Pensar no trabalho à noite faz você virar um chefe pior; saiba desacelerar e criar rotina de sono


Segundo especialistas, falta de sono e ausência do descanso impactam diretamente no trabalho diário da liderança, incluindo na tomada de decisões

Por Jayanne Rodrigues

Desligar-se totalmente do trabalho após encerrar o horário comercial é uma tarefa difícil. Levando em consideração que vivemos em um mundo 100% conectado, é bem possível que o som da notificação do e-mail o atrapalhe minutos antes de dormir. Para especialistas, esse ciclo é nocivo e pode trazer consequências a longo prazo, como esgotamento físico e mental, ausência de criatividade, mau humor com colegas de trabalho a falta de pensamento estratégico.

Uma pesquisa feita com 73 executivos investigou como o desempenho de lideranças é impactado após pensar no trabalho à noite. Gestores mais novos estão mais propensos a se sentirem esgotados durante o dia, conforme estudo divulgado neste ano pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

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Entre as competências de lideranças afetadas pela falta de sono e pensamentos pós-expediente, o entusiasmo desapareceu de forma gradual. Os pesquisadores apontaram como solução reservar um tempo para se desconectar.

Visão sobre sucesso faz líderes trabalharem demais

Por trás disso, a atual estrutura de trabalho, que estimula lideranças a não separar a vida pessoal da profissional é reflexo de duas lógicas: a da produtividade e a da competividade. Quem afirma é Michelle Prazeres, fundadora da Desacelera São Paulo, plataforma que defende a cultura slow (conceito que visa a desaceleração da vida cotidiana) em espaços corporativos.

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“Quando unimos essas duas coisas, é uma combinação explosiva porque é como se nunca fosse suficiente o que estamos produzindo por causa do jeito que nos organizamos. Essa lógica tem a ver com o que pensamos sobre sucesso, ser bem-sucedida e o ápice da carreira”, afirma Prazeres.

Para Michelle Prazeres, lideranças sentem a necessidade de cumprir a lista de tarefas do dia, mesmo que isso exija trabalhar após o expediente. Como resultado, acabam se frustrando e sentindo mais esgotamento.  Foto: Elnur Amikishiyev

Na prática, a liderança fica mais frustrada, angustiada e com uma sensação permanente de insuficiência produtiva. “Você nunca vai achar que produziu tudo de que precisava naquele dia porque não é verdade que a lista de tarefas vai acabar ou que uma hora vai dar conta de tudo”, afirma a especialista, ao mencionar que a situação foi agravada após a pandemia.

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Foi exatamente nesse período que o espaço pessoal começou a ser invadido pela mediação das telas, e o uso do tempo passou a ser gerenciado por tecnologias, como o WhatsApp e a agenda online.

“Esse mundo das lideranças carrega uma responsabilidade muito grande de que a pessoa não pode se desligar completamente. Isso vai gerando uma orquestração que diz para as pessoas que elas não podem descansar nunca”, aponta.

Falta de descanso afeta capacidade dos chefes

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A junção do excesso de trabalho e ausência do descanso acaba gerando um desgaste emocional que impacta diretamente na capacidade cognitiva da liderança, seja em uma tomada de decisão ou até mesmo no momento de encarar um desafio comum do dia a dia, reforça Eduardo Zanini, especialista em liderança. “Também há uma perda significativa da criatividade e da inovação”, diz.

O grande problema é quando isso deixa de ser uma exceção e passa a acontecer de forma recorrente

Eduardo Zanini, especialista em liderança

Ele indica que o desgaste também traz obstáculos para convocar conversas difíceis nas equipes, além de fazer e receber feedbacks. “Quando não dormimos bem, não temos essa qualidade de cenário, de escuta e de percepção das coisas. Provavelmente vamos apresentar mais dificuldades.”

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Outro ponto para o qual o especialista chama atenção é o horário em que as lideranças tomam decisões. Zanini diz ser necessário os líderes compreenderem em qual período do dia estão menos exaustos e com maior capacidade para tomar uma decisão.

“Vai depender do perfil da pessoa. Eu, por exemplo, prefiro tomar decisões pela manhã porque a minha mente está mais arejada. Tenho um cliente da área de tecnologia que funciona melhor à noite”, relata.

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Do lado das corporações, o especialista reforça estimular modelos de gestão mais pautado na qualidade dos resultados, em vez de observar apenas a quantidade.

Crie um ritual do sono

Pensar regularmente no trabalho até tarde é uma armadilha em que muitas lideranças caem. A ideia de “recuperar o atraso” ou “adiantar alguma tarefa” acaba acontecendo em um contexto de tarefas infinitas e pressão superior. Você trabalha um pouco mais para se livrar de alguma demanda, mas no dia seguinte surgem outras. A sensação é de que o trabalho nunca vai ser finalizado.

Uma pesquisa da plataforma de comunicação corporativa Slack, feita com 10 mil trabalhadores que usam o sistema, confirmou que mais de 50% das pessoas consultadas sentiram mais estresse, diminuíram em até 20% a produtividade ao longo do dia e os níveis de satisfação na empresa caíram após trabalharem até tarde. A maioria disse que faz isso por causa de uma pressão interna.

Lideranças que não conseguem ter um sono reparador estão mais propensas a ficarem irritadas com mais facilidade e ter menos atenção em atividades do cotidiano, a exemplo de reuniões.  Foto: Adobe Stock

Afinal, como desacelerar no período da noite levando em consideração as mudanças estruturais que precisam acontecer nas corporações?

Por mais que seja difícil, o primeiro passo é diminuir pelo menos uma hora antes de dormir o número de luzes e tipos de interação (TV, celular e outros dispositivos).

“A melatonina (substância que favorece o sono) só consegue ser produzida quando há ausência de luz”, afirma a médica Sandra Doria Xavier, com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo.

A médica explica que o reestabelecimento da memória, do aprendizado, do foco e da disposição são afetados quando não há um sono reparador, com quantidade e qualidade adequada.

Se você não tem um sono reparador, não consegue focar em uma reunião, a atenção fica mais dispersa, fica mais doente, pode ter prejuízos de humor, mais irritabilidade e mais impulsividade com respostas inadequadas no trabalho

Sandra Doria Xavier, médica com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo

Dicas para criar um ritual do sono:

  • O ritual é individualizado e o que funciona para uma pessoa pode não dar certo para outra a depender da realidade. “Há pessoas que não vão se adaptar em ler livros antes de dormir, vão preferir um banho relaxante, ouvir uma música ou conversar com o marido”, sugere a médica.
  • Independentemente da escolha, o ideal é que sejam atividades calmas e que não envolvam o pensamento e o raciocínio.
  • Fique longe dos eletrônicos uma hora antes de dormir.
  • Evite alimentos que estimulem o corpo, como cafeína, álcool e comidas gordurosas e pesadas.
  • Procure ambientes mais escuros.
  • Se possível, busque ajuda profissional para encontrar uma individualização da rotina do sono para entender o que é eficaz para você.

Desligar-se totalmente do trabalho após encerrar o horário comercial é uma tarefa difícil. Levando em consideração que vivemos em um mundo 100% conectado, é bem possível que o som da notificação do e-mail o atrapalhe minutos antes de dormir. Para especialistas, esse ciclo é nocivo e pode trazer consequências a longo prazo, como esgotamento físico e mental, ausência de criatividade, mau humor com colegas de trabalho a falta de pensamento estratégico.

Uma pesquisa feita com 73 executivos investigou como o desempenho de lideranças é impactado após pensar no trabalho à noite. Gestores mais novos estão mais propensos a se sentirem esgotados durante o dia, conforme estudo divulgado neste ano pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

Entre as competências de lideranças afetadas pela falta de sono e pensamentos pós-expediente, o entusiasmo desapareceu de forma gradual. Os pesquisadores apontaram como solução reservar um tempo para se desconectar.

Visão sobre sucesso faz líderes trabalharem demais

Por trás disso, a atual estrutura de trabalho, que estimula lideranças a não separar a vida pessoal da profissional é reflexo de duas lógicas: a da produtividade e a da competividade. Quem afirma é Michelle Prazeres, fundadora da Desacelera São Paulo, plataforma que defende a cultura slow (conceito que visa a desaceleração da vida cotidiana) em espaços corporativos.

“Quando unimos essas duas coisas, é uma combinação explosiva porque é como se nunca fosse suficiente o que estamos produzindo por causa do jeito que nos organizamos. Essa lógica tem a ver com o que pensamos sobre sucesso, ser bem-sucedida e o ápice da carreira”, afirma Prazeres.

Para Michelle Prazeres, lideranças sentem a necessidade de cumprir a lista de tarefas do dia, mesmo que isso exija trabalhar após o expediente. Como resultado, acabam se frustrando e sentindo mais esgotamento.  Foto: Elnur Amikishiyev

Na prática, a liderança fica mais frustrada, angustiada e com uma sensação permanente de insuficiência produtiva. “Você nunca vai achar que produziu tudo de que precisava naquele dia porque não é verdade que a lista de tarefas vai acabar ou que uma hora vai dar conta de tudo”, afirma a especialista, ao mencionar que a situação foi agravada após a pandemia.

Foi exatamente nesse período que o espaço pessoal começou a ser invadido pela mediação das telas, e o uso do tempo passou a ser gerenciado por tecnologias, como o WhatsApp e a agenda online.

“Esse mundo das lideranças carrega uma responsabilidade muito grande de que a pessoa não pode se desligar completamente. Isso vai gerando uma orquestração que diz para as pessoas que elas não podem descansar nunca”, aponta.

Falta de descanso afeta capacidade dos chefes

A junção do excesso de trabalho e ausência do descanso acaba gerando um desgaste emocional que impacta diretamente na capacidade cognitiva da liderança, seja em uma tomada de decisão ou até mesmo no momento de encarar um desafio comum do dia a dia, reforça Eduardo Zanini, especialista em liderança. “Também há uma perda significativa da criatividade e da inovação”, diz.

O grande problema é quando isso deixa de ser uma exceção e passa a acontecer de forma recorrente

Eduardo Zanini, especialista em liderança

Ele indica que o desgaste também traz obstáculos para convocar conversas difíceis nas equipes, além de fazer e receber feedbacks. “Quando não dormimos bem, não temos essa qualidade de cenário, de escuta e de percepção das coisas. Provavelmente vamos apresentar mais dificuldades.”

Outro ponto para o qual o especialista chama atenção é o horário em que as lideranças tomam decisões. Zanini diz ser necessário os líderes compreenderem em qual período do dia estão menos exaustos e com maior capacidade para tomar uma decisão.

“Vai depender do perfil da pessoa. Eu, por exemplo, prefiro tomar decisões pela manhã porque a minha mente está mais arejada. Tenho um cliente da área de tecnologia que funciona melhor à noite”, relata.

Do lado das corporações, o especialista reforça estimular modelos de gestão mais pautado na qualidade dos resultados, em vez de observar apenas a quantidade.

Crie um ritual do sono

Pensar regularmente no trabalho até tarde é uma armadilha em que muitas lideranças caem. A ideia de “recuperar o atraso” ou “adiantar alguma tarefa” acaba acontecendo em um contexto de tarefas infinitas e pressão superior. Você trabalha um pouco mais para se livrar de alguma demanda, mas no dia seguinte surgem outras. A sensação é de que o trabalho nunca vai ser finalizado.

Uma pesquisa da plataforma de comunicação corporativa Slack, feita com 10 mil trabalhadores que usam o sistema, confirmou que mais de 50% das pessoas consultadas sentiram mais estresse, diminuíram em até 20% a produtividade ao longo do dia e os níveis de satisfação na empresa caíram após trabalharem até tarde. A maioria disse que faz isso por causa de uma pressão interna.

Lideranças que não conseguem ter um sono reparador estão mais propensas a ficarem irritadas com mais facilidade e ter menos atenção em atividades do cotidiano, a exemplo de reuniões.  Foto: Adobe Stock

Afinal, como desacelerar no período da noite levando em consideração as mudanças estruturais que precisam acontecer nas corporações?

Por mais que seja difícil, o primeiro passo é diminuir pelo menos uma hora antes de dormir o número de luzes e tipos de interação (TV, celular e outros dispositivos).

“A melatonina (substância que favorece o sono) só consegue ser produzida quando há ausência de luz”, afirma a médica Sandra Doria Xavier, com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo.

A médica explica que o reestabelecimento da memória, do aprendizado, do foco e da disposição são afetados quando não há um sono reparador, com quantidade e qualidade adequada.

Se você não tem um sono reparador, não consegue focar em uma reunião, a atenção fica mais dispersa, fica mais doente, pode ter prejuízos de humor, mais irritabilidade e mais impulsividade com respostas inadequadas no trabalho

Sandra Doria Xavier, médica com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo

Dicas para criar um ritual do sono:

  • O ritual é individualizado e o que funciona para uma pessoa pode não dar certo para outra a depender da realidade. “Há pessoas que não vão se adaptar em ler livros antes de dormir, vão preferir um banho relaxante, ouvir uma música ou conversar com o marido”, sugere a médica.
  • Independentemente da escolha, o ideal é que sejam atividades calmas e que não envolvam o pensamento e o raciocínio.
  • Fique longe dos eletrônicos uma hora antes de dormir.
  • Evite alimentos que estimulem o corpo, como cafeína, álcool e comidas gordurosas e pesadas.
  • Procure ambientes mais escuros.
  • Se possível, busque ajuda profissional para encontrar uma individualização da rotina do sono para entender o que é eficaz para você.

Desligar-se totalmente do trabalho após encerrar o horário comercial é uma tarefa difícil. Levando em consideração que vivemos em um mundo 100% conectado, é bem possível que o som da notificação do e-mail o atrapalhe minutos antes de dormir. Para especialistas, esse ciclo é nocivo e pode trazer consequências a longo prazo, como esgotamento físico e mental, ausência de criatividade, mau humor com colegas de trabalho a falta de pensamento estratégico.

Uma pesquisa feita com 73 executivos investigou como o desempenho de lideranças é impactado após pensar no trabalho à noite. Gestores mais novos estão mais propensos a se sentirem esgotados durante o dia, conforme estudo divulgado neste ano pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

Entre as competências de lideranças afetadas pela falta de sono e pensamentos pós-expediente, o entusiasmo desapareceu de forma gradual. Os pesquisadores apontaram como solução reservar um tempo para se desconectar.

Visão sobre sucesso faz líderes trabalharem demais

Por trás disso, a atual estrutura de trabalho, que estimula lideranças a não separar a vida pessoal da profissional é reflexo de duas lógicas: a da produtividade e a da competividade. Quem afirma é Michelle Prazeres, fundadora da Desacelera São Paulo, plataforma que defende a cultura slow (conceito que visa a desaceleração da vida cotidiana) em espaços corporativos.

“Quando unimos essas duas coisas, é uma combinação explosiva porque é como se nunca fosse suficiente o que estamos produzindo por causa do jeito que nos organizamos. Essa lógica tem a ver com o que pensamos sobre sucesso, ser bem-sucedida e o ápice da carreira”, afirma Prazeres.

Para Michelle Prazeres, lideranças sentem a necessidade de cumprir a lista de tarefas do dia, mesmo que isso exija trabalhar após o expediente. Como resultado, acabam se frustrando e sentindo mais esgotamento.  Foto: Elnur Amikishiyev

Na prática, a liderança fica mais frustrada, angustiada e com uma sensação permanente de insuficiência produtiva. “Você nunca vai achar que produziu tudo de que precisava naquele dia porque não é verdade que a lista de tarefas vai acabar ou que uma hora vai dar conta de tudo”, afirma a especialista, ao mencionar que a situação foi agravada após a pandemia.

Foi exatamente nesse período que o espaço pessoal começou a ser invadido pela mediação das telas, e o uso do tempo passou a ser gerenciado por tecnologias, como o WhatsApp e a agenda online.

“Esse mundo das lideranças carrega uma responsabilidade muito grande de que a pessoa não pode se desligar completamente. Isso vai gerando uma orquestração que diz para as pessoas que elas não podem descansar nunca”, aponta.

Falta de descanso afeta capacidade dos chefes

A junção do excesso de trabalho e ausência do descanso acaba gerando um desgaste emocional que impacta diretamente na capacidade cognitiva da liderança, seja em uma tomada de decisão ou até mesmo no momento de encarar um desafio comum do dia a dia, reforça Eduardo Zanini, especialista em liderança. “Também há uma perda significativa da criatividade e da inovação”, diz.

O grande problema é quando isso deixa de ser uma exceção e passa a acontecer de forma recorrente

Eduardo Zanini, especialista em liderança

Ele indica que o desgaste também traz obstáculos para convocar conversas difíceis nas equipes, além de fazer e receber feedbacks. “Quando não dormimos bem, não temos essa qualidade de cenário, de escuta e de percepção das coisas. Provavelmente vamos apresentar mais dificuldades.”

Outro ponto para o qual o especialista chama atenção é o horário em que as lideranças tomam decisões. Zanini diz ser necessário os líderes compreenderem em qual período do dia estão menos exaustos e com maior capacidade para tomar uma decisão.

“Vai depender do perfil da pessoa. Eu, por exemplo, prefiro tomar decisões pela manhã porque a minha mente está mais arejada. Tenho um cliente da área de tecnologia que funciona melhor à noite”, relata.

Do lado das corporações, o especialista reforça estimular modelos de gestão mais pautado na qualidade dos resultados, em vez de observar apenas a quantidade.

Crie um ritual do sono

Pensar regularmente no trabalho até tarde é uma armadilha em que muitas lideranças caem. A ideia de “recuperar o atraso” ou “adiantar alguma tarefa” acaba acontecendo em um contexto de tarefas infinitas e pressão superior. Você trabalha um pouco mais para se livrar de alguma demanda, mas no dia seguinte surgem outras. A sensação é de que o trabalho nunca vai ser finalizado.

Uma pesquisa da plataforma de comunicação corporativa Slack, feita com 10 mil trabalhadores que usam o sistema, confirmou que mais de 50% das pessoas consultadas sentiram mais estresse, diminuíram em até 20% a produtividade ao longo do dia e os níveis de satisfação na empresa caíram após trabalharem até tarde. A maioria disse que faz isso por causa de uma pressão interna.

Lideranças que não conseguem ter um sono reparador estão mais propensas a ficarem irritadas com mais facilidade e ter menos atenção em atividades do cotidiano, a exemplo de reuniões.  Foto: Adobe Stock

Afinal, como desacelerar no período da noite levando em consideração as mudanças estruturais que precisam acontecer nas corporações?

Por mais que seja difícil, o primeiro passo é diminuir pelo menos uma hora antes de dormir o número de luzes e tipos de interação (TV, celular e outros dispositivos).

“A melatonina (substância que favorece o sono) só consegue ser produzida quando há ausência de luz”, afirma a médica Sandra Doria Xavier, com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo.

A médica explica que o reestabelecimento da memória, do aprendizado, do foco e da disposição são afetados quando não há um sono reparador, com quantidade e qualidade adequada.

Se você não tem um sono reparador, não consegue focar em uma reunião, a atenção fica mais dispersa, fica mais doente, pode ter prejuízos de humor, mais irritabilidade e mais impulsividade com respostas inadequadas no trabalho

Sandra Doria Xavier, médica com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo

Dicas para criar um ritual do sono:

  • O ritual é individualizado e o que funciona para uma pessoa pode não dar certo para outra a depender da realidade. “Há pessoas que não vão se adaptar em ler livros antes de dormir, vão preferir um banho relaxante, ouvir uma música ou conversar com o marido”, sugere a médica.
  • Independentemente da escolha, o ideal é que sejam atividades calmas e que não envolvam o pensamento e o raciocínio.
  • Fique longe dos eletrônicos uma hora antes de dormir.
  • Evite alimentos que estimulem o corpo, como cafeína, álcool e comidas gordurosas e pesadas.
  • Procure ambientes mais escuros.
  • Se possível, busque ajuda profissional para encontrar uma individualização da rotina do sono para entender o que é eficaz para você.

Desligar-se totalmente do trabalho após encerrar o horário comercial é uma tarefa difícil. Levando em consideração que vivemos em um mundo 100% conectado, é bem possível que o som da notificação do e-mail o atrapalhe minutos antes de dormir. Para especialistas, esse ciclo é nocivo e pode trazer consequências a longo prazo, como esgotamento físico e mental, ausência de criatividade, mau humor com colegas de trabalho a falta de pensamento estratégico.

Uma pesquisa feita com 73 executivos investigou como o desempenho de lideranças é impactado após pensar no trabalho à noite. Gestores mais novos estão mais propensos a se sentirem esgotados durante o dia, conforme estudo divulgado neste ano pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

Entre as competências de lideranças afetadas pela falta de sono e pensamentos pós-expediente, o entusiasmo desapareceu de forma gradual. Os pesquisadores apontaram como solução reservar um tempo para se desconectar.

Visão sobre sucesso faz líderes trabalharem demais

Por trás disso, a atual estrutura de trabalho, que estimula lideranças a não separar a vida pessoal da profissional é reflexo de duas lógicas: a da produtividade e a da competividade. Quem afirma é Michelle Prazeres, fundadora da Desacelera São Paulo, plataforma que defende a cultura slow (conceito que visa a desaceleração da vida cotidiana) em espaços corporativos.

“Quando unimos essas duas coisas, é uma combinação explosiva porque é como se nunca fosse suficiente o que estamos produzindo por causa do jeito que nos organizamos. Essa lógica tem a ver com o que pensamos sobre sucesso, ser bem-sucedida e o ápice da carreira”, afirma Prazeres.

Para Michelle Prazeres, lideranças sentem a necessidade de cumprir a lista de tarefas do dia, mesmo que isso exija trabalhar após o expediente. Como resultado, acabam se frustrando e sentindo mais esgotamento.  Foto: Elnur Amikishiyev

Na prática, a liderança fica mais frustrada, angustiada e com uma sensação permanente de insuficiência produtiva. “Você nunca vai achar que produziu tudo de que precisava naquele dia porque não é verdade que a lista de tarefas vai acabar ou que uma hora vai dar conta de tudo”, afirma a especialista, ao mencionar que a situação foi agravada após a pandemia.

Foi exatamente nesse período que o espaço pessoal começou a ser invadido pela mediação das telas, e o uso do tempo passou a ser gerenciado por tecnologias, como o WhatsApp e a agenda online.

“Esse mundo das lideranças carrega uma responsabilidade muito grande de que a pessoa não pode se desligar completamente. Isso vai gerando uma orquestração que diz para as pessoas que elas não podem descansar nunca”, aponta.

Falta de descanso afeta capacidade dos chefes

A junção do excesso de trabalho e ausência do descanso acaba gerando um desgaste emocional que impacta diretamente na capacidade cognitiva da liderança, seja em uma tomada de decisão ou até mesmo no momento de encarar um desafio comum do dia a dia, reforça Eduardo Zanini, especialista em liderança. “Também há uma perda significativa da criatividade e da inovação”, diz.

O grande problema é quando isso deixa de ser uma exceção e passa a acontecer de forma recorrente

Eduardo Zanini, especialista em liderança

Ele indica que o desgaste também traz obstáculos para convocar conversas difíceis nas equipes, além de fazer e receber feedbacks. “Quando não dormimos bem, não temos essa qualidade de cenário, de escuta e de percepção das coisas. Provavelmente vamos apresentar mais dificuldades.”

Outro ponto para o qual o especialista chama atenção é o horário em que as lideranças tomam decisões. Zanini diz ser necessário os líderes compreenderem em qual período do dia estão menos exaustos e com maior capacidade para tomar uma decisão.

“Vai depender do perfil da pessoa. Eu, por exemplo, prefiro tomar decisões pela manhã porque a minha mente está mais arejada. Tenho um cliente da área de tecnologia que funciona melhor à noite”, relata.

Do lado das corporações, o especialista reforça estimular modelos de gestão mais pautado na qualidade dos resultados, em vez de observar apenas a quantidade.

Crie um ritual do sono

Pensar regularmente no trabalho até tarde é uma armadilha em que muitas lideranças caem. A ideia de “recuperar o atraso” ou “adiantar alguma tarefa” acaba acontecendo em um contexto de tarefas infinitas e pressão superior. Você trabalha um pouco mais para se livrar de alguma demanda, mas no dia seguinte surgem outras. A sensação é de que o trabalho nunca vai ser finalizado.

Uma pesquisa da plataforma de comunicação corporativa Slack, feita com 10 mil trabalhadores que usam o sistema, confirmou que mais de 50% das pessoas consultadas sentiram mais estresse, diminuíram em até 20% a produtividade ao longo do dia e os níveis de satisfação na empresa caíram após trabalharem até tarde. A maioria disse que faz isso por causa de uma pressão interna.

Lideranças que não conseguem ter um sono reparador estão mais propensas a ficarem irritadas com mais facilidade e ter menos atenção em atividades do cotidiano, a exemplo de reuniões.  Foto: Adobe Stock

Afinal, como desacelerar no período da noite levando em consideração as mudanças estruturais que precisam acontecer nas corporações?

Por mais que seja difícil, o primeiro passo é diminuir pelo menos uma hora antes de dormir o número de luzes e tipos de interação (TV, celular e outros dispositivos).

“A melatonina (substância que favorece o sono) só consegue ser produzida quando há ausência de luz”, afirma a médica Sandra Doria Xavier, com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo.

A médica explica que o reestabelecimento da memória, do aprendizado, do foco e da disposição são afetados quando não há um sono reparador, com quantidade e qualidade adequada.

Se você não tem um sono reparador, não consegue focar em uma reunião, a atenção fica mais dispersa, fica mais doente, pode ter prejuízos de humor, mais irritabilidade e mais impulsividade com respostas inadequadas no trabalho

Sandra Doria Xavier, médica com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo

Dicas para criar um ritual do sono:

  • O ritual é individualizado e o que funciona para uma pessoa pode não dar certo para outra a depender da realidade. “Há pessoas que não vão se adaptar em ler livros antes de dormir, vão preferir um banho relaxante, ouvir uma música ou conversar com o marido”, sugere a médica.
  • Independentemente da escolha, o ideal é que sejam atividades calmas e que não envolvam o pensamento e o raciocínio.
  • Fique longe dos eletrônicos uma hora antes de dormir.
  • Evite alimentos que estimulem o corpo, como cafeína, álcool e comidas gordurosas e pesadas.
  • Procure ambientes mais escuros.
  • Se possível, busque ajuda profissional para encontrar uma individualização da rotina do sono para entender o que é eficaz para você.

Desligar-se totalmente do trabalho após encerrar o horário comercial é uma tarefa difícil. Levando em consideração que vivemos em um mundo 100% conectado, é bem possível que o som da notificação do e-mail o atrapalhe minutos antes de dormir. Para especialistas, esse ciclo é nocivo e pode trazer consequências a longo prazo, como esgotamento físico e mental, ausência de criatividade, mau humor com colegas de trabalho a falta de pensamento estratégico.

Uma pesquisa feita com 73 executivos investigou como o desempenho de lideranças é impactado após pensar no trabalho à noite. Gestores mais novos estão mais propensos a se sentirem esgotados durante o dia, conforme estudo divulgado neste ano pela American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia).

Entre as competências de lideranças afetadas pela falta de sono e pensamentos pós-expediente, o entusiasmo desapareceu de forma gradual. Os pesquisadores apontaram como solução reservar um tempo para se desconectar.

Visão sobre sucesso faz líderes trabalharem demais

Por trás disso, a atual estrutura de trabalho, que estimula lideranças a não separar a vida pessoal da profissional é reflexo de duas lógicas: a da produtividade e a da competividade. Quem afirma é Michelle Prazeres, fundadora da Desacelera São Paulo, plataforma que defende a cultura slow (conceito que visa a desaceleração da vida cotidiana) em espaços corporativos.

“Quando unimos essas duas coisas, é uma combinação explosiva porque é como se nunca fosse suficiente o que estamos produzindo por causa do jeito que nos organizamos. Essa lógica tem a ver com o que pensamos sobre sucesso, ser bem-sucedida e o ápice da carreira”, afirma Prazeres.

Para Michelle Prazeres, lideranças sentem a necessidade de cumprir a lista de tarefas do dia, mesmo que isso exija trabalhar após o expediente. Como resultado, acabam se frustrando e sentindo mais esgotamento.  Foto: Elnur Amikishiyev

Na prática, a liderança fica mais frustrada, angustiada e com uma sensação permanente de insuficiência produtiva. “Você nunca vai achar que produziu tudo de que precisava naquele dia porque não é verdade que a lista de tarefas vai acabar ou que uma hora vai dar conta de tudo”, afirma a especialista, ao mencionar que a situação foi agravada após a pandemia.

Foi exatamente nesse período que o espaço pessoal começou a ser invadido pela mediação das telas, e o uso do tempo passou a ser gerenciado por tecnologias, como o WhatsApp e a agenda online.

“Esse mundo das lideranças carrega uma responsabilidade muito grande de que a pessoa não pode se desligar completamente. Isso vai gerando uma orquestração que diz para as pessoas que elas não podem descansar nunca”, aponta.

Falta de descanso afeta capacidade dos chefes

A junção do excesso de trabalho e ausência do descanso acaba gerando um desgaste emocional que impacta diretamente na capacidade cognitiva da liderança, seja em uma tomada de decisão ou até mesmo no momento de encarar um desafio comum do dia a dia, reforça Eduardo Zanini, especialista em liderança. “Também há uma perda significativa da criatividade e da inovação”, diz.

O grande problema é quando isso deixa de ser uma exceção e passa a acontecer de forma recorrente

Eduardo Zanini, especialista em liderança

Ele indica que o desgaste também traz obstáculos para convocar conversas difíceis nas equipes, além de fazer e receber feedbacks. “Quando não dormimos bem, não temos essa qualidade de cenário, de escuta e de percepção das coisas. Provavelmente vamos apresentar mais dificuldades.”

Outro ponto para o qual o especialista chama atenção é o horário em que as lideranças tomam decisões. Zanini diz ser necessário os líderes compreenderem em qual período do dia estão menos exaustos e com maior capacidade para tomar uma decisão.

“Vai depender do perfil da pessoa. Eu, por exemplo, prefiro tomar decisões pela manhã porque a minha mente está mais arejada. Tenho um cliente da área de tecnologia que funciona melhor à noite”, relata.

Do lado das corporações, o especialista reforça estimular modelos de gestão mais pautado na qualidade dos resultados, em vez de observar apenas a quantidade.

Crie um ritual do sono

Pensar regularmente no trabalho até tarde é uma armadilha em que muitas lideranças caem. A ideia de “recuperar o atraso” ou “adiantar alguma tarefa” acaba acontecendo em um contexto de tarefas infinitas e pressão superior. Você trabalha um pouco mais para se livrar de alguma demanda, mas no dia seguinte surgem outras. A sensação é de que o trabalho nunca vai ser finalizado.

Uma pesquisa da plataforma de comunicação corporativa Slack, feita com 10 mil trabalhadores que usam o sistema, confirmou que mais de 50% das pessoas consultadas sentiram mais estresse, diminuíram em até 20% a produtividade ao longo do dia e os níveis de satisfação na empresa caíram após trabalharem até tarde. A maioria disse que faz isso por causa de uma pressão interna.

Lideranças que não conseguem ter um sono reparador estão mais propensas a ficarem irritadas com mais facilidade e ter menos atenção em atividades do cotidiano, a exemplo de reuniões.  Foto: Adobe Stock

Afinal, como desacelerar no período da noite levando em consideração as mudanças estruturais que precisam acontecer nas corporações?

Por mais que seja difícil, o primeiro passo é diminuir pelo menos uma hora antes de dormir o número de luzes e tipos de interação (TV, celular e outros dispositivos).

“A melatonina (substância que favorece o sono) só consegue ser produzida quando há ausência de luz”, afirma a médica Sandra Doria Xavier, com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo.

A médica explica que o reestabelecimento da memória, do aprendizado, do foco e da disposição são afetados quando não há um sono reparador, com quantidade e qualidade adequada.

Se você não tem um sono reparador, não consegue focar em uma reunião, a atenção fica mais dispersa, fica mais doente, pode ter prejuízos de humor, mais irritabilidade e mais impulsividade com respostas inadequadas no trabalho

Sandra Doria Xavier, médica com especialização em medicina do sono e membro do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo

Dicas para criar um ritual do sono:

  • O ritual é individualizado e o que funciona para uma pessoa pode não dar certo para outra a depender da realidade. “Há pessoas que não vão se adaptar em ler livros antes de dormir, vão preferir um banho relaxante, ouvir uma música ou conversar com o marido”, sugere a médica.
  • Independentemente da escolha, o ideal é que sejam atividades calmas e que não envolvam o pensamento e o raciocínio.
  • Fique longe dos eletrônicos uma hora antes de dormir.
  • Evite alimentos que estimulem o corpo, como cafeína, álcool e comidas gordurosas e pesadas.
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