Elas largaram a CLT e agora debocham do mundo corporativo nas redes sociais


Três profissionais fazem piadas em seus perfis com o dia a dia de grandes firmas, com funcionários viciados em trabalho, reuniões improdutivas e chefes mandões

Por Bruna Klingspiegel e Jayanne Rodrigues
Atualização:

Qual o trabalho dos seus sonhos? “Nunca sonhei que estava trabalhando”, responde categoricamente a atriz e humorista Jessica Diniz, 33, em um caixa de perguntas da sua conta no Instagram. O humor sarcástico não é por acaso. A inspiração surgiu das próprias experiências enquanto atuava como promoter de eventos e em trabalhos formais antes de decidir abandonar a CLT. Na internet, a atriz encontrou um nicho a ser explorado: o deboche com situações reais do mundo corporativo.

Não deu outra. As pessoas se identificaram e hoje Diniz acumula mais de 1,5 milhão de seguidores.

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“Não gosto de uma pessoa mandando em mim. Nos eventos em que trabalhava se o supervisor fosse chato ou ignorante comigo, ia embora e corria para arrumar outro trabalho. Precisava muito do dinheiro, mas não ouvia desaforo”, conta a atriz.

A atriz e humorista Jessica Diniz, de 33 anos, conta ter questionado gestões de trabalho autoritárias na época em que trabalhava contratada. "Se fosse ignorante ou chato, ia embora", diz.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foi exatamente a partir desses serviços que Diniz deu vida a algumas personagens que fazem sucesso nas suas redes, como ‘Ameinda’ e ‘Ferneinda’. Interpretados pela própria atriz, os papéis sugerem pessoas ‘workaholics’ (viciadas em trabalho), competitivas, ‘puxa-sacos’, e que gostam de vigiar o trabalho do colega. Confira um trecho do diálogo:

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- Amanda: Eu super sou ‘workaholic’, chego em casa pensando em trabalho, juro!

- João: Eu também, não consigo me desligar totalmente.

- Amanda: Igual a Fernanda, né? E você, Jessica?

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- Jessica: Eu? Sou ‘camaholic’, gosto de dormir.

- Amanda: Jessica, você chegou atrasada, né? Nós chegamos supercedo.

- Jessica: Se for por falta de parabéns, parabéns!

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“Já fui workaholic e hoje sou desempreholic”, comenta uma seguidora no vídeo, “a galera corporativa não aguenta as “jessicas” e ainda sai como antipática, difícil de lidar”, diz outra pessoa na publicação. Veja o vídeo na íntegra:

Após a repercussão, seus conteúdos também passaram a abordar histórias reais enviadas por seguidores, como a situação de uma pessoa que foi demitida e depois, procurada pelo antigo trabalho para ajudar a nova contratada.

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Farta da rotina do meio corporativo, Diniz também usa como referência o que escuta da família e dos amigos sobre o que acontece com frequência no ambiente de trabalho. Há pouco mais de um ano, a renda principal da atriz vem das redes sociais.

“É uma forma de desabafar, as pessoas me ouvem e se identificam. É um tipo de estilo de vida, uma pessoa sincera ou de saco cheio. É um nicho em que me encontrei e em que eu nunca imaginava que iria trabalhar”, relata.

Diagnóstico de burnout motivou saída do ‘trabalho dos sonhos’

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Diferentemente de Jessica Diniz, a criadora de conteúdo Karina Minoda, 29, sempre sonhou em trabalhar com moda e se tornar estilista - área da sua formação acadêmica. Quando finalmente conseguiu alcançar o cargo, foi diagnosticada com burnout. “Foi um acúmulo de todos os anos escutando grosseria em outros empregos”, conta a profissional.

Ao longo dos 10 anos de carreira no setor da moda, Karina Minoda relata ter passado por várias experiências em empresas com ambientes tóxicos, o que serviu de repertório para os seus conteúdos nas redes sociais.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Ao longo de 10 anos, a criadora trabalhou em locais que a fizeram desenvolver ansiedade, depressão e até perda de foco para dirigir. “Como escutava muito grito comecei a me cobrar para ser perfeita e pensava que não podia errar, senão as pessoas iam me xingar”, relata.

Em paralelo à descoberta de burnout, Minoda pensou em produzir conteúdos tendo como fio episódios do cotidiano nos antigos escritórios. “Resolvi fazer vídeos de trabalho porque não era possível que só eu sentisse aquilo”, diz em referência ao primeiro vídeo que viralizou nas redes. Confira:

Apesar de não enxergar sinais de melhoria no adoecimento mental que estava enfrentando, Minoda ainda gostava do trabalho. Foi a ascensão nas redes sociais que a motivou a pedir demissão em janeiro deste ano. Um mês depois, em fevereiro, o hobby virou a única fonte de renda, e ela passou a atuar integralmente como criadora de conteúdo. Desde então, soma mais de 70 mil seguidores no Instagram e 50.4 mil no TikTok.

Os vídeos satirizam situações corriqueiras como reuniões, ambientes tóxicos e pessoas com bafo de cigarro com café na firma.

Ser a própria chefe também rendeu a Minoda uma jornada reduzida. Hoje, ela trabalha quase metade da carga horária se comparado aos empregos anteriores. “Eu amava o que fazia, mas só de pensar em se doar 100% e nunca ser suficiente, não viveria novamente. Estou muito feliz assim”, desabafa.

De programadora de software a criadora de conteúdo

Karina não era a única que estava insatisfeita com o seu trabalho. Aos 30 anos, Miranda tinha um emprego estável como programadora em uma instituição financeira, com um bom salário. A atriz e comunicadora entrou no mundo corporativo por necessidade financeira, mas nunca abandonou o sonho de seguir carreira na comédia.

Apesar de tentar criar conteúdo desde 2016, foi somente em 2022 que Miranda viralizou nas redes sociais, justamente com um vídeo satirizando uma entrevista de emprego em uma fintech. Veja:

Ela relata que sentia um incômodo com a relação que as pessoas criam com o trabalho. Segundo a atriz, odiava a falsa sensação de que você está sendo cuidado e de que realmente faz parte de uma família em uma empresa.

“Você pode adorar o lugar em que você trabalha, mas você não é a empresa. Você está lá para prestar o seu serviço. Quando você acaba, beijo e tchau”, conta.

O sucesso do vídeo deu coragem e impulsionou sua decisão de se dedicar 100% às redes sociais. “Já não estava curtindo muito o meu trabalho e sabia que não tinha muito a ver comigo. Decidi lutar para os vídeos darem certo para eu conseguir viver e ganhar dinheiro com isso.“

Miranda, criadora de conteúdo digital, fala sobre o mundo corporativo de maneira irônica. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Nesse momento começou a despertar atenção de algumas marcas, que a procuraram para fazer publicidade. De lá para cá, reúne 168 mil seguidores no Instagram e 104,2 mil na rede vizinha, o TikTok. A internet virou seu trabalho principal, mas também possibilitou que ganhasse visibilidade para construir outros projetos e uma carreira na comédia.

“Não quero ficar só na internet. Tenho feito palestra, mentoria, participação em eventos, shows. As redes sociais são o meu trabalho, mas eu também tenho outros interesses”, diz.

Qual o trabalho dos seus sonhos? “Nunca sonhei que estava trabalhando”, responde categoricamente a atriz e humorista Jessica Diniz, 33, em um caixa de perguntas da sua conta no Instagram. O humor sarcástico não é por acaso. A inspiração surgiu das próprias experiências enquanto atuava como promoter de eventos e em trabalhos formais antes de decidir abandonar a CLT. Na internet, a atriz encontrou um nicho a ser explorado: o deboche com situações reais do mundo corporativo.

Não deu outra. As pessoas se identificaram e hoje Diniz acumula mais de 1,5 milhão de seguidores.

“Não gosto de uma pessoa mandando em mim. Nos eventos em que trabalhava se o supervisor fosse chato ou ignorante comigo, ia embora e corria para arrumar outro trabalho. Precisava muito do dinheiro, mas não ouvia desaforo”, conta a atriz.

A atriz e humorista Jessica Diniz, de 33 anos, conta ter questionado gestões de trabalho autoritárias na época em que trabalhava contratada. "Se fosse ignorante ou chato, ia embora", diz.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foi exatamente a partir desses serviços que Diniz deu vida a algumas personagens que fazem sucesso nas suas redes, como ‘Ameinda’ e ‘Ferneinda’. Interpretados pela própria atriz, os papéis sugerem pessoas ‘workaholics’ (viciadas em trabalho), competitivas, ‘puxa-sacos’, e que gostam de vigiar o trabalho do colega. Confira um trecho do diálogo:

- Amanda: Eu super sou ‘workaholic’, chego em casa pensando em trabalho, juro!

- João: Eu também, não consigo me desligar totalmente.

- Amanda: Igual a Fernanda, né? E você, Jessica?

- Jessica: Eu? Sou ‘camaholic’, gosto de dormir.

- Amanda: Jessica, você chegou atrasada, né? Nós chegamos supercedo.

- Jessica: Se for por falta de parabéns, parabéns!

“Já fui workaholic e hoje sou desempreholic”, comenta uma seguidora no vídeo, “a galera corporativa não aguenta as “jessicas” e ainda sai como antipática, difícil de lidar”, diz outra pessoa na publicação. Veja o vídeo na íntegra:

Após a repercussão, seus conteúdos também passaram a abordar histórias reais enviadas por seguidores, como a situação de uma pessoa que foi demitida e depois, procurada pelo antigo trabalho para ajudar a nova contratada.

Farta da rotina do meio corporativo, Diniz também usa como referência o que escuta da família e dos amigos sobre o que acontece com frequência no ambiente de trabalho. Há pouco mais de um ano, a renda principal da atriz vem das redes sociais.

“É uma forma de desabafar, as pessoas me ouvem e se identificam. É um tipo de estilo de vida, uma pessoa sincera ou de saco cheio. É um nicho em que me encontrei e em que eu nunca imaginava que iria trabalhar”, relata.

Diagnóstico de burnout motivou saída do ‘trabalho dos sonhos’

Diferentemente de Jessica Diniz, a criadora de conteúdo Karina Minoda, 29, sempre sonhou em trabalhar com moda e se tornar estilista - área da sua formação acadêmica. Quando finalmente conseguiu alcançar o cargo, foi diagnosticada com burnout. “Foi um acúmulo de todos os anos escutando grosseria em outros empregos”, conta a profissional.

Ao longo dos 10 anos de carreira no setor da moda, Karina Minoda relata ter passado por várias experiências em empresas com ambientes tóxicos, o que serviu de repertório para os seus conteúdos nas redes sociais.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Ao longo de 10 anos, a criadora trabalhou em locais que a fizeram desenvolver ansiedade, depressão e até perda de foco para dirigir. “Como escutava muito grito comecei a me cobrar para ser perfeita e pensava que não podia errar, senão as pessoas iam me xingar”, relata.

Em paralelo à descoberta de burnout, Minoda pensou em produzir conteúdos tendo como fio episódios do cotidiano nos antigos escritórios. “Resolvi fazer vídeos de trabalho porque não era possível que só eu sentisse aquilo”, diz em referência ao primeiro vídeo que viralizou nas redes. Confira:

Apesar de não enxergar sinais de melhoria no adoecimento mental que estava enfrentando, Minoda ainda gostava do trabalho. Foi a ascensão nas redes sociais que a motivou a pedir demissão em janeiro deste ano. Um mês depois, em fevereiro, o hobby virou a única fonte de renda, e ela passou a atuar integralmente como criadora de conteúdo. Desde então, soma mais de 70 mil seguidores no Instagram e 50.4 mil no TikTok.

Os vídeos satirizam situações corriqueiras como reuniões, ambientes tóxicos e pessoas com bafo de cigarro com café na firma.

Ser a própria chefe também rendeu a Minoda uma jornada reduzida. Hoje, ela trabalha quase metade da carga horária se comparado aos empregos anteriores. “Eu amava o que fazia, mas só de pensar em se doar 100% e nunca ser suficiente, não viveria novamente. Estou muito feliz assim”, desabafa.

De programadora de software a criadora de conteúdo

Karina não era a única que estava insatisfeita com o seu trabalho. Aos 30 anos, Miranda tinha um emprego estável como programadora em uma instituição financeira, com um bom salário. A atriz e comunicadora entrou no mundo corporativo por necessidade financeira, mas nunca abandonou o sonho de seguir carreira na comédia.

Apesar de tentar criar conteúdo desde 2016, foi somente em 2022 que Miranda viralizou nas redes sociais, justamente com um vídeo satirizando uma entrevista de emprego em uma fintech. Veja:

Ela relata que sentia um incômodo com a relação que as pessoas criam com o trabalho. Segundo a atriz, odiava a falsa sensação de que você está sendo cuidado e de que realmente faz parte de uma família em uma empresa.

“Você pode adorar o lugar em que você trabalha, mas você não é a empresa. Você está lá para prestar o seu serviço. Quando você acaba, beijo e tchau”, conta.

O sucesso do vídeo deu coragem e impulsionou sua decisão de se dedicar 100% às redes sociais. “Já não estava curtindo muito o meu trabalho e sabia que não tinha muito a ver comigo. Decidi lutar para os vídeos darem certo para eu conseguir viver e ganhar dinheiro com isso.“

Miranda, criadora de conteúdo digital, fala sobre o mundo corporativo de maneira irônica. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Nesse momento começou a despertar atenção de algumas marcas, que a procuraram para fazer publicidade. De lá para cá, reúne 168 mil seguidores no Instagram e 104,2 mil na rede vizinha, o TikTok. A internet virou seu trabalho principal, mas também possibilitou que ganhasse visibilidade para construir outros projetos e uma carreira na comédia.

“Não quero ficar só na internet. Tenho feito palestra, mentoria, participação em eventos, shows. As redes sociais são o meu trabalho, mas eu também tenho outros interesses”, diz.

Qual o trabalho dos seus sonhos? “Nunca sonhei que estava trabalhando”, responde categoricamente a atriz e humorista Jessica Diniz, 33, em um caixa de perguntas da sua conta no Instagram. O humor sarcástico não é por acaso. A inspiração surgiu das próprias experiências enquanto atuava como promoter de eventos e em trabalhos formais antes de decidir abandonar a CLT. Na internet, a atriz encontrou um nicho a ser explorado: o deboche com situações reais do mundo corporativo.

Não deu outra. As pessoas se identificaram e hoje Diniz acumula mais de 1,5 milhão de seguidores.

“Não gosto de uma pessoa mandando em mim. Nos eventos em que trabalhava se o supervisor fosse chato ou ignorante comigo, ia embora e corria para arrumar outro trabalho. Precisava muito do dinheiro, mas não ouvia desaforo”, conta a atriz.

A atriz e humorista Jessica Diniz, de 33 anos, conta ter questionado gestões de trabalho autoritárias na época em que trabalhava contratada. "Se fosse ignorante ou chato, ia embora", diz.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foi exatamente a partir desses serviços que Diniz deu vida a algumas personagens que fazem sucesso nas suas redes, como ‘Ameinda’ e ‘Ferneinda’. Interpretados pela própria atriz, os papéis sugerem pessoas ‘workaholics’ (viciadas em trabalho), competitivas, ‘puxa-sacos’, e que gostam de vigiar o trabalho do colega. Confira um trecho do diálogo:

- Amanda: Eu super sou ‘workaholic’, chego em casa pensando em trabalho, juro!

- João: Eu também, não consigo me desligar totalmente.

- Amanda: Igual a Fernanda, né? E você, Jessica?

- Jessica: Eu? Sou ‘camaholic’, gosto de dormir.

- Amanda: Jessica, você chegou atrasada, né? Nós chegamos supercedo.

- Jessica: Se for por falta de parabéns, parabéns!

“Já fui workaholic e hoje sou desempreholic”, comenta uma seguidora no vídeo, “a galera corporativa não aguenta as “jessicas” e ainda sai como antipática, difícil de lidar”, diz outra pessoa na publicação. Veja o vídeo na íntegra:

Após a repercussão, seus conteúdos também passaram a abordar histórias reais enviadas por seguidores, como a situação de uma pessoa que foi demitida e depois, procurada pelo antigo trabalho para ajudar a nova contratada.

Farta da rotina do meio corporativo, Diniz também usa como referência o que escuta da família e dos amigos sobre o que acontece com frequência no ambiente de trabalho. Há pouco mais de um ano, a renda principal da atriz vem das redes sociais.

“É uma forma de desabafar, as pessoas me ouvem e se identificam. É um tipo de estilo de vida, uma pessoa sincera ou de saco cheio. É um nicho em que me encontrei e em que eu nunca imaginava que iria trabalhar”, relata.

Diagnóstico de burnout motivou saída do ‘trabalho dos sonhos’

Diferentemente de Jessica Diniz, a criadora de conteúdo Karina Minoda, 29, sempre sonhou em trabalhar com moda e se tornar estilista - área da sua formação acadêmica. Quando finalmente conseguiu alcançar o cargo, foi diagnosticada com burnout. “Foi um acúmulo de todos os anos escutando grosseria em outros empregos”, conta a profissional.

Ao longo dos 10 anos de carreira no setor da moda, Karina Minoda relata ter passado por várias experiências em empresas com ambientes tóxicos, o que serviu de repertório para os seus conteúdos nas redes sociais.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Ao longo de 10 anos, a criadora trabalhou em locais que a fizeram desenvolver ansiedade, depressão e até perda de foco para dirigir. “Como escutava muito grito comecei a me cobrar para ser perfeita e pensava que não podia errar, senão as pessoas iam me xingar”, relata.

Em paralelo à descoberta de burnout, Minoda pensou em produzir conteúdos tendo como fio episódios do cotidiano nos antigos escritórios. “Resolvi fazer vídeos de trabalho porque não era possível que só eu sentisse aquilo”, diz em referência ao primeiro vídeo que viralizou nas redes. Confira:

Apesar de não enxergar sinais de melhoria no adoecimento mental que estava enfrentando, Minoda ainda gostava do trabalho. Foi a ascensão nas redes sociais que a motivou a pedir demissão em janeiro deste ano. Um mês depois, em fevereiro, o hobby virou a única fonte de renda, e ela passou a atuar integralmente como criadora de conteúdo. Desde então, soma mais de 70 mil seguidores no Instagram e 50.4 mil no TikTok.

Os vídeos satirizam situações corriqueiras como reuniões, ambientes tóxicos e pessoas com bafo de cigarro com café na firma.

Ser a própria chefe também rendeu a Minoda uma jornada reduzida. Hoje, ela trabalha quase metade da carga horária se comparado aos empregos anteriores. “Eu amava o que fazia, mas só de pensar em se doar 100% e nunca ser suficiente, não viveria novamente. Estou muito feliz assim”, desabafa.

De programadora de software a criadora de conteúdo

Karina não era a única que estava insatisfeita com o seu trabalho. Aos 30 anos, Miranda tinha um emprego estável como programadora em uma instituição financeira, com um bom salário. A atriz e comunicadora entrou no mundo corporativo por necessidade financeira, mas nunca abandonou o sonho de seguir carreira na comédia.

Apesar de tentar criar conteúdo desde 2016, foi somente em 2022 que Miranda viralizou nas redes sociais, justamente com um vídeo satirizando uma entrevista de emprego em uma fintech. Veja:

Ela relata que sentia um incômodo com a relação que as pessoas criam com o trabalho. Segundo a atriz, odiava a falsa sensação de que você está sendo cuidado e de que realmente faz parte de uma família em uma empresa.

“Você pode adorar o lugar em que você trabalha, mas você não é a empresa. Você está lá para prestar o seu serviço. Quando você acaba, beijo e tchau”, conta.

O sucesso do vídeo deu coragem e impulsionou sua decisão de se dedicar 100% às redes sociais. “Já não estava curtindo muito o meu trabalho e sabia que não tinha muito a ver comigo. Decidi lutar para os vídeos darem certo para eu conseguir viver e ganhar dinheiro com isso.“

Miranda, criadora de conteúdo digital, fala sobre o mundo corporativo de maneira irônica. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Nesse momento começou a despertar atenção de algumas marcas, que a procuraram para fazer publicidade. De lá para cá, reúne 168 mil seguidores no Instagram e 104,2 mil na rede vizinha, o TikTok. A internet virou seu trabalho principal, mas também possibilitou que ganhasse visibilidade para construir outros projetos e uma carreira na comédia.

“Não quero ficar só na internet. Tenho feito palestra, mentoria, participação em eventos, shows. As redes sociais são o meu trabalho, mas eu também tenho outros interesses”, diz.

Qual o trabalho dos seus sonhos? “Nunca sonhei que estava trabalhando”, responde categoricamente a atriz e humorista Jessica Diniz, 33, em um caixa de perguntas da sua conta no Instagram. O humor sarcástico não é por acaso. A inspiração surgiu das próprias experiências enquanto atuava como promoter de eventos e em trabalhos formais antes de decidir abandonar a CLT. Na internet, a atriz encontrou um nicho a ser explorado: o deboche com situações reais do mundo corporativo.

Não deu outra. As pessoas se identificaram e hoje Diniz acumula mais de 1,5 milhão de seguidores.

“Não gosto de uma pessoa mandando em mim. Nos eventos em que trabalhava se o supervisor fosse chato ou ignorante comigo, ia embora e corria para arrumar outro trabalho. Precisava muito do dinheiro, mas não ouvia desaforo”, conta a atriz.

A atriz e humorista Jessica Diniz, de 33 anos, conta ter questionado gestões de trabalho autoritárias na época em que trabalhava contratada. "Se fosse ignorante ou chato, ia embora", diz.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foi exatamente a partir desses serviços que Diniz deu vida a algumas personagens que fazem sucesso nas suas redes, como ‘Ameinda’ e ‘Ferneinda’. Interpretados pela própria atriz, os papéis sugerem pessoas ‘workaholics’ (viciadas em trabalho), competitivas, ‘puxa-sacos’, e que gostam de vigiar o trabalho do colega. Confira um trecho do diálogo:

- Amanda: Eu super sou ‘workaholic’, chego em casa pensando em trabalho, juro!

- João: Eu também, não consigo me desligar totalmente.

- Amanda: Igual a Fernanda, né? E você, Jessica?

- Jessica: Eu? Sou ‘camaholic’, gosto de dormir.

- Amanda: Jessica, você chegou atrasada, né? Nós chegamos supercedo.

- Jessica: Se for por falta de parabéns, parabéns!

“Já fui workaholic e hoje sou desempreholic”, comenta uma seguidora no vídeo, “a galera corporativa não aguenta as “jessicas” e ainda sai como antipática, difícil de lidar”, diz outra pessoa na publicação. Veja o vídeo na íntegra:

Após a repercussão, seus conteúdos também passaram a abordar histórias reais enviadas por seguidores, como a situação de uma pessoa que foi demitida e depois, procurada pelo antigo trabalho para ajudar a nova contratada.

Farta da rotina do meio corporativo, Diniz também usa como referência o que escuta da família e dos amigos sobre o que acontece com frequência no ambiente de trabalho. Há pouco mais de um ano, a renda principal da atriz vem das redes sociais.

“É uma forma de desabafar, as pessoas me ouvem e se identificam. É um tipo de estilo de vida, uma pessoa sincera ou de saco cheio. É um nicho em que me encontrei e em que eu nunca imaginava que iria trabalhar”, relata.

Diagnóstico de burnout motivou saída do ‘trabalho dos sonhos’

Diferentemente de Jessica Diniz, a criadora de conteúdo Karina Minoda, 29, sempre sonhou em trabalhar com moda e se tornar estilista - área da sua formação acadêmica. Quando finalmente conseguiu alcançar o cargo, foi diagnosticada com burnout. “Foi um acúmulo de todos os anos escutando grosseria em outros empregos”, conta a profissional.

Ao longo dos 10 anos de carreira no setor da moda, Karina Minoda relata ter passado por várias experiências em empresas com ambientes tóxicos, o que serviu de repertório para os seus conteúdos nas redes sociais.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Ao longo de 10 anos, a criadora trabalhou em locais que a fizeram desenvolver ansiedade, depressão e até perda de foco para dirigir. “Como escutava muito grito comecei a me cobrar para ser perfeita e pensava que não podia errar, senão as pessoas iam me xingar”, relata.

Em paralelo à descoberta de burnout, Minoda pensou em produzir conteúdos tendo como fio episódios do cotidiano nos antigos escritórios. “Resolvi fazer vídeos de trabalho porque não era possível que só eu sentisse aquilo”, diz em referência ao primeiro vídeo que viralizou nas redes. Confira:

Apesar de não enxergar sinais de melhoria no adoecimento mental que estava enfrentando, Minoda ainda gostava do trabalho. Foi a ascensão nas redes sociais que a motivou a pedir demissão em janeiro deste ano. Um mês depois, em fevereiro, o hobby virou a única fonte de renda, e ela passou a atuar integralmente como criadora de conteúdo. Desde então, soma mais de 70 mil seguidores no Instagram e 50.4 mil no TikTok.

Os vídeos satirizam situações corriqueiras como reuniões, ambientes tóxicos e pessoas com bafo de cigarro com café na firma.

Ser a própria chefe também rendeu a Minoda uma jornada reduzida. Hoje, ela trabalha quase metade da carga horária se comparado aos empregos anteriores. “Eu amava o que fazia, mas só de pensar em se doar 100% e nunca ser suficiente, não viveria novamente. Estou muito feliz assim”, desabafa.

De programadora de software a criadora de conteúdo

Karina não era a única que estava insatisfeita com o seu trabalho. Aos 30 anos, Miranda tinha um emprego estável como programadora em uma instituição financeira, com um bom salário. A atriz e comunicadora entrou no mundo corporativo por necessidade financeira, mas nunca abandonou o sonho de seguir carreira na comédia.

Apesar de tentar criar conteúdo desde 2016, foi somente em 2022 que Miranda viralizou nas redes sociais, justamente com um vídeo satirizando uma entrevista de emprego em uma fintech. Veja:

Ela relata que sentia um incômodo com a relação que as pessoas criam com o trabalho. Segundo a atriz, odiava a falsa sensação de que você está sendo cuidado e de que realmente faz parte de uma família em uma empresa.

“Você pode adorar o lugar em que você trabalha, mas você não é a empresa. Você está lá para prestar o seu serviço. Quando você acaba, beijo e tchau”, conta.

O sucesso do vídeo deu coragem e impulsionou sua decisão de se dedicar 100% às redes sociais. “Já não estava curtindo muito o meu trabalho e sabia que não tinha muito a ver comigo. Decidi lutar para os vídeos darem certo para eu conseguir viver e ganhar dinheiro com isso.“

Miranda, criadora de conteúdo digital, fala sobre o mundo corporativo de maneira irônica. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Nesse momento começou a despertar atenção de algumas marcas, que a procuraram para fazer publicidade. De lá para cá, reúne 168 mil seguidores no Instagram e 104,2 mil na rede vizinha, o TikTok. A internet virou seu trabalho principal, mas também possibilitou que ganhasse visibilidade para construir outros projetos e uma carreira na comédia.

“Não quero ficar só na internet. Tenho feito palestra, mentoria, participação em eventos, shows. As redes sociais são o meu trabalho, mas eu também tenho outros interesses”, diz.

Qual o trabalho dos seus sonhos? “Nunca sonhei que estava trabalhando”, responde categoricamente a atriz e humorista Jessica Diniz, 33, em um caixa de perguntas da sua conta no Instagram. O humor sarcástico não é por acaso. A inspiração surgiu das próprias experiências enquanto atuava como promoter de eventos e em trabalhos formais antes de decidir abandonar a CLT. Na internet, a atriz encontrou um nicho a ser explorado: o deboche com situações reais do mundo corporativo.

Não deu outra. As pessoas se identificaram e hoje Diniz acumula mais de 1,5 milhão de seguidores.

“Não gosto de uma pessoa mandando em mim. Nos eventos em que trabalhava se o supervisor fosse chato ou ignorante comigo, ia embora e corria para arrumar outro trabalho. Precisava muito do dinheiro, mas não ouvia desaforo”, conta a atriz.

A atriz e humorista Jessica Diniz, de 33 anos, conta ter questionado gestões de trabalho autoritárias na época em que trabalhava contratada. "Se fosse ignorante ou chato, ia embora", diz.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foi exatamente a partir desses serviços que Diniz deu vida a algumas personagens que fazem sucesso nas suas redes, como ‘Ameinda’ e ‘Ferneinda’. Interpretados pela própria atriz, os papéis sugerem pessoas ‘workaholics’ (viciadas em trabalho), competitivas, ‘puxa-sacos’, e que gostam de vigiar o trabalho do colega. Confira um trecho do diálogo:

- Amanda: Eu super sou ‘workaholic’, chego em casa pensando em trabalho, juro!

- João: Eu também, não consigo me desligar totalmente.

- Amanda: Igual a Fernanda, né? E você, Jessica?

- Jessica: Eu? Sou ‘camaholic’, gosto de dormir.

- Amanda: Jessica, você chegou atrasada, né? Nós chegamos supercedo.

- Jessica: Se for por falta de parabéns, parabéns!

“Já fui workaholic e hoje sou desempreholic”, comenta uma seguidora no vídeo, “a galera corporativa não aguenta as “jessicas” e ainda sai como antipática, difícil de lidar”, diz outra pessoa na publicação. Veja o vídeo na íntegra:

Após a repercussão, seus conteúdos também passaram a abordar histórias reais enviadas por seguidores, como a situação de uma pessoa que foi demitida e depois, procurada pelo antigo trabalho para ajudar a nova contratada.

Farta da rotina do meio corporativo, Diniz também usa como referência o que escuta da família e dos amigos sobre o que acontece com frequência no ambiente de trabalho. Há pouco mais de um ano, a renda principal da atriz vem das redes sociais.

“É uma forma de desabafar, as pessoas me ouvem e se identificam. É um tipo de estilo de vida, uma pessoa sincera ou de saco cheio. É um nicho em que me encontrei e em que eu nunca imaginava que iria trabalhar”, relata.

Diagnóstico de burnout motivou saída do ‘trabalho dos sonhos’

Diferentemente de Jessica Diniz, a criadora de conteúdo Karina Minoda, 29, sempre sonhou em trabalhar com moda e se tornar estilista - área da sua formação acadêmica. Quando finalmente conseguiu alcançar o cargo, foi diagnosticada com burnout. “Foi um acúmulo de todos os anos escutando grosseria em outros empregos”, conta a profissional.

Ao longo dos 10 anos de carreira no setor da moda, Karina Minoda relata ter passado por várias experiências em empresas com ambientes tóxicos, o que serviu de repertório para os seus conteúdos nas redes sociais.  Foto: Felipe Rau/Estadão

Ao longo de 10 anos, a criadora trabalhou em locais que a fizeram desenvolver ansiedade, depressão e até perda de foco para dirigir. “Como escutava muito grito comecei a me cobrar para ser perfeita e pensava que não podia errar, senão as pessoas iam me xingar”, relata.

Em paralelo à descoberta de burnout, Minoda pensou em produzir conteúdos tendo como fio episódios do cotidiano nos antigos escritórios. “Resolvi fazer vídeos de trabalho porque não era possível que só eu sentisse aquilo”, diz em referência ao primeiro vídeo que viralizou nas redes. Confira:

Apesar de não enxergar sinais de melhoria no adoecimento mental que estava enfrentando, Minoda ainda gostava do trabalho. Foi a ascensão nas redes sociais que a motivou a pedir demissão em janeiro deste ano. Um mês depois, em fevereiro, o hobby virou a única fonte de renda, e ela passou a atuar integralmente como criadora de conteúdo. Desde então, soma mais de 70 mil seguidores no Instagram e 50.4 mil no TikTok.

Os vídeos satirizam situações corriqueiras como reuniões, ambientes tóxicos e pessoas com bafo de cigarro com café na firma.

Ser a própria chefe também rendeu a Minoda uma jornada reduzida. Hoje, ela trabalha quase metade da carga horária se comparado aos empregos anteriores. “Eu amava o que fazia, mas só de pensar em se doar 100% e nunca ser suficiente, não viveria novamente. Estou muito feliz assim”, desabafa.

De programadora de software a criadora de conteúdo

Karina não era a única que estava insatisfeita com o seu trabalho. Aos 30 anos, Miranda tinha um emprego estável como programadora em uma instituição financeira, com um bom salário. A atriz e comunicadora entrou no mundo corporativo por necessidade financeira, mas nunca abandonou o sonho de seguir carreira na comédia.

Apesar de tentar criar conteúdo desde 2016, foi somente em 2022 que Miranda viralizou nas redes sociais, justamente com um vídeo satirizando uma entrevista de emprego em uma fintech. Veja:

Ela relata que sentia um incômodo com a relação que as pessoas criam com o trabalho. Segundo a atriz, odiava a falsa sensação de que você está sendo cuidado e de que realmente faz parte de uma família em uma empresa.

“Você pode adorar o lugar em que você trabalha, mas você não é a empresa. Você está lá para prestar o seu serviço. Quando você acaba, beijo e tchau”, conta.

O sucesso do vídeo deu coragem e impulsionou sua decisão de se dedicar 100% às redes sociais. “Já não estava curtindo muito o meu trabalho e sabia que não tinha muito a ver comigo. Decidi lutar para os vídeos darem certo para eu conseguir viver e ganhar dinheiro com isso.“

Miranda, criadora de conteúdo digital, fala sobre o mundo corporativo de maneira irônica. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Nesse momento começou a despertar atenção de algumas marcas, que a procuraram para fazer publicidade. De lá para cá, reúne 168 mil seguidores no Instagram e 104,2 mil na rede vizinha, o TikTok. A internet virou seu trabalho principal, mas também possibilitou que ganhasse visibilidade para construir outros projetos e uma carreira na comédia.

“Não quero ficar só na internet. Tenho feito palestra, mentoria, participação em eventos, shows. As redes sociais são o meu trabalho, mas eu também tenho outros interesses”, diz.

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