Franz Aparício Ambrósio, de 60 anos, toca o brechó Minha Avó Tinha desde 1992, no bairro de Perdizes. Engenheiro metalúrgico de formação, ele entrou no ramo depois de ficar desempregado, vendendo em feiras de antiguidades móveis que encontrava descartado pelas ruas e algumas peças de decoração.
"No início, vendia apenas móveis, até que começaram a me oferecer roupas e acessórios." O negócio foi crescendo e ele percebeu que precisaria abrir uma loja para poder dar conta da demanda. "Continuei com as feiras, pois elas eram ponto de captação para a loja", diz o empreendedor. Atualmente, cerca de 90% do seu acervo são peças vintage, principalmente da década de 1980.
A locação de roupas, acessórios e móveis para comerciais e cenários costuma ser responsável por 50% do faturamento do brechó. "Com a crise, estão mais difíceis os contratos de publicidade, de onde vem maior parte do faturamento", diz. Por isso, pretende aumentar a oferta de acessórios e bijuterias, que têm circulação mais rápida entre o público, que é composto, 75% por mulheres, com idade entre 18 e 35 anos.
Formalização. Dados do Sebrae mostram que, mesmo diante da crise, o segmento garante bons resultados. Levantamento mostra que de 31 de março de 2015 a 16 de maio de 2015 o número de negócios que comercializavam artigos usados - como roupas e calçados, móveis, material de demolição, utensílios domésticos - foi de 12,6 mil para 13,2 mil negócios.
"Atuar em nichos exige uma compreensão maior do público, é preciso entender suas reais necessidades, percepções e comportamentos", diz o presidente do Sebrae, Luiz Barreto.
De acordo com a entidade, por representar um mercado que pode ser considerado de baixo risco - já que a concorrência ainda é pequena, o investimento inicial é relativamente baixo e o público é bem diversificado -, os brechós surgem como boa oportunidade de negócio para quem deseja abrir uma empresa. É um dos nichos de mercado explorado por quem trabalha com moda.
O dono do Minha Avó Tinha conta que depois de participar de um fórum do Sebrae, no qual foram discutidas as melhores práticas para os brechós, desde 2015 ele e mais 12 outros donos dessas empresas têm feito trimestralmente uma feira, que também serve para eles trocarem ideias sobre o negócio.
"No evento, que se estende por um final de semana, é possível faturar de R$ 10 mil a 12 mil. Muitas vezes, isso é o faturamento de um mês para uns e de um dia para outros, como no meu caso. O evento vale a pena pelos contatos com empresários e pode ser a evolução natural para a formalização", diz Ambrósio.
Livros. O geógrafo Sandro Giuliano, de 30 anos, comprou o sebo Avalovara, em Pinheiros, em 2011. "Eu trabalhava na loja havia dois anos, quando o dono decidiu vender. E eu comprei. Comecei com poucos livros, hoje tenho 15 mil. Na primeira semana, eu trouxe cerca de 300 exemplares que eram meus para preencher os espaços das estantes e fui comprando novos volumes."
Na Avenida Pedroso de Moraes, onde o Avalovara está instalado, existem outros sebos, mas na opinião de Giuliano, o fato é positivo para o negócio. "Ter outros sebos na mesma rua ajuda. As pessoas já sabem que neste quarteirão existem várias opções", diz.
Giuliano comercializa livros de humanidades e artes - psicologia, filosófica, história, antropologia, arquitetura e cinema. Os meses de fevereiro, março e agosto - início de períodos letivos - são os melhores meses em faturamento para o sebo. Ele conta que as pessoas oferecem livros por e-mail, por telefone e diretamente na loja, com apenas um exemplar, uma sacola, o porta-malas do carro cheiro e até ofertando bibliotecas inteiras. "Já comprei dois mil e quinhentos livros de uma vez."
O empresário só adquire livros em bom estado: não podem estar rasgados ou molhados, por exemplo. O preço varia muito, mas na loja há títulos a partir de R$ 2,00. Ele vende pela internet, mas garante que a margem na loja é maior. Um dos destaques são as vendas para decoração e composição de cenários.
'É um projeto lucrativo e que vai aumentar'
Para o professor do Núcleo de Estudos e Negócios do Varejo da ESPM-SP Roberto Nascimento, os negócios de segunda mão são promissores, com alto potencial de crescimento. "Pessoas jovens e que estão perdendo o emprego encontram oportunidades de negócio nesse nicho. É um negócio que vai aumentar e que é lucrativo."
De acordo com Nascimento, além de produtos mais baratos, as pessoas estão buscando um consumo mais consciente. "Tem também o fator de contribuir para um planeta melhor. O cliente consciente procura reutilizar as mercadorias", diz.
Na opinião do professor de empreendedorismo do Insper Marcelo Nakagawa, ao abrir um negócio que vende produtos de segunda mão é preciso ter um diferencial de mercado. "É necessário pensar em um conceito, em uma marca e no público que pretende atingir." Ele ressalta a importância de ter um plano de negócios e fazer a previsão de faturamento.
"A crise joga a favor, pois muitas pessoas vão buscar soluções mais baratas. Adquira bons produtos e tenha cuidado para não ter um amontoado de mercadorias", diz Nakagawa.
Virtual. "Temos produtos de A a Z", assim o diretor de marketplace do MercadoLivre, Leandro Soares, classifica o site de compra e venda de produtos, que realiza 2,5 mil buscas por segundo, vende 3,5 mil produtos por segundo e movimentou cerca de US$ 7 bilhões na América Latina. "O Brasil representa metade do negócio."
Deste montante, 15% são produtos usados. Segundo Soares, o site tem mais de 30 milhões de ofertas no ar e a grande maioria é de pessoas físicas e de pequenos empreendedores. Ele diz que as categorias que mais vendem são games, informática, acessórios para veículo, celulares, eletrônicos.
"É uma plataforma aberta para pessoa física ou jurídica. Não há restrição, além das proibidas por lei, para anunciar. É possível anunciar e comercializar infinitos produtos", diz.
O anunciante opta por pacotes, pode ser 100% gratuito, 10% e 16% de comissão com maior exposição no site. Soares esclarece que há uma lógica de exposição e relevância, que leva em consideração também o histórico do vendedor.
De acordo com o diretor, os anúncios de produtos usados crescem proporcionalmente ao site. "Milhares de vendedores, pessoas jurídicas que vendem na plataforma, anunciaram pela primeira vez um artigo usado, a venda funcionou e depois de tantas outras vendas, eles decidiram empreender, montando uma empresa que hoje comercializa produtos para o MercadoLivre", conta Soares.