Fazer reuniões, falar com pessoas: chefes introvertidos contam como tarefas comuns podem ser um peso


Atividades corriqueiras no mundo corporativo podem ser estressantes para lideranças introvertidas; veja como elas lidam com isso e conheça sugestões de especialistas

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

Nos dias de trabalho presencial, a rotina da head de marca e conteúdo Erica Mansberger, 33, envolve um ritual. Escutar um podcast sem relação com o trabalho enquanto se desloca para o escritório é uma das táticas da profissional para se sentir confortável e relaxada antes de reuniões ou de encontros corporativos com um número considerável de pessoas.

Ela se considera uma líder introvertida. Por isso, as interações prolongadas no trabalho costumam exigir mais energia.

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“Existe um estereótipo do líder que é aquele que se posiciona, toma frente das decisões, é mais expansivo, extrovertido e fala mais. Normalmente, essas pessoas acabam tendo mais oportunidades de promoção, porque as pessoas identificam nela um líder”, diz a educadora corporativa Tábata Lopes.

Lideranças com personalidades extrovertidas representavam 96% do alto escalão dos EUA, conforme estudo dos pesquisadores Deniz Ones e Stephan Dilchert, feito com mais de 4 mil executivos em 2009.

Hoje, 14 anos depois, Tábata Lopes afirma que a percepção de que a introversão é uma barreira à liderança diminuiu, mas ainda não foi superada.

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Ela gasta mais energia ao lidar com muitas pessoas e fazer reuniões

Uma liderança introvertida tem escuta ativa, é observadora, naturalmente mais quieta, reservada e se posiciona somente quando entende que é necessário, conforme descrição da neurocientista e coach executiva Vanessa Cioffi.

São traços que a executiva Erica Mansberger já havia percebido antes mesmo de assumir um cargo de liderança. Talvez por isso, tenha sido mais fácil aprimorar as habilidades e driblar os desafios.

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“Olho para minha semana e tento garantir não chegar no final da semana esgotada. Porque sendo uma introvertida, ao lidar com pessoas e com reuniões, estou sempre gastando a minha energia e não me reenergizando. Acho que esse é o grande desafio de uma pessoa introvertida”, conta a profissional.

Para ficar mais relaxada e confortável, Erica Mansberger, 33, gosta de escutar podcast a caminho do escritório. Foto: Taba Benedicto/Estadão

É no próprio cotidiano que Mansberger busca evidenciar os pontos fortes da sua personalidade. Se por um lado, assumir as rédeas de uma discussão dificilmente vai acontecer, por outro, a capacidade de escuta e de observação se tornam atributos importantes no ambiente de trabalho.

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“Não sou aquela líder que vai levantar a mão na reunião e falar: ‘escuta aqui, vocês estão loucos?’ Sou mais de ponderar, porque escuto e absorvo. As pessoas também vão se acostumando com esse ritmo, não vou interromper ou gritar, vou juntar os argumentos. Mas isso exige priorização”, diz.

É um mito dizer que o introvertido não é um bom gestor ou não gosta de pessoas

Vanessa Cioffi, neurocientista e coach executiva

Participar de eventos menores é uma estratégia

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Assim como a executiva Mansberger, a líder de dados Giulia Wada, 28, sempre dedica uma parte do seu tempo para se preparar com certa antecedência para momentos de interação no trabalho. Costumam ser reuniões, fóruns com liderados e encontros com outros times da startup que trabalha, a Semente Negócios, consultoria de inovação e serviços empresariais.

Wada diz que falar em público não é um problema e até gosta de participar de palestras, mas tem um detalhe: tem de ser para grupos menores.

“Raramente vou estar em um fórum super grande ou vou abrir o microfone em uma reunião online para compartilhar de cara algo que estou elaborando. Gosto mais de ter o meu tempo para refletir e trabalhar em cima”, diz a líder de dados.

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A líder de dados Giulia Wada, 28, nunca gostou de ser o centro das atenções durante apresentações ou reuniões. Prefere observar e refletir sobre o que é dito em espaços de conversas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Outra estratégia é delegar demandas para os membros da equipe liderada por ela. No lugar de tomar frente de todas as funções, escolhe pessoas para apresentar projetos, por exemplo.

“Construo bastante com as pessoas que trabalham comigo, não tomo decisões sozinha imediatamente, trago informações e escuto que as pessoas têm a dizer a respeito do desafio que estamos enfrentando”, relata.

Na época da escola, era um terror apresentar trabalho. Tenho necessidade de sentir que domino bastante o assunto para apresentar. Também procuro ter certeza que as outras pessoas estão confortáveis com o que estão fazendo

Giulia Wada, líder de dados

Não ter o perfil de liderança que fala o tempo todo na reunião permite que Wada explore outras qualidades, como a observação.

Ela presta bastante atenção no que as pessoas compartilham para a partir dali desenvolver métodos na área que trabalha e até criar um projeto novo.

Aprender a ouvir mais do que falar

No caso do publicitário Matheus Brenny, 41, os comportamentos introvertidos surgiram ao longo da vida adulta. Principalmente, após encarar a cadeira de liderança pela primeira vez há mais de 10 anos.

“Meus primeiros liderados tinham idade para ser meu pai. Naquele momento, entendi que precisava muito mais ouvir do que falar. Mas até aprender isso demorou uns 6 meses. Esse foi o grande aprendizado”, relembra o profissional, que chegou a liderar mais de 200 pessoas em uma multinacional.

Atualmente, ele é diretor de vendas do Portão 3, fintech de gestão de pagamentos e controle de gastos para empresas.

"Às vezes, parece que quem fala mais alto ganha o jogo, mas vejo a liderança de forma inversa. É preciso ouvir mais", diz Matheus Brenny. Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, Brenny adotou uma conduta profissional mais reflexiva. Em vez de se comunicar o tempo inteiro e ser o centro das atenções, decidiu fazer o caminho inverso.

“Antes parecia que eu precisava falar muito, ser mais carismático, dar palpite em tudo, tomar todas as decisões sozinho. No fim, aprendi que as pessoas são diferentes e têm vidas diferentes, então precisava muito mais ouvir”, diz.

Na hora de fechar um projeto, é o que menos fala. Enquanto os outros líderes extrovertidos opinam entre si, prefere ficar quieto, reunir as ideias explanadas e conectar tudo que foi dito.

Diversidade de personalidades traz inovação

Na visão da neurocientista Vanessa Cioffi, ter um espaço de trabalho com divergência de opiniões é extremamente saudável para a criação de inovação e criatividade. O problema, segundo Cioffi, é que as pessoas não estão preparadas para lidar com conflito de opiniões.

“Ter um ambiente de neurodiversidade, que não é visível aos olhos, é extremamente enriquecedor, mas as pessoas têm que aprender a escutar e não imaginar que o outro está discordando dela”, afirma.

O equilíbrio é alcançado com um pouco dois mundos: líderes extrovertidos e introvertidos. Mas as duas personalidades devem identificar onde se destacam.

A neurocientista explica que, se o líder extrovertido não trabalha a forma como se posiciona diante das pessoas, pode se tornar prolixo. Já o introvertido, tende a ficar muito quieto caso não treine.

Habilidades que líderes introvertidos devem desenvolver

O caminho recomendado por especialistas é o de evidenciar os pontos fortes dos líderes com essa personalidade. Veja dicas que podem ajudar a pessoa introvertida no ambiente de trabalho.

1) Escuta ativa

  • Se você é uma liderança introvertida, naturalmente tem mais facilidade em escutar e dificilmente vai interromper algum colega de trabalho. Para conseguir desenvolver essa habilidade, não existe segredo. É necessário treino e prática, orienta a educadora corporativa Tábata Lopes. “Também é preciso ter estado de presença. Hoje, a dificuldade é se livrar das distrações. Então, naquele momento da escuta, a pessoa mais importante é quem está na sua frente.”
  • Além disso, é indicado se livrar de qualquer tipo de julgamento. Enquanto ouve a pessoa, evite ficar pensando no que vai responder. Foque 100% no que está sendo dito. No último estágio da escuta, produza reflexões e perguntas inteligentes para que o interlocutor consiga gerar novas ideias.
  • No ambiente de trabalho a escuta ativa pode acontecer durante uma conversa sobre um determinado projeto, por exemplo. “O liderado precisa saber que tem esse espaço de escuta, porque se o líder nunca tem tempo para ouvir, uma hora ele vai deixar de procurar. Então, existem momentos que não está podendo falar, mas agenda para outro horário”, indica a educadora corporativa.

2) Pensamento estratégico e analítico

  • É basicamente entender a dinâmica da empresa, do mercado e as variáveis para que seja possível contribuir para as metas da corporação. “O líder que tem essa habilidade consegue ter uma visão 360º do negócio para compreender qual é a melhor tomada de decisão, qual é o melhor caminho a seguir e qual é a melhor direção a dar para a equipe”, ressalta Tábata Lopes.
  • Aprimorar essa qualidade exige investimento financeiro e tempo e é alcançado por meio de estudos, atualizando-se e ouvindo os stakeholders, os clientes, os liderados, todas as partes interessadas.

3) Ser um bom comunicador

  • O líder não precisa falar muito ou ser o porta-voz da equipe. “A liderança pode usar, por exemplo, de uma boa comunicação na escrita, desde que seja eficaz”, sugere a educadora corporativa. A posição mais reservada de pessoas introvertidas abre a possibilidade para o time ter mais visibilidade.
  • “Um líder com uma comunicação assertiva sabe gerir pessoas, identificar talentos e fazer com que todo mundo trabalhe na direção de crescimento e formulação estratégica da empresa. Isso é ser líder. Tem que deixar de ser operacional e se tornar mais estratégico”, afirma Vanessa Cioffi.

Nos dias de trabalho presencial, a rotina da head de marca e conteúdo Erica Mansberger, 33, envolve um ritual. Escutar um podcast sem relação com o trabalho enquanto se desloca para o escritório é uma das táticas da profissional para se sentir confortável e relaxada antes de reuniões ou de encontros corporativos com um número considerável de pessoas.

Ela se considera uma líder introvertida. Por isso, as interações prolongadas no trabalho costumam exigir mais energia.

“Existe um estereótipo do líder que é aquele que se posiciona, toma frente das decisões, é mais expansivo, extrovertido e fala mais. Normalmente, essas pessoas acabam tendo mais oportunidades de promoção, porque as pessoas identificam nela um líder”, diz a educadora corporativa Tábata Lopes.

Lideranças com personalidades extrovertidas representavam 96% do alto escalão dos EUA, conforme estudo dos pesquisadores Deniz Ones e Stephan Dilchert, feito com mais de 4 mil executivos em 2009.

Hoje, 14 anos depois, Tábata Lopes afirma que a percepção de que a introversão é uma barreira à liderança diminuiu, mas ainda não foi superada.

Ela gasta mais energia ao lidar com muitas pessoas e fazer reuniões

Uma liderança introvertida tem escuta ativa, é observadora, naturalmente mais quieta, reservada e se posiciona somente quando entende que é necessário, conforme descrição da neurocientista e coach executiva Vanessa Cioffi.

São traços que a executiva Erica Mansberger já havia percebido antes mesmo de assumir um cargo de liderança. Talvez por isso, tenha sido mais fácil aprimorar as habilidades e driblar os desafios.

“Olho para minha semana e tento garantir não chegar no final da semana esgotada. Porque sendo uma introvertida, ao lidar com pessoas e com reuniões, estou sempre gastando a minha energia e não me reenergizando. Acho que esse é o grande desafio de uma pessoa introvertida”, conta a profissional.

Para ficar mais relaxada e confortável, Erica Mansberger, 33, gosta de escutar podcast a caminho do escritório. Foto: Taba Benedicto/Estadão

É no próprio cotidiano que Mansberger busca evidenciar os pontos fortes da sua personalidade. Se por um lado, assumir as rédeas de uma discussão dificilmente vai acontecer, por outro, a capacidade de escuta e de observação se tornam atributos importantes no ambiente de trabalho.

“Não sou aquela líder que vai levantar a mão na reunião e falar: ‘escuta aqui, vocês estão loucos?’ Sou mais de ponderar, porque escuto e absorvo. As pessoas também vão se acostumando com esse ritmo, não vou interromper ou gritar, vou juntar os argumentos. Mas isso exige priorização”, diz.

É um mito dizer que o introvertido não é um bom gestor ou não gosta de pessoas

Vanessa Cioffi, neurocientista e coach executiva

Participar de eventos menores é uma estratégia

Assim como a executiva Mansberger, a líder de dados Giulia Wada, 28, sempre dedica uma parte do seu tempo para se preparar com certa antecedência para momentos de interação no trabalho. Costumam ser reuniões, fóruns com liderados e encontros com outros times da startup que trabalha, a Semente Negócios, consultoria de inovação e serviços empresariais.

Wada diz que falar em público não é um problema e até gosta de participar de palestras, mas tem um detalhe: tem de ser para grupos menores.

“Raramente vou estar em um fórum super grande ou vou abrir o microfone em uma reunião online para compartilhar de cara algo que estou elaborando. Gosto mais de ter o meu tempo para refletir e trabalhar em cima”, diz a líder de dados.

A líder de dados Giulia Wada, 28, nunca gostou de ser o centro das atenções durante apresentações ou reuniões. Prefere observar e refletir sobre o que é dito em espaços de conversas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Outra estratégia é delegar demandas para os membros da equipe liderada por ela. No lugar de tomar frente de todas as funções, escolhe pessoas para apresentar projetos, por exemplo.

“Construo bastante com as pessoas que trabalham comigo, não tomo decisões sozinha imediatamente, trago informações e escuto que as pessoas têm a dizer a respeito do desafio que estamos enfrentando”, relata.

Na época da escola, era um terror apresentar trabalho. Tenho necessidade de sentir que domino bastante o assunto para apresentar. Também procuro ter certeza que as outras pessoas estão confortáveis com o que estão fazendo

Giulia Wada, líder de dados

Não ter o perfil de liderança que fala o tempo todo na reunião permite que Wada explore outras qualidades, como a observação.

Ela presta bastante atenção no que as pessoas compartilham para a partir dali desenvolver métodos na área que trabalha e até criar um projeto novo.

Aprender a ouvir mais do que falar

No caso do publicitário Matheus Brenny, 41, os comportamentos introvertidos surgiram ao longo da vida adulta. Principalmente, após encarar a cadeira de liderança pela primeira vez há mais de 10 anos.

“Meus primeiros liderados tinham idade para ser meu pai. Naquele momento, entendi que precisava muito mais ouvir do que falar. Mas até aprender isso demorou uns 6 meses. Esse foi o grande aprendizado”, relembra o profissional, que chegou a liderar mais de 200 pessoas em uma multinacional.

Atualmente, ele é diretor de vendas do Portão 3, fintech de gestão de pagamentos e controle de gastos para empresas.

"Às vezes, parece que quem fala mais alto ganha o jogo, mas vejo a liderança de forma inversa. É preciso ouvir mais", diz Matheus Brenny. Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, Brenny adotou uma conduta profissional mais reflexiva. Em vez de se comunicar o tempo inteiro e ser o centro das atenções, decidiu fazer o caminho inverso.

“Antes parecia que eu precisava falar muito, ser mais carismático, dar palpite em tudo, tomar todas as decisões sozinho. No fim, aprendi que as pessoas são diferentes e têm vidas diferentes, então precisava muito mais ouvir”, diz.

Na hora de fechar um projeto, é o que menos fala. Enquanto os outros líderes extrovertidos opinam entre si, prefere ficar quieto, reunir as ideias explanadas e conectar tudo que foi dito.

Diversidade de personalidades traz inovação

Na visão da neurocientista Vanessa Cioffi, ter um espaço de trabalho com divergência de opiniões é extremamente saudável para a criação de inovação e criatividade. O problema, segundo Cioffi, é que as pessoas não estão preparadas para lidar com conflito de opiniões.

“Ter um ambiente de neurodiversidade, que não é visível aos olhos, é extremamente enriquecedor, mas as pessoas têm que aprender a escutar e não imaginar que o outro está discordando dela”, afirma.

O equilíbrio é alcançado com um pouco dois mundos: líderes extrovertidos e introvertidos. Mas as duas personalidades devem identificar onde se destacam.

A neurocientista explica que, se o líder extrovertido não trabalha a forma como se posiciona diante das pessoas, pode se tornar prolixo. Já o introvertido, tende a ficar muito quieto caso não treine.

Habilidades que líderes introvertidos devem desenvolver

O caminho recomendado por especialistas é o de evidenciar os pontos fortes dos líderes com essa personalidade. Veja dicas que podem ajudar a pessoa introvertida no ambiente de trabalho.

1) Escuta ativa

  • Se você é uma liderança introvertida, naturalmente tem mais facilidade em escutar e dificilmente vai interromper algum colega de trabalho. Para conseguir desenvolver essa habilidade, não existe segredo. É necessário treino e prática, orienta a educadora corporativa Tábata Lopes. “Também é preciso ter estado de presença. Hoje, a dificuldade é se livrar das distrações. Então, naquele momento da escuta, a pessoa mais importante é quem está na sua frente.”
  • Além disso, é indicado se livrar de qualquer tipo de julgamento. Enquanto ouve a pessoa, evite ficar pensando no que vai responder. Foque 100% no que está sendo dito. No último estágio da escuta, produza reflexões e perguntas inteligentes para que o interlocutor consiga gerar novas ideias.
  • No ambiente de trabalho a escuta ativa pode acontecer durante uma conversa sobre um determinado projeto, por exemplo. “O liderado precisa saber que tem esse espaço de escuta, porque se o líder nunca tem tempo para ouvir, uma hora ele vai deixar de procurar. Então, existem momentos que não está podendo falar, mas agenda para outro horário”, indica a educadora corporativa.

2) Pensamento estratégico e analítico

  • É basicamente entender a dinâmica da empresa, do mercado e as variáveis para que seja possível contribuir para as metas da corporação. “O líder que tem essa habilidade consegue ter uma visão 360º do negócio para compreender qual é a melhor tomada de decisão, qual é o melhor caminho a seguir e qual é a melhor direção a dar para a equipe”, ressalta Tábata Lopes.
  • Aprimorar essa qualidade exige investimento financeiro e tempo e é alcançado por meio de estudos, atualizando-se e ouvindo os stakeholders, os clientes, os liderados, todas as partes interessadas.

3) Ser um bom comunicador

  • O líder não precisa falar muito ou ser o porta-voz da equipe. “A liderança pode usar, por exemplo, de uma boa comunicação na escrita, desde que seja eficaz”, sugere a educadora corporativa. A posição mais reservada de pessoas introvertidas abre a possibilidade para o time ter mais visibilidade.
  • “Um líder com uma comunicação assertiva sabe gerir pessoas, identificar talentos e fazer com que todo mundo trabalhe na direção de crescimento e formulação estratégica da empresa. Isso é ser líder. Tem que deixar de ser operacional e se tornar mais estratégico”, afirma Vanessa Cioffi.

Nos dias de trabalho presencial, a rotina da head de marca e conteúdo Erica Mansberger, 33, envolve um ritual. Escutar um podcast sem relação com o trabalho enquanto se desloca para o escritório é uma das táticas da profissional para se sentir confortável e relaxada antes de reuniões ou de encontros corporativos com um número considerável de pessoas.

Ela se considera uma líder introvertida. Por isso, as interações prolongadas no trabalho costumam exigir mais energia.

“Existe um estereótipo do líder que é aquele que se posiciona, toma frente das decisões, é mais expansivo, extrovertido e fala mais. Normalmente, essas pessoas acabam tendo mais oportunidades de promoção, porque as pessoas identificam nela um líder”, diz a educadora corporativa Tábata Lopes.

Lideranças com personalidades extrovertidas representavam 96% do alto escalão dos EUA, conforme estudo dos pesquisadores Deniz Ones e Stephan Dilchert, feito com mais de 4 mil executivos em 2009.

Hoje, 14 anos depois, Tábata Lopes afirma que a percepção de que a introversão é uma barreira à liderança diminuiu, mas ainda não foi superada.

Ela gasta mais energia ao lidar com muitas pessoas e fazer reuniões

Uma liderança introvertida tem escuta ativa, é observadora, naturalmente mais quieta, reservada e se posiciona somente quando entende que é necessário, conforme descrição da neurocientista e coach executiva Vanessa Cioffi.

São traços que a executiva Erica Mansberger já havia percebido antes mesmo de assumir um cargo de liderança. Talvez por isso, tenha sido mais fácil aprimorar as habilidades e driblar os desafios.

“Olho para minha semana e tento garantir não chegar no final da semana esgotada. Porque sendo uma introvertida, ao lidar com pessoas e com reuniões, estou sempre gastando a minha energia e não me reenergizando. Acho que esse é o grande desafio de uma pessoa introvertida”, conta a profissional.

Para ficar mais relaxada e confortável, Erica Mansberger, 33, gosta de escutar podcast a caminho do escritório. Foto: Taba Benedicto/Estadão

É no próprio cotidiano que Mansberger busca evidenciar os pontos fortes da sua personalidade. Se por um lado, assumir as rédeas de uma discussão dificilmente vai acontecer, por outro, a capacidade de escuta e de observação se tornam atributos importantes no ambiente de trabalho.

“Não sou aquela líder que vai levantar a mão na reunião e falar: ‘escuta aqui, vocês estão loucos?’ Sou mais de ponderar, porque escuto e absorvo. As pessoas também vão se acostumando com esse ritmo, não vou interromper ou gritar, vou juntar os argumentos. Mas isso exige priorização”, diz.

É um mito dizer que o introvertido não é um bom gestor ou não gosta de pessoas

Vanessa Cioffi, neurocientista e coach executiva

Participar de eventos menores é uma estratégia

Assim como a executiva Mansberger, a líder de dados Giulia Wada, 28, sempre dedica uma parte do seu tempo para se preparar com certa antecedência para momentos de interação no trabalho. Costumam ser reuniões, fóruns com liderados e encontros com outros times da startup que trabalha, a Semente Negócios, consultoria de inovação e serviços empresariais.

Wada diz que falar em público não é um problema e até gosta de participar de palestras, mas tem um detalhe: tem de ser para grupos menores.

“Raramente vou estar em um fórum super grande ou vou abrir o microfone em uma reunião online para compartilhar de cara algo que estou elaborando. Gosto mais de ter o meu tempo para refletir e trabalhar em cima”, diz a líder de dados.

A líder de dados Giulia Wada, 28, nunca gostou de ser o centro das atenções durante apresentações ou reuniões. Prefere observar e refletir sobre o que é dito em espaços de conversas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Outra estratégia é delegar demandas para os membros da equipe liderada por ela. No lugar de tomar frente de todas as funções, escolhe pessoas para apresentar projetos, por exemplo.

“Construo bastante com as pessoas que trabalham comigo, não tomo decisões sozinha imediatamente, trago informações e escuto que as pessoas têm a dizer a respeito do desafio que estamos enfrentando”, relata.

Na época da escola, era um terror apresentar trabalho. Tenho necessidade de sentir que domino bastante o assunto para apresentar. Também procuro ter certeza que as outras pessoas estão confortáveis com o que estão fazendo

Giulia Wada, líder de dados

Não ter o perfil de liderança que fala o tempo todo na reunião permite que Wada explore outras qualidades, como a observação.

Ela presta bastante atenção no que as pessoas compartilham para a partir dali desenvolver métodos na área que trabalha e até criar um projeto novo.

Aprender a ouvir mais do que falar

No caso do publicitário Matheus Brenny, 41, os comportamentos introvertidos surgiram ao longo da vida adulta. Principalmente, após encarar a cadeira de liderança pela primeira vez há mais de 10 anos.

“Meus primeiros liderados tinham idade para ser meu pai. Naquele momento, entendi que precisava muito mais ouvir do que falar. Mas até aprender isso demorou uns 6 meses. Esse foi o grande aprendizado”, relembra o profissional, que chegou a liderar mais de 200 pessoas em uma multinacional.

Atualmente, ele é diretor de vendas do Portão 3, fintech de gestão de pagamentos e controle de gastos para empresas.

"Às vezes, parece que quem fala mais alto ganha o jogo, mas vejo a liderança de forma inversa. É preciso ouvir mais", diz Matheus Brenny. Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, Brenny adotou uma conduta profissional mais reflexiva. Em vez de se comunicar o tempo inteiro e ser o centro das atenções, decidiu fazer o caminho inverso.

“Antes parecia que eu precisava falar muito, ser mais carismático, dar palpite em tudo, tomar todas as decisões sozinho. No fim, aprendi que as pessoas são diferentes e têm vidas diferentes, então precisava muito mais ouvir”, diz.

Na hora de fechar um projeto, é o que menos fala. Enquanto os outros líderes extrovertidos opinam entre si, prefere ficar quieto, reunir as ideias explanadas e conectar tudo que foi dito.

Diversidade de personalidades traz inovação

Na visão da neurocientista Vanessa Cioffi, ter um espaço de trabalho com divergência de opiniões é extremamente saudável para a criação de inovação e criatividade. O problema, segundo Cioffi, é que as pessoas não estão preparadas para lidar com conflito de opiniões.

“Ter um ambiente de neurodiversidade, que não é visível aos olhos, é extremamente enriquecedor, mas as pessoas têm que aprender a escutar e não imaginar que o outro está discordando dela”, afirma.

O equilíbrio é alcançado com um pouco dois mundos: líderes extrovertidos e introvertidos. Mas as duas personalidades devem identificar onde se destacam.

A neurocientista explica que, se o líder extrovertido não trabalha a forma como se posiciona diante das pessoas, pode se tornar prolixo. Já o introvertido, tende a ficar muito quieto caso não treine.

Habilidades que líderes introvertidos devem desenvolver

O caminho recomendado por especialistas é o de evidenciar os pontos fortes dos líderes com essa personalidade. Veja dicas que podem ajudar a pessoa introvertida no ambiente de trabalho.

1) Escuta ativa

  • Se você é uma liderança introvertida, naturalmente tem mais facilidade em escutar e dificilmente vai interromper algum colega de trabalho. Para conseguir desenvolver essa habilidade, não existe segredo. É necessário treino e prática, orienta a educadora corporativa Tábata Lopes. “Também é preciso ter estado de presença. Hoje, a dificuldade é se livrar das distrações. Então, naquele momento da escuta, a pessoa mais importante é quem está na sua frente.”
  • Além disso, é indicado se livrar de qualquer tipo de julgamento. Enquanto ouve a pessoa, evite ficar pensando no que vai responder. Foque 100% no que está sendo dito. No último estágio da escuta, produza reflexões e perguntas inteligentes para que o interlocutor consiga gerar novas ideias.
  • No ambiente de trabalho a escuta ativa pode acontecer durante uma conversa sobre um determinado projeto, por exemplo. “O liderado precisa saber que tem esse espaço de escuta, porque se o líder nunca tem tempo para ouvir, uma hora ele vai deixar de procurar. Então, existem momentos que não está podendo falar, mas agenda para outro horário”, indica a educadora corporativa.

2) Pensamento estratégico e analítico

  • É basicamente entender a dinâmica da empresa, do mercado e as variáveis para que seja possível contribuir para as metas da corporação. “O líder que tem essa habilidade consegue ter uma visão 360º do negócio para compreender qual é a melhor tomada de decisão, qual é o melhor caminho a seguir e qual é a melhor direção a dar para a equipe”, ressalta Tábata Lopes.
  • Aprimorar essa qualidade exige investimento financeiro e tempo e é alcançado por meio de estudos, atualizando-se e ouvindo os stakeholders, os clientes, os liderados, todas as partes interessadas.

3) Ser um bom comunicador

  • O líder não precisa falar muito ou ser o porta-voz da equipe. “A liderança pode usar, por exemplo, de uma boa comunicação na escrita, desde que seja eficaz”, sugere a educadora corporativa. A posição mais reservada de pessoas introvertidas abre a possibilidade para o time ter mais visibilidade.
  • “Um líder com uma comunicação assertiva sabe gerir pessoas, identificar talentos e fazer com que todo mundo trabalhe na direção de crescimento e formulação estratégica da empresa. Isso é ser líder. Tem que deixar de ser operacional e se tornar mais estratégico”, afirma Vanessa Cioffi.

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