'Mercado de trabalho acima dos 50 anos é muito mais que CLT', diz especialista


Para Mórris Litvak, CEO da Maturi e que participou de bate-papo no Telegram, empresas passaram a olhar mais para longevidade e diversidade etária, mas profissionais devem se atualizar

Por Ludimila Honorato

As empresas já perceberam que necessitam ficar atentas à contratação de pessoas maduras, profissionais com mais de 50 anos de idade que frequentemente encontram barreiras para se inserirem no mercado de trabalho. Porém, o cenário ainda é desafiador, pois o assunto não é tratado - ainda - como prioridade. Do lado de quem está em busca dessa oportunidade, muitas dúvidas podem surgir: Preciso colocar toda minha experiência no currículo? Como fica a adaptação ao home office e novas tecnologias? Como minimizar conflitos geracionais?

Essas e outras dúvidas foram respondidas por Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, nesta quinta-feira, 11, durante um bate-papo no grupo de discussão no Telegram do Sua Carreira. Atuando com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas com mais de 50 anos, o especialista contou que, felizmente, posições mais estratégicas estão aparecendo para esse público, embora os setores de serviço e varejo sejam mais abertos.

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Confira, a seguir, as respostas às perguntas que foram enviadas na plataforma pelos integrantes do grupo, que é aberto ao público. Você também pode participar das próximas ações, entrando para o grupo aqui.

Tem mercado de trabalho para pessoas acima dos 50 anos? As empresas buscam profissionais nessa faixa etária para qualquer posição?

De forma geral, está difícil até para os jovens, e especialmente para os 50+. Porém, eu vejo um movimento das empresas, principalmente as grandes, já estarem começando a olhar para a questão da diversidade etária. Começam trazendo a discussão para dentro e, depois, com uma conscientização, algumas passam a incluir mais os mais velhos em seus processos seletivos de forma geral ou em programas específicos (muitas vezes pilotos).

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O fato é que, como as empresas sabem que a população – e seu público consumidor – está envelhecendo, já entenderam que em algum momento terão de olhar para essa questão e fazer ações efetivas, mas ainda não é a prioridade. Isso falando de emprego, mas o mercado de trabalho é muito mais do que a CLT. E nesse sentido, eu vejo muito mais oportunidades hoje em dia para os 50+ atuando como autônomos, consultores, freelancers, empreendedores. Por isso a atualização é tão importante.

Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, empresa que atua com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas 50+ no mercado de trabalho. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como está o mercado para maduros em São José dos Campos (SP)? Sempre ouvi falar em se 'reinventar', mas não é um processo assim tão simples.

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Não conheço particularmente o mercado local de São José dos Campos, mas percebo que no Estado de São Paulo como um todo a situação é melhor do que na maior parte dos outros Estados do Brasil. Ou, talvez, seja mais correto falar “menos ruim”. Nos grandes centros urbanos acabam aparecendo mais oportunidades logicamente, mas hoje em dia, com o trabalho remoto, isso tem mudado.

E com certeza se reinventar não é um processo simples, mas é necessário. Como nós estamos vivendo mais, e o mercado de trabalho está mudando muito, quem não se adaptar ficará para trás. Portanto, é preciso começar. Isso passa muito por autoconhecimento, entendendo o que faz sentido para você nessa fase da vida, atualização técnica e comportamental contínua (o tal do lifelong learning), planejamento, networking ativo e humildade.

É um processo longo e que talvez nunca acabe. O mundo mudou e, se a gente não mudar também, será mais difícil. Mas o mais importante é: nunca é tarde para recomeçar. Se tiver dificuldade, peça ajuda, procure profissionais. Não é algo natural e portanto não será simples, mas é totalmente possível em qualquer idade.

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Quais são as áreas que mais aceitam e valorizam os profissionais com mais de 50 anos? Há um segmento que está conseguindo absorver mais esta geração?

Tenho percebido o setor de serviços e o varejo mais abertos aos maduros. Mas a Maturi atende empresas de todos os tamanhos e segmentos, que nos procuram interessadas em contratar 50+. A maior parte das posições costuma ser operacional, como vendas e atendimento ao cliente, mas vejo, aos poucos, mais posições estratégicas aparecendo também, felizmente.

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Sobre a atualização de conhecimentos, quais seriam os temas a serem estudados prioritariamente, visando minimizar conflitos de gerações?

Além da atualização técnica, que passa por tecnologia essencialmente, mas também as demais habilidades que a sua profissão demanda, a atualização comportamental é fundamental. Ou seja, para lidar com diferentes gerações, é preciso estar aberto a aprender com os mais jovens e inclusive ser gerido por eles. Portanto: muita humildade. Afinal, por mais experiência que tenhamos, e tudo o que temos para ensinar, sempre teremos muito a aprender.

Além disso, hoje o ambiente de trabalho é muito mais diverso e colaborativo, além de horizontal, então é importante entender essa nova dinâmica e saber atuar desta forma. Você precisa se valorizar, trabalhar a autoestima, mas sempre aberto para novos aprendizados e a se adaptar, aceitando o diferente

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Como fica o currículo de alguém com mais de 50 anos? Coloca-se tudo no CV, inclusive a idade?

Minha recomendação é evitar colocar informações pessoais que não sejam estritamente necessárias. Empresas que já trabalham o tema de diversidade e inclusão tendem a olhar mais para as habilidades do que seus dados. Isso, num primeiro momento, faz com que o foco seja na sua experiência e seu perfil, o que é muito positivo.

Mas é claro que ao avançar no processo seletivo e, eventualmente, chegar a uma entrevista, não tem como omitir a faixa etária. Por isso, é importante que você esteja preparado, começando com um currículo sucinto com foco nas suas realizações, especializações e principais experiências, e que sua candidatura tenha "fit" com o seu perfil. Depois, na entrevista, é importante você conhecer a fundo a posição, a empresa, e estar segura de si, demonstrando que a idade não é um empecilho para você conquistar aquela vaga; pelo contrário, ela é um diferencial.

Os 50+ sempre são depreciados nas vagas. Isso é ainda um 'ranço' do passado ou as empresas não querem agregar mais conhecimento vindo de experiências extracurriculares?

Ainda tem bastante preconceito etário no mercado de trabalho, sim. Ao meu ver, não se trata de "ranço", e sim algo cultural, mas que aos poucos começa a mudar. Se a empresa não quer pessoas maduras, não é a empresa certa para você.

Como abrir espaço para uma nova classe se o desemprego segue afligindo as tradicionais, em especial os novos entrantes?

Conscientizando as empresas, influenciando o poder público a olhar para a questão, capacitando os profissionais e incentivando e auxiliando o empreendedorismo.

Como o mercado está reagindo para a contratação dos 50+ em home office?

O mercado está reagindo muito bem ao home office, e eu acho isso muito positivo para os 50+, já que nesta dinâmica os gestores estão passando a se preocupar mais na entrega e qualidade do trabalho e dos combinados do que em quem está realizando. Era uma tendência que estava começando a crescer e virou regra com a pandemia.

Esse grupo etário estaria favorecido ou não pelo novo modelo de trabalho?

O trabalho em home-office facilita a diversidade e traz uma responsabilidade de autogestão e comprometimento grandes dos colaboradores, o que costuma ser característica das pessoas mais maduras. Portanto, eu acho que é uma ótima oportunidade para os 50+ que estão atualizados e gostam, sabem trabalhar remotamente. Inclusive, muitas empresas continuam demitindo pessoas mais velhas em posições que tem de ser presenciais por serem grupo de risco, mas essa desculpa não existe no trabalho via home office.

Qual é o panorama de médio e longo prazos para integração dos 60+ com as novas tecnologias digitais, o home office, o empreendedorismo e as atividades criativas autônomas?

Eu vejo como um caminho sem volta e de forma positiva, pois abre muitas possibilidades e novas oportunidades, principalmente para quem trabalha por conta própria, que pode oferecer seus produtos e serviços para outras pessoas e empresas em qualquer lugar do Brasil e até de fora! Hoje não há mais limite geográfico para se trabalhar e com a revolução que o mercado de trabalho está passando, tanto comportamental quanto tecnológica, profissões deixam de existir e novas profissões são criadas a todo o tempo.

Por isso estar aberto à essas novidades, aprendendo o tempo todo, interagindo com os jovens, usando as mídias digitais de forma profissional, trabalhando com propósito e em rede (através de parcerias) são fundamentais para se ter sucesso nesse modelo.

Quer debater assuntos de Carreiras e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo. Se quiser apenas receber notícias, participe da nossa lista de distribuição por esse link ou digite @canalsuacarreira na barra de pesquisa.

As empresas já perceberam que necessitam ficar atentas à contratação de pessoas maduras, profissionais com mais de 50 anos de idade que frequentemente encontram barreiras para se inserirem no mercado de trabalho. Porém, o cenário ainda é desafiador, pois o assunto não é tratado - ainda - como prioridade. Do lado de quem está em busca dessa oportunidade, muitas dúvidas podem surgir: Preciso colocar toda minha experiência no currículo? Como fica a adaptação ao home office e novas tecnologias? Como minimizar conflitos geracionais?

Essas e outras dúvidas foram respondidas por Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, nesta quinta-feira, 11, durante um bate-papo no grupo de discussão no Telegram do Sua Carreira. Atuando com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas com mais de 50 anos, o especialista contou que, felizmente, posições mais estratégicas estão aparecendo para esse público, embora os setores de serviço e varejo sejam mais abertos.

Confira, a seguir, as respostas às perguntas que foram enviadas na plataforma pelos integrantes do grupo, que é aberto ao público. Você também pode participar das próximas ações, entrando para o grupo aqui.

Tem mercado de trabalho para pessoas acima dos 50 anos? As empresas buscam profissionais nessa faixa etária para qualquer posição?

De forma geral, está difícil até para os jovens, e especialmente para os 50+. Porém, eu vejo um movimento das empresas, principalmente as grandes, já estarem começando a olhar para a questão da diversidade etária. Começam trazendo a discussão para dentro e, depois, com uma conscientização, algumas passam a incluir mais os mais velhos em seus processos seletivos de forma geral ou em programas específicos (muitas vezes pilotos).

O fato é que, como as empresas sabem que a população – e seu público consumidor – está envelhecendo, já entenderam que em algum momento terão de olhar para essa questão e fazer ações efetivas, mas ainda não é a prioridade. Isso falando de emprego, mas o mercado de trabalho é muito mais do que a CLT. E nesse sentido, eu vejo muito mais oportunidades hoje em dia para os 50+ atuando como autônomos, consultores, freelancers, empreendedores. Por isso a atualização é tão importante.

Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, empresa que atua com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas 50+ no mercado de trabalho. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como está o mercado para maduros em São José dos Campos (SP)? Sempre ouvi falar em se 'reinventar', mas não é um processo assim tão simples.

Não conheço particularmente o mercado local de São José dos Campos, mas percebo que no Estado de São Paulo como um todo a situação é melhor do que na maior parte dos outros Estados do Brasil. Ou, talvez, seja mais correto falar “menos ruim”. Nos grandes centros urbanos acabam aparecendo mais oportunidades logicamente, mas hoje em dia, com o trabalho remoto, isso tem mudado.

E com certeza se reinventar não é um processo simples, mas é necessário. Como nós estamos vivendo mais, e o mercado de trabalho está mudando muito, quem não se adaptar ficará para trás. Portanto, é preciso começar. Isso passa muito por autoconhecimento, entendendo o que faz sentido para você nessa fase da vida, atualização técnica e comportamental contínua (o tal do lifelong learning), planejamento, networking ativo e humildade.

É um processo longo e que talvez nunca acabe. O mundo mudou e, se a gente não mudar também, será mais difícil. Mas o mais importante é: nunca é tarde para recomeçar. Se tiver dificuldade, peça ajuda, procure profissionais. Não é algo natural e portanto não será simples, mas é totalmente possível em qualquer idade.

Quais são as áreas que mais aceitam e valorizam os profissionais com mais de 50 anos? Há um segmento que está conseguindo absorver mais esta geração?

Tenho percebido o setor de serviços e o varejo mais abertos aos maduros. Mas a Maturi atende empresas de todos os tamanhos e segmentos, que nos procuram interessadas em contratar 50+. A maior parte das posições costuma ser operacional, como vendas e atendimento ao cliente, mas vejo, aos poucos, mais posições estratégicas aparecendo também, felizmente.

Sobre a atualização de conhecimentos, quais seriam os temas a serem estudados prioritariamente, visando minimizar conflitos de gerações?

Além da atualização técnica, que passa por tecnologia essencialmente, mas também as demais habilidades que a sua profissão demanda, a atualização comportamental é fundamental. Ou seja, para lidar com diferentes gerações, é preciso estar aberto a aprender com os mais jovens e inclusive ser gerido por eles. Portanto: muita humildade. Afinal, por mais experiência que tenhamos, e tudo o que temos para ensinar, sempre teremos muito a aprender.

Além disso, hoje o ambiente de trabalho é muito mais diverso e colaborativo, além de horizontal, então é importante entender essa nova dinâmica e saber atuar desta forma. Você precisa se valorizar, trabalhar a autoestima, mas sempre aberto para novos aprendizados e a se adaptar, aceitando o diferente

Como fica o currículo de alguém com mais de 50 anos? Coloca-se tudo no CV, inclusive a idade?

Minha recomendação é evitar colocar informações pessoais que não sejam estritamente necessárias. Empresas que já trabalham o tema de diversidade e inclusão tendem a olhar mais para as habilidades do que seus dados. Isso, num primeiro momento, faz com que o foco seja na sua experiência e seu perfil, o que é muito positivo.

Mas é claro que ao avançar no processo seletivo e, eventualmente, chegar a uma entrevista, não tem como omitir a faixa etária. Por isso, é importante que você esteja preparado, começando com um currículo sucinto com foco nas suas realizações, especializações e principais experiências, e que sua candidatura tenha "fit" com o seu perfil. Depois, na entrevista, é importante você conhecer a fundo a posição, a empresa, e estar segura de si, demonstrando que a idade não é um empecilho para você conquistar aquela vaga; pelo contrário, ela é um diferencial.

Os 50+ sempre são depreciados nas vagas. Isso é ainda um 'ranço' do passado ou as empresas não querem agregar mais conhecimento vindo de experiências extracurriculares?

Ainda tem bastante preconceito etário no mercado de trabalho, sim. Ao meu ver, não se trata de "ranço", e sim algo cultural, mas que aos poucos começa a mudar. Se a empresa não quer pessoas maduras, não é a empresa certa para você.

Como abrir espaço para uma nova classe se o desemprego segue afligindo as tradicionais, em especial os novos entrantes?

Conscientizando as empresas, influenciando o poder público a olhar para a questão, capacitando os profissionais e incentivando e auxiliando o empreendedorismo.

Como o mercado está reagindo para a contratação dos 50+ em home office?

O mercado está reagindo muito bem ao home office, e eu acho isso muito positivo para os 50+, já que nesta dinâmica os gestores estão passando a se preocupar mais na entrega e qualidade do trabalho e dos combinados do que em quem está realizando. Era uma tendência que estava começando a crescer e virou regra com a pandemia.

Esse grupo etário estaria favorecido ou não pelo novo modelo de trabalho?

O trabalho em home-office facilita a diversidade e traz uma responsabilidade de autogestão e comprometimento grandes dos colaboradores, o que costuma ser característica das pessoas mais maduras. Portanto, eu acho que é uma ótima oportunidade para os 50+ que estão atualizados e gostam, sabem trabalhar remotamente. Inclusive, muitas empresas continuam demitindo pessoas mais velhas em posições que tem de ser presenciais por serem grupo de risco, mas essa desculpa não existe no trabalho via home office.

Qual é o panorama de médio e longo prazos para integração dos 60+ com as novas tecnologias digitais, o home office, o empreendedorismo e as atividades criativas autônomas?

Eu vejo como um caminho sem volta e de forma positiva, pois abre muitas possibilidades e novas oportunidades, principalmente para quem trabalha por conta própria, que pode oferecer seus produtos e serviços para outras pessoas e empresas em qualquer lugar do Brasil e até de fora! Hoje não há mais limite geográfico para se trabalhar e com a revolução que o mercado de trabalho está passando, tanto comportamental quanto tecnológica, profissões deixam de existir e novas profissões são criadas a todo o tempo.

Por isso estar aberto à essas novidades, aprendendo o tempo todo, interagindo com os jovens, usando as mídias digitais de forma profissional, trabalhando com propósito e em rede (através de parcerias) são fundamentais para se ter sucesso nesse modelo.

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As empresas já perceberam que necessitam ficar atentas à contratação de pessoas maduras, profissionais com mais de 50 anos de idade que frequentemente encontram barreiras para se inserirem no mercado de trabalho. Porém, o cenário ainda é desafiador, pois o assunto não é tratado - ainda - como prioridade. Do lado de quem está em busca dessa oportunidade, muitas dúvidas podem surgir: Preciso colocar toda minha experiência no currículo? Como fica a adaptação ao home office e novas tecnologias? Como minimizar conflitos geracionais?

Essas e outras dúvidas foram respondidas por Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, nesta quinta-feira, 11, durante um bate-papo no grupo de discussão no Telegram do Sua Carreira. Atuando com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas com mais de 50 anos, o especialista contou que, felizmente, posições mais estratégicas estão aparecendo para esse público, embora os setores de serviço e varejo sejam mais abertos.

Confira, a seguir, as respostas às perguntas que foram enviadas na plataforma pelos integrantes do grupo, que é aberto ao público. Você também pode participar das próximas ações, entrando para o grupo aqui.

Tem mercado de trabalho para pessoas acima dos 50 anos? As empresas buscam profissionais nessa faixa etária para qualquer posição?

De forma geral, está difícil até para os jovens, e especialmente para os 50+. Porém, eu vejo um movimento das empresas, principalmente as grandes, já estarem começando a olhar para a questão da diversidade etária. Começam trazendo a discussão para dentro e, depois, com uma conscientização, algumas passam a incluir mais os mais velhos em seus processos seletivos de forma geral ou em programas específicos (muitas vezes pilotos).

O fato é que, como as empresas sabem que a população – e seu público consumidor – está envelhecendo, já entenderam que em algum momento terão de olhar para essa questão e fazer ações efetivas, mas ainda não é a prioridade. Isso falando de emprego, mas o mercado de trabalho é muito mais do que a CLT. E nesse sentido, eu vejo muito mais oportunidades hoje em dia para os 50+ atuando como autônomos, consultores, freelancers, empreendedores. Por isso a atualização é tão importante.

Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, empresa que atua com desenvolvimento profissional e recolocação de pessoas 50+ no mercado de trabalho. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como está o mercado para maduros em São José dos Campos (SP)? Sempre ouvi falar em se 'reinventar', mas não é um processo assim tão simples.

Não conheço particularmente o mercado local de São José dos Campos, mas percebo que no Estado de São Paulo como um todo a situação é melhor do que na maior parte dos outros Estados do Brasil. Ou, talvez, seja mais correto falar “menos ruim”. Nos grandes centros urbanos acabam aparecendo mais oportunidades logicamente, mas hoje em dia, com o trabalho remoto, isso tem mudado.

E com certeza se reinventar não é um processo simples, mas é necessário. Como nós estamos vivendo mais, e o mercado de trabalho está mudando muito, quem não se adaptar ficará para trás. Portanto, é preciso começar. Isso passa muito por autoconhecimento, entendendo o que faz sentido para você nessa fase da vida, atualização técnica e comportamental contínua (o tal do lifelong learning), planejamento, networking ativo e humildade.

É um processo longo e que talvez nunca acabe. O mundo mudou e, se a gente não mudar também, será mais difícil. Mas o mais importante é: nunca é tarde para recomeçar. Se tiver dificuldade, peça ajuda, procure profissionais. Não é algo natural e portanto não será simples, mas é totalmente possível em qualquer idade.

Quais são as áreas que mais aceitam e valorizam os profissionais com mais de 50 anos? Há um segmento que está conseguindo absorver mais esta geração?

Tenho percebido o setor de serviços e o varejo mais abertos aos maduros. Mas a Maturi atende empresas de todos os tamanhos e segmentos, que nos procuram interessadas em contratar 50+. A maior parte das posições costuma ser operacional, como vendas e atendimento ao cliente, mas vejo, aos poucos, mais posições estratégicas aparecendo também, felizmente.

Sobre a atualização de conhecimentos, quais seriam os temas a serem estudados prioritariamente, visando minimizar conflitos de gerações?

Além da atualização técnica, que passa por tecnologia essencialmente, mas também as demais habilidades que a sua profissão demanda, a atualização comportamental é fundamental. Ou seja, para lidar com diferentes gerações, é preciso estar aberto a aprender com os mais jovens e inclusive ser gerido por eles. Portanto: muita humildade. Afinal, por mais experiência que tenhamos, e tudo o que temos para ensinar, sempre teremos muito a aprender.

Além disso, hoje o ambiente de trabalho é muito mais diverso e colaborativo, além de horizontal, então é importante entender essa nova dinâmica e saber atuar desta forma. Você precisa se valorizar, trabalhar a autoestima, mas sempre aberto para novos aprendizados e a se adaptar, aceitando o diferente

Como fica o currículo de alguém com mais de 50 anos? Coloca-se tudo no CV, inclusive a idade?

Minha recomendação é evitar colocar informações pessoais que não sejam estritamente necessárias. Empresas que já trabalham o tema de diversidade e inclusão tendem a olhar mais para as habilidades do que seus dados. Isso, num primeiro momento, faz com que o foco seja na sua experiência e seu perfil, o que é muito positivo.

Mas é claro que ao avançar no processo seletivo e, eventualmente, chegar a uma entrevista, não tem como omitir a faixa etária. Por isso, é importante que você esteja preparado, começando com um currículo sucinto com foco nas suas realizações, especializações e principais experiências, e que sua candidatura tenha "fit" com o seu perfil. Depois, na entrevista, é importante você conhecer a fundo a posição, a empresa, e estar segura de si, demonstrando que a idade não é um empecilho para você conquistar aquela vaga; pelo contrário, ela é um diferencial.

Os 50+ sempre são depreciados nas vagas. Isso é ainda um 'ranço' do passado ou as empresas não querem agregar mais conhecimento vindo de experiências extracurriculares?

Ainda tem bastante preconceito etário no mercado de trabalho, sim. Ao meu ver, não se trata de "ranço", e sim algo cultural, mas que aos poucos começa a mudar. Se a empresa não quer pessoas maduras, não é a empresa certa para você.

Como abrir espaço para uma nova classe se o desemprego segue afligindo as tradicionais, em especial os novos entrantes?

Conscientizando as empresas, influenciando o poder público a olhar para a questão, capacitando os profissionais e incentivando e auxiliando o empreendedorismo.

Como o mercado está reagindo para a contratação dos 50+ em home office?

O mercado está reagindo muito bem ao home office, e eu acho isso muito positivo para os 50+, já que nesta dinâmica os gestores estão passando a se preocupar mais na entrega e qualidade do trabalho e dos combinados do que em quem está realizando. Era uma tendência que estava começando a crescer e virou regra com a pandemia.

Esse grupo etário estaria favorecido ou não pelo novo modelo de trabalho?

O trabalho em home-office facilita a diversidade e traz uma responsabilidade de autogestão e comprometimento grandes dos colaboradores, o que costuma ser característica das pessoas mais maduras. Portanto, eu acho que é uma ótima oportunidade para os 50+ que estão atualizados e gostam, sabem trabalhar remotamente. Inclusive, muitas empresas continuam demitindo pessoas mais velhas em posições que tem de ser presenciais por serem grupo de risco, mas essa desculpa não existe no trabalho via home office.

Qual é o panorama de médio e longo prazos para integração dos 60+ com as novas tecnologias digitais, o home office, o empreendedorismo e as atividades criativas autônomas?

Eu vejo como um caminho sem volta e de forma positiva, pois abre muitas possibilidades e novas oportunidades, principalmente para quem trabalha por conta própria, que pode oferecer seus produtos e serviços para outras pessoas e empresas em qualquer lugar do Brasil e até de fora! Hoje não há mais limite geográfico para se trabalhar e com a revolução que o mercado de trabalho está passando, tanto comportamental quanto tecnológica, profissões deixam de existir e novas profissões são criadas a todo o tempo.

Por isso estar aberto à essas novidades, aprendendo o tempo todo, interagindo com os jovens, usando as mídias digitais de forma profissional, trabalhando com propósito e em rede (através de parcerias) são fundamentais para se ter sucesso nesse modelo.

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