As locadoras de veículos podem estar entre as possíveis beneficiadas da medida provisória anunciada pelo governo Lula que estabelece descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil nos preços dos automóveis. Analistas citam como possíveis vantagens uma menor necessidade de investimento e uma melhora nas margens das empresas.
A duração de quatro meses para o subsídio, porém, e a exclusividade inicial de compra para pessoas físicas limitam os impactos positivos, segundo analistas do mercado e representantes do segmento.
Para as locadoras, a iniciativa deve trazer ventos contrários no primeiro momento, mas favoráveis no longo prazo, segundo o Credit Suisse, que não espera impactos relevantes para a Localiza e a Movida.
Os analistas destacam a maior depreciação no início, com a desvalorização das frotas atuais. Por outro lado, a depreciação de longo prazo diminuiria, pois as empresas comprariam carros mais baratos, que então se valorizariam quando os subsídios acabassem.
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Em relatório sobre possíveis impactos da MP para a Localiza, o Itaú BBA estima um impacto negativo no lucro líquido da companhia de R$ 900 milhões a R$ 1,5 bilhão em 2023 ante a previsão atual de R$ 2,5 bilhões do banco, considerando uma baixa de 3% a 5% no valor contábil dos carros.
“Por outro lado, o mercado parece estar mais focado em 2024 do que em 2023. Este efeito negativo deverá ser ofuscado por potenciais impactos positivos a curto prazo”, escrevem Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano.
O Itaú BBA estima que, com a normalização dos preços dos carros após o fim da desoneração tributária, os veículos comprados com preços mais baixos (ou remarcados, mas não colocados à venda) devem ser vendidos com margens acima da média na divisão de seminovos.
“O volume adicional de carros aceleraria o rejuvenescimento da frota e potencialmente beneficiaria os custos de manutenção. A soma de todos esses efeitos positivos pode se traduzir em um upside de cerca de 10% para nossos números de Localiza”.
Prazo e exclusividade
Apesar de contribuir para a redução de preços, a iniciativa é um “cobertor curto”, avalia o presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Marco Aurélio Nazaré.
“Vai haver uma redução de capex (investimentos), mas também reduz o valor dos ativos das empresas do setor”, diz. O porta-voz estima que para trazer benefícios mais concretos, o programa teria que ter uma extensão de 12 a 18 meses, prazo que considera adequado para renovação de frota e reequilíbrio.
A equipe do Credit calcula que a iniciativa pode ter uma vida ainda mais curta do que previsto inicialmente, considerando que os R$ 500 milhões implicam subsídios para 62 mil a 250 mil carros, em comparação com cerca de 6 mil veículos leves produzidos por dia em 2022.
“É improvável que o programa dure muito mais do que um trimestre, possivelmente atingindo o limite em menos de dois meses”, projetam Régis Cardoso e Henrique Simões.
O Santander, por sua vez, classifica a iniciativa como um ponto ligeiramente negativo para as empresas do setor, uma vez que os descontos de carros novos devem causar impacto sobre as vendas de carros usados das locadoras enquanto durar o programa. No primeiro trimestre de 2023, o segmento de seminovos pesou nos balanços da Movida e Localiza.
As locadoras poderiam compensar parcialmente esse efeito com a compra de carros novos mais baratos, complementam os analistas do Santander, Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem. “Mas isso se o governo estender os benefícios aos compradores corporativos (o que, pelo menos nos primeiros 15 dias, não será permitido).”
A exclusividade inicial de compra para as pessoas físicas surpreendeu negativamente a Abla, segundo Nazaré. “Entendemos a necessidade de movimentos para redução de preço, mas isso tem que ser feito com equidade, porque não é o cliente pessoa física que vai resolver o problema”, afirma, destacando que as locadoras projetam comprar cerca de 600 mil carros em 2023.
O analista do setor na Levante Investimentos, Flávio Conde, vê um potencial positivo para as locadoras na MP. No entanto, cita a extensão limitada e o cenário macroeconômico como pontos sensíveis. “O principal incentivo só vai vir quando os juros baixarem para menos de 10%, o que não esperamos que aconteça antes de 2025″, afirma.
Na mesma linha, o representante da Abla avalia que a iniciativa do governo não é suficiente para resolver o problema. “Não adianta só diminuir o preço. É necessário aumentar o poder aquisitivo e reduzir o endividamento e a taxa de juros para melhorar o acesso ao crédito e a inadimplência cair”, diz Marco Aurélio Nazaré.