A Suzano, da família Feffer, anunciou ontem acordo para unir os negócios com sua maior rival, a Fibria, líder na produção global de celulose, criando uma gigante do setor, com produção de 11 milhões de toneladas. Após algumas tentativas frustradas no passado, as conversas para a união das duas empresas foram retomadas nas últimas semanas, conforme antecipou o ‘Estado’. A operação prevê troca de ações e o pagamento de R$ 29 bilhões da Suzano aos acionistas da Fibria para que os Feffer assumam o controle acionário da nova companhia, com fatia de 46,4%. A retomada das negociações para essa fusão havia sido antecipada pelo Estadão no mês passado.+ Dinheiro da venda da Fibria não será usado para pagar o Tesouro, diz BNDES
Pelo acordo, a união entre as duas empresas cria a quinta maior companhia em valor de mercado, avaliada em R$ 84 bilhões (incluindo dívidas), atrás de Petrobrás, Ambev, Vale e Telefônica. A nova gigante da celulose terá quase o dobro de tamanho das empresas da família Widjaja, dona Paper Excellence e da Asia Pulp and Paper (APP), que também estava no páreo pela Fibria. A família indonésia é sócia da Eldorado, ao lado da J&F, dos irmãos Batista.
+ BNDES teve papel preponderante na operação entre Fibria e Suzano Para selar o acordo, a Suzano precisou do aval dos acionistas controladores da Fibria – o grupo Votorantim e o braço de participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), que possuem, respectivamente, fatias de 29,42% e 29,08% na líder de celulose. Tanto os Ermirio de Moraes quanto o BNDESPar vão receber, cada um, cerca de R$ 8,5 bilhões em dinheiro. Os R$ 12 bilhões restantes vão para os acionistas minoritários.
+ Após compra da Fibria, Suzano sobe 20% na Bolsa O BNDESPAr, que também é acionista da Suzano, com 6,9% de fatia, ficará com uma participação 11,1% na nova empresa e a família Ermírio de Moraes, com 5,6%. “Foi um alinhamento dos astros a concretização dessa operação”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano e um dos responsáveis pela condução das negociações. Para viabilizar a união das empresas, a Suzano propôs pagar aos acionistas da Fibria R$ 52,50 por ação, corrigidos pelo CDI, além de 0,4611 ação da Suzano. A operação prevê emissão pela Suzano de 255 milhões de novas ações. Todas essas etapas só vão ocorrer quando as empresas receberem aval das autoridades de defesa da concorrência. A Suzano levantou US$ 9,2 bilhões com os bancos Mizuho, JP Morgan, BNP Paribas e Rabobank. O Itaú BBA, o escritório Cescon Barrieu e a consultoria financeira Riza assessoraram a Suzano. Já a Fibria contou com o banco Morgan Stanley e o escritório Mattos Filho.Gigante mundial. “Não teremos uma campeã nacional, mas uma gigante global com competitividade para fazer frente aos principais concorrentes”, disse ontem Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, durante o anúncio oficial da união das duas empresas.
As ações das duas companhias fecharam como destaques do Bovespa, mas em sentidos opostos. Os papéis ordinários (ON) da Suzano dispararam 21,79%, a R$ 28,50, enquanto os da Fibria recuaram 10,22%, a R$ 64,25. O valor de mercado das duas empresas, juntas, na Bolsa fechou ontem em R$ 66 bilhões. A operação, com potencial para mudar a dinâmica do mercado de global de celulose e que dará mais poder ao Brasil na queda de braço com a China, deve se destacar com uma das maiores transações de fusões e aquisições no mercado brasileiro deste ano. Analistas dizem que o negócio é bom para as duas produtoras de celulose, mas que, no curto prazo, os acionistas da Suzano terão mais vantagens que os da Fibria, por causa do valor a ser pago pela primeira. Ontem, a agência de classificação de risco S&P Global elevou o rating em escala global da Suzano de BB+ para BBB- e reafirmou a nota em escala nacional em brAAA. A perspectiva foi alterada de positiva para estável. Já o rating em escala global da Fibria foi reafirmado em BBB-, com perspectiva estável. Em comunicado, a S&P comentou que a elevação da nota da Suzano reflete a visão da agência de que a empresa está “empenhada em conter sua alavancagem dentro dos limites de sua política financeira”. Para a S&P, a transação feita pelas duas empresas “não fará com que a Suzano se desvie de seus padrões de alavancagem, dado o histórico da empresa e nossa confiança em termos do nível sustentável de métricas de crédito da Suzano”. / COLABORARAM EDUARDO LAGUNA E FABIANA HOLTZ