BRASÍLIA – O pedido pelo comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) veio do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, há cerca de 15 dias. Política do MDB e de formação na área do Direito, Tebet não resistiu – menos ainda seus colegas de partido quando informados da demanda presidencial, confirmada ontem pelo Planalto. O IBGE, no mercado político, tem pouco valor, dizem eles, nos bastidores da queda de braço que ocupou as autoridades em Brasília nos últimos dias.
Há sete meses o cargo estava sob o comando provisório de um técnico, Cimar Azeredo, que liderou a realização do Censo. O posto não havia sido ambicionado pelo MDB nem cobiçado pelo PT até agora, e Tebet cogitava escolher um nome de peso da academia para dar verniz ao IBGE. Mas Lula preferiu o economista heterodoxo Marcio Pochmann.
Como o presidente ainda não havia feito pedidos por cargos no Ministério do Planejamento, a concessão era o único caminho para a ministra, dizem seus aliados. Eles afirmam acreditar ainda que o recuo ajude a adiar pedidos do PT, que poderiam, aí sim, desestabilizar a condução da política econômica.
Mas a escolha desagradou boa parte da classe econômica que ajudou Tebet na campanha em 2022, que se queixou por telefone, em mensagens de texto e nas redes sociais nos últimos dias. Os aliados da ministra no meio político creem que as críticas a Pochmann, disparadas nos últimos dias, partiram desse núcleo mais aguerrido e que desconsidera o peso de um pedido vindo do próprio presidente.
Petistas graduados no governo Lula atribuem a escolha de Pochmann para o cargo pela vontade do presidente de recompensá-lo por ter aceitado dirigir o Instituto Lula “na baixa”, antes da vitória eleitoral do ano passado. Desde 2020, Pochmann comanda o instituto e seu mandato se encerra neste ano.
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Nem os aliados de Tebet, nem os petistas creem que Pochmann exercerá poderes capazes de alterar o rumo da economia, ainda mais após a alta da Bolsa e a queda do dólar produzidos pelas ações de Fernando Haddad na Fazenda nos últimos meses. Pochmann será um observador à distância, eles torcem, reafirmando os poderes conferidos a Haddad neste momento.
O acerto entre a ministra e Lula previa o anúncio após a conclusão das divulgações do Censo, mas isso foi atropelado pela declaração do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), nesta quarta-feira, 26. Com a confirmação pública, Tebet disse que não poderia prejulgar o trabalho de Pochmann, abrindo uma frente de diálogo. Seus aliados do meio político querem que a ministra agora se concentre no trabalho do Orçamento e saia dessa arena.
Entre seus apoiadores do núcleo econômico, porém, ficou o gosto da frustração, que já vinha se desenhando desde as críticas feitas por Tebet ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em mais de uma oportunidade no último mês, a ministra cobrou a queda da taxa de juros.
A nomeação também foi mal recebida por parte dos servidores do IBGE, que classificam Cimar Azeredo como um “ibegeano raiz”, sobretudo por sua condução do Censo em meio a condições adversas e verba drasticamente reduzida. Eles veem a indicação de Pochmann como “alguém que veio comer a sobremesa depois de o abacaxi já ter sido descascado”.