O sonho de ser jogador de futebol profissional é quase uma unanimidade entre os jovens brasileiros. São poucos os que realmente conseguem realizar, mas existem muitos caminhos para quem quer trabalhar com o esporte e não é muito bom de bola. Peça fundamental em qualquer clube ou seleção, a análise de desempenho tem sido a principal escolha de profissionais que querem atuar dentro de campo, mas não sabem por onde começar.
Segundo dados divulgados pela CBF, a indústria do futebol brasileiro é responsável por empregar 156 mil pessoas no País. A pesquisa realizada pela consultoria Ernst & Young mostrou ainda que o esporte teve impacto de 0,72% no PIB nacional e movimentou R$52,9 bilhões em 2018.
Enquanto os holofotes estão voltados para os jogadores e técnicos dos clubes e seleções, os analistas trabalham atrás das cortinas coletando, analisando e monitorando dados da atuação de jogadores, times, jogadas e até possíveis contratações.
De forma prática, a função do analista dentro da comissão técnica é fazer a análise técnica e tática da própria equipe, dos jogadores individualmente e também dos adversários. E isso tem sido muito valorizado por todo o mercado.
Na Copa do Mundo do Catar, por exemplo, a FIFA lançou um aplicativo direcionado aos jogadores e analistas das seleções com um compilado de dados e estatísticas dos jogadores após cada partida. Nele, são disponibilizadas informações sobre o desempenho físico, mapas de calor e distância percorrida pelos atletas durante cada jogo.
O salário do profissional varia de acordo com o tipo de contratação. Nos clubes, por exemplo, a média salarial fica entre R$ 4 mil a R$ 20 mil, de acordo com a série e a posição que o profissional atua. Como freelancer, esse valor varia entre R$ 300 e R$ 4 mil por trabalho realizado.
Com a profissionalização do mercado, a capacitação desses profissionais é levada a sério e demanda acompanhamento diário de tendências e novas ferramentas para interpretar dados e apoiar a tomada de decisão das comissões técnicas. Segundo Michel Mattar, coordenador-geral da CBF Academy, tudo é muito novo no mercado, então existem oportunidades surgindo nesse contexto.
Se antes o mercado do futebol era feito só por indicações políticas ou por quem já tinha experiência dentro de campo, como ex-jogadores e técnicos, a realidade atual é diferente. Profissionais com outras formações estão ganhando espaço nos clubes e federações.
“Hoje em dia todos os clubes trabalham com analistas de desempenho. Não é mais uma tendência, é uma realidade”, afirma Mattar. Segundo ele, existe todo um universo dentro do futebol, em que profissionais de diversas áreas podem atuar, como psicólogos, fisioterapeutas, funções mais tradicionais e de tecnologia.
Fabricio Vasconcellos concorda. Para o professor da CBF Academy, muitos profissionais que não são da área de educação física, veem na análise de desempenho uma porta de entrada para o mercado do futebol. “Quem está começando costuma se sentir mais à vontade com a função de analista por ser uma função que fica nos bastidores, com menos contato direto com jogadores ou com o dia a dia de treinos”, explica Vasconcellos.
A formação básica dos profissionais costuma ser em Educação Física, mas não é uma exigência para atuar dentro dos clubes, explica Fabrício. Um amplo conhecimento sobre a preparação técnicas e tática das equipes de futebol e entender como funcionam os softwares utilizados pelos clubes costumam ser indispensáveis para conquistar espaço no mercado.
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Como é a rotina de um Analista de Desempenho?
Dentro dos clubes, o dia a dia dos profissionais é focado na análise dos adversários e o suporte para a própria equipe, explica Maickel Padilha, coordenador do núcleo de análise de desempenho do Santos FC. Por meio da observação do jogo e do suporte de softwares de última geração, é possível verificar os padrões do rival, os pontos mais fortes e as dificuldades em campo.
Com milhares de dados em mãos, a responsabilidade do analista é traduzir essas informações em práticas úteis para a comissão técnica, também incluindo informações sobre as últimas escalações, substituições frequentes e outros números que sejam pertinentes para o confronto.
“Antes dos jogos temos o costume de pegar de três a cinco jogos para analisar cada situação das partidas. Vemos como é o tiro de meta ou como é a bola parada, por exemplo”, explica.
Doutor em Análise da Performance pela Universidade do Porto, Padilha conta que a profissão tem ganhado cada vez mais espaço dentro dos clubes, o que tem exigido dos profissionais mais capacitação e conhecimento de dados e softwares disponíveis no mercado e, principalmente, sobre o jogo e o treino.
Além do coordenador, Vitor Saad, Raphael Barletta e Gabriel Soares também atuam como analistas de desempenho no time profissional masculino do Santos. O clube também conta com um analista de mercado, Caio Nascimento, voltado para a observação de possíveis contratações.
Além da atuação dentro dos clubes, os profissionais também podem trabalhar diretamente com a análise individual dos jogadores. Rafael Marques é analista de desempenho, mas atua como consultor na Performa Consultoria, empresa que fundou ao lado do também analista Eduardo Barthem.
Com mais de 50 jogadores na lista de clientes, incluindo Bruno Guimarães, jogador do Newcastle United FC. da Inglaterra, e da seleção brasileira na Copa, ele explica que os atletas recebem um feedback após cada partida com informações sobre comportamentos estáticos individuais. Os dados mapeados não impactam na tática do jogo, mas ajudam o profissional a desenvolver aspectos individuais e melhorar comportamentos do corpo dentro de campo.
“A gente brinca que o jogador entra em jogo sem estar cego, sabendo como joga o adversário e o que ele vai enfrentar durante a partida”, explica.
Profissões para quem quer trabalhar com futebol e não é bom de bola
Jornalista: O profissional trabalha com a apuração e produção de notícias sobre o mundo esportivo. O jornalista pode atuar escrevendo textos sobre eventos, contratações recentes e análises sobre os últimos jogos dos clubes e seleções.
Analista de Desempenho: O papel do analista é, através de dados quantitativos e qualitativos colhidos em treinos e jogos, analisar técnica e taticamente a própria equipe, os jogadores individualmente e também os adversários.
Psicólogo: Fatores psicológicos afetam diretamente o desempenho dos atletas no futebol. A função do profissional de psicologia no esporte é atuar na preparação psicológica dos jogadores e auxiliá-los a desenvolverem o autoconhecimento.
Intermediário de Futebol: Também conhecido como empresário ou agente de futebol. A nova denominação oficial utilizada mantém o mesmo papel de intermediar a relação entre jogadores e clubes em negociações e transações.
Preparador Físico: Ele é responsável por equilibrar as demandas físicas dos jogadores no dia a dia de treinos e jogos. Para ser preparador é obrigatória a formação em Educação Física e os profissionais costumam ter algum tipo de pós-graduação na área.
Fisioterapeuta: É o profissional que cuida da prevenção de lesões, reabilitação e recuperação física dos jogadores.
Nutricionista: O acompanhamento nutricional é fundamental para o alto rendimento esportivo dos jogadores. O objetivo é criar estratégias para melhorar a performance e a recuperação dos atletas através de uma alimentação equilibrada.
Marketing: Os profissionais do marketing esportivo atuam na consolidação de marcas, na divulgação de produtos ou gerando mais visibilidade para jogadores, clubes ou negócios.
Engenheiro Têxtil: As roupas utilizadas pelos atletas protegem e estão diretamente relacionadas ao rendimento dos jogadores. O engenheiro têxtil é responsável pelo desenvolvimento de uniformes esportivos confortáveis, com design adequado e que permitam a realização dos movimentos.
Cientista de Dados: Com presença constante em times europeus, mas ainda em fase de crescimento no Brasil, o cientista de dados no futebol transforma dados em informações para a comissão técnica dos clubes através da programação.