Semana de 4 dias de trabalho no Brasil: Empresas que experimentaram por 6 meses contam o que acharam


Das 21 empresas que entraram no projeto-piloto para testar a viabilidade do modelo, 19 decidiram seguir com a redução de tempo

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

O projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil chegou ao fim e trouxe uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas 19 empresas ativas no experimento. A temporada de testes, que durou seis meses, foi considerada bem-sucedida pelas empresas e funcionários.

Das 21 empresas de vários setores do País que entraram no projeto-piloto para testar a viabilidade do modelo, 19 decidiram seguir com a redução de tempo, mantendo o modelo proposto, ampliando o tempo de teste ou fazendo adaptações. O experimento propõe 100% de produtividade, trabalhando 80% do tempo e com 100% do salário.

continua após a publicidade

Veja como as empresas decidiram seguir:

  • 8 empresas adotaram oficialmente a semana de 4 dias de forma permanente, sem intenção de voltar ao modelo anterior;
  • 7 organizações devem estender o teste até o final do ano;
  • Uma companhia está expandindo a jornada reduzida para outras áreas específicas;
  • As outras 3 ainda estão decidindo quais ajustes serão necessários.

Uma empresa do Rio Grande do Sul saiu do programa por causa dos eventos climáticos extremos que atingiram parte do estado, enquanto outra decidiu se desligar do projeto devido a uma mudança na direção da companhia.

continua após a publicidade

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por conduzir os testes, afirma que o projeto foi bem recebido pelas empresas, pois cada uma encontrou uma forma de adaptar o modelo de trabalho de acordo com suas necessidades e rotinas.

A flexibilidade é essencial. Algumas empresas optaram por não tirar todas as sextas, mas adaptar a carga horária conforme necessário.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work

continua após a publicidade

Ao todo, 252 funcionários participaram do projeto-piloto no Brasil. Conforme o relatório final, 87,4% dos colaboradores sentem mais energia para trabalhar, 72,8% disseram estar menos estressados por causa do trabalho, 42% estavam dormindo melhor e mais da metade (52,6%) notaram uma melhoria na capacidade cumprir prazos.

Confira tabela abaixo:

continua após a publicidade

Houve uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas empresas ativas no experimento. Antes, a jornada semanal era de 42,8 horas. Após o término do piloto, esse número caiu para 36,5.

Maioria das lideranças aprovam redução da jornada

O feedback da alta liderança mostrou que 84,6% dos líderes acreditam que a participação no piloto trouxe benefícios para a empresa, com melhorias em produtividade, bem-estar dos funcionários e engajamento. Por outro lado, 15,4% dos gestores permaneceram neutros, indicando que a experiência não trouxe mudanças perceptíveis para eles.

continua após a publicidade

Do lado dos funcionários, quase metade notou um ritmo de trabalho mais acelerado, enquanto 20% sentiram um aumento na pressão.

Na empresa Greco Design, sediada em Belo Horizonte (MG), a dinâmica de 4 dias será mantida do modo como foi implementado: toda a equipe de 22 funcionários folgando às sextas-feiras.

A decisão de adotar a semana de 4 dias foi impulsionada pelo desejo de reduzir o excesso de trabalho, afirma Gustavo Greco, 49, um dos sócios da empresa. Mas antes mesmo de entrar no projeto-piloto, a gerência da companhia experimentou eliminar as últimas sextas-feiras do mês.

continua após a publicidade
Não avisamos para ninguém. Descartamos as últimas sextas e sentimos que não tinha acontecido nada de grave. Pelo contrário, as pessoas começaram a viver coisas que elas não tinham a possibilidade de fazer antes.

Gustavo Greco, sócio da Greco Design

Gustavo Greco, sócio da empresa Greco Design, uma das participantes do projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil.  Foto: Washington Alves/Estadao

Ao longo do projeto, a organização implementou algumas estratégias para evitar que os funcionários ficassem além do expediente para dar conta das demandas.

O período de foco, sem interrupções ou distrações (como uma pausa para conversar no café), e reuniões mais curtas foram mudanças significativas para a produtividade da empresa que adota o modelo 100% presencial.

Segundo Renata Rivetti, o gerenciamento de tempo e a priorização de tarefas foi um grande desafio para as participantes. “Por exemplo, as reuniões são frequentemente longas e mal administradas”, afirma.

Uma dificuldade apontada pelos líderes é a manutenção da produtividade na quinta, para o caso das empresas que adotaram a sexta como o dia de folga, conforme análise descrita no documento. “Por vezes tem-se a sensação de que a redução da produtividade na sexta feira (que faz com que algumas empresas adotem a ‘short Friday’) acaba sendo transportada para a quinta”, relata o documento.

Gustavo Greco revelou um aumento de 19% nos resultados após o projeto-piloto. Na foto, o escritório da empresa localizado na capital mineira.  Foto: Washington Alves/Estadao
A maior dificuldade é fazer com que uma semana reduzida não signifique trabalhar mais nos outros 4 dias.

Gustavo Greco

Ao final do experimento, a empresa notou um aumento de 10% no faturamento e uma melhora de 19% nos resultados. A transição foi bem recebida pelos clientes. “Inclusive, enfatizou uma característica nossa, que é ser uma empresa atenta aos movimentos do mundo”, resume o sócio.

Rodízio de folgas e autonomia da equipe

Roberta Faria, 42, também estava preocupada com a recepção dos clientes diante da mudança. Ela é CEO da Mol Impacto, empresa de produtos e serviços de impacto social. A executiva temia que a nova jornada afetasse a rede de parceiros. Mas o efeito foi oposto.

“Acabou se tornando um exemplo inspirador para eles (clientes)”, conta Roberta.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Com formato de trabalho híbrido e 55 funcionários, a organização, com sede na capital paulista, decidiu começar a incorporar a semana de 4 dias somente para algumas áreas: operações, engajamento e parcerias.

“São setores que lidam mais com fornecedores. A gente precisava testar áreas que fossem mais difíceis. Porque sempre precisa ter alguém disponível para atender o cliente, e isso exigiu uma série de mudanças na forma como trabalhamos”, afirma Roberta, acrescentando que a transição demandou que todos soubessem cobrir a ausência do outro.

A melhor opção encontrada pela CEO foi intercalar as folgas. Assim, metade da equipe descansa na sexta-feira, enquanto a outra na segunda-feira. Após um período, elas trocam.

Equipe da empresa MOL Impacto, cujo escritório fica na zona oeste da capital paulista. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Segundo a CEO, as equipes de operações e parcerias se tornaram as mais eficientes da empresa. Conforme o relatório final do experimento, 86,5% dos participantes sentiram maior senso de propósito e realização no trabalho, e maior colaboração no trabalho foi confirmada por 80,7%.

Foi um processo difícil, mas que tornou a equipe muito mais eficiente, objetiva e focada. O dia extra proporcionou um novo estilo de vida, com mais tempo para atividades pessoais e descanso.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto

Agora, a empresa se prepara para ampliar a semana de 4 dias para as áreas de comunicação, facilities e impacto. A ideia é manter o rodízio semanal de folgas, mas com dias fixos para cada setor.

A CEO ainda trabalha cinco dias por semana, mas planeja adotar a jornada reduzida a partir de 2025, quando toda a empresa estiver totalmente adaptada. Até o momento, não houve mudanças na receita da organização.

Novas contratações, otimização do trabalho e desafios em incorporar novos hábitos

Na PiU Comunica, empresa que atua no mercado publicitário em São Paulo, a semana de 4 dias já era discutida internamente há algum tempo. A direção estava interessada em trabalhar de maneira mais eficiente, mas não considerava a possibilidade de fechar a agência em nenhum dia, revela Claudia Carmello, uma das sócias da companhia.

Houve uma racionalização do trabalho, uma otimização do fluxo e maior satisfação dos funcionários. As pessoas puderam descansar mais, cuidar da família e se engajar melhor no trabalho.

Claudia Carmello, sócia da PiU Comunica

As sócias da agência (da esquerda para a direita), Anna Angotti, Claudia Carmello e Maíra Tanaka. Foto: Isabella Finholdt/Estadao

O projeto-piloto foi testado pelos 25 funcionários da empresa, incluindo as lideranças, com folgas intercaladas (quartas e sextas), mas foi ajustado para folgas apenas às sextas após perceberem que havia uma demanda maior de trabalho no meio da semana. Aqueles que folgavam às sextas estavam mais sobrecarregados.

“Percebemos que o mundo era mais lento na sexta, incluindo os clientes e os fornecedores”, ressalta Claudia.

Para Claudia, os principais desafios apontados pelas sócias envolviam a adaptação aos novos métodos de trabalho e a necessidade de investir em uma adesão eficaz.

Claudia Carmello comenta os resultados da semana de 4 dias na PiU Comunica.  Foto: Isabella Finholdt/Estadao

Assim como as outras empresas, os colaboradores tiveram de se acostumar ao jeito de trabalhar que exigia menos distração e mais foco. Reorganizar a comunicação com aqueles que estavam saindo e voltando das folgas foi uma das mudanças implementadas.

A maior dificuldade foi mudar hábitos antigos e garantir que todos se adaptassem. Foi preciso investir em novas tecnologias, em tempo e treinamentos. A jornada reduzida é uma empreitada coletiva, sem adesão de todos os funcionários, não é possível.

Claudia Carmello

A empresa optou por estender a fase de teste para ajustar e aprimorar o processo. Foram feitas três novas contratações para os cargos de gestão de operação, comunicação interna e community manager. “As contratações ajudaram a garantir que o modelo funcionasse sem sobrecarregar os times”, explica Claudia.

Os dados do relatório final indicam que 33,3% das empresas precisaram aumentar suas equipes para atender às exigências do experimento.

Com sucesso do teste, experimento da semana de 4 dias terá novas edições

Segundo Renata Rivetti, os resultados do projeto-piloto demonstram que reduzir a jornada a carga horária semanal incentivou as empresas a otimizarem seus processos e a se concentrarem mais nos resultados do que no tempo de trabalho.

Veja alguns dados:

  • 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor, se isso significasse voltar a trabalhar cinco dias por semana. Outros 40,4% relataram que precisariam dobrar o salário para considerar retornar ao regime antigo.
  • Conforme o relatório, 83,3% das altas lideranças notaram melhoria nos processos da empresa e 75% perceberam uma otimização do uso da tecnologia.
  • Os dados financeiros de 2024, em comparação com 2023, mostram que a maioria das empresas 72,7% registrou aumento de receita, enquanto 27,3% tiveram diminuição. Em relação aos lucros, 63,6% relataram crescimento, e 36,4% enfrentaram uma redução.

A fase preparatória da segunda edição do experimento de 4 dias no Brasil está prevista para o final do segundo semestre, com um novo piloto de seis meses em 2025.

A Fundação Getúlio Vargas foi responsável por mensurar de maneira qualitativa os resultados da semana de 4 dias no Brasil. A colaboração internacional contou com a participação da Boston College.

O projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil chegou ao fim e trouxe uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas 19 empresas ativas no experimento. A temporada de testes, que durou seis meses, foi considerada bem-sucedida pelas empresas e funcionários.

Das 21 empresas de vários setores do País que entraram no projeto-piloto para testar a viabilidade do modelo, 19 decidiram seguir com a redução de tempo, mantendo o modelo proposto, ampliando o tempo de teste ou fazendo adaptações. O experimento propõe 100% de produtividade, trabalhando 80% do tempo e com 100% do salário.

Veja como as empresas decidiram seguir:

  • 8 empresas adotaram oficialmente a semana de 4 dias de forma permanente, sem intenção de voltar ao modelo anterior;
  • 7 organizações devem estender o teste até o final do ano;
  • Uma companhia está expandindo a jornada reduzida para outras áreas específicas;
  • As outras 3 ainda estão decidindo quais ajustes serão necessários.

Uma empresa do Rio Grande do Sul saiu do programa por causa dos eventos climáticos extremos que atingiram parte do estado, enquanto outra decidiu se desligar do projeto devido a uma mudança na direção da companhia.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por conduzir os testes, afirma que o projeto foi bem recebido pelas empresas, pois cada uma encontrou uma forma de adaptar o modelo de trabalho de acordo com suas necessidades e rotinas.

A flexibilidade é essencial. Algumas empresas optaram por não tirar todas as sextas, mas adaptar a carga horária conforme necessário.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work

Ao todo, 252 funcionários participaram do projeto-piloto no Brasil. Conforme o relatório final, 87,4% dos colaboradores sentem mais energia para trabalhar, 72,8% disseram estar menos estressados por causa do trabalho, 42% estavam dormindo melhor e mais da metade (52,6%) notaram uma melhoria na capacidade cumprir prazos.

Confira tabela abaixo:

Houve uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas empresas ativas no experimento. Antes, a jornada semanal era de 42,8 horas. Após o término do piloto, esse número caiu para 36,5.

Maioria das lideranças aprovam redução da jornada

O feedback da alta liderança mostrou que 84,6% dos líderes acreditam que a participação no piloto trouxe benefícios para a empresa, com melhorias em produtividade, bem-estar dos funcionários e engajamento. Por outro lado, 15,4% dos gestores permaneceram neutros, indicando que a experiência não trouxe mudanças perceptíveis para eles.

Do lado dos funcionários, quase metade notou um ritmo de trabalho mais acelerado, enquanto 20% sentiram um aumento na pressão.

Na empresa Greco Design, sediada em Belo Horizonte (MG), a dinâmica de 4 dias será mantida do modo como foi implementado: toda a equipe de 22 funcionários folgando às sextas-feiras.

A decisão de adotar a semana de 4 dias foi impulsionada pelo desejo de reduzir o excesso de trabalho, afirma Gustavo Greco, 49, um dos sócios da empresa. Mas antes mesmo de entrar no projeto-piloto, a gerência da companhia experimentou eliminar as últimas sextas-feiras do mês.

Não avisamos para ninguém. Descartamos as últimas sextas e sentimos que não tinha acontecido nada de grave. Pelo contrário, as pessoas começaram a viver coisas que elas não tinham a possibilidade de fazer antes.

Gustavo Greco, sócio da Greco Design

Gustavo Greco, sócio da empresa Greco Design, uma das participantes do projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil.  Foto: Washington Alves/Estadao

Ao longo do projeto, a organização implementou algumas estratégias para evitar que os funcionários ficassem além do expediente para dar conta das demandas.

O período de foco, sem interrupções ou distrações (como uma pausa para conversar no café), e reuniões mais curtas foram mudanças significativas para a produtividade da empresa que adota o modelo 100% presencial.

Segundo Renata Rivetti, o gerenciamento de tempo e a priorização de tarefas foi um grande desafio para as participantes. “Por exemplo, as reuniões são frequentemente longas e mal administradas”, afirma.

Uma dificuldade apontada pelos líderes é a manutenção da produtividade na quinta, para o caso das empresas que adotaram a sexta como o dia de folga, conforme análise descrita no documento. “Por vezes tem-se a sensação de que a redução da produtividade na sexta feira (que faz com que algumas empresas adotem a ‘short Friday’) acaba sendo transportada para a quinta”, relata o documento.

Gustavo Greco revelou um aumento de 19% nos resultados após o projeto-piloto. Na foto, o escritório da empresa localizado na capital mineira.  Foto: Washington Alves/Estadao
A maior dificuldade é fazer com que uma semana reduzida não signifique trabalhar mais nos outros 4 dias.

Gustavo Greco

Ao final do experimento, a empresa notou um aumento de 10% no faturamento e uma melhora de 19% nos resultados. A transição foi bem recebida pelos clientes. “Inclusive, enfatizou uma característica nossa, que é ser uma empresa atenta aos movimentos do mundo”, resume o sócio.

Rodízio de folgas e autonomia da equipe

Roberta Faria, 42, também estava preocupada com a recepção dos clientes diante da mudança. Ela é CEO da Mol Impacto, empresa de produtos e serviços de impacto social. A executiva temia que a nova jornada afetasse a rede de parceiros. Mas o efeito foi oposto.

“Acabou se tornando um exemplo inspirador para eles (clientes)”, conta Roberta.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Com formato de trabalho híbrido e 55 funcionários, a organização, com sede na capital paulista, decidiu começar a incorporar a semana de 4 dias somente para algumas áreas: operações, engajamento e parcerias.

“São setores que lidam mais com fornecedores. A gente precisava testar áreas que fossem mais difíceis. Porque sempre precisa ter alguém disponível para atender o cliente, e isso exigiu uma série de mudanças na forma como trabalhamos”, afirma Roberta, acrescentando que a transição demandou que todos soubessem cobrir a ausência do outro.

A melhor opção encontrada pela CEO foi intercalar as folgas. Assim, metade da equipe descansa na sexta-feira, enquanto a outra na segunda-feira. Após um período, elas trocam.

Equipe da empresa MOL Impacto, cujo escritório fica na zona oeste da capital paulista. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Segundo a CEO, as equipes de operações e parcerias se tornaram as mais eficientes da empresa. Conforme o relatório final do experimento, 86,5% dos participantes sentiram maior senso de propósito e realização no trabalho, e maior colaboração no trabalho foi confirmada por 80,7%.

Foi um processo difícil, mas que tornou a equipe muito mais eficiente, objetiva e focada. O dia extra proporcionou um novo estilo de vida, com mais tempo para atividades pessoais e descanso.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto

Agora, a empresa se prepara para ampliar a semana de 4 dias para as áreas de comunicação, facilities e impacto. A ideia é manter o rodízio semanal de folgas, mas com dias fixos para cada setor.

A CEO ainda trabalha cinco dias por semana, mas planeja adotar a jornada reduzida a partir de 2025, quando toda a empresa estiver totalmente adaptada. Até o momento, não houve mudanças na receita da organização.

Novas contratações, otimização do trabalho e desafios em incorporar novos hábitos

Na PiU Comunica, empresa que atua no mercado publicitário em São Paulo, a semana de 4 dias já era discutida internamente há algum tempo. A direção estava interessada em trabalhar de maneira mais eficiente, mas não considerava a possibilidade de fechar a agência em nenhum dia, revela Claudia Carmello, uma das sócias da companhia.

Houve uma racionalização do trabalho, uma otimização do fluxo e maior satisfação dos funcionários. As pessoas puderam descansar mais, cuidar da família e se engajar melhor no trabalho.

Claudia Carmello, sócia da PiU Comunica

As sócias da agência (da esquerda para a direita), Anna Angotti, Claudia Carmello e Maíra Tanaka. Foto: Isabella Finholdt/Estadao

O projeto-piloto foi testado pelos 25 funcionários da empresa, incluindo as lideranças, com folgas intercaladas (quartas e sextas), mas foi ajustado para folgas apenas às sextas após perceberem que havia uma demanda maior de trabalho no meio da semana. Aqueles que folgavam às sextas estavam mais sobrecarregados.

“Percebemos que o mundo era mais lento na sexta, incluindo os clientes e os fornecedores”, ressalta Claudia.

Para Claudia, os principais desafios apontados pelas sócias envolviam a adaptação aos novos métodos de trabalho e a necessidade de investir em uma adesão eficaz.

Claudia Carmello comenta os resultados da semana de 4 dias na PiU Comunica.  Foto: Isabella Finholdt/Estadao

Assim como as outras empresas, os colaboradores tiveram de se acostumar ao jeito de trabalhar que exigia menos distração e mais foco. Reorganizar a comunicação com aqueles que estavam saindo e voltando das folgas foi uma das mudanças implementadas.

A maior dificuldade foi mudar hábitos antigos e garantir que todos se adaptassem. Foi preciso investir em novas tecnologias, em tempo e treinamentos. A jornada reduzida é uma empreitada coletiva, sem adesão de todos os funcionários, não é possível.

Claudia Carmello

A empresa optou por estender a fase de teste para ajustar e aprimorar o processo. Foram feitas três novas contratações para os cargos de gestão de operação, comunicação interna e community manager. “As contratações ajudaram a garantir que o modelo funcionasse sem sobrecarregar os times”, explica Claudia.

Os dados do relatório final indicam que 33,3% das empresas precisaram aumentar suas equipes para atender às exigências do experimento.

Com sucesso do teste, experimento da semana de 4 dias terá novas edições

Segundo Renata Rivetti, os resultados do projeto-piloto demonstram que reduzir a jornada a carga horária semanal incentivou as empresas a otimizarem seus processos e a se concentrarem mais nos resultados do que no tempo de trabalho.

Veja alguns dados:

  • 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor, se isso significasse voltar a trabalhar cinco dias por semana. Outros 40,4% relataram que precisariam dobrar o salário para considerar retornar ao regime antigo.
  • Conforme o relatório, 83,3% das altas lideranças notaram melhoria nos processos da empresa e 75% perceberam uma otimização do uso da tecnologia.
  • Os dados financeiros de 2024, em comparação com 2023, mostram que a maioria das empresas 72,7% registrou aumento de receita, enquanto 27,3% tiveram diminuição. Em relação aos lucros, 63,6% relataram crescimento, e 36,4% enfrentaram uma redução.

A fase preparatória da segunda edição do experimento de 4 dias no Brasil está prevista para o final do segundo semestre, com um novo piloto de seis meses em 2025.

A Fundação Getúlio Vargas foi responsável por mensurar de maneira qualitativa os resultados da semana de 4 dias no Brasil. A colaboração internacional contou com a participação da Boston College.

O projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil chegou ao fim e trouxe uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas 19 empresas ativas no experimento. A temporada de testes, que durou seis meses, foi considerada bem-sucedida pelas empresas e funcionários.

Das 21 empresas de vários setores do País que entraram no projeto-piloto para testar a viabilidade do modelo, 19 decidiram seguir com a redução de tempo, mantendo o modelo proposto, ampliando o tempo de teste ou fazendo adaptações. O experimento propõe 100% de produtividade, trabalhando 80% do tempo e com 100% do salário.

Veja como as empresas decidiram seguir:

  • 8 empresas adotaram oficialmente a semana de 4 dias de forma permanente, sem intenção de voltar ao modelo anterior;
  • 7 organizações devem estender o teste até o final do ano;
  • Uma companhia está expandindo a jornada reduzida para outras áreas específicas;
  • As outras 3 ainda estão decidindo quais ajustes serão necessários.

Uma empresa do Rio Grande do Sul saiu do programa por causa dos eventos climáticos extremos que atingiram parte do estado, enquanto outra decidiu se desligar do projeto devido a uma mudança na direção da companhia.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por conduzir os testes, afirma que o projeto foi bem recebido pelas empresas, pois cada uma encontrou uma forma de adaptar o modelo de trabalho de acordo com suas necessidades e rotinas.

A flexibilidade é essencial. Algumas empresas optaram por não tirar todas as sextas, mas adaptar a carga horária conforme necessário.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work

Ao todo, 252 funcionários participaram do projeto-piloto no Brasil. Conforme o relatório final, 87,4% dos colaboradores sentem mais energia para trabalhar, 72,8% disseram estar menos estressados por causa do trabalho, 42% estavam dormindo melhor e mais da metade (52,6%) notaram uma melhoria na capacidade cumprir prazos.

Confira tabela abaixo:

Houve uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas empresas ativas no experimento. Antes, a jornada semanal era de 42,8 horas. Após o término do piloto, esse número caiu para 36,5.

Maioria das lideranças aprovam redução da jornada

O feedback da alta liderança mostrou que 84,6% dos líderes acreditam que a participação no piloto trouxe benefícios para a empresa, com melhorias em produtividade, bem-estar dos funcionários e engajamento. Por outro lado, 15,4% dos gestores permaneceram neutros, indicando que a experiência não trouxe mudanças perceptíveis para eles.

Do lado dos funcionários, quase metade notou um ritmo de trabalho mais acelerado, enquanto 20% sentiram um aumento na pressão.

Na empresa Greco Design, sediada em Belo Horizonte (MG), a dinâmica de 4 dias será mantida do modo como foi implementado: toda a equipe de 22 funcionários folgando às sextas-feiras.

A decisão de adotar a semana de 4 dias foi impulsionada pelo desejo de reduzir o excesso de trabalho, afirma Gustavo Greco, 49, um dos sócios da empresa. Mas antes mesmo de entrar no projeto-piloto, a gerência da companhia experimentou eliminar as últimas sextas-feiras do mês.

Não avisamos para ninguém. Descartamos as últimas sextas e sentimos que não tinha acontecido nada de grave. Pelo contrário, as pessoas começaram a viver coisas que elas não tinham a possibilidade de fazer antes.

Gustavo Greco, sócio da Greco Design

Gustavo Greco, sócio da empresa Greco Design, uma das participantes do projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil.  Foto: Washington Alves/Estadao

Ao longo do projeto, a organização implementou algumas estratégias para evitar que os funcionários ficassem além do expediente para dar conta das demandas.

O período de foco, sem interrupções ou distrações (como uma pausa para conversar no café), e reuniões mais curtas foram mudanças significativas para a produtividade da empresa que adota o modelo 100% presencial.

Segundo Renata Rivetti, o gerenciamento de tempo e a priorização de tarefas foi um grande desafio para as participantes. “Por exemplo, as reuniões são frequentemente longas e mal administradas”, afirma.

Uma dificuldade apontada pelos líderes é a manutenção da produtividade na quinta, para o caso das empresas que adotaram a sexta como o dia de folga, conforme análise descrita no documento. “Por vezes tem-se a sensação de que a redução da produtividade na sexta feira (que faz com que algumas empresas adotem a ‘short Friday’) acaba sendo transportada para a quinta”, relata o documento.

Gustavo Greco revelou um aumento de 19% nos resultados após o projeto-piloto. Na foto, o escritório da empresa localizado na capital mineira.  Foto: Washington Alves/Estadao
A maior dificuldade é fazer com que uma semana reduzida não signifique trabalhar mais nos outros 4 dias.

Gustavo Greco

Ao final do experimento, a empresa notou um aumento de 10% no faturamento e uma melhora de 19% nos resultados. A transição foi bem recebida pelos clientes. “Inclusive, enfatizou uma característica nossa, que é ser uma empresa atenta aos movimentos do mundo”, resume o sócio.

Rodízio de folgas e autonomia da equipe

Roberta Faria, 42, também estava preocupada com a recepção dos clientes diante da mudança. Ela é CEO da Mol Impacto, empresa de produtos e serviços de impacto social. A executiva temia que a nova jornada afetasse a rede de parceiros. Mas o efeito foi oposto.

“Acabou se tornando um exemplo inspirador para eles (clientes)”, conta Roberta.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Com formato de trabalho híbrido e 55 funcionários, a organização, com sede na capital paulista, decidiu começar a incorporar a semana de 4 dias somente para algumas áreas: operações, engajamento e parcerias.

“São setores que lidam mais com fornecedores. A gente precisava testar áreas que fossem mais difíceis. Porque sempre precisa ter alguém disponível para atender o cliente, e isso exigiu uma série de mudanças na forma como trabalhamos”, afirma Roberta, acrescentando que a transição demandou que todos soubessem cobrir a ausência do outro.

A melhor opção encontrada pela CEO foi intercalar as folgas. Assim, metade da equipe descansa na sexta-feira, enquanto a outra na segunda-feira. Após um período, elas trocam.

Equipe da empresa MOL Impacto, cujo escritório fica na zona oeste da capital paulista. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Segundo a CEO, as equipes de operações e parcerias se tornaram as mais eficientes da empresa. Conforme o relatório final do experimento, 86,5% dos participantes sentiram maior senso de propósito e realização no trabalho, e maior colaboração no trabalho foi confirmada por 80,7%.

Foi um processo difícil, mas que tornou a equipe muito mais eficiente, objetiva e focada. O dia extra proporcionou um novo estilo de vida, com mais tempo para atividades pessoais e descanso.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto

Agora, a empresa se prepara para ampliar a semana de 4 dias para as áreas de comunicação, facilities e impacto. A ideia é manter o rodízio semanal de folgas, mas com dias fixos para cada setor.

A CEO ainda trabalha cinco dias por semana, mas planeja adotar a jornada reduzida a partir de 2025, quando toda a empresa estiver totalmente adaptada. Até o momento, não houve mudanças na receita da organização.

Novas contratações, otimização do trabalho e desafios em incorporar novos hábitos

Na PiU Comunica, empresa que atua no mercado publicitário em São Paulo, a semana de 4 dias já era discutida internamente há algum tempo. A direção estava interessada em trabalhar de maneira mais eficiente, mas não considerava a possibilidade de fechar a agência em nenhum dia, revela Claudia Carmello, uma das sócias da companhia.

Houve uma racionalização do trabalho, uma otimização do fluxo e maior satisfação dos funcionários. As pessoas puderam descansar mais, cuidar da família e se engajar melhor no trabalho.

Claudia Carmello, sócia da PiU Comunica

As sócias da agência (da esquerda para a direita), Anna Angotti, Claudia Carmello e Maíra Tanaka. Foto: Isabella Finholdt/Estadao

O projeto-piloto foi testado pelos 25 funcionários da empresa, incluindo as lideranças, com folgas intercaladas (quartas e sextas), mas foi ajustado para folgas apenas às sextas após perceberem que havia uma demanda maior de trabalho no meio da semana. Aqueles que folgavam às sextas estavam mais sobrecarregados.

“Percebemos que o mundo era mais lento na sexta, incluindo os clientes e os fornecedores”, ressalta Claudia.

Para Claudia, os principais desafios apontados pelas sócias envolviam a adaptação aos novos métodos de trabalho e a necessidade de investir em uma adesão eficaz.

Claudia Carmello comenta os resultados da semana de 4 dias na PiU Comunica.  Foto: Isabella Finholdt/Estadao

Assim como as outras empresas, os colaboradores tiveram de se acostumar ao jeito de trabalhar que exigia menos distração e mais foco. Reorganizar a comunicação com aqueles que estavam saindo e voltando das folgas foi uma das mudanças implementadas.

A maior dificuldade foi mudar hábitos antigos e garantir que todos se adaptassem. Foi preciso investir em novas tecnologias, em tempo e treinamentos. A jornada reduzida é uma empreitada coletiva, sem adesão de todos os funcionários, não é possível.

Claudia Carmello

A empresa optou por estender a fase de teste para ajustar e aprimorar o processo. Foram feitas três novas contratações para os cargos de gestão de operação, comunicação interna e community manager. “As contratações ajudaram a garantir que o modelo funcionasse sem sobrecarregar os times”, explica Claudia.

Os dados do relatório final indicam que 33,3% das empresas precisaram aumentar suas equipes para atender às exigências do experimento.

Com sucesso do teste, experimento da semana de 4 dias terá novas edições

Segundo Renata Rivetti, os resultados do projeto-piloto demonstram que reduzir a jornada a carga horária semanal incentivou as empresas a otimizarem seus processos e a se concentrarem mais nos resultados do que no tempo de trabalho.

Veja alguns dados:

  • 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor, se isso significasse voltar a trabalhar cinco dias por semana. Outros 40,4% relataram que precisariam dobrar o salário para considerar retornar ao regime antigo.
  • Conforme o relatório, 83,3% das altas lideranças notaram melhoria nos processos da empresa e 75% perceberam uma otimização do uso da tecnologia.
  • Os dados financeiros de 2024, em comparação com 2023, mostram que a maioria das empresas 72,7% registrou aumento de receita, enquanto 27,3% tiveram diminuição. Em relação aos lucros, 63,6% relataram crescimento, e 36,4% enfrentaram uma redução.

A fase preparatória da segunda edição do experimento de 4 dias no Brasil está prevista para o final do segundo semestre, com um novo piloto de seis meses em 2025.

A Fundação Getúlio Vargas foi responsável por mensurar de maneira qualitativa os resultados da semana de 4 dias no Brasil. A colaboração internacional contou com a participação da Boston College.

O projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil chegou ao fim e trouxe uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas 19 empresas ativas no experimento. A temporada de testes, que durou seis meses, foi considerada bem-sucedida pelas empresas e funcionários.

Das 21 empresas de vários setores do País que entraram no projeto-piloto para testar a viabilidade do modelo, 19 decidiram seguir com a redução de tempo, mantendo o modelo proposto, ampliando o tempo de teste ou fazendo adaptações. O experimento propõe 100% de produtividade, trabalhando 80% do tempo e com 100% do salário.

Veja como as empresas decidiram seguir:

  • 8 empresas adotaram oficialmente a semana de 4 dias de forma permanente, sem intenção de voltar ao modelo anterior;
  • 7 organizações devem estender o teste até o final do ano;
  • Uma companhia está expandindo a jornada reduzida para outras áreas específicas;
  • As outras 3 ainda estão decidindo quais ajustes serão necessários.

Uma empresa do Rio Grande do Sul saiu do programa por causa dos eventos climáticos extremos que atingiram parte do estado, enquanto outra decidiu se desligar do projeto devido a uma mudança na direção da companhia.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa responsável por conduzir os testes, afirma que o projeto foi bem recebido pelas empresas, pois cada uma encontrou uma forma de adaptar o modelo de trabalho de acordo com suas necessidades e rotinas.

A flexibilidade é essencial. Algumas empresas optaram por não tirar todas as sextas, mas adaptar a carga horária conforme necessário.

Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work

Ao todo, 252 funcionários participaram do projeto-piloto no Brasil. Conforme o relatório final, 87,4% dos colaboradores sentem mais energia para trabalhar, 72,8% disseram estar menos estressados por causa do trabalho, 42% estavam dormindo melhor e mais da metade (52,6%) notaram uma melhoria na capacidade cumprir prazos.

Confira tabela abaixo:

Houve uma redução média de seis horas trabalhadas por semana nas empresas ativas no experimento. Antes, a jornada semanal era de 42,8 horas. Após o término do piloto, esse número caiu para 36,5.

Maioria das lideranças aprovam redução da jornada

O feedback da alta liderança mostrou que 84,6% dos líderes acreditam que a participação no piloto trouxe benefícios para a empresa, com melhorias em produtividade, bem-estar dos funcionários e engajamento. Por outro lado, 15,4% dos gestores permaneceram neutros, indicando que a experiência não trouxe mudanças perceptíveis para eles.

Do lado dos funcionários, quase metade notou um ritmo de trabalho mais acelerado, enquanto 20% sentiram um aumento na pressão.

Na empresa Greco Design, sediada em Belo Horizonte (MG), a dinâmica de 4 dias será mantida do modo como foi implementado: toda a equipe de 22 funcionários folgando às sextas-feiras.

A decisão de adotar a semana de 4 dias foi impulsionada pelo desejo de reduzir o excesso de trabalho, afirma Gustavo Greco, 49, um dos sócios da empresa. Mas antes mesmo de entrar no projeto-piloto, a gerência da companhia experimentou eliminar as últimas sextas-feiras do mês.

Não avisamos para ninguém. Descartamos as últimas sextas e sentimos que não tinha acontecido nada de grave. Pelo contrário, as pessoas começaram a viver coisas que elas não tinham a possibilidade de fazer antes.

Gustavo Greco, sócio da Greco Design

Gustavo Greco, sócio da empresa Greco Design, uma das participantes do projeto-piloto da semana de 4 dias no Brasil.  Foto: Washington Alves/Estadao

Ao longo do projeto, a organização implementou algumas estratégias para evitar que os funcionários ficassem além do expediente para dar conta das demandas.

O período de foco, sem interrupções ou distrações (como uma pausa para conversar no café), e reuniões mais curtas foram mudanças significativas para a produtividade da empresa que adota o modelo 100% presencial.

Segundo Renata Rivetti, o gerenciamento de tempo e a priorização de tarefas foi um grande desafio para as participantes. “Por exemplo, as reuniões são frequentemente longas e mal administradas”, afirma.

Uma dificuldade apontada pelos líderes é a manutenção da produtividade na quinta, para o caso das empresas que adotaram a sexta como o dia de folga, conforme análise descrita no documento. “Por vezes tem-se a sensação de que a redução da produtividade na sexta feira (que faz com que algumas empresas adotem a ‘short Friday’) acaba sendo transportada para a quinta”, relata o documento.

Gustavo Greco revelou um aumento de 19% nos resultados após o projeto-piloto. Na foto, o escritório da empresa localizado na capital mineira.  Foto: Washington Alves/Estadao
A maior dificuldade é fazer com que uma semana reduzida não signifique trabalhar mais nos outros 4 dias.

Gustavo Greco

Ao final do experimento, a empresa notou um aumento de 10% no faturamento e uma melhora de 19% nos resultados. A transição foi bem recebida pelos clientes. “Inclusive, enfatizou uma característica nossa, que é ser uma empresa atenta aos movimentos do mundo”, resume o sócio.

Rodízio de folgas e autonomia da equipe

Roberta Faria, 42, também estava preocupada com a recepção dos clientes diante da mudança. Ela é CEO da Mol Impacto, empresa de produtos e serviços de impacto social. A executiva temia que a nova jornada afetasse a rede de parceiros. Mas o efeito foi oposto.

“Acabou se tornando um exemplo inspirador para eles (clientes)”, conta Roberta.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Com formato de trabalho híbrido e 55 funcionários, a organização, com sede na capital paulista, decidiu começar a incorporar a semana de 4 dias somente para algumas áreas: operações, engajamento e parcerias.

“São setores que lidam mais com fornecedores. A gente precisava testar áreas que fossem mais difíceis. Porque sempre precisa ter alguém disponível para atender o cliente, e isso exigiu uma série de mudanças na forma como trabalhamos”, afirma Roberta, acrescentando que a transição demandou que todos soubessem cobrir a ausência do outro.

A melhor opção encontrada pela CEO foi intercalar as folgas. Assim, metade da equipe descansa na sexta-feira, enquanto a outra na segunda-feira. Após um período, elas trocam.

Equipe da empresa MOL Impacto, cujo escritório fica na zona oeste da capital paulista. Foto: Carol Siqueira/Divulgação

Segundo a CEO, as equipes de operações e parcerias se tornaram as mais eficientes da empresa. Conforme o relatório final do experimento, 86,5% dos participantes sentiram maior senso de propósito e realização no trabalho, e maior colaboração no trabalho foi confirmada por 80,7%.

Foi um processo difícil, mas que tornou a equipe muito mais eficiente, objetiva e focada. O dia extra proporcionou um novo estilo de vida, com mais tempo para atividades pessoais e descanso.

Roberta Faria, CEO da MOL Impacto

Agora, a empresa se prepara para ampliar a semana de 4 dias para as áreas de comunicação, facilities e impacto. A ideia é manter o rodízio semanal de folgas, mas com dias fixos para cada setor.

A CEO ainda trabalha cinco dias por semana, mas planeja adotar a jornada reduzida a partir de 2025, quando toda a empresa estiver totalmente adaptada. Até o momento, não houve mudanças na receita da organização.

Novas contratações, otimização do trabalho e desafios em incorporar novos hábitos

Na PiU Comunica, empresa que atua no mercado publicitário em São Paulo, a semana de 4 dias já era discutida internamente há algum tempo. A direção estava interessada em trabalhar de maneira mais eficiente, mas não considerava a possibilidade de fechar a agência em nenhum dia, revela Claudia Carmello, uma das sócias da companhia.

Houve uma racionalização do trabalho, uma otimização do fluxo e maior satisfação dos funcionários. As pessoas puderam descansar mais, cuidar da família e se engajar melhor no trabalho.

Claudia Carmello, sócia da PiU Comunica

As sócias da agência (da esquerda para a direita), Anna Angotti, Claudia Carmello e Maíra Tanaka. Foto: Isabella Finholdt/Estadao

O projeto-piloto foi testado pelos 25 funcionários da empresa, incluindo as lideranças, com folgas intercaladas (quartas e sextas), mas foi ajustado para folgas apenas às sextas após perceberem que havia uma demanda maior de trabalho no meio da semana. Aqueles que folgavam às sextas estavam mais sobrecarregados.

“Percebemos que o mundo era mais lento na sexta, incluindo os clientes e os fornecedores”, ressalta Claudia.

Para Claudia, os principais desafios apontados pelas sócias envolviam a adaptação aos novos métodos de trabalho e a necessidade de investir em uma adesão eficaz.

Claudia Carmello comenta os resultados da semana de 4 dias na PiU Comunica.  Foto: Isabella Finholdt/Estadao

Assim como as outras empresas, os colaboradores tiveram de se acostumar ao jeito de trabalhar que exigia menos distração e mais foco. Reorganizar a comunicação com aqueles que estavam saindo e voltando das folgas foi uma das mudanças implementadas.

A maior dificuldade foi mudar hábitos antigos e garantir que todos se adaptassem. Foi preciso investir em novas tecnologias, em tempo e treinamentos. A jornada reduzida é uma empreitada coletiva, sem adesão de todos os funcionários, não é possível.

Claudia Carmello

A empresa optou por estender a fase de teste para ajustar e aprimorar o processo. Foram feitas três novas contratações para os cargos de gestão de operação, comunicação interna e community manager. “As contratações ajudaram a garantir que o modelo funcionasse sem sobrecarregar os times”, explica Claudia.

Os dados do relatório final indicam que 33,3% das empresas precisaram aumentar suas equipes para atender às exigências do experimento.

Com sucesso do teste, experimento da semana de 4 dias terá novas edições

Segundo Renata Rivetti, os resultados do projeto-piloto demonstram que reduzir a jornada a carga horária semanal incentivou as empresas a otimizarem seus processos e a se concentrarem mais nos resultados do que no tempo de trabalho.

Veja alguns dados:

  • 16,7% dos participantes afirmaram que não mudariam de emprego, independentemente do valor, se isso significasse voltar a trabalhar cinco dias por semana. Outros 40,4% relataram que precisariam dobrar o salário para considerar retornar ao regime antigo.
  • Conforme o relatório, 83,3% das altas lideranças notaram melhoria nos processos da empresa e 75% perceberam uma otimização do uso da tecnologia.
  • Os dados financeiros de 2024, em comparação com 2023, mostram que a maioria das empresas 72,7% registrou aumento de receita, enquanto 27,3% tiveram diminuição. Em relação aos lucros, 63,6% relataram crescimento, e 36,4% enfrentaram uma redução.

A fase preparatória da segunda edição do experimento de 4 dias no Brasil está prevista para o final do segundo semestre, com um novo piloto de seis meses em 2025.

A Fundação Getúlio Vargas foi responsável por mensurar de maneira qualitativa os resultados da semana de 4 dias no Brasil. A colaboração internacional contou com a participação da Boston College.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.