Em meio à pior crise econômica internacional desde o pós-guerra, quatro novas metrópoles, espécies de oásis econômicos, estão em construção nos desertos da Arábia Saudita. Maior exportador de petróleo do mundo e dono de 25% das reservas mundiais, o país também foi afetado pela recessão, mas mantém como estratégia de desenvolvimento investir e repetir o sucesso das vizinhas Dubai e Abu Dabi. Até 2020, US$ 60 bilhões serão investidos em cidades como King Abdullah Economic City, projetada para ser a maior cidade árabe do mundo. Os planos são ambiciosos, mas ninguém parece duvidar de sua viabilidade na Arábia Saudita. Desenhadas para abrigar entre 4 milhões e 5 milhões de habitantes no horizonte de 12 anos, as quatro metrópoles - King Abdullah, Jazan, Price Adbulaziz e Knowledge - devem gerar 1,3 milhão de empregos. Se os cálculos das autoridades sauditas estiverem corretos, o país aumentará seu Produto Interno Bruto (PIB) em US$ 150 bilhões, agregando-os aos atuais US$ 344 bilhões. Das quatro metrópoles, a mais ambiciosa é King Abdullah. Encravado no deserto, às margens do Mar Vermelho, um pórtico rosado em arquitetura árabe tradicional anuncia a chegada dos visitantes a um imenso canteiro de obras de 168 milhões de metros quadrados e 13 mil trabalhadores, desenhado pelo arquiteto norte-americano Marshall Strabala. De acordo com o projeto, trata-se da futura maior cidade do Oriente Médio. Em sua construção, US$ 27 bilhões estão sendo despejados não apenas para erguê-la, mas também para transformá-la, até 2010, em uma das dez cidades mais competitivas do mundo em atração de investimentos. Financiada em 100% pela iniciativa privada, a cidade será inaugurada em 9 de setembro já com escolas e mais de 1,1 mil residências vendidas. Quando todas as construções previstas estiverem concluídas, a cidade terá um centro com apartamentos de alto luxo e capacidade para 75 mil moradores, além de 350 mil metros quadrados de butiques ao melhor estilo consumista ocidental. Nas proximidades da cidade, segundo o projeto, haverá um bairro turístico, com centros equestres, clubes de golfe e hotéis sofisticados, uma cidade de negócios de 14 hectares, tomada de arranha-céus, um centro de educação com escolas, universidades e centros de pesquisa, um parque industrial e um porto previsto para ser um dos dez mais importantes do mundo, com capacidade para carregamento de 10 milhões de contêineres por ano. DIVERSIFICAÇÃO O objetivo das quatro metrópoles é diversificar a economia da Arábia Saudita, atualmente com base na produção de petróleo, transformando King Abdullah em um centro entre o Ocidente e o Oriente, um mercado potencial de 250 milhões de consumidores. O paradoxo é que, em meio à crise internacional, a família real saudita não parece disposta a desacelerar seus projetos. Mesmo atingido pela recessão mundial, o país manterá o crescimento positivo em 2009, assim como os planos de investimentos de US$ 800 bilhões em infraestrutura na próxima década. "A recessão da economia global tem representado grandes oportunidades de negócios, inclusive pela queda de 30% a 40% do preço da construção", explica Amr al Dabbagh, presidente da Sociedade Nacional Saudita de Investimentos (Sagia). "Agora, o desafio é o quão rápido podemos ir em 24 horas por dia, sete dias por semana", diz Dabbagh. Outro a garantir a viabilidade dos projetos é Fahd Al-Rasheed, diretor-presidente da Emaar Properties, consórcio imobiliário que ajudou a catapultar Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. "Nós já vendemos mais de mil apartamentos residenciais sem que a cidade tenha sido inaugurada. Isso alivia os investidores sobre a estabilidade econômica do projeto e nos impulsiona a manter nossa agenda", diz Al-Rasheed. Para concretizar os projetos econômicos, o rei árabe Abdullah bin Abdulaziz al Saud tenta avançar em outra reforma, a política. Em seus produtos de divulgação, a Sagia promete "qualidade de vida" e um ambiente financeiro próspero. Para tanto, vai precisar vencer as resistências do Ocidente à Sharia, o código islâmico radical que determina as leis e os costumes no país.