Ele largou cargo de diretor, tirou sabático, escreveu livro e mora na Espanha com qualidade de vida


O consultor de carreira Eberson Terra e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, mudaram de vida e dão dicas sobre como planejar e aproveitar um período de aperfeiçoamento e reflexão fora do trabalho

Por Jayanne Rodrigues

Repensar a forma de trabalhar e até mesmo fazer uma transição de carreira. Esses são alguns dos efeitos de um período sabático. No caso de Eberson Terra, 40, a pausa de um ano trouxe uma reviravolta na carreira. Ele largou o cargo de diretor em uma fintech de educação, onde estava havia 12 anos, para virar consultor de carreira. A experiência feita ao lado da companheira, a jornalista Iara Vilela, 36, que também mudou aspectos na vida profissional e hoje escreve somente sobre turismo, rendeu ao casal o livro “Sabático: o Poder da Pausa”.

Na obra, os autores mostram o caminho das pedras para tornar essa parada estratégica possível. Ao Estadão, a dupla compartilhou orientações e desfez mitos para quem deseja tirar um período sabático, mas não sabe por onde começar.

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O primeiro passo é entender que a pausa prolongada não possui o mesmo formato de férias ou de nomadismo digital. O sabático tem início, meio e fim e deve servir a um propósito na carreira.

Conheça a política da sua empresa

Embora não seja algo comum na maioria das empresas, o sabático é incorporado como benefício em algumas organizações.

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Se não houver uma política clara em sua empresa, converse com o empregador e negocie acordos.

A modalidade CLT permite que o trabalhador tire um período de licença sem remuneração.

Mas é preciso ficar de olho nos detalhes. Por exemplo, se o objetivo é retornar para a empresa e continuar no mesmo cargo após a pausa, consulte a chefia e peça transparência sobre a possibilidade de haver mudanças durante o afastamento.

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Isso evita que surjam surpresas depois do retorno, como uma troca de cargo ou setor.

Morte precoce de amiga inspirou projeto

Quando Terra comunicou à chefia o desejo de fazer uma pausa, em 2018, recebeu uma contraproposta para adiar o sabático.

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“Estávamos passando por um projeto importante, mas queria encerrar o ciclo. Ainda perguntei se queriam me dar o período sabático e depois retornava. Mas não aceitaram. Então, mantive minha decisão, porque aquele era o meu momento, tinha feito o planejamento e tinha entendido que era o fim do ciclo”, relembra.

O estalo de ter uma vivência diferente do mundo corporativo veio com a morte precoce de uma amiga.

“Ela faleceu aos 42 anos sem conseguir fazer metade das coisas com que sonhava. Ela dedicou muito tempo dentro da empresa, trabalhava os três períodos. Pensei assim: ‘Não quero chegar aos 42 anos e não ter feito o que queria”, relata o autor, ao mencionar o ponto de partida para programar o sabático.

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O planejamento no papel começou em 2015 e durou em torno de três anos, até o momento da demissão, em 2018.

O casal anotou todos os pontos que gostariam de fazer durante a pausa e quanto iriam gastar ao longo de 12 meses.

O consultor Eberson Terra, e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, que escreveram o livro “Sabático: o Poder da Pausa” e mudaram de vida.  Foto: Manu Rigoni/Divulgação
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Sabático sem propósito é cilada

“Nós tínhamos um medo financeiro de como sobreviver depois do sabático”, revela Iara. A solução foi guardar dinheiro durante três anos - dentro da realidade do casal - e mapear quais áreas da vida poderiam ser barateadas.

A jornalista freelancer, que experimentou o nomadismo digital antes do sabático, conseguiu fazer um teste prévio de como seria trabalhar de qualquer lugar do mundo.

Iara aconselha partir da seguinte reflexão para encontrar os próprios objetivos e delimitar possibilidades: “Senta e vê o que é necessário para viver e do que você não abre mão.”

Se o período for utilizado para viajar, outras perguntas, por mais bobas que pareçam, tornam-se essenciais:

  • Qual é o seu luxo?
  • Quanto tempo tem para fazer isso?
  • Prefere ficar em um quarto de hotel sozinho(a) ou pode ficar em um quarto de hostel com mais oito pessoas?

“Tem que colocar no papel e rascunhar desde o arroz com feijão de todos os dias. Por exemplo, se o seu destino for a República Tcheca, olha quanto custa o feijão lá, quanto custa o hotel, uma passagem de avião e de trem”, orienta Iara, acrescentando que o esboço vai ajudar a chegar a um teto de gastos conforme a realidade de cada pessoa.

“Quem tem dinheiro vai poder fazer tudo ou vai guardar dinheiro suficiente, mas outras vão com o orçamento mais limitado.”

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

O período de reflexão nem sempre envolve viagem, principalmente para aqueles que podem enfrentar um sabático forçado, como uma demissão.

“A parte financeira vai depender muito do [contexto]. Às vezes, não é viajar, é ficar em casa, como fiz. Passei seis meses dentro de casa e outro seis viajando, a reflexão foi interna”, afirma Terra.

Pense na vida profissional ao retornar da pausa

Independentemente de quais sejam os motivos para embarcar em um sabático, o questionamento por parte de outras pessoas é algo unânime, alerta o casal.

Mas essa não é a etapa mais difícil da saga de uma pausa. Estar planejado para retornar ao mercado de trabalho é desafiador.

Período sabático não é a mesma coisa de férias prolongada ou nomadismo digital. Foto: Chen Mizrach/Unsplash

“Voltar, sem dúvida, é parte mais complicada. Às vezes, você retorna e não se sente pertencente ao lugar em que estava. Mais do que se recolocar no mercado, a vivência do sabático é algo íntimo. Você começa a perceber que seu modelo de vida também precisa ser alterado”, sugere Terra.

Segundo o coautor, a cultura de trabalho tende a ser repensada. “Eu era diretor de uma empresa, compreendi que para mim existem coisas mais importantes do que meu salário. Não consegui manter o meu padrão de vida, e tudo bem, porque tive esse período de reflexão e não quis voltar para o mercado para trabalhar 12 horas por dia.”

A nova mentalidade não significa sumir da rede de contatos. O LinkedIn, segundo o casal, deve continuar ativo, mesmo que de forma reduzida durante a pausa.

“Talvez, lá na frente, a pessoa precise de um contato que forneça uma oportunidade ou indique para algo quando retornar. Então, use o sabático também para fazer o networking funcionar, auxiliando outros profissionais.”

Se você tiver a sorte de estar em uma empresa que te proporcione sair e voltar para o mesmo lugar, ótimo. Mas a gente sabe que é difícil. Por isso, é importante manter uma grana para o retorno.

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

Quem pode fazer um sabático?

Na experiência do casal, a pausa se encaixa para diversas pessoas, mas existe uma exceção. “Acredito que não caiba para quem não tem certeza do que está buscando.”

Após o período sabático, Terra e Iara decidiram se mudar para a Espanha, onde vivem há um ano. O conselho primordial dos autores é se adaptar e abandonar velhos hábitos ruins.

“Saiba que você vai ter um período de adaptação muito difícil no começo. Você se sente apavorado por não ter nada para fazer, é importante calibrar a ansiedade.”

Ainda assim, para a dupla, é inevitável sair transformado do período. “O sabático te transforma de maneiras diferentes”, completa Iara.

Repensar a forma de trabalhar e até mesmo fazer uma transição de carreira. Esses são alguns dos efeitos de um período sabático. No caso de Eberson Terra, 40, a pausa de um ano trouxe uma reviravolta na carreira. Ele largou o cargo de diretor em uma fintech de educação, onde estava havia 12 anos, para virar consultor de carreira. A experiência feita ao lado da companheira, a jornalista Iara Vilela, 36, que também mudou aspectos na vida profissional e hoje escreve somente sobre turismo, rendeu ao casal o livro “Sabático: o Poder da Pausa”.

Na obra, os autores mostram o caminho das pedras para tornar essa parada estratégica possível. Ao Estadão, a dupla compartilhou orientações e desfez mitos para quem deseja tirar um período sabático, mas não sabe por onde começar.

O primeiro passo é entender que a pausa prolongada não possui o mesmo formato de férias ou de nomadismo digital. O sabático tem início, meio e fim e deve servir a um propósito na carreira.

Conheça a política da sua empresa

Embora não seja algo comum na maioria das empresas, o sabático é incorporado como benefício em algumas organizações.

Se não houver uma política clara em sua empresa, converse com o empregador e negocie acordos.

A modalidade CLT permite que o trabalhador tire um período de licença sem remuneração.

Mas é preciso ficar de olho nos detalhes. Por exemplo, se o objetivo é retornar para a empresa e continuar no mesmo cargo após a pausa, consulte a chefia e peça transparência sobre a possibilidade de haver mudanças durante o afastamento.

Isso evita que surjam surpresas depois do retorno, como uma troca de cargo ou setor.

Morte precoce de amiga inspirou projeto

Quando Terra comunicou à chefia o desejo de fazer uma pausa, em 2018, recebeu uma contraproposta para adiar o sabático.

“Estávamos passando por um projeto importante, mas queria encerrar o ciclo. Ainda perguntei se queriam me dar o período sabático e depois retornava. Mas não aceitaram. Então, mantive minha decisão, porque aquele era o meu momento, tinha feito o planejamento e tinha entendido que era o fim do ciclo”, relembra.

O estalo de ter uma vivência diferente do mundo corporativo veio com a morte precoce de uma amiga.

“Ela faleceu aos 42 anos sem conseguir fazer metade das coisas com que sonhava. Ela dedicou muito tempo dentro da empresa, trabalhava os três períodos. Pensei assim: ‘Não quero chegar aos 42 anos e não ter feito o que queria”, relata o autor, ao mencionar o ponto de partida para programar o sabático.

O planejamento no papel começou em 2015 e durou em torno de três anos, até o momento da demissão, em 2018.

O casal anotou todos os pontos que gostariam de fazer durante a pausa e quanto iriam gastar ao longo de 12 meses.

O consultor Eberson Terra, e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, que escreveram o livro “Sabático: o Poder da Pausa” e mudaram de vida.  Foto: Manu Rigoni/Divulgação

Sabático sem propósito é cilada

“Nós tínhamos um medo financeiro de como sobreviver depois do sabático”, revela Iara. A solução foi guardar dinheiro durante três anos - dentro da realidade do casal - e mapear quais áreas da vida poderiam ser barateadas.

A jornalista freelancer, que experimentou o nomadismo digital antes do sabático, conseguiu fazer um teste prévio de como seria trabalhar de qualquer lugar do mundo.

Iara aconselha partir da seguinte reflexão para encontrar os próprios objetivos e delimitar possibilidades: “Senta e vê o que é necessário para viver e do que você não abre mão.”

Se o período for utilizado para viajar, outras perguntas, por mais bobas que pareçam, tornam-se essenciais:

  • Qual é o seu luxo?
  • Quanto tempo tem para fazer isso?
  • Prefere ficar em um quarto de hotel sozinho(a) ou pode ficar em um quarto de hostel com mais oito pessoas?

“Tem que colocar no papel e rascunhar desde o arroz com feijão de todos os dias. Por exemplo, se o seu destino for a República Tcheca, olha quanto custa o feijão lá, quanto custa o hotel, uma passagem de avião e de trem”, orienta Iara, acrescentando que o esboço vai ajudar a chegar a um teto de gastos conforme a realidade de cada pessoa.

“Quem tem dinheiro vai poder fazer tudo ou vai guardar dinheiro suficiente, mas outras vão com o orçamento mais limitado.”

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

O período de reflexão nem sempre envolve viagem, principalmente para aqueles que podem enfrentar um sabático forçado, como uma demissão.

“A parte financeira vai depender muito do [contexto]. Às vezes, não é viajar, é ficar em casa, como fiz. Passei seis meses dentro de casa e outro seis viajando, a reflexão foi interna”, afirma Terra.

Pense na vida profissional ao retornar da pausa

Independentemente de quais sejam os motivos para embarcar em um sabático, o questionamento por parte de outras pessoas é algo unânime, alerta o casal.

Mas essa não é a etapa mais difícil da saga de uma pausa. Estar planejado para retornar ao mercado de trabalho é desafiador.

Período sabático não é a mesma coisa de férias prolongada ou nomadismo digital. Foto: Chen Mizrach/Unsplash

“Voltar, sem dúvida, é parte mais complicada. Às vezes, você retorna e não se sente pertencente ao lugar em que estava. Mais do que se recolocar no mercado, a vivência do sabático é algo íntimo. Você começa a perceber que seu modelo de vida também precisa ser alterado”, sugere Terra.

Segundo o coautor, a cultura de trabalho tende a ser repensada. “Eu era diretor de uma empresa, compreendi que para mim existem coisas mais importantes do que meu salário. Não consegui manter o meu padrão de vida, e tudo bem, porque tive esse período de reflexão e não quis voltar para o mercado para trabalhar 12 horas por dia.”

A nova mentalidade não significa sumir da rede de contatos. O LinkedIn, segundo o casal, deve continuar ativo, mesmo que de forma reduzida durante a pausa.

“Talvez, lá na frente, a pessoa precise de um contato que forneça uma oportunidade ou indique para algo quando retornar. Então, use o sabático também para fazer o networking funcionar, auxiliando outros profissionais.”

Se você tiver a sorte de estar em uma empresa que te proporcione sair e voltar para o mesmo lugar, ótimo. Mas a gente sabe que é difícil. Por isso, é importante manter uma grana para o retorno.

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

Quem pode fazer um sabático?

Na experiência do casal, a pausa se encaixa para diversas pessoas, mas existe uma exceção. “Acredito que não caiba para quem não tem certeza do que está buscando.”

Após o período sabático, Terra e Iara decidiram se mudar para a Espanha, onde vivem há um ano. O conselho primordial dos autores é se adaptar e abandonar velhos hábitos ruins.

“Saiba que você vai ter um período de adaptação muito difícil no começo. Você se sente apavorado por não ter nada para fazer, é importante calibrar a ansiedade.”

Ainda assim, para a dupla, é inevitável sair transformado do período. “O sabático te transforma de maneiras diferentes”, completa Iara.

Repensar a forma de trabalhar e até mesmo fazer uma transição de carreira. Esses são alguns dos efeitos de um período sabático. No caso de Eberson Terra, 40, a pausa de um ano trouxe uma reviravolta na carreira. Ele largou o cargo de diretor em uma fintech de educação, onde estava havia 12 anos, para virar consultor de carreira. A experiência feita ao lado da companheira, a jornalista Iara Vilela, 36, que também mudou aspectos na vida profissional e hoje escreve somente sobre turismo, rendeu ao casal o livro “Sabático: o Poder da Pausa”.

Na obra, os autores mostram o caminho das pedras para tornar essa parada estratégica possível. Ao Estadão, a dupla compartilhou orientações e desfez mitos para quem deseja tirar um período sabático, mas não sabe por onde começar.

O primeiro passo é entender que a pausa prolongada não possui o mesmo formato de férias ou de nomadismo digital. O sabático tem início, meio e fim e deve servir a um propósito na carreira.

Conheça a política da sua empresa

Embora não seja algo comum na maioria das empresas, o sabático é incorporado como benefício em algumas organizações.

Se não houver uma política clara em sua empresa, converse com o empregador e negocie acordos.

A modalidade CLT permite que o trabalhador tire um período de licença sem remuneração.

Mas é preciso ficar de olho nos detalhes. Por exemplo, se o objetivo é retornar para a empresa e continuar no mesmo cargo após a pausa, consulte a chefia e peça transparência sobre a possibilidade de haver mudanças durante o afastamento.

Isso evita que surjam surpresas depois do retorno, como uma troca de cargo ou setor.

Morte precoce de amiga inspirou projeto

Quando Terra comunicou à chefia o desejo de fazer uma pausa, em 2018, recebeu uma contraproposta para adiar o sabático.

“Estávamos passando por um projeto importante, mas queria encerrar o ciclo. Ainda perguntei se queriam me dar o período sabático e depois retornava. Mas não aceitaram. Então, mantive minha decisão, porque aquele era o meu momento, tinha feito o planejamento e tinha entendido que era o fim do ciclo”, relembra.

O estalo de ter uma vivência diferente do mundo corporativo veio com a morte precoce de uma amiga.

“Ela faleceu aos 42 anos sem conseguir fazer metade das coisas com que sonhava. Ela dedicou muito tempo dentro da empresa, trabalhava os três períodos. Pensei assim: ‘Não quero chegar aos 42 anos e não ter feito o que queria”, relata o autor, ao mencionar o ponto de partida para programar o sabático.

O planejamento no papel começou em 2015 e durou em torno de três anos, até o momento da demissão, em 2018.

O casal anotou todos os pontos que gostariam de fazer durante a pausa e quanto iriam gastar ao longo de 12 meses.

O consultor Eberson Terra, e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, que escreveram o livro “Sabático: o Poder da Pausa” e mudaram de vida.  Foto: Manu Rigoni/Divulgação

Sabático sem propósito é cilada

“Nós tínhamos um medo financeiro de como sobreviver depois do sabático”, revela Iara. A solução foi guardar dinheiro durante três anos - dentro da realidade do casal - e mapear quais áreas da vida poderiam ser barateadas.

A jornalista freelancer, que experimentou o nomadismo digital antes do sabático, conseguiu fazer um teste prévio de como seria trabalhar de qualquer lugar do mundo.

Iara aconselha partir da seguinte reflexão para encontrar os próprios objetivos e delimitar possibilidades: “Senta e vê o que é necessário para viver e do que você não abre mão.”

Se o período for utilizado para viajar, outras perguntas, por mais bobas que pareçam, tornam-se essenciais:

  • Qual é o seu luxo?
  • Quanto tempo tem para fazer isso?
  • Prefere ficar em um quarto de hotel sozinho(a) ou pode ficar em um quarto de hostel com mais oito pessoas?

“Tem que colocar no papel e rascunhar desde o arroz com feijão de todos os dias. Por exemplo, se o seu destino for a República Tcheca, olha quanto custa o feijão lá, quanto custa o hotel, uma passagem de avião e de trem”, orienta Iara, acrescentando que o esboço vai ajudar a chegar a um teto de gastos conforme a realidade de cada pessoa.

“Quem tem dinheiro vai poder fazer tudo ou vai guardar dinheiro suficiente, mas outras vão com o orçamento mais limitado.”

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

O período de reflexão nem sempre envolve viagem, principalmente para aqueles que podem enfrentar um sabático forçado, como uma demissão.

“A parte financeira vai depender muito do [contexto]. Às vezes, não é viajar, é ficar em casa, como fiz. Passei seis meses dentro de casa e outro seis viajando, a reflexão foi interna”, afirma Terra.

Pense na vida profissional ao retornar da pausa

Independentemente de quais sejam os motivos para embarcar em um sabático, o questionamento por parte de outras pessoas é algo unânime, alerta o casal.

Mas essa não é a etapa mais difícil da saga de uma pausa. Estar planejado para retornar ao mercado de trabalho é desafiador.

Período sabático não é a mesma coisa de férias prolongada ou nomadismo digital. Foto: Chen Mizrach/Unsplash

“Voltar, sem dúvida, é parte mais complicada. Às vezes, você retorna e não se sente pertencente ao lugar em que estava. Mais do que se recolocar no mercado, a vivência do sabático é algo íntimo. Você começa a perceber que seu modelo de vida também precisa ser alterado”, sugere Terra.

Segundo o coautor, a cultura de trabalho tende a ser repensada. “Eu era diretor de uma empresa, compreendi que para mim existem coisas mais importantes do que meu salário. Não consegui manter o meu padrão de vida, e tudo bem, porque tive esse período de reflexão e não quis voltar para o mercado para trabalhar 12 horas por dia.”

A nova mentalidade não significa sumir da rede de contatos. O LinkedIn, segundo o casal, deve continuar ativo, mesmo que de forma reduzida durante a pausa.

“Talvez, lá na frente, a pessoa precise de um contato que forneça uma oportunidade ou indique para algo quando retornar. Então, use o sabático também para fazer o networking funcionar, auxiliando outros profissionais.”

Se você tiver a sorte de estar em uma empresa que te proporcione sair e voltar para o mesmo lugar, ótimo. Mas a gente sabe que é difícil. Por isso, é importante manter uma grana para o retorno.

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

Quem pode fazer um sabático?

Na experiência do casal, a pausa se encaixa para diversas pessoas, mas existe uma exceção. “Acredito que não caiba para quem não tem certeza do que está buscando.”

Após o período sabático, Terra e Iara decidiram se mudar para a Espanha, onde vivem há um ano. O conselho primordial dos autores é se adaptar e abandonar velhos hábitos ruins.

“Saiba que você vai ter um período de adaptação muito difícil no começo. Você se sente apavorado por não ter nada para fazer, é importante calibrar a ansiedade.”

Ainda assim, para a dupla, é inevitável sair transformado do período. “O sabático te transforma de maneiras diferentes”, completa Iara.

Repensar a forma de trabalhar e até mesmo fazer uma transição de carreira. Esses são alguns dos efeitos de um período sabático. No caso de Eberson Terra, 40, a pausa de um ano trouxe uma reviravolta na carreira. Ele largou o cargo de diretor em uma fintech de educação, onde estava havia 12 anos, para virar consultor de carreira. A experiência feita ao lado da companheira, a jornalista Iara Vilela, 36, que também mudou aspectos na vida profissional e hoje escreve somente sobre turismo, rendeu ao casal o livro “Sabático: o Poder da Pausa”.

Na obra, os autores mostram o caminho das pedras para tornar essa parada estratégica possível. Ao Estadão, a dupla compartilhou orientações e desfez mitos para quem deseja tirar um período sabático, mas não sabe por onde começar.

O primeiro passo é entender que a pausa prolongada não possui o mesmo formato de férias ou de nomadismo digital. O sabático tem início, meio e fim e deve servir a um propósito na carreira.

Conheça a política da sua empresa

Embora não seja algo comum na maioria das empresas, o sabático é incorporado como benefício em algumas organizações.

Se não houver uma política clara em sua empresa, converse com o empregador e negocie acordos.

A modalidade CLT permite que o trabalhador tire um período de licença sem remuneração.

Mas é preciso ficar de olho nos detalhes. Por exemplo, se o objetivo é retornar para a empresa e continuar no mesmo cargo após a pausa, consulte a chefia e peça transparência sobre a possibilidade de haver mudanças durante o afastamento.

Isso evita que surjam surpresas depois do retorno, como uma troca de cargo ou setor.

Morte precoce de amiga inspirou projeto

Quando Terra comunicou à chefia o desejo de fazer uma pausa, em 2018, recebeu uma contraproposta para adiar o sabático.

“Estávamos passando por um projeto importante, mas queria encerrar o ciclo. Ainda perguntei se queriam me dar o período sabático e depois retornava. Mas não aceitaram. Então, mantive minha decisão, porque aquele era o meu momento, tinha feito o planejamento e tinha entendido que era o fim do ciclo”, relembra.

O estalo de ter uma vivência diferente do mundo corporativo veio com a morte precoce de uma amiga.

“Ela faleceu aos 42 anos sem conseguir fazer metade das coisas com que sonhava. Ela dedicou muito tempo dentro da empresa, trabalhava os três períodos. Pensei assim: ‘Não quero chegar aos 42 anos e não ter feito o que queria”, relata o autor, ao mencionar o ponto de partida para programar o sabático.

O planejamento no papel começou em 2015 e durou em torno de três anos, até o momento da demissão, em 2018.

O casal anotou todos os pontos que gostariam de fazer durante a pausa e quanto iriam gastar ao longo de 12 meses.

O consultor Eberson Terra, e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, que escreveram o livro “Sabático: o Poder da Pausa” e mudaram de vida.  Foto: Manu Rigoni/Divulgação

Sabático sem propósito é cilada

“Nós tínhamos um medo financeiro de como sobreviver depois do sabático”, revela Iara. A solução foi guardar dinheiro durante três anos - dentro da realidade do casal - e mapear quais áreas da vida poderiam ser barateadas.

A jornalista freelancer, que experimentou o nomadismo digital antes do sabático, conseguiu fazer um teste prévio de como seria trabalhar de qualquer lugar do mundo.

Iara aconselha partir da seguinte reflexão para encontrar os próprios objetivos e delimitar possibilidades: “Senta e vê o que é necessário para viver e do que você não abre mão.”

Se o período for utilizado para viajar, outras perguntas, por mais bobas que pareçam, tornam-se essenciais:

  • Qual é o seu luxo?
  • Quanto tempo tem para fazer isso?
  • Prefere ficar em um quarto de hotel sozinho(a) ou pode ficar em um quarto de hostel com mais oito pessoas?

“Tem que colocar no papel e rascunhar desde o arroz com feijão de todos os dias. Por exemplo, se o seu destino for a República Tcheca, olha quanto custa o feijão lá, quanto custa o hotel, uma passagem de avião e de trem”, orienta Iara, acrescentando que o esboço vai ajudar a chegar a um teto de gastos conforme a realidade de cada pessoa.

“Quem tem dinheiro vai poder fazer tudo ou vai guardar dinheiro suficiente, mas outras vão com o orçamento mais limitado.”

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

O período de reflexão nem sempre envolve viagem, principalmente para aqueles que podem enfrentar um sabático forçado, como uma demissão.

“A parte financeira vai depender muito do [contexto]. Às vezes, não é viajar, é ficar em casa, como fiz. Passei seis meses dentro de casa e outro seis viajando, a reflexão foi interna”, afirma Terra.

Pense na vida profissional ao retornar da pausa

Independentemente de quais sejam os motivos para embarcar em um sabático, o questionamento por parte de outras pessoas é algo unânime, alerta o casal.

Mas essa não é a etapa mais difícil da saga de uma pausa. Estar planejado para retornar ao mercado de trabalho é desafiador.

Período sabático não é a mesma coisa de férias prolongada ou nomadismo digital. Foto: Chen Mizrach/Unsplash

“Voltar, sem dúvida, é parte mais complicada. Às vezes, você retorna e não se sente pertencente ao lugar em que estava. Mais do que se recolocar no mercado, a vivência do sabático é algo íntimo. Você começa a perceber que seu modelo de vida também precisa ser alterado”, sugere Terra.

Segundo o coautor, a cultura de trabalho tende a ser repensada. “Eu era diretor de uma empresa, compreendi que para mim existem coisas mais importantes do que meu salário. Não consegui manter o meu padrão de vida, e tudo bem, porque tive esse período de reflexão e não quis voltar para o mercado para trabalhar 12 horas por dia.”

A nova mentalidade não significa sumir da rede de contatos. O LinkedIn, segundo o casal, deve continuar ativo, mesmo que de forma reduzida durante a pausa.

“Talvez, lá na frente, a pessoa precise de um contato que forneça uma oportunidade ou indique para algo quando retornar. Então, use o sabático também para fazer o networking funcionar, auxiliando outros profissionais.”

Se você tiver a sorte de estar em uma empresa que te proporcione sair e voltar para o mesmo lugar, ótimo. Mas a gente sabe que é difícil. Por isso, é importante manter uma grana para o retorno.

Iara Vilela, coautora do livro "Sabático: o poder da pausa"

Quem pode fazer um sabático?

Na experiência do casal, a pausa se encaixa para diversas pessoas, mas existe uma exceção. “Acredito que não caiba para quem não tem certeza do que está buscando.”

Após o período sabático, Terra e Iara decidiram se mudar para a Espanha, onde vivem há um ano. O conselho primordial dos autores é se adaptar e abandonar velhos hábitos ruins.

“Saiba que você vai ter um período de adaptação muito difícil no começo. Você se sente apavorado por não ter nada para fazer, é importante calibrar a ansiedade.”

Ainda assim, para a dupla, é inevitável sair transformado do período. “O sabático te transforma de maneiras diferentes”, completa Iara.

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