O mercado de trabalho brasileiro voltou a mostrar força em maio, com novos recordes de população ocupada, de empregos com carteira assinada e da massa de salários em circulação na economia. A taxa de desemprego desceu de 7,5% no trimestre móvel encerrado em abril para 7,1% no trimestre encerrado em maio, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi o mais baixo para esse período do ano desde 2014, quando também ficou em 7,1%, retornando assim ao menor nível para meses de maio de toda a série histórica iniciada em 2012.
Os dados confirmam que o mercado de trabalho permanece apertado, aponta o Itaú Unibanco, que estima que a taxa de desemprego tenha descido a 6,9% se descontadas as influências sazonais.
“Os salários reais efetivos continuaram subindo refletindo o dinamismo do mercado de trabalho”, acrescentou Marina Garrido, do Departamento de Pesquisa Econômica do Itaú, em relatório.
O País registrou uma abertura de 1,081 milhão de vagas no mercado de trabalho no trimestre até maio, elevando a população ocupada a um recorde de 101,331 milhões de pessoas. Em um ano, mais 2,931 milhões de trabalhadores encontraram uma ocupação.
Ao mesmo tempo, a população desocupada recuou em 751 mil pessoas em um trimestre, totalizando 7,783 milhões de desempregados, menor contingente desde fevereiro de 2015. Em um ano, 1,162 milhão de pessoas deixaram o desemprego.
“Em linhas gerais, o mercado de trabalho aquecido sustentará a demanda doméstica nos próximos trimestres (e, consequentemente, o Produto Interno Bruto). Ao mesmo tempo, essa dinâmica manterá as preocupações do Banco Central sobre a transmissão da elevação dos salários reais para a inflação”, pontuou o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, em comentário.
Há uma melhora consolidada no mercado de trabalho, com expansões contínuas e renovação de recordes a cada trimestre, gerando um processo cumulativo desses ganhos, avaliou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. Segundo ela, o cenário econômico favorável estaria por trás desses avanços, fazendo a melhora no emprego alimentar também um ciclo virtuoso: com mais trabalhadores ocupados, há mais renda e, consequentemente, mais demanda.
“Isso tem relação, sim, com a melhora da atividade econômica. Está havendo mais ocupação, esse trabalho está sendo mais demandado pelas atividades econômicas. A gente vem observando que a atividade econômica vem demandando trabalhadores, e isso está permitindo esse crescimento contínuo que a gente está vendo da população ocupada”, apontou Beringuy.
A pesquisadora considera que indicadores macroeconômicos, como juros mais baixos, redução na inadimplência e arrefecimento da inflação, ajudam no momento mais favorável para o emprego.
“Esses indicadores se interconectam entre si e refletem na atividade econômica”, disse ela.
A alta na ocupação ocorreu majoritariamente pela expansão do emprego formal. O trimestre encerrado em maio mostrou uma abertura de 330 mil vagas com carteira assinada no setor privado em relação ao trimestre anterior, encerrado em fevereiro. O total de pessoas atuando com carteira assinada no setor privado subiu a um ápice de 38,326 milhões. O setor público, também marcado por diferentes tipos de vínculos formais, absorveu 517 mil trabalhadores a mais no trimestre, para um total de 12,534 milhões de ocupados.
Renda em alta
Com mais pessoas trabalhando e vagas mais qualificadas, a massa de salários em circulação na economia aumentou em R$ 6,751 bilhões em apenas um trimestre, para o nível recorde de R$ 317,883 bilhões. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma alta real de 1,0% no trimestre, R$ 31 a mais, para R$ 3.181.
“É um crescimento robusto e indica que o consumo das famílias deve continuar positivo ao longo dos próximos trimestres”, apontou o economista Felipe Rodrigo de Oliveira, da gestora de recursos MAG Investimentos.
Segundo Adriana Beringuy, do IBGE, a renda do trabalhador vem crescendo continuamente, impulsionada pela expansão do emprego formal, que tem remuneração mais elevada do que as ocupações informais.
No trimestre encerrado em maio de 2024, a renda média alcançou o maior patamar para esse período do ano de toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. O nível atual se assemelha ao pico alcançado em 2020, em meio à pandemia de covid-19. No entanto, a atual elevação na renda do trabalho é bastante diferente da que ocorreu na crise sanitária, frisou Beringuy. No primeiro ano de pandemia, a renda média subiu porque trabalhadores com baixos rendimentos foram expelidos do mercado de trabalho, enquanto os ocupados com remunerações mais elevadas permaneceram empregados, elevando a média global.
“Agora tem um rendimento maior sendo recebido por mais pessoas”, ressaltou Beringuy./Colaborou Gabriela Jucá