Empresa de tecnologia adotou semana de 4 dias de trabalho, mas desistiu por queda na produtividade


Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, de IA e marketing digital, implantou modelo em março de 2021 e menos de 2 anos depois desistiu por falha no atendimento a clientes e menos produtividade

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

Em 2021, Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, startup de inteligência artificial e serviços de marketing digital, a partir de um livro que leu, decidiu incorporar a semana de 4 dias para os mais de 30 funcionários da empresa em todos os setores. Quase dois anos após o experimento, ele recuou. Na prática, a sexta-feira livre se tornou um problema. Conforme publicação no LinkedIn feita pelo próprio executivo, três problemas aceleraram a desistência do modelo de trabalho.

Três problemas apontados pelo CEO:

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  1. Atendimento ao cliente
  2. Falta de clareza
  3. Queda na produtividade

De acordo com o CEO, o atendimento ao cliente foi a primeira falha identificada. Isso porque a mudança não foi corretamente informada aos clientes, e eles não queriam saber se os funcionários estavam trabalhando ou não. Queriam ter o problema resolvido naquele momento.

“Não trabalhar na sexta gerou muito atrito com clientes”, escreveu Cordeiro na publicação. Durante a folga, não havia escala de funcionários para solucionar possíveis emergências.

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Em entrevista ao Estadão, o CEO conta que avaliou a partir de reuniões semanais e estudos a possibilidade de rodízio, mas não fazia sentido na época porque significaria aumento de custo pela estrutura da startup, que é enxuta. A redução de carga horária também não funcionava, segundo Cordeiro, por causa do fuso horário, já que muitos funcionários moravam em diferentes países.

O CEO da startup Marfin, Ivan Cordeiro. Foto: Arquivo pessoal

A falta de clareza em como usar a sexta livre também virou um problema. O CEO admite que tentou replicar um modelo do Google na startup. Mas não saiu como esperava. No projeto original, engenheiros da multinacional usavam 20% do tempo para projetos pessoais. Não foi exatamente o que aconteceu na Marfin.

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“Foi uma expectativa que ficou só na minha cabeça, e eu me frustrei em ver que as pessoas só tiravam folga mesmo, e elas não estavam erradas”, relata.

O último erro no percurso tem a ver com produtividade. Os números caíram, e as entregas começaram a sofrer atrasos. “Exceto por alguns dos profissionais que já tinham performance acima da média”, diz Cordeiro.

“Minha sugestão foi usar a sexta-feira para desenvolver projetos, ideias. Muitas das funcionalidades que temos hoje vieram daí. Mas ela poderia ser tirada como uma sexta livre, se quisesse e estivesse com tudo em dia”, disse em entrevista.

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O executivo faz a ‘mea culpa’ em relação ao fracasso do teste. Ele avalia que “faltou maturidade da gestão e da equipe.” Por outro lado, reconhece que além do ponto atrativo da startup funcionar de forma 100% remota (modelo em vigência até hoje), a semana de 4 dias proporcionou vantagem competitiva na hora de contratar e reter funcionários.

“Nós ganhávamos quase qualquer contratação. Mostrando que a tríade salário competitivo, boas condições e flexibilidade é praticamente imbatível.”

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No entanto, o benefício não foi suficiente para manter a jornada de trabalho reduzida. Em dezembro de 2022, a empresa cancelou a semana de 4 dias e os funcionários voltaram à rotina antiga: de segunda a sexta-feira.

Hoje, Cordeiro não descarta a possibilidade de retomar o modelo, mas só pretende arriscar novamente após um período de preparação. “A nossa questão foi dar uma pausa para depois voltar com esses aprendizados. Qualquer coisa que possa melhorar a vida de quem trabalha comigo e ainda manter a empresa lucrativa, é válido de teste.”

O CEO recomenda que as empresas façam o diagnóstico da cultura corporativa e o mapeamento da maturidade dos funcionários antes de adotar o modelo. Ele afirma que seguiu todas as orientações e, mesmo assim, alguns pontos não funcionaram.

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“É assim que funciona com qualquer experimento”, declara.

O post com mais de 14 mil curtidas gerou opiniões controversas. Alguns comentaram que o CEO fez o processo da maneira certa e que serviu de aprendizado.

Outros disseram que o executivo errou em apenas remover um dia da semana e não estruturar o modelo. Afinal, existe um jeito certo de implementar a semana de 4 dias?

Vai depender da estrutura da empresa. Quem afirma é Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por tocar o projeto-piloto da jornada de 4 dias no Brasil.

Erros que devem ser evitados antes de aderir ao modelo de 4 dias

Renata Rivetti reforça que a semana de 4 dias não é um projeto de redução de horas ou de simplesmente tirar a sexta do calendário de trabalho.

Segundo a especialista, o principal erro que as empresas cometem é o de não envolver todos os funcionários no redesenho do trabalho.

“Para o projeto dar certo, é preciso que todo mundo entenda e faça mudanças no dia a dia. Se as pessoas não mudarem fazendo momentos de hiperfoco, reuniões mais curtas e tentarem resolver a comunicação sem fazer tudo ao mesmo tempo, é certo que o projeto não vai dar certo”, orienta.

Redesenho do trabalho:

  • Troque reuniões longas, com muitos participantes e sem pautas definidas por reuniões curtas, objetivas e bem administradas
  • Para ficar mais focado, comece a observar as distrações e a perda de tempo com atividades desnecessárias
  • Quando possível, opte por processos automatizados, em vez de manuais

No caso de empresas que precisam trabalhar 24/7, a sugestão de Rivetti é comunicar ao cliente que nada vai mudar, porque a empresa vai contar com plantões.

Um exemplo citado pela especialista é a escala. “Uma parte do time tira (o dia livre) na sexta, e o resto tira em outro dia. Algumas empresas não vão fechar na sexta, já outras por terem mais flexibilidade e baixo contato com o cliente na sexta, vão avisar e ver eventuais imprevistos”, aponta.

Outro ponto que o empregador deve ficar atento é a escolha do dia livre. Não é obrigatório ser na sexta-feira ou em apenas um dia único. A redução do tempo pode ser feito em qualquer outro dia da semana ou incorporado em um corte de 20% diariamente.

Modelo de 4 dias deve ser implementado de maneira estruturada e levando em consideração a realidade de cada empresa. Foto: DIV/Adobe Stock

Em relação à produtividade, o primeiro passo é ter mais clareza sobre as atividades de cada funcionário. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que é urgente para determinada semana”, diz.

O trabalho assíncrono (quando diferentes pessoas de uma mesma equipe atuam em horários diferentes) também deve ser adotado com mais precisão pelas empresas.

É importante ter um documento que permita que os funcionários trabalhem juntos sem a necessidade de se encontrarem presencialmente.

Fazer melhor uso das tecnologias também pode facilitar o sucesso da semana de 4 dias. “A inteligência artificial pode nos ajudar a resolver questões, a ser mais práticos, trabalhar menos no operacional e mais no estratégico e no criativo”, afirma.

Rever os processos que estão falhos durante a fase de testes evita erros mais graves futuramente.

Em 2021, Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, startup de inteligência artificial e serviços de marketing digital, a partir de um livro que leu, decidiu incorporar a semana de 4 dias para os mais de 30 funcionários da empresa em todos os setores. Quase dois anos após o experimento, ele recuou. Na prática, a sexta-feira livre se tornou um problema. Conforme publicação no LinkedIn feita pelo próprio executivo, três problemas aceleraram a desistência do modelo de trabalho.

Três problemas apontados pelo CEO:

  1. Atendimento ao cliente
  2. Falta de clareza
  3. Queda na produtividade

De acordo com o CEO, o atendimento ao cliente foi a primeira falha identificada. Isso porque a mudança não foi corretamente informada aos clientes, e eles não queriam saber se os funcionários estavam trabalhando ou não. Queriam ter o problema resolvido naquele momento.

“Não trabalhar na sexta gerou muito atrito com clientes”, escreveu Cordeiro na publicação. Durante a folga, não havia escala de funcionários para solucionar possíveis emergências.

Em entrevista ao Estadão, o CEO conta que avaliou a partir de reuniões semanais e estudos a possibilidade de rodízio, mas não fazia sentido na época porque significaria aumento de custo pela estrutura da startup, que é enxuta. A redução de carga horária também não funcionava, segundo Cordeiro, por causa do fuso horário, já que muitos funcionários moravam em diferentes países.

O CEO da startup Marfin, Ivan Cordeiro. Foto: Arquivo pessoal

A falta de clareza em como usar a sexta livre também virou um problema. O CEO admite que tentou replicar um modelo do Google na startup. Mas não saiu como esperava. No projeto original, engenheiros da multinacional usavam 20% do tempo para projetos pessoais. Não foi exatamente o que aconteceu na Marfin.

“Foi uma expectativa que ficou só na minha cabeça, e eu me frustrei em ver que as pessoas só tiravam folga mesmo, e elas não estavam erradas”, relata.

O último erro no percurso tem a ver com produtividade. Os números caíram, e as entregas começaram a sofrer atrasos. “Exceto por alguns dos profissionais que já tinham performance acima da média”, diz Cordeiro.

“Minha sugestão foi usar a sexta-feira para desenvolver projetos, ideias. Muitas das funcionalidades que temos hoje vieram daí. Mas ela poderia ser tirada como uma sexta livre, se quisesse e estivesse com tudo em dia”, disse em entrevista.

O executivo faz a ‘mea culpa’ em relação ao fracasso do teste. Ele avalia que “faltou maturidade da gestão e da equipe.” Por outro lado, reconhece que além do ponto atrativo da startup funcionar de forma 100% remota (modelo em vigência até hoje), a semana de 4 dias proporcionou vantagem competitiva na hora de contratar e reter funcionários.

“Nós ganhávamos quase qualquer contratação. Mostrando que a tríade salário competitivo, boas condições e flexibilidade é praticamente imbatível.”

No entanto, o benefício não foi suficiente para manter a jornada de trabalho reduzida. Em dezembro de 2022, a empresa cancelou a semana de 4 dias e os funcionários voltaram à rotina antiga: de segunda a sexta-feira.

Hoje, Cordeiro não descarta a possibilidade de retomar o modelo, mas só pretende arriscar novamente após um período de preparação. “A nossa questão foi dar uma pausa para depois voltar com esses aprendizados. Qualquer coisa que possa melhorar a vida de quem trabalha comigo e ainda manter a empresa lucrativa, é válido de teste.”

O CEO recomenda que as empresas façam o diagnóstico da cultura corporativa e o mapeamento da maturidade dos funcionários antes de adotar o modelo. Ele afirma que seguiu todas as orientações e, mesmo assim, alguns pontos não funcionaram.

“É assim que funciona com qualquer experimento”, declara.

O post com mais de 14 mil curtidas gerou opiniões controversas. Alguns comentaram que o CEO fez o processo da maneira certa e que serviu de aprendizado.

Outros disseram que o executivo errou em apenas remover um dia da semana e não estruturar o modelo. Afinal, existe um jeito certo de implementar a semana de 4 dias?

Vai depender da estrutura da empresa. Quem afirma é Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por tocar o projeto-piloto da jornada de 4 dias no Brasil.

Erros que devem ser evitados antes de aderir ao modelo de 4 dias

Renata Rivetti reforça que a semana de 4 dias não é um projeto de redução de horas ou de simplesmente tirar a sexta do calendário de trabalho.

Segundo a especialista, o principal erro que as empresas cometem é o de não envolver todos os funcionários no redesenho do trabalho.

“Para o projeto dar certo, é preciso que todo mundo entenda e faça mudanças no dia a dia. Se as pessoas não mudarem fazendo momentos de hiperfoco, reuniões mais curtas e tentarem resolver a comunicação sem fazer tudo ao mesmo tempo, é certo que o projeto não vai dar certo”, orienta.

Redesenho do trabalho:

  • Troque reuniões longas, com muitos participantes e sem pautas definidas por reuniões curtas, objetivas e bem administradas
  • Para ficar mais focado, comece a observar as distrações e a perda de tempo com atividades desnecessárias
  • Quando possível, opte por processos automatizados, em vez de manuais

No caso de empresas que precisam trabalhar 24/7, a sugestão de Rivetti é comunicar ao cliente que nada vai mudar, porque a empresa vai contar com plantões.

Um exemplo citado pela especialista é a escala. “Uma parte do time tira (o dia livre) na sexta, e o resto tira em outro dia. Algumas empresas não vão fechar na sexta, já outras por terem mais flexibilidade e baixo contato com o cliente na sexta, vão avisar e ver eventuais imprevistos”, aponta.

Outro ponto que o empregador deve ficar atento é a escolha do dia livre. Não é obrigatório ser na sexta-feira ou em apenas um dia único. A redução do tempo pode ser feito em qualquer outro dia da semana ou incorporado em um corte de 20% diariamente.

Modelo de 4 dias deve ser implementado de maneira estruturada e levando em consideração a realidade de cada empresa. Foto: DIV/Adobe Stock

Em relação à produtividade, o primeiro passo é ter mais clareza sobre as atividades de cada funcionário. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que é urgente para determinada semana”, diz.

O trabalho assíncrono (quando diferentes pessoas de uma mesma equipe atuam em horários diferentes) também deve ser adotado com mais precisão pelas empresas.

É importante ter um documento que permita que os funcionários trabalhem juntos sem a necessidade de se encontrarem presencialmente.

Fazer melhor uso das tecnologias também pode facilitar o sucesso da semana de 4 dias. “A inteligência artificial pode nos ajudar a resolver questões, a ser mais práticos, trabalhar menos no operacional e mais no estratégico e no criativo”, afirma.

Rever os processos que estão falhos durante a fase de testes evita erros mais graves futuramente.

Em 2021, Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, startup de inteligência artificial e serviços de marketing digital, a partir de um livro que leu, decidiu incorporar a semana de 4 dias para os mais de 30 funcionários da empresa em todos os setores. Quase dois anos após o experimento, ele recuou. Na prática, a sexta-feira livre se tornou um problema. Conforme publicação no LinkedIn feita pelo próprio executivo, três problemas aceleraram a desistência do modelo de trabalho.

Três problemas apontados pelo CEO:

  1. Atendimento ao cliente
  2. Falta de clareza
  3. Queda na produtividade

De acordo com o CEO, o atendimento ao cliente foi a primeira falha identificada. Isso porque a mudança não foi corretamente informada aos clientes, e eles não queriam saber se os funcionários estavam trabalhando ou não. Queriam ter o problema resolvido naquele momento.

“Não trabalhar na sexta gerou muito atrito com clientes”, escreveu Cordeiro na publicação. Durante a folga, não havia escala de funcionários para solucionar possíveis emergências.

Em entrevista ao Estadão, o CEO conta que avaliou a partir de reuniões semanais e estudos a possibilidade de rodízio, mas não fazia sentido na época porque significaria aumento de custo pela estrutura da startup, que é enxuta. A redução de carga horária também não funcionava, segundo Cordeiro, por causa do fuso horário, já que muitos funcionários moravam em diferentes países.

O CEO da startup Marfin, Ivan Cordeiro. Foto: Arquivo pessoal

A falta de clareza em como usar a sexta livre também virou um problema. O CEO admite que tentou replicar um modelo do Google na startup. Mas não saiu como esperava. No projeto original, engenheiros da multinacional usavam 20% do tempo para projetos pessoais. Não foi exatamente o que aconteceu na Marfin.

“Foi uma expectativa que ficou só na minha cabeça, e eu me frustrei em ver que as pessoas só tiravam folga mesmo, e elas não estavam erradas”, relata.

O último erro no percurso tem a ver com produtividade. Os números caíram, e as entregas começaram a sofrer atrasos. “Exceto por alguns dos profissionais que já tinham performance acima da média”, diz Cordeiro.

“Minha sugestão foi usar a sexta-feira para desenvolver projetos, ideias. Muitas das funcionalidades que temos hoje vieram daí. Mas ela poderia ser tirada como uma sexta livre, se quisesse e estivesse com tudo em dia”, disse em entrevista.

O executivo faz a ‘mea culpa’ em relação ao fracasso do teste. Ele avalia que “faltou maturidade da gestão e da equipe.” Por outro lado, reconhece que além do ponto atrativo da startup funcionar de forma 100% remota (modelo em vigência até hoje), a semana de 4 dias proporcionou vantagem competitiva na hora de contratar e reter funcionários.

“Nós ganhávamos quase qualquer contratação. Mostrando que a tríade salário competitivo, boas condições e flexibilidade é praticamente imbatível.”

No entanto, o benefício não foi suficiente para manter a jornada de trabalho reduzida. Em dezembro de 2022, a empresa cancelou a semana de 4 dias e os funcionários voltaram à rotina antiga: de segunda a sexta-feira.

Hoje, Cordeiro não descarta a possibilidade de retomar o modelo, mas só pretende arriscar novamente após um período de preparação. “A nossa questão foi dar uma pausa para depois voltar com esses aprendizados. Qualquer coisa que possa melhorar a vida de quem trabalha comigo e ainda manter a empresa lucrativa, é válido de teste.”

O CEO recomenda que as empresas façam o diagnóstico da cultura corporativa e o mapeamento da maturidade dos funcionários antes de adotar o modelo. Ele afirma que seguiu todas as orientações e, mesmo assim, alguns pontos não funcionaram.

“É assim que funciona com qualquer experimento”, declara.

O post com mais de 14 mil curtidas gerou opiniões controversas. Alguns comentaram que o CEO fez o processo da maneira certa e que serviu de aprendizado.

Outros disseram que o executivo errou em apenas remover um dia da semana e não estruturar o modelo. Afinal, existe um jeito certo de implementar a semana de 4 dias?

Vai depender da estrutura da empresa. Quem afirma é Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por tocar o projeto-piloto da jornada de 4 dias no Brasil.

Erros que devem ser evitados antes de aderir ao modelo de 4 dias

Renata Rivetti reforça que a semana de 4 dias não é um projeto de redução de horas ou de simplesmente tirar a sexta do calendário de trabalho.

Segundo a especialista, o principal erro que as empresas cometem é o de não envolver todos os funcionários no redesenho do trabalho.

“Para o projeto dar certo, é preciso que todo mundo entenda e faça mudanças no dia a dia. Se as pessoas não mudarem fazendo momentos de hiperfoco, reuniões mais curtas e tentarem resolver a comunicação sem fazer tudo ao mesmo tempo, é certo que o projeto não vai dar certo”, orienta.

Redesenho do trabalho:

  • Troque reuniões longas, com muitos participantes e sem pautas definidas por reuniões curtas, objetivas e bem administradas
  • Para ficar mais focado, comece a observar as distrações e a perda de tempo com atividades desnecessárias
  • Quando possível, opte por processos automatizados, em vez de manuais

No caso de empresas que precisam trabalhar 24/7, a sugestão de Rivetti é comunicar ao cliente que nada vai mudar, porque a empresa vai contar com plantões.

Um exemplo citado pela especialista é a escala. “Uma parte do time tira (o dia livre) na sexta, e o resto tira em outro dia. Algumas empresas não vão fechar na sexta, já outras por terem mais flexibilidade e baixo contato com o cliente na sexta, vão avisar e ver eventuais imprevistos”, aponta.

Outro ponto que o empregador deve ficar atento é a escolha do dia livre. Não é obrigatório ser na sexta-feira ou em apenas um dia único. A redução do tempo pode ser feito em qualquer outro dia da semana ou incorporado em um corte de 20% diariamente.

Modelo de 4 dias deve ser implementado de maneira estruturada e levando em consideração a realidade de cada empresa. Foto: DIV/Adobe Stock

Em relação à produtividade, o primeiro passo é ter mais clareza sobre as atividades de cada funcionário. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que é urgente para determinada semana”, diz.

O trabalho assíncrono (quando diferentes pessoas de uma mesma equipe atuam em horários diferentes) também deve ser adotado com mais precisão pelas empresas.

É importante ter um documento que permita que os funcionários trabalhem juntos sem a necessidade de se encontrarem presencialmente.

Fazer melhor uso das tecnologias também pode facilitar o sucesso da semana de 4 dias. “A inteligência artificial pode nos ajudar a resolver questões, a ser mais práticos, trabalhar menos no operacional e mais no estratégico e no criativo”, afirma.

Rever os processos que estão falhos durante a fase de testes evita erros mais graves futuramente.

Em 2021, Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, startup de inteligência artificial e serviços de marketing digital, a partir de um livro que leu, decidiu incorporar a semana de 4 dias para os mais de 30 funcionários da empresa em todos os setores. Quase dois anos após o experimento, ele recuou. Na prática, a sexta-feira livre se tornou um problema. Conforme publicação no LinkedIn feita pelo próprio executivo, três problemas aceleraram a desistência do modelo de trabalho.

Três problemas apontados pelo CEO:

  1. Atendimento ao cliente
  2. Falta de clareza
  3. Queda na produtividade

De acordo com o CEO, o atendimento ao cliente foi a primeira falha identificada. Isso porque a mudança não foi corretamente informada aos clientes, e eles não queriam saber se os funcionários estavam trabalhando ou não. Queriam ter o problema resolvido naquele momento.

“Não trabalhar na sexta gerou muito atrito com clientes”, escreveu Cordeiro na publicação. Durante a folga, não havia escala de funcionários para solucionar possíveis emergências.

Em entrevista ao Estadão, o CEO conta que avaliou a partir de reuniões semanais e estudos a possibilidade de rodízio, mas não fazia sentido na época porque significaria aumento de custo pela estrutura da startup, que é enxuta. A redução de carga horária também não funcionava, segundo Cordeiro, por causa do fuso horário, já que muitos funcionários moravam em diferentes países.

O CEO da startup Marfin, Ivan Cordeiro. Foto: Arquivo pessoal

A falta de clareza em como usar a sexta livre também virou um problema. O CEO admite que tentou replicar um modelo do Google na startup. Mas não saiu como esperava. No projeto original, engenheiros da multinacional usavam 20% do tempo para projetos pessoais. Não foi exatamente o que aconteceu na Marfin.

“Foi uma expectativa que ficou só na minha cabeça, e eu me frustrei em ver que as pessoas só tiravam folga mesmo, e elas não estavam erradas”, relata.

O último erro no percurso tem a ver com produtividade. Os números caíram, e as entregas começaram a sofrer atrasos. “Exceto por alguns dos profissionais que já tinham performance acima da média”, diz Cordeiro.

“Minha sugestão foi usar a sexta-feira para desenvolver projetos, ideias. Muitas das funcionalidades que temos hoje vieram daí. Mas ela poderia ser tirada como uma sexta livre, se quisesse e estivesse com tudo em dia”, disse em entrevista.

O executivo faz a ‘mea culpa’ em relação ao fracasso do teste. Ele avalia que “faltou maturidade da gestão e da equipe.” Por outro lado, reconhece que além do ponto atrativo da startup funcionar de forma 100% remota (modelo em vigência até hoje), a semana de 4 dias proporcionou vantagem competitiva na hora de contratar e reter funcionários.

“Nós ganhávamos quase qualquer contratação. Mostrando que a tríade salário competitivo, boas condições e flexibilidade é praticamente imbatível.”

No entanto, o benefício não foi suficiente para manter a jornada de trabalho reduzida. Em dezembro de 2022, a empresa cancelou a semana de 4 dias e os funcionários voltaram à rotina antiga: de segunda a sexta-feira.

Hoje, Cordeiro não descarta a possibilidade de retomar o modelo, mas só pretende arriscar novamente após um período de preparação. “A nossa questão foi dar uma pausa para depois voltar com esses aprendizados. Qualquer coisa que possa melhorar a vida de quem trabalha comigo e ainda manter a empresa lucrativa, é válido de teste.”

O CEO recomenda que as empresas façam o diagnóstico da cultura corporativa e o mapeamento da maturidade dos funcionários antes de adotar o modelo. Ele afirma que seguiu todas as orientações e, mesmo assim, alguns pontos não funcionaram.

“É assim que funciona com qualquer experimento”, declara.

O post com mais de 14 mil curtidas gerou opiniões controversas. Alguns comentaram que o CEO fez o processo da maneira certa e que serviu de aprendizado.

Outros disseram que o executivo errou em apenas remover um dia da semana e não estruturar o modelo. Afinal, existe um jeito certo de implementar a semana de 4 dias?

Vai depender da estrutura da empresa. Quem afirma é Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por tocar o projeto-piloto da jornada de 4 dias no Brasil.

Erros que devem ser evitados antes de aderir ao modelo de 4 dias

Renata Rivetti reforça que a semana de 4 dias não é um projeto de redução de horas ou de simplesmente tirar a sexta do calendário de trabalho.

Segundo a especialista, o principal erro que as empresas cometem é o de não envolver todos os funcionários no redesenho do trabalho.

“Para o projeto dar certo, é preciso que todo mundo entenda e faça mudanças no dia a dia. Se as pessoas não mudarem fazendo momentos de hiperfoco, reuniões mais curtas e tentarem resolver a comunicação sem fazer tudo ao mesmo tempo, é certo que o projeto não vai dar certo”, orienta.

Redesenho do trabalho:

  • Troque reuniões longas, com muitos participantes e sem pautas definidas por reuniões curtas, objetivas e bem administradas
  • Para ficar mais focado, comece a observar as distrações e a perda de tempo com atividades desnecessárias
  • Quando possível, opte por processos automatizados, em vez de manuais

No caso de empresas que precisam trabalhar 24/7, a sugestão de Rivetti é comunicar ao cliente que nada vai mudar, porque a empresa vai contar com plantões.

Um exemplo citado pela especialista é a escala. “Uma parte do time tira (o dia livre) na sexta, e o resto tira em outro dia. Algumas empresas não vão fechar na sexta, já outras por terem mais flexibilidade e baixo contato com o cliente na sexta, vão avisar e ver eventuais imprevistos”, aponta.

Outro ponto que o empregador deve ficar atento é a escolha do dia livre. Não é obrigatório ser na sexta-feira ou em apenas um dia único. A redução do tempo pode ser feito em qualquer outro dia da semana ou incorporado em um corte de 20% diariamente.

Modelo de 4 dias deve ser implementado de maneira estruturada e levando em consideração a realidade de cada empresa. Foto: DIV/Adobe Stock

Em relação à produtividade, o primeiro passo é ter mais clareza sobre as atividades de cada funcionário. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que é urgente para determinada semana”, diz.

O trabalho assíncrono (quando diferentes pessoas de uma mesma equipe atuam em horários diferentes) também deve ser adotado com mais precisão pelas empresas.

É importante ter um documento que permita que os funcionários trabalhem juntos sem a necessidade de se encontrarem presencialmente.

Fazer melhor uso das tecnologias também pode facilitar o sucesso da semana de 4 dias. “A inteligência artificial pode nos ajudar a resolver questões, a ser mais práticos, trabalhar menos no operacional e mais no estratégico e no criativo”, afirma.

Rever os processos que estão falhos durante a fase de testes evita erros mais graves futuramente.

Em 2021, Ivan Cordeiro, CEO da Marfin, startup de inteligência artificial e serviços de marketing digital, a partir de um livro que leu, decidiu incorporar a semana de 4 dias para os mais de 30 funcionários da empresa em todos os setores. Quase dois anos após o experimento, ele recuou. Na prática, a sexta-feira livre se tornou um problema. Conforme publicação no LinkedIn feita pelo próprio executivo, três problemas aceleraram a desistência do modelo de trabalho.

Três problemas apontados pelo CEO:

  1. Atendimento ao cliente
  2. Falta de clareza
  3. Queda na produtividade

De acordo com o CEO, o atendimento ao cliente foi a primeira falha identificada. Isso porque a mudança não foi corretamente informada aos clientes, e eles não queriam saber se os funcionários estavam trabalhando ou não. Queriam ter o problema resolvido naquele momento.

“Não trabalhar na sexta gerou muito atrito com clientes”, escreveu Cordeiro na publicação. Durante a folga, não havia escala de funcionários para solucionar possíveis emergências.

Em entrevista ao Estadão, o CEO conta que avaliou a partir de reuniões semanais e estudos a possibilidade de rodízio, mas não fazia sentido na época porque significaria aumento de custo pela estrutura da startup, que é enxuta. A redução de carga horária também não funcionava, segundo Cordeiro, por causa do fuso horário, já que muitos funcionários moravam em diferentes países.

O CEO da startup Marfin, Ivan Cordeiro. Foto: Arquivo pessoal

A falta de clareza em como usar a sexta livre também virou um problema. O CEO admite que tentou replicar um modelo do Google na startup. Mas não saiu como esperava. No projeto original, engenheiros da multinacional usavam 20% do tempo para projetos pessoais. Não foi exatamente o que aconteceu na Marfin.

“Foi uma expectativa que ficou só na minha cabeça, e eu me frustrei em ver que as pessoas só tiravam folga mesmo, e elas não estavam erradas”, relata.

O último erro no percurso tem a ver com produtividade. Os números caíram, e as entregas começaram a sofrer atrasos. “Exceto por alguns dos profissionais que já tinham performance acima da média”, diz Cordeiro.

“Minha sugestão foi usar a sexta-feira para desenvolver projetos, ideias. Muitas das funcionalidades que temos hoje vieram daí. Mas ela poderia ser tirada como uma sexta livre, se quisesse e estivesse com tudo em dia”, disse em entrevista.

O executivo faz a ‘mea culpa’ em relação ao fracasso do teste. Ele avalia que “faltou maturidade da gestão e da equipe.” Por outro lado, reconhece que além do ponto atrativo da startup funcionar de forma 100% remota (modelo em vigência até hoje), a semana de 4 dias proporcionou vantagem competitiva na hora de contratar e reter funcionários.

“Nós ganhávamos quase qualquer contratação. Mostrando que a tríade salário competitivo, boas condições e flexibilidade é praticamente imbatível.”

No entanto, o benefício não foi suficiente para manter a jornada de trabalho reduzida. Em dezembro de 2022, a empresa cancelou a semana de 4 dias e os funcionários voltaram à rotina antiga: de segunda a sexta-feira.

Hoje, Cordeiro não descarta a possibilidade de retomar o modelo, mas só pretende arriscar novamente após um período de preparação. “A nossa questão foi dar uma pausa para depois voltar com esses aprendizados. Qualquer coisa que possa melhorar a vida de quem trabalha comigo e ainda manter a empresa lucrativa, é válido de teste.”

O CEO recomenda que as empresas façam o diagnóstico da cultura corporativa e o mapeamento da maturidade dos funcionários antes de adotar o modelo. Ele afirma que seguiu todas as orientações e, mesmo assim, alguns pontos não funcionaram.

“É assim que funciona com qualquer experimento”, declara.

O post com mais de 14 mil curtidas gerou opiniões controversas. Alguns comentaram que o CEO fez o processo da maneira certa e que serviu de aprendizado.

Outros disseram que o executivo errou em apenas remover um dia da semana e não estruturar o modelo. Afinal, existe um jeito certo de implementar a semana de 4 dias?

Vai depender da estrutura da empresa. Quem afirma é Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por tocar o projeto-piloto da jornada de 4 dias no Brasil.

Erros que devem ser evitados antes de aderir ao modelo de 4 dias

Renata Rivetti reforça que a semana de 4 dias não é um projeto de redução de horas ou de simplesmente tirar a sexta do calendário de trabalho.

Segundo a especialista, o principal erro que as empresas cometem é o de não envolver todos os funcionários no redesenho do trabalho.

“Para o projeto dar certo, é preciso que todo mundo entenda e faça mudanças no dia a dia. Se as pessoas não mudarem fazendo momentos de hiperfoco, reuniões mais curtas e tentarem resolver a comunicação sem fazer tudo ao mesmo tempo, é certo que o projeto não vai dar certo”, orienta.

Redesenho do trabalho:

  • Troque reuniões longas, com muitos participantes e sem pautas definidas por reuniões curtas, objetivas e bem administradas
  • Para ficar mais focado, comece a observar as distrações e a perda de tempo com atividades desnecessárias
  • Quando possível, opte por processos automatizados, em vez de manuais

No caso de empresas que precisam trabalhar 24/7, a sugestão de Rivetti é comunicar ao cliente que nada vai mudar, porque a empresa vai contar com plantões.

Um exemplo citado pela especialista é a escala. “Uma parte do time tira (o dia livre) na sexta, e o resto tira em outro dia. Algumas empresas não vão fechar na sexta, já outras por terem mais flexibilidade e baixo contato com o cliente na sexta, vão avisar e ver eventuais imprevistos”, aponta.

Outro ponto que o empregador deve ficar atento é a escolha do dia livre. Não é obrigatório ser na sexta-feira ou em apenas um dia único. A redução do tempo pode ser feito em qualquer outro dia da semana ou incorporado em um corte de 20% diariamente.

Modelo de 4 dias deve ser implementado de maneira estruturada e levando em consideração a realidade de cada empresa. Foto: DIV/Adobe Stock

Em relação à produtividade, o primeiro passo é ter mais clareza sobre as atividades de cada funcionário. “Muitas vezes, as pessoas não sabem o que é urgente para determinada semana”, diz.

O trabalho assíncrono (quando diferentes pessoas de uma mesma equipe atuam em horários diferentes) também deve ser adotado com mais precisão pelas empresas.

É importante ter um documento que permita que os funcionários trabalhem juntos sem a necessidade de se encontrarem presencialmente.

Fazer melhor uso das tecnologias também pode facilitar o sucesso da semana de 4 dias. “A inteligência artificial pode nos ajudar a resolver questões, a ser mais práticos, trabalhar menos no operacional e mais no estratégico e no criativo”, afirma.

Rever os processos que estão falhos durante a fase de testes evita erros mais graves futuramente.

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