SÃO PAULO - Na primeira vez, pode parecer apenas uma brincadeira sem graça a ser respondida apenas com um sorriso amarelo. Mas a mesma situação repetia dia após dia, pode significar constrangimento e angústia. O bullying, velha conhecida de crianças e adolescentes, também é comum no ambiente de trabalho.
Trata-se de uma forma de assédio moral que se caracteriza por episódios intencionais e repetidos de violência física ou psicológica, que podem ser praticados por uma única pessoa ou por um grupo.
Dados do Ministério Público do Trabalho da 2ª Região, que abrange a capital paulista, região metropolitana e baixada santista, mostram que entre janeiro e setembro deste ano foram denunciados 467 denúncias de assédio moral no emprego. O número é 32% maior do que o registrado em todo o ano passado.
Boa parte dos casos de assédio moral podem ser definidos como bullyng, mas o Ministério Público não faz distinção entre um e outro. Os dois são enquadrados como conduta abusiva passível de punição e de indenização por danos morais, cujo valor varia conforme a gravidade. O agressor pode ser demitido por justa causa e responder a processo disciplinar e por danos morais. Em alguns casos, também por danos materiais.
Para o promotor Ramon Bezerra dos Santos, o aumento do debate sobre o assunto está incentivando as pessoas que sofrem assédio a procurar apoio.
Segundo o especialista em assessoria profissional e programação neurolinguística Marcelo Cardoso, o bullying faz a pessoa se sentir humilhada e perseguida, e normalmente ocorre quando há uma relação desigual de poder no ambiente de trabalho.
Entre as consequências para a vítima, está o descontrole emocional e físico, baixa autoestima, dificuldades para dormir, estresse e alto índice de faltas. Para o empregador, o efeito é a produtividade menor da equipe e a perda de bons profissionais. Confira a entrevista com Marcelo Cardoso e saiba se você é uma vítima:
Como saber se estou sofrendo bullying no trabalho?
O bullying pode aparecer de diferentes formas no ambiente de trabalho, mas ele se caracteriza principalmente por ações discriminatórias e vexatórias constantes. Cardoso diz que as práticas mais comuns são: receber críticas recorrentes e sem sentido; ser tratado de forma diferente do restante da sua equipe; ser excluído das decisões e da divisão de tarefas; estar excessivamente vigiado e ser alvo de xingamentos e piadas.
Eu gosto de fazer piadas com os meus colegas. Isso significa que estou praticando bullying?
A brincadeira no ambiente de trabalho é sadia e necessária, pois motiva e une a equipe. No entanto, a brincadeira deve respeitar os limites de cada um. A piada só será engraçada quando houver a aceitação do outro, portanto repare se o seu colega ficou constrangido ou chateado. Se ficou, é hora de parar e pedir desculpas.
O que eu devo fazer se eu for vítima de bullying?
Pessoas tímidas e introspectivas tendem a ser as principais vítimas de bullying e a reação mais comum é o isolamento. Além de não resolver a situação, isso prolongará o seu sofrimento. Então, num primeiro momento, tente conversar com o autor das ofensas ou da discriminação; se isso não funcionar, leve a situação para o seu gestor.
Mas e se o autor for justamente o meu chefe?
A primeira atitude ainda deve ser a tentativa de diálogo, mas se você não se sentir a vontade e acha que isso colocará o seu emprego em risco, procure o departamento de Recursos Humanos. Você também pode comunicar o sindicato de sua categoria e fazer uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho, que garante o seu anonimato.