A vida seria melhor se você trabalhasse menos? A resposta pode surpreender


Reduzir sua jornada de trabalho traria mais felicidade? Ou será que é melhor mudar as relações no emprego? Veja o que 4 especialistas dizem sobre o tema

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:

Os trabalhadores ocupam a maior parte do dia debruçados em suas tarefas. Isso inclui abrir mão de um espaço na vida pessoal para adiantar aquela demanda atrasada durante o final de semana, atender telefonemas fora do expediente e até ler e-mails em plena madrugada.

Então, reduzir o número de horas de trabalho garantiria qualidade de vida? A pergunta é complexa e não tem uma única resposta. O descanso é um direito universal. Mas como ter uma pausa maior quando tudo no seu emprego parece ser urgente? Seria melhor mudar a relação com o trabalho em vez de reduzir as horas?

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O Estadão perguntou a quatro especialistas se trabalhar menos é sinônimo de felicidade ou qualidade de vida. Veja a seguir as respostas deles.

Trabalhar menos te faria mais feliz? Foto: Paper.peeps - stock.adobe.com

As pessoas viveriam melhor porque poderiam cuidar de si

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Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho

Com certeza, a vida seria melhor se as pessoas trabalhassem menos.

Aqui é preciso separar. Temos o trabalho dentro de casa. E tem esse trabalho de que estamos falando aqui, que é o trabalho dentro das empresas, das organizações e que gera renda.

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Na minha percepção, existe um desequilíbrio entre a semana ter 7 dias úteis e trabalhamos 6 deles. O dia tem 24 horas e trabalhamos 8 horas, um terço desse dia é dentro do trabalho. A que horas cuidamos das crianças da nossa casa? A que horas pensamos no que queremos para nossa vida? Então, me parece que isso é desequilibrado. Para além do que acredito, existem estudos comprovando que as pessoas que trabalham menos estão tendo menos burnout e depressão.

Quando falamos dos estudos da semana de quatro dias, por exemplo, já começa a ter esse tipo de apontamento: como é que vou cuidar da minha saúde mental? Como é que vou me exercitar? Como é que vou comer bem se quase não tenho tempo para olhar para isso?

As pessoas viveriam melhor porque elas poderiam cuidar de si e ter tempo de qualidade para refletir. Muito do tempo delas é tomado pelas horas em que elas passam focadas nesse trabalho que gera remuneração, e essa remuneração muitas vezes é apenas para sobreviver, não tem direito a entretenimento, arte.

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Propósito e segurança psicológica importam mais que menos horas de trabalho

Fernando Brancaccio, fundador da FairJob, plataforma focada em humanização organizacional

Na minha visão, o trabalho tem que estar muito mais voltado a um atendimento e a um propósito. Pelo menos que faça significado e tenha segurança psicológica. E que exista uma relação de confiança para além do propósito entre a pessoa e a empresa, acreditando realmente no que eles fazem e no que eles falam.

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O uso do tempo é uma das dimensões da felicidade no trabalho. Se isso não estiver equilibrado, faz com que as pessoas não se sintam felizes e motivadas. Mas ainda acho que a relação de confiança e propósito no trabalho faz mais sentido ainda para o bem-estar das pessoas que trabalham do que propriamente a questão do tempo.

A palavra final é equilíbrio. Você tem que acreditar nas pessoas, acreditar naquilo que você faz, ter tempo para a família e ter a possibilidade também de investir na sua educação e na sua cultura. Não acredito simplesmente que, se a gente trabalhar menos, vai ser mais feliz. Acredito que, se trabalharmos melhor e naquilo que faz mais sentido para nossa vida, vamos ser mais felizes.

Menos tempo dedicado no trabalho abre espaço para hobbies e família

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Luciano Santos, especialista em carreira e educação corporativa

Acredito que seria melhor. Também acredito que fomos feitos para ter múltiplos interesses e gastar nossa energia em diversas coisas durante o dia. Pode ser trabalho, um hobby, praticar um esporte, passar tempo com a família, pode ser um passatempo em algum lugar dentro da sua comunidade. Quando colocamos muito da nossa energia em único lugar - como estamos falando do trabalho -, várias dessas outras partes ficam negligenciadas.

Isso causa uma distorção, e não é só desequilíbrio. Quando nossa vida está equilibrada até o nosso trabalho vai melhorar. Quando conseguimos gastar o tempo com coisas de que gostamos (pintar, tocar música. passar tempo com os nossos filhos, ir para a igreja), criamos um equilíbrio tão gostoso, uma forma de viver tão boa que isso acaba afetando o nosso trabalho.

Acredito que se gastarmos menos tempo no trabalho e mais tempo nessas coisas, isso também beneficia o trabalho no final. Porque vamos ter mais experiência, mais bagagem, melhores relacionamentos e potencialmente vamos ser mais criativos, então a vida seria melhor. Acredito nisso com uma vida equilibrada em que podemos dividir e explorar a nossa pluralidade.

Trabalhar menos não garante uma vida melhor

Daniela Bertoldo, especialista em liderança e e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”

Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos e a pressão por produtividade é constante, pode parecer tentador afirmar que menos horas de trabalho levariam a uma vida mais plena.

No entanto, a questão é intrinsecamente mais complexa do que uma simples redução horária. Trabalhar menos, por si só, não garante uma vida melhor, a menos que essa redução venha acompanhada de uma reestruturação significativa em como valorizamos e integramos o trabalho em nossas vidas.

No âmbito do desenvolvimento pessoal e da liderança, é essencial reconhecer que a qualidade do trabalho e a forma como ele se entrelaça com outros aspectos da vida são fatores cruciais. Tal perspectiva nos leva a uma compreensão mais profunda de que a qualidade de vida não é apenas uma questão de tempo, mas de significado, propósito e conexão humana.

A resposta para uma vida melhor talvez esteja menos em trabalhar menos e mais em trabalhar de maneira mais inteligente, humana e integrada.

Por fim, é imperativo enfatizar a importância da infraestrutura de apoio e das políticas públicas. Para que uma redução na carga de trabalho seja verdadeiramente benéfica e não leve a uma diminuição na qualidade de vida devido a uma redução proporcional na renda, deve haver sistemas de suporte adequados.

Assista o episódio do Vodcast Dois Pontos sobre a semana de 4 dias no Brasil:

Os trabalhadores ocupam a maior parte do dia debruçados em suas tarefas. Isso inclui abrir mão de um espaço na vida pessoal para adiantar aquela demanda atrasada durante o final de semana, atender telefonemas fora do expediente e até ler e-mails em plena madrugada.

Então, reduzir o número de horas de trabalho garantiria qualidade de vida? A pergunta é complexa e não tem uma única resposta. O descanso é um direito universal. Mas como ter uma pausa maior quando tudo no seu emprego parece ser urgente? Seria melhor mudar a relação com o trabalho em vez de reduzir as horas?

O Estadão perguntou a quatro especialistas se trabalhar menos é sinônimo de felicidade ou qualidade de vida. Veja a seguir as respostas deles.

Trabalhar menos te faria mais feliz? Foto: Paper.peeps - stock.adobe.com

As pessoas viveriam melhor porque poderiam cuidar de si

Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho

Com certeza, a vida seria melhor se as pessoas trabalhassem menos.

Aqui é preciso separar. Temos o trabalho dentro de casa. E tem esse trabalho de que estamos falando aqui, que é o trabalho dentro das empresas, das organizações e que gera renda.

Na minha percepção, existe um desequilíbrio entre a semana ter 7 dias úteis e trabalhamos 6 deles. O dia tem 24 horas e trabalhamos 8 horas, um terço desse dia é dentro do trabalho. A que horas cuidamos das crianças da nossa casa? A que horas pensamos no que queremos para nossa vida? Então, me parece que isso é desequilibrado. Para além do que acredito, existem estudos comprovando que as pessoas que trabalham menos estão tendo menos burnout e depressão.

Quando falamos dos estudos da semana de quatro dias, por exemplo, já começa a ter esse tipo de apontamento: como é que vou cuidar da minha saúde mental? Como é que vou me exercitar? Como é que vou comer bem se quase não tenho tempo para olhar para isso?

As pessoas viveriam melhor porque elas poderiam cuidar de si e ter tempo de qualidade para refletir. Muito do tempo delas é tomado pelas horas em que elas passam focadas nesse trabalho que gera remuneração, e essa remuneração muitas vezes é apenas para sobreviver, não tem direito a entretenimento, arte.

Propósito e segurança psicológica importam mais que menos horas de trabalho

Fernando Brancaccio, fundador da FairJob, plataforma focada em humanização organizacional

Na minha visão, o trabalho tem que estar muito mais voltado a um atendimento e a um propósito. Pelo menos que faça significado e tenha segurança psicológica. E que exista uma relação de confiança para além do propósito entre a pessoa e a empresa, acreditando realmente no que eles fazem e no que eles falam.

O uso do tempo é uma das dimensões da felicidade no trabalho. Se isso não estiver equilibrado, faz com que as pessoas não se sintam felizes e motivadas. Mas ainda acho que a relação de confiança e propósito no trabalho faz mais sentido ainda para o bem-estar das pessoas que trabalham do que propriamente a questão do tempo.

A palavra final é equilíbrio. Você tem que acreditar nas pessoas, acreditar naquilo que você faz, ter tempo para a família e ter a possibilidade também de investir na sua educação e na sua cultura. Não acredito simplesmente que, se a gente trabalhar menos, vai ser mais feliz. Acredito que, se trabalharmos melhor e naquilo que faz mais sentido para nossa vida, vamos ser mais felizes.

Menos tempo dedicado no trabalho abre espaço para hobbies e família

Luciano Santos, especialista em carreira e educação corporativa

Acredito que seria melhor. Também acredito que fomos feitos para ter múltiplos interesses e gastar nossa energia em diversas coisas durante o dia. Pode ser trabalho, um hobby, praticar um esporte, passar tempo com a família, pode ser um passatempo em algum lugar dentro da sua comunidade. Quando colocamos muito da nossa energia em único lugar - como estamos falando do trabalho -, várias dessas outras partes ficam negligenciadas.

Isso causa uma distorção, e não é só desequilíbrio. Quando nossa vida está equilibrada até o nosso trabalho vai melhorar. Quando conseguimos gastar o tempo com coisas de que gostamos (pintar, tocar música. passar tempo com os nossos filhos, ir para a igreja), criamos um equilíbrio tão gostoso, uma forma de viver tão boa que isso acaba afetando o nosso trabalho.

Acredito que se gastarmos menos tempo no trabalho e mais tempo nessas coisas, isso também beneficia o trabalho no final. Porque vamos ter mais experiência, mais bagagem, melhores relacionamentos e potencialmente vamos ser mais criativos, então a vida seria melhor. Acredito nisso com uma vida equilibrada em que podemos dividir e explorar a nossa pluralidade.

Trabalhar menos não garante uma vida melhor

Daniela Bertoldo, especialista em liderança e e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”

Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos e a pressão por produtividade é constante, pode parecer tentador afirmar que menos horas de trabalho levariam a uma vida mais plena.

No entanto, a questão é intrinsecamente mais complexa do que uma simples redução horária. Trabalhar menos, por si só, não garante uma vida melhor, a menos que essa redução venha acompanhada de uma reestruturação significativa em como valorizamos e integramos o trabalho em nossas vidas.

No âmbito do desenvolvimento pessoal e da liderança, é essencial reconhecer que a qualidade do trabalho e a forma como ele se entrelaça com outros aspectos da vida são fatores cruciais. Tal perspectiva nos leva a uma compreensão mais profunda de que a qualidade de vida não é apenas uma questão de tempo, mas de significado, propósito e conexão humana.

A resposta para uma vida melhor talvez esteja menos em trabalhar menos e mais em trabalhar de maneira mais inteligente, humana e integrada.

Por fim, é imperativo enfatizar a importância da infraestrutura de apoio e das políticas públicas. Para que uma redução na carga de trabalho seja verdadeiramente benéfica e não leve a uma diminuição na qualidade de vida devido a uma redução proporcional na renda, deve haver sistemas de suporte adequados.

Assista o episódio do Vodcast Dois Pontos sobre a semana de 4 dias no Brasil:

Os trabalhadores ocupam a maior parte do dia debruçados em suas tarefas. Isso inclui abrir mão de um espaço na vida pessoal para adiantar aquela demanda atrasada durante o final de semana, atender telefonemas fora do expediente e até ler e-mails em plena madrugada.

Então, reduzir o número de horas de trabalho garantiria qualidade de vida? A pergunta é complexa e não tem uma única resposta. O descanso é um direito universal. Mas como ter uma pausa maior quando tudo no seu emprego parece ser urgente? Seria melhor mudar a relação com o trabalho em vez de reduzir as horas?

O Estadão perguntou a quatro especialistas se trabalhar menos é sinônimo de felicidade ou qualidade de vida. Veja a seguir as respostas deles.

Trabalhar menos te faria mais feliz? Foto: Paper.peeps - stock.adobe.com

As pessoas viveriam melhor porque poderiam cuidar de si

Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho

Com certeza, a vida seria melhor se as pessoas trabalhassem menos.

Aqui é preciso separar. Temos o trabalho dentro de casa. E tem esse trabalho de que estamos falando aqui, que é o trabalho dentro das empresas, das organizações e que gera renda.

Na minha percepção, existe um desequilíbrio entre a semana ter 7 dias úteis e trabalhamos 6 deles. O dia tem 24 horas e trabalhamos 8 horas, um terço desse dia é dentro do trabalho. A que horas cuidamos das crianças da nossa casa? A que horas pensamos no que queremos para nossa vida? Então, me parece que isso é desequilibrado. Para além do que acredito, existem estudos comprovando que as pessoas que trabalham menos estão tendo menos burnout e depressão.

Quando falamos dos estudos da semana de quatro dias, por exemplo, já começa a ter esse tipo de apontamento: como é que vou cuidar da minha saúde mental? Como é que vou me exercitar? Como é que vou comer bem se quase não tenho tempo para olhar para isso?

As pessoas viveriam melhor porque elas poderiam cuidar de si e ter tempo de qualidade para refletir. Muito do tempo delas é tomado pelas horas em que elas passam focadas nesse trabalho que gera remuneração, e essa remuneração muitas vezes é apenas para sobreviver, não tem direito a entretenimento, arte.

Propósito e segurança psicológica importam mais que menos horas de trabalho

Fernando Brancaccio, fundador da FairJob, plataforma focada em humanização organizacional

Na minha visão, o trabalho tem que estar muito mais voltado a um atendimento e a um propósito. Pelo menos que faça significado e tenha segurança psicológica. E que exista uma relação de confiança para além do propósito entre a pessoa e a empresa, acreditando realmente no que eles fazem e no que eles falam.

O uso do tempo é uma das dimensões da felicidade no trabalho. Se isso não estiver equilibrado, faz com que as pessoas não se sintam felizes e motivadas. Mas ainda acho que a relação de confiança e propósito no trabalho faz mais sentido ainda para o bem-estar das pessoas que trabalham do que propriamente a questão do tempo.

A palavra final é equilíbrio. Você tem que acreditar nas pessoas, acreditar naquilo que você faz, ter tempo para a família e ter a possibilidade também de investir na sua educação e na sua cultura. Não acredito simplesmente que, se a gente trabalhar menos, vai ser mais feliz. Acredito que, se trabalharmos melhor e naquilo que faz mais sentido para nossa vida, vamos ser mais felizes.

Menos tempo dedicado no trabalho abre espaço para hobbies e família

Luciano Santos, especialista em carreira e educação corporativa

Acredito que seria melhor. Também acredito que fomos feitos para ter múltiplos interesses e gastar nossa energia em diversas coisas durante o dia. Pode ser trabalho, um hobby, praticar um esporte, passar tempo com a família, pode ser um passatempo em algum lugar dentro da sua comunidade. Quando colocamos muito da nossa energia em único lugar - como estamos falando do trabalho -, várias dessas outras partes ficam negligenciadas.

Isso causa uma distorção, e não é só desequilíbrio. Quando nossa vida está equilibrada até o nosso trabalho vai melhorar. Quando conseguimos gastar o tempo com coisas de que gostamos (pintar, tocar música. passar tempo com os nossos filhos, ir para a igreja), criamos um equilíbrio tão gostoso, uma forma de viver tão boa que isso acaba afetando o nosso trabalho.

Acredito que se gastarmos menos tempo no trabalho e mais tempo nessas coisas, isso também beneficia o trabalho no final. Porque vamos ter mais experiência, mais bagagem, melhores relacionamentos e potencialmente vamos ser mais criativos, então a vida seria melhor. Acredito nisso com uma vida equilibrada em que podemos dividir e explorar a nossa pluralidade.

Trabalhar menos não garante uma vida melhor

Daniela Bertoldo, especialista em liderança e e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”

Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos e a pressão por produtividade é constante, pode parecer tentador afirmar que menos horas de trabalho levariam a uma vida mais plena.

No entanto, a questão é intrinsecamente mais complexa do que uma simples redução horária. Trabalhar menos, por si só, não garante uma vida melhor, a menos que essa redução venha acompanhada de uma reestruturação significativa em como valorizamos e integramos o trabalho em nossas vidas.

No âmbito do desenvolvimento pessoal e da liderança, é essencial reconhecer que a qualidade do trabalho e a forma como ele se entrelaça com outros aspectos da vida são fatores cruciais. Tal perspectiva nos leva a uma compreensão mais profunda de que a qualidade de vida não é apenas uma questão de tempo, mas de significado, propósito e conexão humana.

A resposta para uma vida melhor talvez esteja menos em trabalhar menos e mais em trabalhar de maneira mais inteligente, humana e integrada.

Por fim, é imperativo enfatizar a importância da infraestrutura de apoio e das políticas públicas. Para que uma redução na carga de trabalho seja verdadeiramente benéfica e não leve a uma diminuição na qualidade de vida devido a uma redução proporcional na renda, deve haver sistemas de suporte adequados.

Assista o episódio do Vodcast Dois Pontos sobre a semana de 4 dias no Brasil:

Os trabalhadores ocupam a maior parte do dia debruçados em suas tarefas. Isso inclui abrir mão de um espaço na vida pessoal para adiantar aquela demanda atrasada durante o final de semana, atender telefonemas fora do expediente e até ler e-mails em plena madrugada.

Então, reduzir o número de horas de trabalho garantiria qualidade de vida? A pergunta é complexa e não tem uma única resposta. O descanso é um direito universal. Mas como ter uma pausa maior quando tudo no seu emprego parece ser urgente? Seria melhor mudar a relação com o trabalho em vez de reduzir as horas?

O Estadão perguntou a quatro especialistas se trabalhar menos é sinônimo de felicidade ou qualidade de vida. Veja a seguir as respostas deles.

Trabalhar menos te faria mais feliz? Foto: Paper.peeps - stock.adobe.com

As pessoas viveriam melhor porque poderiam cuidar de si

Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho

Com certeza, a vida seria melhor se as pessoas trabalhassem menos.

Aqui é preciso separar. Temos o trabalho dentro de casa. E tem esse trabalho de que estamos falando aqui, que é o trabalho dentro das empresas, das organizações e que gera renda.

Na minha percepção, existe um desequilíbrio entre a semana ter 7 dias úteis e trabalhamos 6 deles. O dia tem 24 horas e trabalhamos 8 horas, um terço desse dia é dentro do trabalho. A que horas cuidamos das crianças da nossa casa? A que horas pensamos no que queremos para nossa vida? Então, me parece que isso é desequilibrado. Para além do que acredito, existem estudos comprovando que as pessoas que trabalham menos estão tendo menos burnout e depressão.

Quando falamos dos estudos da semana de quatro dias, por exemplo, já começa a ter esse tipo de apontamento: como é que vou cuidar da minha saúde mental? Como é que vou me exercitar? Como é que vou comer bem se quase não tenho tempo para olhar para isso?

As pessoas viveriam melhor porque elas poderiam cuidar de si e ter tempo de qualidade para refletir. Muito do tempo delas é tomado pelas horas em que elas passam focadas nesse trabalho que gera remuneração, e essa remuneração muitas vezes é apenas para sobreviver, não tem direito a entretenimento, arte.

Propósito e segurança psicológica importam mais que menos horas de trabalho

Fernando Brancaccio, fundador da FairJob, plataforma focada em humanização organizacional

Na minha visão, o trabalho tem que estar muito mais voltado a um atendimento e a um propósito. Pelo menos que faça significado e tenha segurança psicológica. E que exista uma relação de confiança para além do propósito entre a pessoa e a empresa, acreditando realmente no que eles fazem e no que eles falam.

O uso do tempo é uma das dimensões da felicidade no trabalho. Se isso não estiver equilibrado, faz com que as pessoas não se sintam felizes e motivadas. Mas ainda acho que a relação de confiança e propósito no trabalho faz mais sentido ainda para o bem-estar das pessoas que trabalham do que propriamente a questão do tempo.

A palavra final é equilíbrio. Você tem que acreditar nas pessoas, acreditar naquilo que você faz, ter tempo para a família e ter a possibilidade também de investir na sua educação e na sua cultura. Não acredito simplesmente que, se a gente trabalhar menos, vai ser mais feliz. Acredito que, se trabalharmos melhor e naquilo que faz mais sentido para nossa vida, vamos ser mais felizes.

Menos tempo dedicado no trabalho abre espaço para hobbies e família

Luciano Santos, especialista em carreira e educação corporativa

Acredito que seria melhor. Também acredito que fomos feitos para ter múltiplos interesses e gastar nossa energia em diversas coisas durante o dia. Pode ser trabalho, um hobby, praticar um esporte, passar tempo com a família, pode ser um passatempo em algum lugar dentro da sua comunidade. Quando colocamos muito da nossa energia em único lugar - como estamos falando do trabalho -, várias dessas outras partes ficam negligenciadas.

Isso causa uma distorção, e não é só desequilíbrio. Quando nossa vida está equilibrada até o nosso trabalho vai melhorar. Quando conseguimos gastar o tempo com coisas de que gostamos (pintar, tocar música. passar tempo com os nossos filhos, ir para a igreja), criamos um equilíbrio tão gostoso, uma forma de viver tão boa que isso acaba afetando o nosso trabalho.

Acredito que se gastarmos menos tempo no trabalho e mais tempo nessas coisas, isso também beneficia o trabalho no final. Porque vamos ter mais experiência, mais bagagem, melhores relacionamentos e potencialmente vamos ser mais criativos, então a vida seria melhor. Acredito nisso com uma vida equilibrada em que podemos dividir e explorar a nossa pluralidade.

Trabalhar menos não garante uma vida melhor

Daniela Bertoldo, especialista em liderança e e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”

Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos e a pressão por produtividade é constante, pode parecer tentador afirmar que menos horas de trabalho levariam a uma vida mais plena.

No entanto, a questão é intrinsecamente mais complexa do que uma simples redução horária. Trabalhar menos, por si só, não garante uma vida melhor, a menos que essa redução venha acompanhada de uma reestruturação significativa em como valorizamos e integramos o trabalho em nossas vidas.

No âmbito do desenvolvimento pessoal e da liderança, é essencial reconhecer que a qualidade do trabalho e a forma como ele se entrelaça com outros aspectos da vida são fatores cruciais. Tal perspectiva nos leva a uma compreensão mais profunda de que a qualidade de vida não é apenas uma questão de tempo, mas de significado, propósito e conexão humana.

A resposta para uma vida melhor talvez esteja menos em trabalhar menos e mais em trabalhar de maneira mais inteligente, humana e integrada.

Por fim, é imperativo enfatizar a importância da infraestrutura de apoio e das políticas públicas. Para que uma redução na carga de trabalho seja verdadeiramente benéfica e não leve a uma diminuição na qualidade de vida devido a uma redução proporcional na renda, deve haver sistemas de suporte adequados.

Assista o episódio do Vodcast Dois Pontos sobre a semana de 4 dias no Brasil:

Os trabalhadores ocupam a maior parte do dia debruçados em suas tarefas. Isso inclui abrir mão de um espaço na vida pessoal para adiantar aquela demanda atrasada durante o final de semana, atender telefonemas fora do expediente e até ler e-mails em plena madrugada.

Então, reduzir o número de horas de trabalho garantiria qualidade de vida? A pergunta é complexa e não tem uma única resposta. O descanso é um direito universal. Mas como ter uma pausa maior quando tudo no seu emprego parece ser urgente? Seria melhor mudar a relação com o trabalho em vez de reduzir as horas?

O Estadão perguntou a quatro especialistas se trabalhar menos é sinônimo de felicidade ou qualidade de vida. Veja a seguir as respostas deles.

Trabalhar menos te faria mais feliz? Foto: Paper.peeps - stock.adobe.com

As pessoas viveriam melhor porque poderiam cuidar de si

Maíra Blasi, especialista em futuro do trabalho

Com certeza, a vida seria melhor se as pessoas trabalhassem menos.

Aqui é preciso separar. Temos o trabalho dentro de casa. E tem esse trabalho de que estamos falando aqui, que é o trabalho dentro das empresas, das organizações e que gera renda.

Na minha percepção, existe um desequilíbrio entre a semana ter 7 dias úteis e trabalhamos 6 deles. O dia tem 24 horas e trabalhamos 8 horas, um terço desse dia é dentro do trabalho. A que horas cuidamos das crianças da nossa casa? A que horas pensamos no que queremos para nossa vida? Então, me parece que isso é desequilibrado. Para além do que acredito, existem estudos comprovando que as pessoas que trabalham menos estão tendo menos burnout e depressão.

Quando falamos dos estudos da semana de quatro dias, por exemplo, já começa a ter esse tipo de apontamento: como é que vou cuidar da minha saúde mental? Como é que vou me exercitar? Como é que vou comer bem se quase não tenho tempo para olhar para isso?

As pessoas viveriam melhor porque elas poderiam cuidar de si e ter tempo de qualidade para refletir. Muito do tempo delas é tomado pelas horas em que elas passam focadas nesse trabalho que gera remuneração, e essa remuneração muitas vezes é apenas para sobreviver, não tem direito a entretenimento, arte.

Propósito e segurança psicológica importam mais que menos horas de trabalho

Fernando Brancaccio, fundador da FairJob, plataforma focada em humanização organizacional

Na minha visão, o trabalho tem que estar muito mais voltado a um atendimento e a um propósito. Pelo menos que faça significado e tenha segurança psicológica. E que exista uma relação de confiança para além do propósito entre a pessoa e a empresa, acreditando realmente no que eles fazem e no que eles falam.

O uso do tempo é uma das dimensões da felicidade no trabalho. Se isso não estiver equilibrado, faz com que as pessoas não se sintam felizes e motivadas. Mas ainda acho que a relação de confiança e propósito no trabalho faz mais sentido ainda para o bem-estar das pessoas que trabalham do que propriamente a questão do tempo.

A palavra final é equilíbrio. Você tem que acreditar nas pessoas, acreditar naquilo que você faz, ter tempo para a família e ter a possibilidade também de investir na sua educação e na sua cultura. Não acredito simplesmente que, se a gente trabalhar menos, vai ser mais feliz. Acredito que, se trabalharmos melhor e naquilo que faz mais sentido para nossa vida, vamos ser mais felizes.

Menos tempo dedicado no trabalho abre espaço para hobbies e família

Luciano Santos, especialista em carreira e educação corporativa

Acredito que seria melhor. Também acredito que fomos feitos para ter múltiplos interesses e gastar nossa energia em diversas coisas durante o dia. Pode ser trabalho, um hobby, praticar um esporte, passar tempo com a família, pode ser um passatempo em algum lugar dentro da sua comunidade. Quando colocamos muito da nossa energia em único lugar - como estamos falando do trabalho -, várias dessas outras partes ficam negligenciadas.

Isso causa uma distorção, e não é só desequilíbrio. Quando nossa vida está equilibrada até o nosso trabalho vai melhorar. Quando conseguimos gastar o tempo com coisas de que gostamos (pintar, tocar música. passar tempo com os nossos filhos, ir para a igreja), criamos um equilíbrio tão gostoso, uma forma de viver tão boa que isso acaba afetando o nosso trabalho.

Acredito que se gastarmos menos tempo no trabalho e mais tempo nessas coisas, isso também beneficia o trabalho no final. Porque vamos ter mais experiência, mais bagagem, melhores relacionamentos e potencialmente vamos ser mais criativos, então a vida seria melhor. Acredito nisso com uma vida equilibrada em que podemos dividir e explorar a nossa pluralidade.

Trabalhar menos não garante uma vida melhor

Daniela Bertoldo, especialista em liderança e e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”

Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos e a pressão por produtividade é constante, pode parecer tentador afirmar que menos horas de trabalho levariam a uma vida mais plena.

No entanto, a questão é intrinsecamente mais complexa do que uma simples redução horária. Trabalhar menos, por si só, não garante uma vida melhor, a menos que essa redução venha acompanhada de uma reestruturação significativa em como valorizamos e integramos o trabalho em nossas vidas.

No âmbito do desenvolvimento pessoal e da liderança, é essencial reconhecer que a qualidade do trabalho e a forma como ele se entrelaça com outros aspectos da vida são fatores cruciais. Tal perspectiva nos leva a uma compreensão mais profunda de que a qualidade de vida não é apenas uma questão de tempo, mas de significado, propósito e conexão humana.

A resposta para uma vida melhor talvez esteja menos em trabalhar menos e mais em trabalhar de maneira mais inteligente, humana e integrada.

Por fim, é imperativo enfatizar a importância da infraestrutura de apoio e das políticas públicas. Para que uma redução na carga de trabalho seja verdadeiramente benéfica e não leve a uma diminuição na qualidade de vida devido a uma redução proporcional na renda, deve haver sistemas de suporte adequados.

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