A rastreabilidade da cadeia de produção de proteína animal é uma demanda não apenas do combate às mudanças climáticas, mas também uma exigência do mercado global, em grande parte motivada pela conscientização dos consumidores. Duas das maiores empresas do setor, as brasileiras Marfrig e BRF, assumiram em seus compromissos ESG um pacto público de manter cadeias produtivas livres de desmatamento e conversão em todos os biomas até com rastreabilidade plena em suas cadeias de fornecedores, desde os grãos que abastecem o início da produção até os animais para abate.
Ambas têm avançado de forma consistente em direção aos objetivos traçados. A Marfrig já obteve 100% de rastreabilidade dos fornecedores diretos de grãos em todos os biomas e 79% dos indiretos em todos os biomas brasileiros. A BRF chegou no ano passado a 100% de rastreabilidade entre os fornecedores diretos na Amazônia e no Cerrado e alcançou recentemente 90% de rastreabilidade dos indiretos.
Inteligência artificial
A ampla rede de fornecedores da BRF, composta por mais de 30 mil parceiros de negócio e quase 10 mil produtores integrados, foi mapeada em detalhes. Boas práticas de produção são compartilhadas e incentivadas pelo Programa Monitoramento de Cadeia, que inclui auditorias periódicas para identificar eventuais fornecedores que não estejam cumprindo os padrões legais e aqueles estabelecidos pela empresa.
A criação pela BRF do Smart Center, um centro de inteligência de dados baseado em inteligência artificial (IA), oferece uma grande diversidade de parâmetros em tempo real. “Produtores e extensionistas têm acesso a esses dados por meio dos nossos aplicativos exclusivos AgroBRF e NextBRF, respectivamente. Hoje, mais de 90% dos produtores integrados da empresa já estão conectados aos nossos apps”, conta Fabio Stumpf, vice-presidente de Agro e Qualidade da BRF.
Em mais uma frente de compartilhamento das melhores práticas com os parceiros, a BRF está iniciando a implementação do uso da Internet das Coisas (IoT) em aviários, reforçando o acesso dos integrados a recursos avançados de produção. A ideia é monitorar diversos indicadores, como a temperatura do ambiente, o peso dos animais e a quantidade de alimentos e de água. Dados que, somados a outros indicadores, são analisados de forma automática pela IA, para apoiar as decisões dos profissionais.
Monitoramento geoespacial
A meta da Marfrig é alcançar 100% de rastreabilidade, tanto entre os fornecedores diretos quanto entre os indiretos, até o final de 2025. Esse prazo, estabelecido inicialmente para 2030, foi antecipado no ano passado para minimizar os impactos sobre os biomas sob risco de desmatamento e acelerar o nível de sustentabilidade da pecuária.
Como parte do esforço para cumprir a meta, a companhia anunciou recentemente um investimento de R$ 100 milhões em um novo ciclo do Programa Verde+, lançado há quatro anos. O valor está sendo destinado a projetos de recuperação e transformação florestais, restauração ecológica, agropecuária regenerativa e melhoria genética do rebanho.
A Marfrig utiliza um sistema de monitoramento geoespacial, via satélite, para averiguar se os animais são provenientes de áreas desmatadas, embargadas, terras indígenas, territórios quilombolas ou de propriedades com prática de condições análogas à escravidão dos trabalhadores, situações que bloqueiam a compra. Essa análise é uma das fontes que alimentam o mapa de mitigação de riscos socioambientais da empresa.