Te conheço


Em diálogos de Sócrates aparece o lema délfico “conhece-te a ti mesmo” que, segundo se crê, estava inscrito no portal do Templo de Apolo, em Delfos. A proposição socrática sugere que, antes de qualquer voo maior na tentativa de desvendar as coisas, busquemos saber mais sobre nós próprios.

Por Demi Getschko
Atualização:

Teria essa preocupação, de quase 3 mil anos, encontrado na internet o caminho de solução? Não creio seja o caso mas, admitamos, o que a rede já sabe de cada um surpreende e, às vezes, ultrapassa até o que imaginamos saber sobre nós mesmos.

Estamos nos acostumando a que não haja mais segredos sobre onde estamos, o que compramos e buscamos, de que discussões tomamos parte. Com os telefones espertos e a geolocalização, tão útil nos problemas de tráfego viário, acabamos por contribuir, nem sempre conscientemente, com nossa localização e deslocamentos. Isso já virou rotina mas, o que nos reservam as ferramentas de análise com inteligência artificial (IA) é complexo e preocupante: elas assumem “tirar conclusões” a partir do mar de dados que há na rede.

Se uma ficção, um filme como o Minority Report, já nos deixava apreensivos ao criar um cenário presciente e antecipatório de combate a crimes, imagine-se o que a aplicação de IA e de Big Data pode representar.

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Uma anedota correu a rede há cerca de um ano e dizia respeito ao pai de uma adolescente norte-americana, incomodado por receber em casa anúncios de roupas e produtos para bebês. Considerou aquilo isso uma ação “inconveniente e inadequada” para que sua filha, ainda menor, engravidasse. Meses depois ele se tornava avô: a rede sabia mais da filha do que ele mesmo.

Os assistentes pessoais eletrônicos dotados de IA não apenas conversam conosco, mas também contam piadas, recitam poesias e até tentam ser “nossos amigos”. Há avanços ainda mais perturbadores: algoritmos que, examinando o conteúdo de nossas intervenções em fóruns e redes sociais, buscam analisar nosso estado de humor, nossa predisposição a polemizar, nosso estado de saúde ou, até, detectar uma eventual tendência a mudar de emprego ou trocar de relacionamento.

Pode ser que a rede conclua que eu esteja deprimido sem que eu o saiba. Meu “assistente pessoal”, detectando essas indicações, avisará meu médico que estou provavelmente “deprimido”. Ou, pior, avisará meu chefe que, a partir do que ando escrevendo nas redes, parece claro que pretendo trocar de emprego.

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Atualizando a historieta da adolescente grávida, hoje o sistema anteciparia o anúncio da gravidez ignorada pelo pai, até à própria garota! E há ainda o aporte que a “Internet das Coisas” trará ao “mundo novo”.

Voltando ao filme citado, um aplicativo poderia concluir que alguns de nós são criminosos em potencial e que, para melhor segurança da comunidade, o melhor seria segregá-los preventivamente do convívio.

Há 150 anos Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano, desenvolveu uma controversa teoria segundo a que, a partir de características fisionômicas de alguém, saberíamos se estamos diante de um potencial psicopata ou meliante. Do Lombroso real, felizmente, nos livramos. E do Lombroso artificial?

Teria essa preocupação, de quase 3 mil anos, encontrado na internet o caminho de solução? Não creio seja o caso mas, admitamos, o que a rede já sabe de cada um surpreende e, às vezes, ultrapassa até o que imaginamos saber sobre nós mesmos.

Estamos nos acostumando a que não haja mais segredos sobre onde estamos, o que compramos e buscamos, de que discussões tomamos parte. Com os telefones espertos e a geolocalização, tão útil nos problemas de tráfego viário, acabamos por contribuir, nem sempre conscientemente, com nossa localização e deslocamentos. Isso já virou rotina mas, o que nos reservam as ferramentas de análise com inteligência artificial (IA) é complexo e preocupante: elas assumem “tirar conclusões” a partir do mar de dados que há na rede.

Se uma ficção, um filme como o Minority Report, já nos deixava apreensivos ao criar um cenário presciente e antecipatório de combate a crimes, imagine-se o que a aplicação de IA e de Big Data pode representar.

Uma anedota correu a rede há cerca de um ano e dizia respeito ao pai de uma adolescente norte-americana, incomodado por receber em casa anúncios de roupas e produtos para bebês. Considerou aquilo isso uma ação “inconveniente e inadequada” para que sua filha, ainda menor, engravidasse. Meses depois ele se tornava avô: a rede sabia mais da filha do que ele mesmo.

Os assistentes pessoais eletrônicos dotados de IA não apenas conversam conosco, mas também contam piadas, recitam poesias e até tentam ser “nossos amigos”. Há avanços ainda mais perturbadores: algoritmos que, examinando o conteúdo de nossas intervenções em fóruns e redes sociais, buscam analisar nosso estado de humor, nossa predisposição a polemizar, nosso estado de saúde ou, até, detectar uma eventual tendência a mudar de emprego ou trocar de relacionamento.

Pode ser que a rede conclua que eu esteja deprimido sem que eu o saiba. Meu “assistente pessoal”, detectando essas indicações, avisará meu médico que estou provavelmente “deprimido”. Ou, pior, avisará meu chefe que, a partir do que ando escrevendo nas redes, parece claro que pretendo trocar de emprego.

Atualizando a historieta da adolescente grávida, hoje o sistema anteciparia o anúncio da gravidez ignorada pelo pai, até à própria garota! E há ainda o aporte que a “Internet das Coisas” trará ao “mundo novo”.

Voltando ao filme citado, um aplicativo poderia concluir que alguns de nós são criminosos em potencial e que, para melhor segurança da comunidade, o melhor seria segregá-los preventivamente do convívio.

Há 150 anos Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano, desenvolveu uma controversa teoria segundo a que, a partir de características fisionômicas de alguém, saberíamos se estamos diante de um potencial psicopata ou meliante. Do Lombroso real, felizmente, nos livramos. E do Lombroso artificial?

Teria essa preocupação, de quase 3 mil anos, encontrado na internet o caminho de solução? Não creio seja o caso mas, admitamos, o que a rede já sabe de cada um surpreende e, às vezes, ultrapassa até o que imaginamos saber sobre nós mesmos.

Estamos nos acostumando a que não haja mais segredos sobre onde estamos, o que compramos e buscamos, de que discussões tomamos parte. Com os telefones espertos e a geolocalização, tão útil nos problemas de tráfego viário, acabamos por contribuir, nem sempre conscientemente, com nossa localização e deslocamentos. Isso já virou rotina mas, o que nos reservam as ferramentas de análise com inteligência artificial (IA) é complexo e preocupante: elas assumem “tirar conclusões” a partir do mar de dados que há na rede.

Se uma ficção, um filme como o Minority Report, já nos deixava apreensivos ao criar um cenário presciente e antecipatório de combate a crimes, imagine-se o que a aplicação de IA e de Big Data pode representar.

Uma anedota correu a rede há cerca de um ano e dizia respeito ao pai de uma adolescente norte-americana, incomodado por receber em casa anúncios de roupas e produtos para bebês. Considerou aquilo isso uma ação “inconveniente e inadequada” para que sua filha, ainda menor, engravidasse. Meses depois ele se tornava avô: a rede sabia mais da filha do que ele mesmo.

Os assistentes pessoais eletrônicos dotados de IA não apenas conversam conosco, mas também contam piadas, recitam poesias e até tentam ser “nossos amigos”. Há avanços ainda mais perturbadores: algoritmos que, examinando o conteúdo de nossas intervenções em fóruns e redes sociais, buscam analisar nosso estado de humor, nossa predisposição a polemizar, nosso estado de saúde ou, até, detectar uma eventual tendência a mudar de emprego ou trocar de relacionamento.

Pode ser que a rede conclua que eu esteja deprimido sem que eu o saiba. Meu “assistente pessoal”, detectando essas indicações, avisará meu médico que estou provavelmente “deprimido”. Ou, pior, avisará meu chefe que, a partir do que ando escrevendo nas redes, parece claro que pretendo trocar de emprego.

Atualizando a historieta da adolescente grávida, hoje o sistema anteciparia o anúncio da gravidez ignorada pelo pai, até à própria garota! E há ainda o aporte que a “Internet das Coisas” trará ao “mundo novo”.

Voltando ao filme citado, um aplicativo poderia concluir que alguns de nós são criminosos em potencial e que, para melhor segurança da comunidade, o melhor seria segregá-los preventivamente do convívio.

Há 150 anos Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano, desenvolveu uma controversa teoria segundo a que, a partir de características fisionômicas de alguém, saberíamos se estamos diante de um potencial psicopata ou meliante. Do Lombroso real, felizmente, nos livramos. E do Lombroso artificial?

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