Mercado mira talentos 50+ para reduzir déficit na tecnologia


Profissionais mais velhos são buscados por conta da experiência; escolas lançam cursos de tecnologia para 40+ apoiados por grandes empresas para aprimorar talentos

Por Marina Dayrell

De um lado, a falta de profissionais qualificados para trabalhar na área de tecnologia da informação (TI) em contraposição a uma demanda gigante por parte das empresas. Do outro, uma série de profissionais com bastante maturidade e experiência - na área de tecnologia ou não - à procura de oportunidades em um tempo em que as carreiras estão cada vez mais longas, com o envelhecimento da população. Ambos os lados parecem poder se ajudar, mas há espaço para profissionais acima dos 50 anos no mercado de TI?

Vaga tem: de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em um estudo publicado em dezembro, apenas 53 mil pessoas se formam por ano em cursos de perfil tecnológico no País, enquanto a demanda média anual é de 159 mil profissionais. Ou seja, um déficit de 106 mil talentos

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Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em pesquisa de 2019, 27,3% dos profissionais sem ocupação com mais de 40 anos procuram um trabalho, sem sucesso, há pelo menos dois anos. Dados do InfoJobs, de 2021, confirmam os obstáculos: entre 4.588 entrevistados, 70,4% já sofreram preconceito no mercado de trabalho em relação à idade. Apenas 12% das empresas têm mais da metade de seus profissionais com mais de 50 anos. 

“Nos últimos anos, o mercado sofreu um excesso de juniorização. Começou uma demanda por profissionais de tecnologia e, de uma hora para outra, as empresas passaram a ter que formar profissionais, enquanto enfrentam uma guerra por preço. Houve a necessidade de contratar pessoas mais jovens, que têm salários mais baixos”, conta Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street, empresa global de produtos e serviços de software empresarial.

Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito pela Let's Code em parceria com o Iguatemi. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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A empresa foge à regra do mercado quando o assunto é idade, com 40% dos 120 funcionários - todos contratados em regime CLT - acima de 45 anos de idade. Outros 40% têm entre 35 e 45 anos. Esses profissionais estão espalhados por diversas áreas, como alta gestão, recursos humanos, marketing e, principalmente, tecnologia da informação. 

“O nosso objetivo não é contratar gente que já se aposentou ou está na iminência de se aposentar para pagar menos. Nosso modelo de negócios é em cima da eficiência dessas pessoas. A experiência evita muitos erros e acelera a aprendizagem. Toda a bagagem acumulada se passa para quem está chegando e se aprende ainda mais”, explica Edenize.

Trabalho remoto como atrativo

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Na Rimini Street, não há um processo seletivo específico para esse público, mas, segundo a gerente, a valorização de talentos mais experientes é uma visão global da empresa, que nasceu nos Estados Unidos. Desde que chegou ao Brasil, há seis anos, o modelo de trabalho é híbrido, em que os funcionários escolhem entre trabalhar em casa ou no escritório, em São Paulo. A modalidade é vista como uma forma de retenção de talentos, principalmente entre os 50+.

“A gente tem que ser mais flexível. São profissionais que viajaram décadas, passaram por muito estresse em projetos. Então damos a infraestrutura para que eles estejam na cidade que querem estar. Com isso, atraímos profissionais bons que estão cansados dos grandes centros, mas não de trabalhar”, conta.

Poder trabalhar de casa foi um fator decisivo para Marcelo Rocha, de 56 anos, trabalhar na empresa, há seis anos. Com mais de 30 anos de experiência em TI, hoje ele ocupa o cargo de gerente de suporte para a América Latina na empresa e coordena um time de 11 pessoas, todas acima de 40 anos, sendo a maioria acima de 50. 

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Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street. Na empresa, 40% dos funcionários têm mais de 45 anos. Foto: Carolina Latorre

“Eu adoro o home office, porque a minha vida, na minha idade, é estável. Eu posso cozinhar em casa, já não tenho aquela necessidade de fazer happy hour. A minha estabilidade me deixa feliz em estar em casa e poder fazer isso afeta não só a minha retenção, como a da equipe também. Faz com que eu não tenha rotatividade de profissionais”, conta Marcelo, que mora em Curitiba.

“Os profissionais com mais de 50 anos são essenciais na tecnologia, porque a juventude traz a inovação, o conhecimento acadêmico, já que geralmente acabou de sair da faculdade, soluções fantásticas. Já o profissional maduro vai se valer desse conhecimento e dessa empolgação para trabalhar na estratégia, na aplicabilidade da tecnologia no negócio.”

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Escolas ensinam programação para 40+ 

Para profissionais mais velhos que não lidavam com tecnologia, porém, o desafio é maior e faltam oportunidades. Para ajudar os maduros no ‘match’ com as vagas, a Let’s Code criou dois programas voltados para 40+ (quem tem mais de 40 anos de idade). O modelo de negócio da edtech (startup de educação) é baseado em parceria com empresas: a escola ensina programação gratuitamente para alunos selecionados e a organização patrocinadora do programa contrata alguns formandos ao final. 

“O problema da empregabilidade no mundo da tecnologia é grave, o número de vagas em aberto é enorme”, diz Felipe Paiva, CEO da Let’s Code. Nas duas edições voltadas para profissionais maduros, em parceria com o Iguatemi e a Magalu, foram selecionados 120 alunos, entre 45 mil inscritos, para a formação online que vai de seis meses a um ano.

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Apesar de não ser necessário conhecimento em programação, o projeto do Iguatemi atraiu alunos que já haviam tido algum contato com o tema ou com a área de exatas. A média de idade foi de 59 anos, com inscritos de até 70 anos. Já no caso da Magalu, o público foi mais diverso e a maior parte dos selecionados nunca havia tido contato com a área de exatas. A média de idade dos inscritos foi de 47 anos, sendo que 29% estavam desempregados. 

“O conteúdo é igual em todos os cursos (para todas as idades) e a condução pedagógica é adaptada de acordo com o aluno. Não existe idade para aprender algo novo. Nós carregamos uma crença de que vamos estudar na faculdade e depois é época de trabalhar, mas estamos na sociedade do lifelong learning. Sempre é tempo para aprender algo novo”, diz Felipe. 

Com experiência na área de sistema, Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito em parceria com o Iguatemi. Depois de anos de carreira em tecnologia, ela tentou, em 2010, entrar para o ramo das redes sociais, mas não deu certo.

Felipe Paiva, CEO da Let's Code, startup de educação que, em parceria com empresas, ensina programação para profissionais. Foto: Arquivo Let's Code

“Eu tinha 40 anos e me achava muito velha para isso, me desiludi e comecei a trabalhar com biscoito decorado. Mas em algum momento a veia tecnológica falou mais alto e eu desenvolvi um cortador de biscoito para impressora 3D. Depois, desenhei um aplicativo para organizar ferramentas de biscoitos e contratei uma pessoa para desenvolvê-lo”, conta.

O aplicativo foi a motivação de Lara para se inscrever no curso. Seu objetivo principal é aprender o suficiente para aumentar os recursos do aplicativo, criar uma parte e também conseguir acompanhar o trabalho dos outros desenvolvedores “de igual para igual”.

“Foi muito boa essa sensação de sentar no banco de novo e aprender. Perceber que ainda podemos aprender tem sido a melhor parte. Eu sempre soube que a gente poderia, mas o curso é a realização disso, de que tem coisa nova, de que tem gente que acredita na gente”, conta. 

Outra oportunidade para quem quer redirecionar a carreira para a tecnologia em 2022 é uma parceria entre a Avanade, empresa de inovação digital, e a Labora, startup de impacto social, para desenvolver profissionais 50+ em Front e Backend. 

Todos os inscritos terão acesso gratuito às certificações da Labora e, entre os inscritos, serão selecionadas 20 pessoas para vagas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, no modelo híbrido, e Porto Alegre e São José dos Campos, em modelo remoto. 

Não é necessário ter conhecimento prévio em tecnologia para se inscrever, embora ter algum contato com programação seja um diferencial. As inscrições estão abertas até o dia 7 de janeiro e podem ser feitas no site da Labora.

Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo. 

De um lado, a falta de profissionais qualificados para trabalhar na área de tecnologia da informação (TI) em contraposição a uma demanda gigante por parte das empresas. Do outro, uma série de profissionais com bastante maturidade e experiência - na área de tecnologia ou não - à procura de oportunidades em um tempo em que as carreiras estão cada vez mais longas, com o envelhecimento da população. Ambos os lados parecem poder se ajudar, mas há espaço para profissionais acima dos 50 anos no mercado de TI?

Vaga tem: de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em um estudo publicado em dezembro, apenas 53 mil pessoas se formam por ano em cursos de perfil tecnológico no País, enquanto a demanda média anual é de 159 mil profissionais. Ou seja, um déficit de 106 mil talentos

Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em pesquisa de 2019, 27,3% dos profissionais sem ocupação com mais de 40 anos procuram um trabalho, sem sucesso, há pelo menos dois anos. Dados do InfoJobs, de 2021, confirmam os obstáculos: entre 4.588 entrevistados, 70,4% já sofreram preconceito no mercado de trabalho em relação à idade. Apenas 12% das empresas têm mais da metade de seus profissionais com mais de 50 anos. 

“Nos últimos anos, o mercado sofreu um excesso de juniorização. Começou uma demanda por profissionais de tecnologia e, de uma hora para outra, as empresas passaram a ter que formar profissionais, enquanto enfrentam uma guerra por preço. Houve a necessidade de contratar pessoas mais jovens, que têm salários mais baixos”, conta Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street, empresa global de produtos e serviços de software empresarial.

Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito pela Let's Code em parceria com o Iguatemi. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa foge à regra do mercado quando o assunto é idade, com 40% dos 120 funcionários - todos contratados em regime CLT - acima de 45 anos de idade. Outros 40% têm entre 35 e 45 anos. Esses profissionais estão espalhados por diversas áreas, como alta gestão, recursos humanos, marketing e, principalmente, tecnologia da informação. 

“O nosso objetivo não é contratar gente que já se aposentou ou está na iminência de se aposentar para pagar menos. Nosso modelo de negócios é em cima da eficiência dessas pessoas. A experiência evita muitos erros e acelera a aprendizagem. Toda a bagagem acumulada se passa para quem está chegando e se aprende ainda mais”, explica Edenize.

Trabalho remoto como atrativo

Na Rimini Street, não há um processo seletivo específico para esse público, mas, segundo a gerente, a valorização de talentos mais experientes é uma visão global da empresa, que nasceu nos Estados Unidos. Desde que chegou ao Brasil, há seis anos, o modelo de trabalho é híbrido, em que os funcionários escolhem entre trabalhar em casa ou no escritório, em São Paulo. A modalidade é vista como uma forma de retenção de talentos, principalmente entre os 50+.

“A gente tem que ser mais flexível. São profissionais que viajaram décadas, passaram por muito estresse em projetos. Então damos a infraestrutura para que eles estejam na cidade que querem estar. Com isso, atraímos profissionais bons que estão cansados dos grandes centros, mas não de trabalhar”, conta.

Poder trabalhar de casa foi um fator decisivo para Marcelo Rocha, de 56 anos, trabalhar na empresa, há seis anos. Com mais de 30 anos de experiência em TI, hoje ele ocupa o cargo de gerente de suporte para a América Latina na empresa e coordena um time de 11 pessoas, todas acima de 40 anos, sendo a maioria acima de 50. 

Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street. Na empresa, 40% dos funcionários têm mais de 45 anos. Foto: Carolina Latorre

“Eu adoro o home office, porque a minha vida, na minha idade, é estável. Eu posso cozinhar em casa, já não tenho aquela necessidade de fazer happy hour. A minha estabilidade me deixa feliz em estar em casa e poder fazer isso afeta não só a minha retenção, como a da equipe também. Faz com que eu não tenha rotatividade de profissionais”, conta Marcelo, que mora em Curitiba.

“Os profissionais com mais de 50 anos são essenciais na tecnologia, porque a juventude traz a inovação, o conhecimento acadêmico, já que geralmente acabou de sair da faculdade, soluções fantásticas. Já o profissional maduro vai se valer desse conhecimento e dessa empolgação para trabalhar na estratégia, na aplicabilidade da tecnologia no negócio.”

Escolas ensinam programação para 40+ 

Para profissionais mais velhos que não lidavam com tecnologia, porém, o desafio é maior e faltam oportunidades. Para ajudar os maduros no ‘match’ com as vagas, a Let’s Code criou dois programas voltados para 40+ (quem tem mais de 40 anos de idade). O modelo de negócio da edtech (startup de educação) é baseado em parceria com empresas: a escola ensina programação gratuitamente para alunos selecionados e a organização patrocinadora do programa contrata alguns formandos ao final. 

“O problema da empregabilidade no mundo da tecnologia é grave, o número de vagas em aberto é enorme”, diz Felipe Paiva, CEO da Let’s Code. Nas duas edições voltadas para profissionais maduros, em parceria com o Iguatemi e a Magalu, foram selecionados 120 alunos, entre 45 mil inscritos, para a formação online que vai de seis meses a um ano.

Apesar de não ser necessário conhecimento em programação, o projeto do Iguatemi atraiu alunos que já haviam tido algum contato com o tema ou com a área de exatas. A média de idade foi de 59 anos, com inscritos de até 70 anos. Já no caso da Magalu, o público foi mais diverso e a maior parte dos selecionados nunca havia tido contato com a área de exatas. A média de idade dos inscritos foi de 47 anos, sendo que 29% estavam desempregados. 

“O conteúdo é igual em todos os cursos (para todas as idades) e a condução pedagógica é adaptada de acordo com o aluno. Não existe idade para aprender algo novo. Nós carregamos uma crença de que vamos estudar na faculdade e depois é época de trabalhar, mas estamos na sociedade do lifelong learning. Sempre é tempo para aprender algo novo”, diz Felipe. 

Com experiência na área de sistema, Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito em parceria com o Iguatemi. Depois de anos de carreira em tecnologia, ela tentou, em 2010, entrar para o ramo das redes sociais, mas não deu certo.

Felipe Paiva, CEO da Let's Code, startup de educação que, em parceria com empresas, ensina programação para profissionais. Foto: Arquivo Let's Code

“Eu tinha 40 anos e me achava muito velha para isso, me desiludi e comecei a trabalhar com biscoito decorado. Mas em algum momento a veia tecnológica falou mais alto e eu desenvolvi um cortador de biscoito para impressora 3D. Depois, desenhei um aplicativo para organizar ferramentas de biscoitos e contratei uma pessoa para desenvolvê-lo”, conta.

O aplicativo foi a motivação de Lara para se inscrever no curso. Seu objetivo principal é aprender o suficiente para aumentar os recursos do aplicativo, criar uma parte e também conseguir acompanhar o trabalho dos outros desenvolvedores “de igual para igual”.

“Foi muito boa essa sensação de sentar no banco de novo e aprender. Perceber que ainda podemos aprender tem sido a melhor parte. Eu sempre soube que a gente poderia, mas o curso é a realização disso, de que tem coisa nova, de que tem gente que acredita na gente”, conta. 

Outra oportunidade para quem quer redirecionar a carreira para a tecnologia em 2022 é uma parceria entre a Avanade, empresa de inovação digital, e a Labora, startup de impacto social, para desenvolver profissionais 50+ em Front e Backend. 

Todos os inscritos terão acesso gratuito às certificações da Labora e, entre os inscritos, serão selecionadas 20 pessoas para vagas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, no modelo híbrido, e Porto Alegre e São José dos Campos, em modelo remoto. 

Não é necessário ter conhecimento prévio em tecnologia para se inscrever, embora ter algum contato com programação seja um diferencial. As inscrições estão abertas até o dia 7 de janeiro e podem ser feitas no site da Labora.

Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo. 

De um lado, a falta de profissionais qualificados para trabalhar na área de tecnologia da informação (TI) em contraposição a uma demanda gigante por parte das empresas. Do outro, uma série de profissionais com bastante maturidade e experiência - na área de tecnologia ou não - à procura de oportunidades em um tempo em que as carreiras estão cada vez mais longas, com o envelhecimento da população. Ambos os lados parecem poder se ajudar, mas há espaço para profissionais acima dos 50 anos no mercado de TI?

Vaga tem: de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), em um estudo publicado em dezembro, apenas 53 mil pessoas se formam por ano em cursos de perfil tecnológico no País, enquanto a demanda média anual é de 159 mil profissionais. Ou seja, um déficit de 106 mil talentos

Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em pesquisa de 2019, 27,3% dos profissionais sem ocupação com mais de 40 anos procuram um trabalho, sem sucesso, há pelo menos dois anos. Dados do InfoJobs, de 2021, confirmam os obstáculos: entre 4.588 entrevistados, 70,4% já sofreram preconceito no mercado de trabalho em relação à idade. Apenas 12% das empresas têm mais da metade de seus profissionais com mais de 50 anos. 

“Nos últimos anos, o mercado sofreu um excesso de juniorização. Começou uma demanda por profissionais de tecnologia e, de uma hora para outra, as empresas passaram a ter que formar profissionais, enquanto enfrentam uma guerra por preço. Houve a necessidade de contratar pessoas mais jovens, que têm salários mais baixos”, conta Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street, empresa global de produtos e serviços de software empresarial.

Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito pela Let's Code em parceria com o Iguatemi. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empresa foge à regra do mercado quando o assunto é idade, com 40% dos 120 funcionários - todos contratados em regime CLT - acima de 45 anos de idade. Outros 40% têm entre 35 e 45 anos. Esses profissionais estão espalhados por diversas áreas, como alta gestão, recursos humanos, marketing e, principalmente, tecnologia da informação. 

“O nosso objetivo não é contratar gente que já se aposentou ou está na iminência de se aposentar para pagar menos. Nosso modelo de negócios é em cima da eficiência dessas pessoas. A experiência evita muitos erros e acelera a aprendizagem. Toda a bagagem acumulada se passa para quem está chegando e se aprende ainda mais”, explica Edenize.

Trabalho remoto como atrativo

Na Rimini Street, não há um processo seletivo específico para esse público, mas, segundo a gerente, a valorização de talentos mais experientes é uma visão global da empresa, que nasceu nos Estados Unidos. Desde que chegou ao Brasil, há seis anos, o modelo de trabalho é híbrido, em que os funcionários escolhem entre trabalhar em casa ou no escritório, em São Paulo. A modalidade é vista como uma forma de retenção de talentos, principalmente entre os 50+.

“A gente tem que ser mais flexível. São profissionais que viajaram décadas, passaram por muito estresse em projetos. Então damos a infraestrutura para que eles estejam na cidade que querem estar. Com isso, atraímos profissionais bons que estão cansados dos grandes centros, mas não de trabalhar”, conta.

Poder trabalhar de casa foi um fator decisivo para Marcelo Rocha, de 56 anos, trabalhar na empresa, há seis anos. Com mais de 30 anos de experiência em TI, hoje ele ocupa o cargo de gerente de suporte para a América Latina na empresa e coordena um time de 11 pessoas, todas acima de 40 anos, sendo a maioria acima de 50. 

Edenize Maron, gerente geral para a América Latina da Rimini Street. Na empresa, 40% dos funcionários têm mais de 45 anos. Foto: Carolina Latorre

“Eu adoro o home office, porque a minha vida, na minha idade, é estável. Eu posso cozinhar em casa, já não tenho aquela necessidade de fazer happy hour. A minha estabilidade me deixa feliz em estar em casa e poder fazer isso afeta não só a minha retenção, como a da equipe também. Faz com que eu não tenha rotatividade de profissionais”, conta Marcelo, que mora em Curitiba.

“Os profissionais com mais de 50 anos são essenciais na tecnologia, porque a juventude traz a inovação, o conhecimento acadêmico, já que geralmente acabou de sair da faculdade, soluções fantásticas. Já o profissional maduro vai se valer desse conhecimento e dessa empolgação para trabalhar na estratégia, na aplicabilidade da tecnologia no negócio.”

Escolas ensinam programação para 40+ 

Para profissionais mais velhos que não lidavam com tecnologia, porém, o desafio é maior e faltam oportunidades. Para ajudar os maduros no ‘match’ com as vagas, a Let’s Code criou dois programas voltados para 40+ (quem tem mais de 40 anos de idade). O modelo de negócio da edtech (startup de educação) é baseado em parceria com empresas: a escola ensina programação gratuitamente para alunos selecionados e a organização patrocinadora do programa contrata alguns formandos ao final. 

“O problema da empregabilidade no mundo da tecnologia é grave, o número de vagas em aberto é enorme”, diz Felipe Paiva, CEO da Let’s Code. Nas duas edições voltadas para profissionais maduros, em parceria com o Iguatemi e a Magalu, foram selecionados 120 alunos, entre 45 mil inscritos, para a formação online que vai de seis meses a um ano.

Apesar de não ser necessário conhecimento em programação, o projeto do Iguatemi atraiu alunos que já haviam tido algum contato com o tema ou com a área de exatas. A média de idade foi de 59 anos, com inscritos de até 70 anos. Já no caso da Magalu, o público foi mais diverso e a maior parte dos selecionados nunca havia tido contato com a área de exatas. A média de idade dos inscritos foi de 47 anos, sendo que 29% estavam desempregados. 

“O conteúdo é igual em todos os cursos (para todas as idades) e a condução pedagógica é adaptada de acordo com o aluno. Não existe idade para aprender algo novo. Nós carregamos uma crença de que vamos estudar na faculdade e depois é época de trabalhar, mas estamos na sociedade do lifelong learning. Sempre é tempo para aprender algo novo”, diz Felipe. 

Com experiência na área de sistema, Lara Parodi, de 53 anos, é uma das alunas do curso de programação em Java feito em parceria com o Iguatemi. Depois de anos de carreira em tecnologia, ela tentou, em 2010, entrar para o ramo das redes sociais, mas não deu certo.

Felipe Paiva, CEO da Let's Code, startup de educação que, em parceria com empresas, ensina programação para profissionais. Foto: Arquivo Let's Code

“Eu tinha 40 anos e me achava muito velha para isso, me desiludi e comecei a trabalhar com biscoito decorado. Mas em algum momento a veia tecnológica falou mais alto e eu desenvolvi um cortador de biscoito para impressora 3D. Depois, desenhei um aplicativo para organizar ferramentas de biscoitos e contratei uma pessoa para desenvolvê-lo”, conta.

O aplicativo foi a motivação de Lara para se inscrever no curso. Seu objetivo principal é aprender o suficiente para aumentar os recursos do aplicativo, criar uma parte e também conseguir acompanhar o trabalho dos outros desenvolvedores “de igual para igual”.

“Foi muito boa essa sensação de sentar no banco de novo e aprender. Perceber que ainda podemos aprender tem sido a melhor parte. Eu sempre soube que a gente poderia, mas o curso é a realização disso, de que tem coisa nova, de que tem gente que acredita na gente”, conta. 

Outra oportunidade para quem quer redirecionar a carreira para a tecnologia em 2022 é uma parceria entre a Avanade, empresa de inovação digital, e a Labora, startup de impacto social, para desenvolver profissionais 50+ em Front e Backend. 

Todos os inscritos terão acesso gratuito às certificações da Labora e, entre os inscritos, serão selecionadas 20 pessoas para vagas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, no modelo híbrido, e Porto Alegre e São José dos Campos, em modelo remoto. 

Não é necessário ter conhecimento prévio em tecnologia para se inscrever, embora ter algum contato com programação seja um diferencial. As inscrições estão abertas até o dia 7 de janeiro e podem ser feitas no site da Labora.

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