esse mapeamento é dinâmico e que deve sofrer alterações assim que a empresa promover efetivamente o retorno aos escritórios. "Desenvolvedores, por exemplo, podem trabalhar de casa full time, de acordo com nossa pesquisa. Mas se um desenvolvedor específico não quiser permanecer em home office por ‘n’ motivos, vamos entender a situação e pensar no que pode ser melhor”, diz. 

Na prática, os funcionários que se enquadram na jornada híbrida terão de reservar mesa e computador por meio de um aplicativo interno. A ideia é que se trabalhe uma semana em casa e outra no escritório. 

Ainda como parte do plano de retorno, desde o início da pandemia, Tatiana monitora semanalmente o número de casos e mortes por covid-19 em todas as regiões em que a Tivit tem escritório (são 20 escritórios em 11 Estados). Até o momento, afirma, a jornada híbrida não será iniciada antes do dia 1° de abril.

Para pensar o futuro do trabalho, a Hewlett Packard Enterprise (HPE) criou em dezembro um programa de implementação do modelo híbrido, baseado em pesquisas internas com os funcionários. Entre os dados mais relevantes, eles descobriram que 72% dos respondentes estavam bem adaptados ao home office e poderiam continuar trabalhando dessa forma por bastante tempo. 

Unidade do coworking Eureka, na Av. Paulista, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão/05-19

Assim como a Tivit, a HPE também dividiu os colaboradores em três grupos, entre quem precisa estar fisicamente na empresa, os que trabalham externamente e aqueles que ficarão em trabalho remoto - a maior parte deles, que recebeu um valor de investimento para montar um escritório em casa.

Por enquanto, a empresa segue totalmente em home office, mas a divisão dos grupos já foi informada aos funcionários no fim do ano passado. O gerente do Programa para Serviços de Consumo, Rodrigo Alvarez, foi um dos designados para o trabalho remoto. 

“No começo da pandemia foi um desafio trabalhar de casa. Mas a partir do momento em que as escolas começaram a definir um plano de trabalho com as crianças, a minha dinâmica se encaixou melhor. Quando tivermos a oportunidade de fazer essa mescla, entre trabalhar de casa e no escritório, vai ser o ideal”, conta. 

Para ele, uma das principais vantagens do modelo híbrido é conseguir desempenhar cada atividade no melhor ambiente. “No escritório físico, é melhor para fazer brainstorming, discussões e treinamentos, porque eles costumam ter maior participação quando feitos presencialmente. Já para planejamento, tomada de decisão e análise de dados, estar isolado em casa permite que eu tenha uma concentração maior”.

Com modelo híbrido, o que acontece com os escritórios?

Ao substituir o trabalho presencial ou home office para um modelo híbrido, as empresas têm repensado os seus espaços físicos para além do distanciamento e da segurança. No caso da HPE, a solução não foi abrir mão dos escritórios, mas houve uma readequação para ambientes de convivência e colaboração.

“O que consideramos é o oposto do ‘one size fits all’ [um tamanho serve para todos, em português]. Vamos ter pessoas trabalhando no escritório e quem está remotamente tem o seu próprio escritório. Não vamos tirar os ambientes físicos, porque acreditamos no valor deles como convivência e colaboração. O trabalho isolado dá para ser feito no home office e o escritório vai ser cada vez mais voltado para a convivência”, conta o Diretor Geral da HPE Brasil, Ricardo Emmerich. 

A especialista em neurociência aplicada à arquitetura da qualidade corporativa Priscilla Bencke explica que é preciso que as organizações tenham uma visão estratégica de quais atividades os funcionários devem desempenhar em casa e quais devem ser feitas no escritório para, então, criarem um ambiente que os ajude a executá-las. 

“Já estamos criando escritórios mais dinâmicos, que possibilitem mais encontros. Quando estão trabalhando em casa, as pessoas fazem atividades com mais foco, ficam muito tempo sentadas e há pouca movimentação do corpo. Então, nos momentos no escritório dá para ser mais dinâmico”, destaca. “Reduzir espaços físicos é uma avaliação inteligente para optar pelo modelo híbrido, mas é preciso tomar cuidado com as decisões para, daqui a pouco, se enxergamos que esse modelo tem consequências negativas, conseguirmos voltar atrás”.

Outra opção feita pelas organizações desde o início da pandemia é a de trocar os escritórios próprios pelo coworking. Daniel Moral, fundador da rede de coworking Eureka, já sentiu a demanda pelo modelo híbrido. Após promover um hackathon em parceria com a SAP e a Intel para desenvolver soluções com foco no modelo, o empresário passou a divulgar a disponibilidade em oferecer o serviço para sua cartela de clientes. “Identificamos que o home office 100% home office funcionou para uma certa camada social e tipo de pessoa. Há pessoas que não têm um ambiente favorável em casa”, diz. 

Com uma plataforma digital interna em que é possível agendar posições, salas, cabines telefônicas, além de oferecer toda a gestão do espaço e promover higienização e cumprimento dos protocolos de segurança, o Eureka já fechou cinco contratos que contemplam o modelo híbrido. Há empresas que vão rotacionar 25 posições para 100 funcionários, por exemplo. “Vejo a demanda chegar direcionada para o modelo híbrido”, diz Daniel. Ele ainda afirma que muitas empresas estão buscando por ambientes ao ar livre.

Depois de um 2020 marcado pelo home office, empresas brasileiras começam a repensar seus modelos de trabalho para uma realidade pós-pandemia. Para os especialistas, ainda neste primeiro trimestre o trabalho 100% remoto deve permanecer, mas a flexibilidade da jornada e a entrega de escritórios feita pelas empresas apontam o modelo híbrido, que mescla o trabalho presencial com o remoto, como o futuro do trabalho. 

“100% em home office acredito que não é saudável, porque você precisa ter uma interação com os seus colegas, existe por trás uma questão de saúde mental que nós, como gestores, começamos a perceber”, explica Lucas Nogueira, diretor de recrutamento da Robert Half, companhia de recrutamento e seleção. “Por outro lado, 100% no escritório deixou de ser um modelo totalmente gerenciável, não só por uma questão de custo, mas também pelo lado da retenção dos profissionais. Caso a empresa não ofereça essa flexibilidade, pode perder bons talentos”, finaliza. 

Com a nova realidade batendo à porta, como se preparar para o modelo híbrido de trabalho? Assim como no home office, trabalhar dias em casa e dias no escritório exige o aprimoramento de soft skills para funcionários de qualquer posição. Para Lucas Nogueira, autogerenciamento e empatia estão entre elas. O Sua Carreira selecionou as principais dicas do especialista de acordo com o nível hierárquico. 

Funcionário: pratique o autogerenciamento

O mercado de trabalho não funciona mais com a lógica “eu só faço o que me mandam”. Invista na capacidade de autogestão do seu trabalho e entenda a importância dele. Essa é uma habilidade que será extremamente exigida neste modelo.

Rodrigo Alvarez, funcionário da Hewlett Packard Enterprise, foi designado para o trabalho remoto e espera que, ao fim da pandemia, possa adotar o modelo híbrido de trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Crie uma rotina. Entenda quais são os melhores dias para trabalhar em casa e para trabalhar no escritório. Pensando em cada dia, estabeleça clusters de atividades: pela manhã e pela tarde. Privilegie as atividades de acordo com o período do dia em que você tem mais foco. Rotinas mais definidas podem ajudar no modelo híbrido.

Gestores: foco na empatia

Entenda um pouco mais sobre a realidade do seu funcionário. Ex.: ele/a tem filhos? Será que ligar às 18h30 é um bom horário? Eu não posso esperar para o próximo dia?

Estipule e deixe claro para todos qual é o seu horário de trabalho. E um alerta: se o gestor não der o exemplo de que o híbrido é bom e ir todos os dias para o escritório, todos os subordinados vão querer seguir a mesma lógica. 

Confie no time e tenha a cabeça voltada para a entrega e os indicadores de produtividade e não para o horário de trabalho do funcionário. Acredite na autogestão dos colaboradores. 

Para os profissionais recém-contratados, os gestores têm papel fundamental para a experiência positiva no modelo híbrido. Separe os momentos que requerem com o novo funcionário mais interação para a ida ao escritório. 

Para todos: saiba se comunicar

Será que estou sendo claro? Isso passa pela redação de um e-mail bem redigido, em um momento em que não estamos mais ao lado da pessoa. Tenha certeza de que o receptor entendeu a sua mensagem. 

Trabalho híbrido já é a realidade de multinacionais no Brasil

Uma pesquisa realizada pela multinacional Cisco com cerca de 25 mil profissionais em 27 países, inclusive o Brasil, mostrou que, embora apenas 4% dos entrevistados brasileiros trabalhassem em casa na maior parte do tempo antes da pandemia do novo coronavírus, 88% espera ter autonomia para decidir como e quando usar o escritório físico no futuro. 

Se por um lado o home office foi adotado às pressas, agora as empresas têm mais tempo para planejar o trabalho no modelo híbrido. A multinacional brasileira de tecnologia Tivit se prepara para a futura jornada híbrida desde o início da pandemia. Mesmo com 90% dos 6.400 funcionários atuando em home office total desde março de 2020 - 10% trabalham presencialmente por conta de data centers -, a empresa nunca cogitou adotar o modelo remoto de forma definitiva, conta Tatiana Lorenzi, diretora de RH.

“A gente não acredita no home office full time. Pela cultura da empresa, acreditamos que o modelo híbrido é o melhor, promove o equilíbrio e, emocionalmente, pode ajudar mais as pessoas do que ficar só em casa ou só no escritório”, diz 

A Tivit, no momento, estabeleceu três modelos de jornada: presencial, home office part time (jornada híbrida) e home office integral. A partir disso, um censo na empresa mapeou as necessidades de todos os colaboradores e chegou aos seguintes resultados: 27% dos funcionários conseguem fazer o trabalho totalmente remoto, 23% precisam trabalhar presencialmente (alocados nas empresas que são são seus clientes ou em data centers) e 50% se enquadram na jornada híbrida. 

Tatiana, no entanto, explica que esse mapeamento é dinâmico e que deve sofrer alterações assim que a empresa promover efetivamente o retorno aos escritórios. "Desenvolvedores, por exemplo, podem trabalhar de casa full time, de acordo com nossa pesquisa. Mas se um desenvolvedor específico não quiser permanecer em home office por ‘n’ motivos, vamos entender a situação e pensar no que pode ser melhor”, diz. 

Na prática, os funcionários que se enquadram na jornada híbrida terão de reservar mesa e computador por meio de um aplicativo interno. A ideia é que se trabalhe uma semana em casa e outra no escritório. 

Ainda como parte do plano de retorno, desde o início da pandemia, Tatiana monitora semanalmente o número de casos e mortes por covid-19 em todas as regiões em que a Tivit tem escritório (são 20 escritórios em 11 Estados). Até o momento, afirma, a jornada híbrida não será iniciada antes do dia 1° de abril.

Para pensar o futuro do trabalho, a Hewlett Packard Enterprise (HPE) criou em dezembro um programa de implementação do modelo híbrido, baseado em pesquisas internas com os funcionários. Entre os dados mais relevantes, eles descobriram que 72% dos respondentes estavam bem adaptados ao home office e poderiam continuar trabalhando dessa forma por bastante tempo. 

Unidade do coworking Eureka, na Av. Paulista, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão/05-19

Assim como a Tivit, a HPE também dividiu os colaboradores em três grupos, entre quem precisa estar fisicamente na empresa, os que trabalham externamente e aqueles que ficarão em trabalho remoto - a maior parte deles, que recebeu um valor de investimento para montar um escritório em casa.

Por enquanto, a empresa segue totalmente em home office, mas a divisão dos grupos já foi informada aos funcionários no fim do ano passado. O gerente do Programa para Serviços de Consumo, Rodrigo Alvarez, foi um dos designados para o trabalho remoto. 

“No começo da pandemia foi um desafio trabalhar de casa. Mas a partir do momento em que as escolas começaram a definir um plano de trabalho com as crianças, a minha dinâmica se encaixou melhor. Quando tivermos a oportunidade de fazer essa mescla, entre trabalhar de casa e no escritório, vai ser o ideal”, conta. 

Para ele, uma das principais vantagens do modelo híbrido é conseguir desempenhar cada atividade no melhor ambiente. “No escritório físico, é melhor para fazer brainstorming, discussões e treinamentos, porque eles costumam ter maior participação quando feitos presencialmente. Já para planejamento, tomada de decisão e análise de dados, estar isolado em casa permite que eu tenha uma concentração maior”.

Com modelo híbrido, o que acontece com os escritórios?

Ao substituir o trabalho presencial ou home office para um modelo híbrido, as empresas têm repensado os seus espaços físicos para além do distanciamento e da segurança. No caso da HPE, a solução não foi abrir mão dos escritórios, mas houve uma readequação para ambientes de convivência e colaboração.

“O que consideramos é o oposto do ‘one size fits all’ [um tamanho serve para todos, em português]. Vamos ter pessoas trabalhando no escritório e quem está remotamente tem o seu próprio escritório. Não vamos tirar os ambientes físicos, porque acreditamos no valor deles como convivência e colaboração. O trabalho isolado dá para ser feito no home office e o escritório vai ser cada vez mais voltado para a convivência”, conta o Diretor Geral da HPE Brasil, Ricardo Emmerich. 

A especialista em neurociência aplicada à arquitetura da qualidade corporativa Priscilla Bencke explica que é preciso que as organizações tenham uma visão estratégica de quais atividades os funcionários devem desempenhar em casa e quais devem ser feitas no escritório para, então, criarem um ambiente que os ajude a executá-las. 

“Já estamos criando escritórios mais dinâmicos, que possibilitem mais encontros. Quando estão trabalhando em casa, as pessoas fazem atividades com mais foco, ficam muito tempo sentadas e há pouca movimentação do corpo. Então, nos momentos no escritório dá para ser mais dinâmico”, destaca. “Reduzir espaços físicos é uma avaliação inteligente para optar pelo modelo híbrido, mas é preciso tomar cuidado com as decisões para, daqui a pouco, se enxergamos que esse modelo tem consequências negativas, conseguirmos voltar atrás”.

Outra opção feita pelas organizações desde o início da pandemia é a de trocar os escritórios próprios pelo coworking. Daniel Moral, fundador da rede de coworking Eureka, já sentiu a demanda pelo modelo híbrido. Após promover um hackathon em parceria com a SAP e a Intel para desenvolver soluções com foco no modelo, o empresário passou a divulgar a disponibilidade em oferecer o serviço para sua cartela de clientes. “Identificamos que o home office 100% home office funcionou para uma certa camada social e tipo de pessoa. Há pessoas que não têm um ambiente favorável em casa”, diz. 

Com uma plataforma digital interna em que é possível agendar posições, salas, cabines telefônicas, além de oferecer toda a gestão do espaço e promover higienização e cumprimento dos protocolos de segurança, o Eureka já fechou cinco contratos que contemplam o modelo híbrido. Há empresas que vão rotacionar 25 posições para 100 funcionários, por exemplo. “Vejo a demanda chegar direcionada para o modelo híbrido”, diz Daniel. Ele ainda afirma que muitas empresas estão buscando por ambientes ao ar livre.

Depois de um 2020 marcado pelo home office, empresas brasileiras começam a repensar seus modelos de trabalho para uma realidade pós-pandemia. Para os especialistas, ainda neste primeiro trimestre o trabalho 100% remoto deve permanecer, mas a flexibilidade da jornada e a entrega de escritórios feita pelas empresas apontam o modelo híbrido, que mescla o trabalho presencial com o remoto, como o futuro do trabalho. 

“100% em home office acredito que não é saudável, porque você precisa ter uma interação com os seus colegas, existe por trás uma questão de saúde mental que nós, como gestores, começamos a perceber”, explica Lucas Nogueira, diretor de recrutamento da Robert Half, companhia de recrutamento e seleção. “Por outro lado, 100% no escritório deixou de ser um modelo totalmente gerenciável, não só por uma questão de custo, mas também pelo lado da retenção dos profissionais. Caso a empresa não ofereça essa flexibilidade, pode perder bons talentos”, finaliza. 

Com a nova realidade batendo à porta, como se preparar para o modelo híbrido de trabalho? Assim como no home office, trabalhar dias em casa e dias no escritório exige o aprimoramento de soft skills para funcionários de qualquer posição. Para Lucas Nogueira, autogerenciamento e empatia estão entre elas. O Sua Carreira selecionou as principais dicas do especialista de acordo com o nível hierárquico. 

Funcionário: pratique o autogerenciamento

O mercado de trabalho não funciona mais com a lógica “eu só faço o que me mandam”. Invista na capacidade de autogestão do seu trabalho e entenda a importância dele. Essa é uma habilidade que será extremamente exigida neste modelo.

Rodrigo Alvarez, funcionário da Hewlett Packard Enterprise, foi designado para o trabalho remoto e espera que, ao fim da pandemia, possa adotar o modelo híbrido de trabalho. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Crie uma rotina. Entenda quais são os melhores dias para trabalhar em casa e para trabalhar no escritório. Pensando em cada dia, estabeleça clusters de atividades: pela manhã e pela tarde. Privilegie as atividades de acordo com o período do dia em que você tem mais foco. Rotinas mais definidas podem ajudar no modelo híbrido.

Gestores: foco na empatia

Entenda um pouco mais sobre a realidade do seu funcionário. Ex.: ele/a tem filhos? Será que ligar às 18h30 é um bom horário? Eu não posso esperar para o próximo dia?

Estipule e deixe claro para todos qual é o seu horário de trabalho. E um alerta: se o gestor não der o exemplo de que o híbrido é bom e ir todos os dias para o escritório, todos os subordinados vão querer seguir a mesma lógica. 

Confie no time e tenha a cabeça voltada para a entrega e os indicadores de produtividade e não para o horário de trabalho do funcionário. Acredite na autogestão dos colaboradores. 

Para os profissionais recém-contratados, os gestores têm papel fundamental para a experiência positiva no modelo híbrido. Separe os momentos que requerem com o novo funcionário mais interação para a ida ao escritório. 

Para todos: saiba se comunicar

Será que estou sendo claro? Isso passa pela redação de um e-mail bem redigido, em um momento em que não estamos mais ao lado da pessoa. Tenha certeza de que o receptor entendeu a sua mensagem. 

Trabalho híbrido já é a realidade de multinacionais no Brasil

Uma pesquisa realizada pela multinacional Cisco com cerca de 25 mil profissionais em 27 países, inclusive o Brasil, mostrou que, embora apenas 4% dos entrevistados brasileiros trabalhassem em casa na maior parte do tempo antes da pandemia do novo coronavírus, 88% espera ter autonomia para decidir como e quando usar o escritório físico no futuro. 

Se por um lado o home office foi adotado às pressas, agora as empresas têm mais tempo para planejar o trabalho no modelo híbrido. A multinacional brasileira de tecnologia Tivit se prepara para a futura jornada híbrida desde o início da pandemia. Mesmo com 90% dos 6.400 funcionários atuando em home office total desde março de 2020 - 10% trabalham presencialmente por conta de data centers -, a empresa nunca cogitou adotar o modelo remoto de forma definitiva, conta Tatiana Lorenzi, diretora de RH.

“A gente não acredita no home office full time. Pela cultura da empresa, acreditamos que o modelo híbrido é o melhor, promove o equilíbrio e, emocionalmente, pode ajudar mais as pessoas do que ficar só em casa ou só no escritório”, diz 

A Tivit, no momento, estabeleceu três modelos de jornada: presencial, home office part time (jornada híbrida) e home office integral. A partir disso, um censo na empresa mapeou as necessidades de todos os colaboradores e chegou aos seguintes resultados: 27% dos funcionários conseguem fazer o trabalho totalmente remoto, 23% precisam trabalhar presencialmente (alocados nas empresas que são são seus clientes ou em data centers) e 50% se enquadram na jornada híbrida. 

Tatiana, no entanto, explica que esse mapeamento é dinâmico e que deve sofrer alterações assim que a empresa promover efetivamente o retorno aos escritórios. "Desenvolvedores, por exemplo, podem trabalhar de casa full time, de acordo com nossa pesquisa. Mas se um desenvolvedor específico não quiser permanecer em home office por ‘n’ motivos, vamos entender a situação e pensar no que pode ser melhor”, diz. 

Na prática, os funcionários que se enquadram na jornada híbrida terão de reservar mesa e computador por meio de um aplicativo interno. A ideia é que se trabalhe uma semana em casa e outra no escritório. 

Ainda como parte do plano de retorno, desde o início da pandemia, Tatiana monitora semanalmente o número de casos e mortes por covid-19 em todas as regiões em que a Tivit tem escritório (são 20 escritórios em 11 Estados). Até o momento, afirma, a jornada híbrida não será iniciada antes do dia 1° de abril.

Para pensar o futuro do trabalho, a Hewlett Packard Enterprise (HPE) criou em dezembro um programa de implementação do modelo híbrido, baseado em pesquisas internas com os funcionários. Entre os dados mais relevantes, eles descobriram que 72% dos respondentes estavam bem adaptados ao home office e poderiam continuar trabalhando dessa forma por bastante tempo. 

Unidade do coworking Eureka, na Av. Paulista, em São Paulo. Foto: Taba Benedicto/Estadão/05-19

Assim como a Tivit, a HPE também dividiu os colaboradores em três grupos, entre quem precisa estar fisicamente na empresa, os que trabalham externamente e aqueles que ficarão em trabalho remoto - a maior parte deles, que recebeu um valor de investimento para montar um escritório em casa.

Por enquanto, a empresa segue totalmente em home office, mas a divisão dos grupos já foi informada aos funcionários no fim do ano passado. O gerente do Programa para Serviços de Consumo, Rodrigo Alvarez, foi um dos designados para o trabalho remoto. 

“No começo da pandemia foi um desafio trabalhar de casa. Mas a partir do momento em que as escolas começaram a definir um plano de trabalho com as crianças, a minha dinâmica se encaixou melhor. Quando tivermos a oportunidade de fazer essa mescla, entre trabalhar de casa e no escritório, vai ser o ideal”, conta. 

Para ele, uma das principais vantagens do modelo híbrido é conseguir desempenhar cada atividade no melhor ambiente. “No escritório físico, é melhor para fazer brainstorming, discussões e treinamentos, porque eles costumam ter maior participação quando feitos presencialmente. Já para planejamento, tomada de decisão e análise de dados, estar isolado em casa permite que eu tenha uma concentração maior”.

Com modelo híbrido, o que acontece com os escritórios?

Ao substituir o trabalho presencial ou home office para um modelo híbrido, as empresas têm repensado os seus espaços físicos para além do distanciamento e da segurança. No caso da HPE, a solução não foi abrir mão dos escritórios, mas houve uma readequação para ambientes de convivência e colaboração.

“O que consideramos é o oposto do ‘one size fits all’ [um tamanho serve para todos, em português]. Vamos ter pessoas trabalhando no escritório e quem está remotamente tem o seu próprio escritório. Não vamos tirar os ambientes físicos, porque acreditamos no valor deles como convivência e colaboração. O trabalho isolado dá para ser feito no home office e o escritório vai ser cada vez mais voltado para a convivência”, conta o Diretor Geral da HPE Brasil, Ricardo Emmerich. 

A especialista em neurociência aplicada à arquitetura da qualidade corporativa Priscilla Bencke explica que é preciso que as organizações tenham uma visão estratégica de quais atividades os funcionários devem desempenhar em casa e quais devem ser feitas no escritório para, então, criarem um ambiente que os ajude a executá-las. 

“Já estamos criando escritórios mais dinâmicos, que possibilitem mais encontros. Quando estão trabalhando em casa, as pessoas fazem atividades com mais foco, ficam muito tempo sentadas e há pouca movimentação do corpo. Então, nos momentos no escritório dá para ser mais dinâmico”, destaca. “Reduzir espaços físicos é uma avaliação inteligente para optar pelo modelo híbrido, mas é preciso tomar cuidado com as decisões para, daqui a pouco, se enxergamos que esse modelo tem consequências negativas, conseguirmos voltar atrás”.

Outra opção feita pelas organizações desde o início da pandemia é a de trocar os escritórios próprios pelo coworking. Daniel Moral, fundador da rede de coworking Eureka, já sentiu a demanda pelo modelo híbrido. Após promover um hackathon em parceria com a SAP e a Intel para desenvolver soluções com foco no modelo, o empresário passou a divulgar a disponibilidade em oferecer o serviço para sua cartela de clientes. “Identificamos que o home office 100% home office funcionou para uma certa camada social e tipo de pessoa. Há pessoas que não têm um ambiente favorável em casa”, diz. 

Com uma plataforma digital interna em que é possível agendar posições, salas, cabines telefônicas, além de oferecer toda a gestão do espaço e promover higienização e cumprimento dos protocolos de segurança, o Eureka já fechou cinco contratos que contemplam o modelo híbrido. Há empresas que vão rotacionar 25 posições para 100 funcionários, por exemplo. “Vejo a demanda chegar direcionada para o modelo híbrido”, diz Daniel. Ele ainda afirma que muitas empresas estão buscando por ambientes ao ar livre.

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