‘Não falar inglês hoje virou um diferencial negativo no currículo’, diz presidente do CNA


Decio Pecin, que acabou de lançar livro contando a própria história e da empresa que comanda, afirma que o ensino de idiomas no Brasil ainda tem dificuldade de chegar até classes sociais mais baixas

Por Felipe Siqueira
Atualização:
Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação
Entrevista comDécio PecinCEO do CNA

CEO do CNA (Cultural Norte Americano) há mais de 10 anos, Décio Pecin está na sua segunda passagem pela escola de idiomas. Na primeira, responsável pela parte das finanças da empresa, atendeu a pedido do fundador da empresa, Luiz Gama, para ajudar a companhia a se reestruturar financeiramente. Essa história está no livro de Décio, recém-lançado, com o título “O que você queria saber sobre franchising por quem entende do assunto”. Nele, o empresário conta a própria trajetória, passando pelo CNA e pelo modelo de negócio da escola de idiomas: franquias.

Com entrevistas de franqueados e histórias de como a empresa surgiu, Décio mostra como chegou à empresa, fala de sua saída após a primeira passagem - por discordâncias administrativas -,da volta, para ser sócio, e da relação quase que paternal com Gama, ou seo Luiz, como ele costumeiramente o chama nas páginas do livro.

continua após a publicidade
Decio Pecin, CEO do CNA, e Luiz Gama, fundador da marca Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

Outro tema abordado é o ensino de idiomas no Brasil, mais especificamente o inglês. Em metamorfose desde o surgimento do próprio CNA, em 1973 - que completa 50 anos em 2023 -, o que já foi considerado diferencial, segundo Décio, já é algo mínimo, básico, para determinadas carreiras. Principalmente quando falamos de profissionais qualificados - com ensino superior, por exemplo.

“Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes (no País). Acredito que aqui entram dois motivos: infelizmente, o brasileiro não tem tanto pragmatismo para perseguir essa busca pela fluência; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês”, analisa Pecin, em entrevista ao Estadão. A seguir, trechos da entrevista:

continua após a publicidade

Qual o peso do conhecimento em idiomas para a carreira atualmente?

Podemos separar o ensino de inglês em três fases. No início, as pessoas se perguntavam ‘por que preciso aprender inglês?’. Lá na década de 1970, quando começou no Brasil, o inglês era uma coisa muito difícil, para poucos. Depois, começou a ser visto como um diferencial, ali em meados das décadas de 1980 para 1990. Nesse cenário, quem tinha o inglês era diferenciado no mercado de trabalho. Nos dias de hoje, você é diferenciado (negativamente) se você não tem o inglês para a maioria das carreiras. E o que eu acho que aconteceu nesse tempo foi a transformação da sociedade como um todo. A velocidade da informação, do que a internet trouxe para hoje. Muitos têm condições de acessar a internet, se conectando com diferentes lugares do mundo. Então, você começa a ser não mais cidadão brasileiro, mas passa a ser cidadão do mundo, o que exige domínio da língua. Muita gente ainda me fala: ‘Ah, vocês (CNA) têm de ensinar Mandarim, outras línguas’. Quando se coloca isso na perspectiva de negócios, o inglês ainda é extremamente relevante. Você viaja para qualquer lugar do mundo falando inglês e consegue lidar com a comunicação.

O modo de ensino acompanhou essas transformações?

continua após a publicidade

Houve uma transformação também na forma de se ensinar e houve uma transformação na forma de se receber o aprendizado. Ainda há mitos sobre aprendizagem de inglês, infelizmente. Há pessoas que pensam que se aprende com mágica, mas não existe mágica para aprender idiomas. Assim como não existe mágica para resultados na busca pela perda de peso. É preciso se matricular em uma academia e focar na dieta. O resultado está atrelado à dedicação. E o tempo para o aprendizado do inglês depende muito. Dentro de sala, a fluência pode vir a partir de 400 horas/aula. E ainda tem gente que promete ensinar inglês enquanto o aluno está dormindo.

Como vê o avanço das escolas bilíngues no Brasil?

É preciso ter cuidado. Existe escola bilíngue boa no Brasil, que vai dar uma carga horária de, no mínimo, quatro a seis horas por dia para a criança. Só que isso vai custar muito (mais caro), a gente sabe. Mas vale lembrar: existe muita escola que fala que é bilíngue para poder combater o mercado, mas não é na atuação. Tem, no máximo, uma extensão curricular e mais uma hora de inglês. Chegou a acontecer um movimento nessa linha uns anos atrás: pessoas deixaram de matricular nas nossas escolas e buscaram as bilíngues (que não são boas, no ponto de vista dele) e perceberam que o ganho de língua não foi o esperado.

continua após a publicidade

Mesmo com a alta exigência para determinadas carreiras, o ensino de idiomas ainda não atinge todo mundo, correto?

Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes. Acredito que aqui entram dois motivos: o primeiro é que, infelizmente, o brasileiro não persegue com o pragmatismo que deveria essa busca pela fluência na língua inglesa; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês. O mercado de ensino de idiomas no Brasil está focado no público de classes A e B e um pouco da C. E o nosso negócio é visto como consumo discricionário (que não entra como despesa essencial). Vai bem se o nosso setor vai bem. A nossa curva de demanda é bem parecida com o varejo discricionário. Fora que tem muita gente que começa e para. Já ouvi muito as pessoas falarem que não levam jeito. Tem de controlar a ansiedade, precisa de tempo.

Em meio a essas dificuldades de mercado, e pela característica de o negócio ser voltado para classes sociais mais bem remuneradas, existe alguma saída para pessoas das classes C, D e E terem mais acesso ao ensino de idiomas?

continua após a publicidade

Atingimos mais a classe B, mas a gente já tem capilaridade em uma parte da classe C, principalmente a C1. Temos uma mensalidade média de R$ 250 no Brasil. Além do kit de material. De fato, a gente não consegue mergulhar na classe C por questões de preço. E, quando você vai trabalhar com preços mais baixos, é necessário equilíbrio. Para um resultado financeiro positivo, a escola precisa colocar mais alunos dentro da sala de aula. Nossa média atualmente é de 8 alunos por sala. Quando se trabalha com números muito maiores, de 15 a 25, a qualidade do ensino cai, gerando problemas de retenção. O aluno não tem percepção de ganho de aprendizagem e vai embora. A saída (para classes sociais mais baixas terem acesso ao ensino) passa pela situação macroeconômica do País. Quando a gente conseguir consertar a base econômica - e a gente já experimentou isso no Brasil - com certeza, mais pessoas vão ter acesso.

E qual o maior desafio para as escolas, captação ou retenção de alunos?

Durante a pandemia, eu posso afirmar para você que a captação foi um desafio. Nesse período, conseguimos manter os nossos índices de rematrícula, mas a gente teve muito mais dificuldade em angariar novos. 2023 está sendo um ano bom para o setor, com crescimento maior.

continua após a publicidade

Existe muita diferença no ensino de idiomas online ou presencial?

Desde que você consiga transferir a qualidade do que você faz no presencial para o online, não há queda na qualidade. Agora, o que não pode é as empresas usarem o online apenas como facilitação, sem se preocupar com a qualidade. Você consegue absorver conteúdo de qualidade no online. No caso do CNA, trabalhamos com aulas ao vivo, com até 8 alunos na sala, para garantir a mesma qualidade do presencial.

No caso do livro, por que decidiu escrever sobre a própria carreira?

Muita gente me confunde um pouco com a figura do filho do Luiz Gama, fundador do CNA. Eu sou muito próximo dele, de fato, mas não tenho parentesco e, na verdade, não há participação direta da família dele na empresa. O livro desmistifica essa parte. Eu me tornei CEO da empresa há pouco mais de 10 anos, me tornando sócio, após um aporte de um fundo. O sr. Luiz ficou com a participação majoritária na empresa. E eu fui muito incentivado por amigos a escrever esse livro. Um deles chegou a me dizer: ‘se até eu já fiz, por que você não conseguiria?’. (risos). Então, neste contexto de incentivos e para contar a minha história e da empresa, acabei escrevendo.

Decio Pecin, CEO do CNA, no lançamento do livro 'O que você queria saber sobre franchising por quem conhece do assunto' Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

O livro conta com histórias de franqueados do CNA, com entrevistas e relatos, sendo quase um livro-reportagem. Foi pensado desta forma?

Foi pensado assim. Uma das coisas que eu idealizei lá atrás foi que eu queria contar com a ajuda de amigos. O assunto do livro surgiu em um jantar, com cerca de quatro pessoas à mesa, e eu comentei: ‘só faço se vocês me ajudarem a escrever’. O que saiu de tudo isso foi o Décio, pessoa física; depois; a história do CNA; e, mais pra frente, o CNA enquanto o franqueador, trocando experiências com outros franqueadores.

CEO do CNA (Cultural Norte Americano) há mais de 10 anos, Décio Pecin está na sua segunda passagem pela escola de idiomas. Na primeira, responsável pela parte das finanças da empresa, atendeu a pedido do fundador da empresa, Luiz Gama, para ajudar a companhia a se reestruturar financeiramente. Essa história está no livro de Décio, recém-lançado, com o título “O que você queria saber sobre franchising por quem entende do assunto”. Nele, o empresário conta a própria trajetória, passando pelo CNA e pelo modelo de negócio da escola de idiomas: franquias.

Com entrevistas de franqueados e histórias de como a empresa surgiu, Décio mostra como chegou à empresa, fala de sua saída após a primeira passagem - por discordâncias administrativas -,da volta, para ser sócio, e da relação quase que paternal com Gama, ou seo Luiz, como ele costumeiramente o chama nas páginas do livro.

Decio Pecin, CEO do CNA, e Luiz Gama, fundador da marca Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

Outro tema abordado é o ensino de idiomas no Brasil, mais especificamente o inglês. Em metamorfose desde o surgimento do próprio CNA, em 1973 - que completa 50 anos em 2023 -, o que já foi considerado diferencial, segundo Décio, já é algo mínimo, básico, para determinadas carreiras. Principalmente quando falamos de profissionais qualificados - com ensino superior, por exemplo.

“Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes (no País). Acredito que aqui entram dois motivos: infelizmente, o brasileiro não tem tanto pragmatismo para perseguir essa busca pela fluência; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês”, analisa Pecin, em entrevista ao Estadão. A seguir, trechos da entrevista:

Qual o peso do conhecimento em idiomas para a carreira atualmente?

Podemos separar o ensino de inglês em três fases. No início, as pessoas se perguntavam ‘por que preciso aprender inglês?’. Lá na década de 1970, quando começou no Brasil, o inglês era uma coisa muito difícil, para poucos. Depois, começou a ser visto como um diferencial, ali em meados das décadas de 1980 para 1990. Nesse cenário, quem tinha o inglês era diferenciado no mercado de trabalho. Nos dias de hoje, você é diferenciado (negativamente) se você não tem o inglês para a maioria das carreiras. E o que eu acho que aconteceu nesse tempo foi a transformação da sociedade como um todo. A velocidade da informação, do que a internet trouxe para hoje. Muitos têm condições de acessar a internet, se conectando com diferentes lugares do mundo. Então, você começa a ser não mais cidadão brasileiro, mas passa a ser cidadão do mundo, o que exige domínio da língua. Muita gente ainda me fala: ‘Ah, vocês (CNA) têm de ensinar Mandarim, outras línguas’. Quando se coloca isso na perspectiva de negócios, o inglês ainda é extremamente relevante. Você viaja para qualquer lugar do mundo falando inglês e consegue lidar com a comunicação.

O modo de ensino acompanhou essas transformações?

Houve uma transformação também na forma de se ensinar e houve uma transformação na forma de se receber o aprendizado. Ainda há mitos sobre aprendizagem de inglês, infelizmente. Há pessoas que pensam que se aprende com mágica, mas não existe mágica para aprender idiomas. Assim como não existe mágica para resultados na busca pela perda de peso. É preciso se matricular em uma academia e focar na dieta. O resultado está atrelado à dedicação. E o tempo para o aprendizado do inglês depende muito. Dentro de sala, a fluência pode vir a partir de 400 horas/aula. E ainda tem gente que promete ensinar inglês enquanto o aluno está dormindo.

Como vê o avanço das escolas bilíngues no Brasil?

É preciso ter cuidado. Existe escola bilíngue boa no Brasil, que vai dar uma carga horária de, no mínimo, quatro a seis horas por dia para a criança. Só que isso vai custar muito (mais caro), a gente sabe. Mas vale lembrar: existe muita escola que fala que é bilíngue para poder combater o mercado, mas não é na atuação. Tem, no máximo, uma extensão curricular e mais uma hora de inglês. Chegou a acontecer um movimento nessa linha uns anos atrás: pessoas deixaram de matricular nas nossas escolas e buscaram as bilíngues (que não são boas, no ponto de vista dele) e perceberam que o ganho de língua não foi o esperado.

Mesmo com a alta exigência para determinadas carreiras, o ensino de idiomas ainda não atinge todo mundo, correto?

Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes. Acredito que aqui entram dois motivos: o primeiro é que, infelizmente, o brasileiro não persegue com o pragmatismo que deveria essa busca pela fluência na língua inglesa; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês. O mercado de ensino de idiomas no Brasil está focado no público de classes A e B e um pouco da C. E o nosso negócio é visto como consumo discricionário (que não entra como despesa essencial). Vai bem se o nosso setor vai bem. A nossa curva de demanda é bem parecida com o varejo discricionário. Fora que tem muita gente que começa e para. Já ouvi muito as pessoas falarem que não levam jeito. Tem de controlar a ansiedade, precisa de tempo.

Em meio a essas dificuldades de mercado, e pela característica de o negócio ser voltado para classes sociais mais bem remuneradas, existe alguma saída para pessoas das classes C, D e E terem mais acesso ao ensino de idiomas?

Atingimos mais a classe B, mas a gente já tem capilaridade em uma parte da classe C, principalmente a C1. Temos uma mensalidade média de R$ 250 no Brasil. Além do kit de material. De fato, a gente não consegue mergulhar na classe C por questões de preço. E, quando você vai trabalhar com preços mais baixos, é necessário equilíbrio. Para um resultado financeiro positivo, a escola precisa colocar mais alunos dentro da sala de aula. Nossa média atualmente é de 8 alunos por sala. Quando se trabalha com números muito maiores, de 15 a 25, a qualidade do ensino cai, gerando problemas de retenção. O aluno não tem percepção de ganho de aprendizagem e vai embora. A saída (para classes sociais mais baixas terem acesso ao ensino) passa pela situação macroeconômica do País. Quando a gente conseguir consertar a base econômica - e a gente já experimentou isso no Brasil - com certeza, mais pessoas vão ter acesso.

E qual o maior desafio para as escolas, captação ou retenção de alunos?

Durante a pandemia, eu posso afirmar para você que a captação foi um desafio. Nesse período, conseguimos manter os nossos índices de rematrícula, mas a gente teve muito mais dificuldade em angariar novos. 2023 está sendo um ano bom para o setor, com crescimento maior.

Existe muita diferença no ensino de idiomas online ou presencial?

Desde que você consiga transferir a qualidade do que você faz no presencial para o online, não há queda na qualidade. Agora, o que não pode é as empresas usarem o online apenas como facilitação, sem se preocupar com a qualidade. Você consegue absorver conteúdo de qualidade no online. No caso do CNA, trabalhamos com aulas ao vivo, com até 8 alunos na sala, para garantir a mesma qualidade do presencial.

No caso do livro, por que decidiu escrever sobre a própria carreira?

Muita gente me confunde um pouco com a figura do filho do Luiz Gama, fundador do CNA. Eu sou muito próximo dele, de fato, mas não tenho parentesco e, na verdade, não há participação direta da família dele na empresa. O livro desmistifica essa parte. Eu me tornei CEO da empresa há pouco mais de 10 anos, me tornando sócio, após um aporte de um fundo. O sr. Luiz ficou com a participação majoritária na empresa. E eu fui muito incentivado por amigos a escrever esse livro. Um deles chegou a me dizer: ‘se até eu já fiz, por que você não conseguiria?’. (risos). Então, neste contexto de incentivos e para contar a minha história e da empresa, acabei escrevendo.

Decio Pecin, CEO do CNA, no lançamento do livro 'O que você queria saber sobre franchising por quem conhece do assunto' Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

O livro conta com histórias de franqueados do CNA, com entrevistas e relatos, sendo quase um livro-reportagem. Foi pensado desta forma?

Foi pensado assim. Uma das coisas que eu idealizei lá atrás foi que eu queria contar com a ajuda de amigos. O assunto do livro surgiu em um jantar, com cerca de quatro pessoas à mesa, e eu comentei: ‘só faço se vocês me ajudarem a escrever’. O que saiu de tudo isso foi o Décio, pessoa física; depois; a história do CNA; e, mais pra frente, o CNA enquanto o franqueador, trocando experiências com outros franqueadores.

CEO do CNA (Cultural Norte Americano) há mais de 10 anos, Décio Pecin está na sua segunda passagem pela escola de idiomas. Na primeira, responsável pela parte das finanças da empresa, atendeu a pedido do fundador da empresa, Luiz Gama, para ajudar a companhia a se reestruturar financeiramente. Essa história está no livro de Décio, recém-lançado, com o título “O que você queria saber sobre franchising por quem entende do assunto”. Nele, o empresário conta a própria trajetória, passando pelo CNA e pelo modelo de negócio da escola de idiomas: franquias.

Com entrevistas de franqueados e histórias de como a empresa surgiu, Décio mostra como chegou à empresa, fala de sua saída após a primeira passagem - por discordâncias administrativas -,da volta, para ser sócio, e da relação quase que paternal com Gama, ou seo Luiz, como ele costumeiramente o chama nas páginas do livro.

Decio Pecin, CEO do CNA, e Luiz Gama, fundador da marca Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

Outro tema abordado é o ensino de idiomas no Brasil, mais especificamente o inglês. Em metamorfose desde o surgimento do próprio CNA, em 1973 - que completa 50 anos em 2023 -, o que já foi considerado diferencial, segundo Décio, já é algo mínimo, básico, para determinadas carreiras. Principalmente quando falamos de profissionais qualificados - com ensino superior, por exemplo.

“Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes (no País). Acredito que aqui entram dois motivos: infelizmente, o brasileiro não tem tanto pragmatismo para perseguir essa busca pela fluência; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês”, analisa Pecin, em entrevista ao Estadão. A seguir, trechos da entrevista:

Qual o peso do conhecimento em idiomas para a carreira atualmente?

Podemos separar o ensino de inglês em três fases. No início, as pessoas se perguntavam ‘por que preciso aprender inglês?’. Lá na década de 1970, quando começou no Brasil, o inglês era uma coisa muito difícil, para poucos. Depois, começou a ser visto como um diferencial, ali em meados das décadas de 1980 para 1990. Nesse cenário, quem tinha o inglês era diferenciado no mercado de trabalho. Nos dias de hoje, você é diferenciado (negativamente) se você não tem o inglês para a maioria das carreiras. E o que eu acho que aconteceu nesse tempo foi a transformação da sociedade como um todo. A velocidade da informação, do que a internet trouxe para hoje. Muitos têm condições de acessar a internet, se conectando com diferentes lugares do mundo. Então, você começa a ser não mais cidadão brasileiro, mas passa a ser cidadão do mundo, o que exige domínio da língua. Muita gente ainda me fala: ‘Ah, vocês (CNA) têm de ensinar Mandarim, outras línguas’. Quando se coloca isso na perspectiva de negócios, o inglês ainda é extremamente relevante. Você viaja para qualquer lugar do mundo falando inglês e consegue lidar com a comunicação.

O modo de ensino acompanhou essas transformações?

Houve uma transformação também na forma de se ensinar e houve uma transformação na forma de se receber o aprendizado. Ainda há mitos sobre aprendizagem de inglês, infelizmente. Há pessoas que pensam que se aprende com mágica, mas não existe mágica para aprender idiomas. Assim como não existe mágica para resultados na busca pela perda de peso. É preciso se matricular em uma academia e focar na dieta. O resultado está atrelado à dedicação. E o tempo para o aprendizado do inglês depende muito. Dentro de sala, a fluência pode vir a partir de 400 horas/aula. E ainda tem gente que promete ensinar inglês enquanto o aluno está dormindo.

Como vê o avanço das escolas bilíngues no Brasil?

É preciso ter cuidado. Existe escola bilíngue boa no Brasil, que vai dar uma carga horária de, no mínimo, quatro a seis horas por dia para a criança. Só que isso vai custar muito (mais caro), a gente sabe. Mas vale lembrar: existe muita escola que fala que é bilíngue para poder combater o mercado, mas não é na atuação. Tem, no máximo, uma extensão curricular e mais uma hora de inglês. Chegou a acontecer um movimento nessa linha uns anos atrás: pessoas deixaram de matricular nas nossas escolas e buscaram as bilíngues (que não são boas, no ponto de vista dele) e perceberam que o ganho de língua não foi o esperado.

Mesmo com a alta exigência para determinadas carreiras, o ensino de idiomas ainda não atinge todo mundo, correto?

Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes. Acredito que aqui entram dois motivos: o primeiro é que, infelizmente, o brasileiro não persegue com o pragmatismo que deveria essa busca pela fluência na língua inglesa; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês. O mercado de ensino de idiomas no Brasil está focado no público de classes A e B e um pouco da C. E o nosso negócio é visto como consumo discricionário (que não entra como despesa essencial). Vai bem se o nosso setor vai bem. A nossa curva de demanda é bem parecida com o varejo discricionário. Fora que tem muita gente que começa e para. Já ouvi muito as pessoas falarem que não levam jeito. Tem de controlar a ansiedade, precisa de tempo.

Em meio a essas dificuldades de mercado, e pela característica de o negócio ser voltado para classes sociais mais bem remuneradas, existe alguma saída para pessoas das classes C, D e E terem mais acesso ao ensino de idiomas?

Atingimos mais a classe B, mas a gente já tem capilaridade em uma parte da classe C, principalmente a C1. Temos uma mensalidade média de R$ 250 no Brasil. Além do kit de material. De fato, a gente não consegue mergulhar na classe C por questões de preço. E, quando você vai trabalhar com preços mais baixos, é necessário equilíbrio. Para um resultado financeiro positivo, a escola precisa colocar mais alunos dentro da sala de aula. Nossa média atualmente é de 8 alunos por sala. Quando se trabalha com números muito maiores, de 15 a 25, a qualidade do ensino cai, gerando problemas de retenção. O aluno não tem percepção de ganho de aprendizagem e vai embora. A saída (para classes sociais mais baixas terem acesso ao ensino) passa pela situação macroeconômica do País. Quando a gente conseguir consertar a base econômica - e a gente já experimentou isso no Brasil - com certeza, mais pessoas vão ter acesso.

E qual o maior desafio para as escolas, captação ou retenção de alunos?

Durante a pandemia, eu posso afirmar para você que a captação foi um desafio. Nesse período, conseguimos manter os nossos índices de rematrícula, mas a gente teve muito mais dificuldade em angariar novos. 2023 está sendo um ano bom para o setor, com crescimento maior.

Existe muita diferença no ensino de idiomas online ou presencial?

Desde que você consiga transferir a qualidade do que você faz no presencial para o online, não há queda na qualidade. Agora, o que não pode é as empresas usarem o online apenas como facilitação, sem se preocupar com a qualidade. Você consegue absorver conteúdo de qualidade no online. No caso do CNA, trabalhamos com aulas ao vivo, com até 8 alunos na sala, para garantir a mesma qualidade do presencial.

No caso do livro, por que decidiu escrever sobre a própria carreira?

Muita gente me confunde um pouco com a figura do filho do Luiz Gama, fundador do CNA. Eu sou muito próximo dele, de fato, mas não tenho parentesco e, na verdade, não há participação direta da família dele na empresa. O livro desmistifica essa parte. Eu me tornei CEO da empresa há pouco mais de 10 anos, me tornando sócio, após um aporte de um fundo. O sr. Luiz ficou com a participação majoritária na empresa. E eu fui muito incentivado por amigos a escrever esse livro. Um deles chegou a me dizer: ‘se até eu já fiz, por que você não conseguiria?’. (risos). Então, neste contexto de incentivos e para contar a minha história e da empresa, acabei escrevendo.

Decio Pecin, CEO do CNA, no lançamento do livro 'O que você queria saber sobre franchising por quem conhece do assunto' Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

O livro conta com histórias de franqueados do CNA, com entrevistas e relatos, sendo quase um livro-reportagem. Foi pensado desta forma?

Foi pensado assim. Uma das coisas que eu idealizei lá atrás foi que eu queria contar com a ajuda de amigos. O assunto do livro surgiu em um jantar, com cerca de quatro pessoas à mesa, e eu comentei: ‘só faço se vocês me ajudarem a escrever’. O que saiu de tudo isso foi o Décio, pessoa física; depois; a história do CNA; e, mais pra frente, o CNA enquanto o franqueador, trocando experiências com outros franqueadores.

CEO do CNA (Cultural Norte Americano) há mais de 10 anos, Décio Pecin está na sua segunda passagem pela escola de idiomas. Na primeira, responsável pela parte das finanças da empresa, atendeu a pedido do fundador da empresa, Luiz Gama, para ajudar a companhia a se reestruturar financeiramente. Essa história está no livro de Décio, recém-lançado, com o título “O que você queria saber sobre franchising por quem entende do assunto”. Nele, o empresário conta a própria trajetória, passando pelo CNA e pelo modelo de negócio da escola de idiomas: franquias.

Com entrevistas de franqueados e histórias de como a empresa surgiu, Décio mostra como chegou à empresa, fala de sua saída após a primeira passagem - por discordâncias administrativas -,da volta, para ser sócio, e da relação quase que paternal com Gama, ou seo Luiz, como ele costumeiramente o chama nas páginas do livro.

Decio Pecin, CEO do CNA, e Luiz Gama, fundador da marca Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

Outro tema abordado é o ensino de idiomas no Brasil, mais especificamente o inglês. Em metamorfose desde o surgimento do próprio CNA, em 1973 - que completa 50 anos em 2023 -, o que já foi considerado diferencial, segundo Décio, já é algo mínimo, básico, para determinadas carreiras. Principalmente quando falamos de profissionais qualificados - com ensino superior, por exemplo.

“Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes (no País). Acredito que aqui entram dois motivos: infelizmente, o brasileiro não tem tanto pragmatismo para perseguir essa busca pela fluência; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês”, analisa Pecin, em entrevista ao Estadão. A seguir, trechos da entrevista:

Qual o peso do conhecimento em idiomas para a carreira atualmente?

Podemos separar o ensino de inglês em três fases. No início, as pessoas se perguntavam ‘por que preciso aprender inglês?’. Lá na década de 1970, quando começou no Brasil, o inglês era uma coisa muito difícil, para poucos. Depois, começou a ser visto como um diferencial, ali em meados das décadas de 1980 para 1990. Nesse cenário, quem tinha o inglês era diferenciado no mercado de trabalho. Nos dias de hoje, você é diferenciado (negativamente) se você não tem o inglês para a maioria das carreiras. E o que eu acho que aconteceu nesse tempo foi a transformação da sociedade como um todo. A velocidade da informação, do que a internet trouxe para hoje. Muitos têm condições de acessar a internet, se conectando com diferentes lugares do mundo. Então, você começa a ser não mais cidadão brasileiro, mas passa a ser cidadão do mundo, o que exige domínio da língua. Muita gente ainda me fala: ‘Ah, vocês (CNA) têm de ensinar Mandarim, outras línguas’. Quando se coloca isso na perspectiva de negócios, o inglês ainda é extremamente relevante. Você viaja para qualquer lugar do mundo falando inglês e consegue lidar com a comunicação.

O modo de ensino acompanhou essas transformações?

Houve uma transformação também na forma de se ensinar e houve uma transformação na forma de se receber o aprendizado. Ainda há mitos sobre aprendizagem de inglês, infelizmente. Há pessoas que pensam que se aprende com mágica, mas não existe mágica para aprender idiomas. Assim como não existe mágica para resultados na busca pela perda de peso. É preciso se matricular em uma academia e focar na dieta. O resultado está atrelado à dedicação. E o tempo para o aprendizado do inglês depende muito. Dentro de sala, a fluência pode vir a partir de 400 horas/aula. E ainda tem gente que promete ensinar inglês enquanto o aluno está dormindo.

Como vê o avanço das escolas bilíngues no Brasil?

É preciso ter cuidado. Existe escola bilíngue boa no Brasil, que vai dar uma carga horária de, no mínimo, quatro a seis horas por dia para a criança. Só que isso vai custar muito (mais caro), a gente sabe. Mas vale lembrar: existe muita escola que fala que é bilíngue para poder combater o mercado, mas não é na atuação. Tem, no máximo, uma extensão curricular e mais uma hora de inglês. Chegou a acontecer um movimento nessa linha uns anos atrás: pessoas deixaram de matricular nas nossas escolas e buscaram as bilíngues (que não são boas, no ponto de vista dele) e perceberam que o ganho de língua não foi o esperado.

Mesmo com a alta exigência para determinadas carreiras, o ensino de idiomas ainda não atinge todo mundo, correto?

Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes. Acredito que aqui entram dois motivos: o primeiro é que, infelizmente, o brasileiro não persegue com o pragmatismo que deveria essa busca pela fluência na língua inglesa; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês. O mercado de ensino de idiomas no Brasil está focado no público de classes A e B e um pouco da C. E o nosso negócio é visto como consumo discricionário (que não entra como despesa essencial). Vai bem se o nosso setor vai bem. A nossa curva de demanda é bem parecida com o varejo discricionário. Fora que tem muita gente que começa e para. Já ouvi muito as pessoas falarem que não levam jeito. Tem de controlar a ansiedade, precisa de tempo.

Em meio a essas dificuldades de mercado, e pela característica de o negócio ser voltado para classes sociais mais bem remuneradas, existe alguma saída para pessoas das classes C, D e E terem mais acesso ao ensino de idiomas?

Atingimos mais a classe B, mas a gente já tem capilaridade em uma parte da classe C, principalmente a C1. Temos uma mensalidade média de R$ 250 no Brasil. Além do kit de material. De fato, a gente não consegue mergulhar na classe C por questões de preço. E, quando você vai trabalhar com preços mais baixos, é necessário equilíbrio. Para um resultado financeiro positivo, a escola precisa colocar mais alunos dentro da sala de aula. Nossa média atualmente é de 8 alunos por sala. Quando se trabalha com números muito maiores, de 15 a 25, a qualidade do ensino cai, gerando problemas de retenção. O aluno não tem percepção de ganho de aprendizagem e vai embora. A saída (para classes sociais mais baixas terem acesso ao ensino) passa pela situação macroeconômica do País. Quando a gente conseguir consertar a base econômica - e a gente já experimentou isso no Brasil - com certeza, mais pessoas vão ter acesso.

E qual o maior desafio para as escolas, captação ou retenção de alunos?

Durante a pandemia, eu posso afirmar para você que a captação foi um desafio. Nesse período, conseguimos manter os nossos índices de rematrícula, mas a gente teve muito mais dificuldade em angariar novos. 2023 está sendo um ano bom para o setor, com crescimento maior.

Existe muita diferença no ensino de idiomas online ou presencial?

Desde que você consiga transferir a qualidade do que você faz no presencial para o online, não há queda na qualidade. Agora, o que não pode é as empresas usarem o online apenas como facilitação, sem se preocupar com a qualidade. Você consegue absorver conteúdo de qualidade no online. No caso do CNA, trabalhamos com aulas ao vivo, com até 8 alunos na sala, para garantir a mesma qualidade do presencial.

No caso do livro, por que decidiu escrever sobre a própria carreira?

Muita gente me confunde um pouco com a figura do filho do Luiz Gama, fundador do CNA. Eu sou muito próximo dele, de fato, mas não tenho parentesco e, na verdade, não há participação direta da família dele na empresa. O livro desmistifica essa parte. Eu me tornei CEO da empresa há pouco mais de 10 anos, me tornando sócio, após um aporte de um fundo. O sr. Luiz ficou com a participação majoritária na empresa. E eu fui muito incentivado por amigos a escrever esse livro. Um deles chegou a me dizer: ‘se até eu já fiz, por que você não conseguiria?’. (risos). Então, neste contexto de incentivos e para contar a minha história e da empresa, acabei escrevendo.

Decio Pecin, CEO do CNA, no lançamento do livro 'O que você queria saber sobre franchising por quem conhece do assunto' Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

O livro conta com histórias de franqueados do CNA, com entrevistas e relatos, sendo quase um livro-reportagem. Foi pensado desta forma?

Foi pensado assim. Uma das coisas que eu idealizei lá atrás foi que eu queria contar com a ajuda de amigos. O assunto do livro surgiu em um jantar, com cerca de quatro pessoas à mesa, e eu comentei: ‘só faço se vocês me ajudarem a escrever’. O que saiu de tudo isso foi o Décio, pessoa física; depois; a história do CNA; e, mais pra frente, o CNA enquanto o franqueador, trocando experiências com outros franqueadores.

CEO do CNA (Cultural Norte Americano) há mais de 10 anos, Décio Pecin está na sua segunda passagem pela escola de idiomas. Na primeira, responsável pela parte das finanças da empresa, atendeu a pedido do fundador da empresa, Luiz Gama, para ajudar a companhia a se reestruturar financeiramente. Essa história está no livro de Décio, recém-lançado, com o título “O que você queria saber sobre franchising por quem entende do assunto”. Nele, o empresário conta a própria trajetória, passando pelo CNA e pelo modelo de negócio da escola de idiomas: franquias.

Com entrevistas de franqueados e histórias de como a empresa surgiu, Décio mostra como chegou à empresa, fala de sua saída após a primeira passagem - por discordâncias administrativas -,da volta, para ser sócio, e da relação quase que paternal com Gama, ou seo Luiz, como ele costumeiramente o chama nas páginas do livro.

Decio Pecin, CEO do CNA, e Luiz Gama, fundador da marca Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

Outro tema abordado é o ensino de idiomas no Brasil, mais especificamente o inglês. Em metamorfose desde o surgimento do próprio CNA, em 1973 - que completa 50 anos em 2023 -, o que já foi considerado diferencial, segundo Décio, já é algo mínimo, básico, para determinadas carreiras. Principalmente quando falamos de profissionais qualificados - com ensino superior, por exemplo.

“Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes (no País). Acredito que aqui entram dois motivos: infelizmente, o brasileiro não tem tanto pragmatismo para perseguir essa busca pela fluência; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês”, analisa Pecin, em entrevista ao Estadão. A seguir, trechos da entrevista:

Qual o peso do conhecimento em idiomas para a carreira atualmente?

Podemos separar o ensino de inglês em três fases. No início, as pessoas se perguntavam ‘por que preciso aprender inglês?’. Lá na década de 1970, quando começou no Brasil, o inglês era uma coisa muito difícil, para poucos. Depois, começou a ser visto como um diferencial, ali em meados das décadas de 1980 para 1990. Nesse cenário, quem tinha o inglês era diferenciado no mercado de trabalho. Nos dias de hoje, você é diferenciado (negativamente) se você não tem o inglês para a maioria das carreiras. E o que eu acho que aconteceu nesse tempo foi a transformação da sociedade como um todo. A velocidade da informação, do que a internet trouxe para hoje. Muitos têm condições de acessar a internet, se conectando com diferentes lugares do mundo. Então, você começa a ser não mais cidadão brasileiro, mas passa a ser cidadão do mundo, o que exige domínio da língua. Muita gente ainda me fala: ‘Ah, vocês (CNA) têm de ensinar Mandarim, outras línguas’. Quando se coloca isso na perspectiva de negócios, o inglês ainda é extremamente relevante. Você viaja para qualquer lugar do mundo falando inglês e consegue lidar com a comunicação.

O modo de ensino acompanhou essas transformações?

Houve uma transformação também na forma de se ensinar e houve uma transformação na forma de se receber o aprendizado. Ainda há mitos sobre aprendizagem de inglês, infelizmente. Há pessoas que pensam que se aprende com mágica, mas não existe mágica para aprender idiomas. Assim como não existe mágica para resultados na busca pela perda de peso. É preciso se matricular em uma academia e focar na dieta. O resultado está atrelado à dedicação. E o tempo para o aprendizado do inglês depende muito. Dentro de sala, a fluência pode vir a partir de 400 horas/aula. E ainda tem gente que promete ensinar inglês enquanto o aluno está dormindo.

Como vê o avanço das escolas bilíngues no Brasil?

É preciso ter cuidado. Existe escola bilíngue boa no Brasil, que vai dar uma carga horária de, no mínimo, quatro a seis horas por dia para a criança. Só que isso vai custar muito (mais caro), a gente sabe. Mas vale lembrar: existe muita escola que fala que é bilíngue para poder combater o mercado, mas não é na atuação. Tem, no máximo, uma extensão curricular e mais uma hora de inglês. Chegou a acontecer um movimento nessa linha uns anos atrás: pessoas deixaram de matricular nas nossas escolas e buscaram as bilíngues (que não são boas, no ponto de vista dele) e perceberam que o ganho de língua não foi o esperado.

Mesmo com a alta exigência para determinadas carreiras, o ensino de idiomas ainda não atinge todo mundo, correto?

Temos muita oferta de aulas, mas ainda temos um porcentual muito baixo de fluentes. Acredito que aqui entram dois motivos: o primeiro é que, infelizmente, o brasileiro não persegue com o pragmatismo que deveria essa busca pela fluência na língua inglesa; o segundo são questões econômicas, que, realmente, atrapalham o ensino do inglês. O mercado de ensino de idiomas no Brasil está focado no público de classes A e B e um pouco da C. E o nosso negócio é visto como consumo discricionário (que não entra como despesa essencial). Vai bem se o nosso setor vai bem. A nossa curva de demanda é bem parecida com o varejo discricionário. Fora que tem muita gente que começa e para. Já ouvi muito as pessoas falarem que não levam jeito. Tem de controlar a ansiedade, precisa de tempo.

Em meio a essas dificuldades de mercado, e pela característica de o negócio ser voltado para classes sociais mais bem remuneradas, existe alguma saída para pessoas das classes C, D e E terem mais acesso ao ensino de idiomas?

Atingimos mais a classe B, mas a gente já tem capilaridade em uma parte da classe C, principalmente a C1. Temos uma mensalidade média de R$ 250 no Brasil. Além do kit de material. De fato, a gente não consegue mergulhar na classe C por questões de preço. E, quando você vai trabalhar com preços mais baixos, é necessário equilíbrio. Para um resultado financeiro positivo, a escola precisa colocar mais alunos dentro da sala de aula. Nossa média atualmente é de 8 alunos por sala. Quando se trabalha com números muito maiores, de 15 a 25, a qualidade do ensino cai, gerando problemas de retenção. O aluno não tem percepção de ganho de aprendizagem e vai embora. A saída (para classes sociais mais baixas terem acesso ao ensino) passa pela situação macroeconômica do País. Quando a gente conseguir consertar a base econômica - e a gente já experimentou isso no Brasil - com certeza, mais pessoas vão ter acesso.

E qual o maior desafio para as escolas, captação ou retenção de alunos?

Durante a pandemia, eu posso afirmar para você que a captação foi um desafio. Nesse período, conseguimos manter os nossos índices de rematrícula, mas a gente teve muito mais dificuldade em angariar novos. 2023 está sendo um ano bom para o setor, com crescimento maior.

Existe muita diferença no ensino de idiomas online ou presencial?

Desde que você consiga transferir a qualidade do que você faz no presencial para o online, não há queda na qualidade. Agora, o que não pode é as empresas usarem o online apenas como facilitação, sem se preocupar com a qualidade. Você consegue absorver conteúdo de qualidade no online. No caso do CNA, trabalhamos com aulas ao vivo, com até 8 alunos na sala, para garantir a mesma qualidade do presencial.

No caso do livro, por que decidiu escrever sobre a própria carreira?

Muita gente me confunde um pouco com a figura do filho do Luiz Gama, fundador do CNA. Eu sou muito próximo dele, de fato, mas não tenho parentesco e, na verdade, não há participação direta da família dele na empresa. O livro desmistifica essa parte. Eu me tornei CEO da empresa há pouco mais de 10 anos, me tornando sócio, após um aporte de um fundo. O sr. Luiz ficou com a participação majoritária na empresa. E eu fui muito incentivado por amigos a escrever esse livro. Um deles chegou a me dizer: ‘se até eu já fiz, por que você não conseguiria?’. (risos). Então, neste contexto de incentivos e para contar a minha história e da empresa, acabei escrevendo.

Decio Pecin, CEO do CNA, no lançamento do livro 'O que você queria saber sobre franchising por quem conhece do assunto' Foto: Leandro Sfakianakis/Status Color/Divulgação

O livro conta com histórias de franqueados do CNA, com entrevistas e relatos, sendo quase um livro-reportagem. Foi pensado desta forma?

Foi pensado assim. Uma das coisas que eu idealizei lá atrás foi que eu queria contar com a ajuda de amigos. O assunto do livro surgiu em um jantar, com cerca de quatro pessoas à mesa, e eu comentei: ‘só faço se vocês me ajudarem a escrever’. O que saiu de tudo isso foi o Décio, pessoa física; depois; a história do CNA; e, mais pra frente, o CNA enquanto o franqueador, trocando experiências com outros franqueadores.

Entrevista por Felipe Siqueira

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.