‘Temos líderes pensando como no século 20’, diz fundador da SOS Mata Atlântica


Para ambientalista e empresário Roberto Klabin, é preciso superar diferenças ideológicas para liderar a bioeconomia no mundo

Por Sonia Racy
Foto: Denise Andrade/Estadão
Entrevista comRoberto KlabinFundador da ONG SOS Mata Atlântica

O Brasil precisa superar divergências ideológicas para não perder a oportunidade gigante de liderar a transição internacional para a economia sustentável. “Temos todo capital ambiental para tanto”, opina Roberto Klabin, defendendo colaboração entre iniciativa privada, governo, sociedade em geral para que haja avanço. “Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões.

Klabin é cofundador da SOS Mata Atlântica e criador da Caiman, uma fazenda que não produz gado ou produtos agrícolas e “se concentra na produção da natureza”, interrompida mais uma vez pelas queimadas recentes que varreram 80% da propriedade. “Se o agro responsável não tiver a visão de ajudar os governos a combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse”, afirmou, nesta conversa com o Estadão.

O Brasil tem todo o capital ambiental para liderar o processo de transição, de ser a economia sustentável n.º 1 do mundo. Há alguma chance de a gente perder o bonde?

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O Brasil ainda não percebeu o potencial ambiental que tem. Temos um patrimônio espetacular em florestas, água, clima, terras, matriz energética. Nós ainda não entendemos o tamanho desse tesouro, em função da dificuldade de explicar os atributos naturais e como eles podem ser transformados em desenvolvimento sustentável. Explicar o papel das pessoas, por que a Floresta Amazônica tem um papel tão fundamental na regulação do clima, e suplantar questões ideológicas que fazem com que muitas vezes a gente não consiga chegar a um entendimento. E isso não diz apenas respeito à população em geral, mas principalmente às lideranças. Temos ainda líderes no Brasil que pensam como se estivessem no século 20.

Roberto Klabin defende que economia brasileira caminhe na direção ambiental com participação de governo, sociedade e setor privado Foto: Denise Andrade/Estadão

Quem tem de liderar a questão ambiental?

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Acho que tem de haver um trabalho entre iniciativa privada, governo, sociedade. Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões. O pessoal do agro se sente ofendido pelo pessoal ambiental, o pessoal ambiental não está devidamente assistido pelas políticas governamentais. Um número diminuto de pessoas no agro cria situações criminosas, mais no caso específico da Amazônia, que prejudica o agro que faz as coisas corretas.

Devem se comunicar melhor? Contar o que estão fazendo?

Acredito que vamos ficar cada vez mais ameaçados por legislações internacionais que vão criar todo tipo de impeditivo para exportação de produtos agrícolas brasileiros. A Europa vai ser muito mais restritiva. Se o agro responsável não tiver essa visão de ajudar os governos e combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse. O Ministério do Meio Ambiente foi praticamente desmontado no governo Bolsonaro. Neste governo, estão tentando remontá-lo, mas, mesmo assim, a velocidade é muito lenta. Você tem um Congresso eminentemente agro, com uma visão ideológica de que qualquer coisa que venha da questão ambiental é uma coisa da esquerda. E a esquerda também não valoriza a questão ambiental, a ponto de tornar isso parte da agenda de desenvolvimento.

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Você é um ambientalista de primeira hora, foi um dos fundadores do SOS Mata Atlântica. É também empresário. Você teve essa visão antes das outras pessoas?

Quando eu estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o Fabio Feldman (advogado, ambientalista e ex-deputado federal) me convidou para entrar numa luta contra o (projeto do) aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto, que é uma região de mananciais. A partir dali, eu me envolvi com essa questão, com o Fabio e outros ambientalistas, e fundamos a SOS Mata Atlântica em 1986. O Rodrigo Mesquita, que foi a pessoa idealizadora da criação da entidade, o Fabio, eu, o João Paulo Capobianco, Mario Mantovani e vários outros entramos e fundamos a entidade. Não vi nada antes dos outros, me envolvi nessa questão e me apaixonei. Sou empresário. Tenho no Pantanal um projeto que é fazenda, hotel e tudo mais. Quando eu era menino e passava férias no Pantanal, não conseguia entender por que as pessoas ali só conseguiam ver o Pantanal como lugar para criação de gado. Quando a fazenda foi dividida entre a família e eu peguei um pedaço, pensei: ‘Vou criar um projeto baseado num tripé que tenha conservação, turismo de observação de fauna selvagem e pecuária’. Esse projeto é pioneiro em ecoturismo no Brasil, pioneiro na observação de fauna selvagem, principalmente de onças. Tenho lá uma arca de Noé, e vou me dedicar a consolidá-la, apesar de toda essa mudança climática que no Pantanal acarreta incêndios dramáticos como o deste ano.

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Esses incêndios poderiam ter sido evitados?

Praticamente, 99% dos incêndios são de origem humana. Na Amazônia e em São Paulo, nos canaviais, foram de origem criminosa. No Pantanal, não. O Pantanal você pode ter alguma origem criminosa de um indivíduo que aproveita um fogo que começou para queimar a sua área sem licença, mas é burrice. O incêndio que atingiu a (pousada) Caiman começou com um caminhão que explodiu e queimou 300 mil hectares.

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O que você espera da COP-30, em Belém?

Acho que vai ser muito importante para o Brasil reafirmar o protagonismo. Temos a maior floresta tropical do mundo, que nós podemos conservá-la. Desde 1970, destruímos na Floresta Amazônica uma área equivalente à soma de, mais ou menos, Inglaterra e França. E as pessoas ficaram mais ricas? Não. Desmatamento não trouxe desenvolvimento. A Floresta Amazônica funciona como um ar-condicionado do mundo. Ela tem a capacidade de influenciar o clima em função da transpiração e da regulação dos ciclos de água. Quando você destrói a floresta, muda o ciclo de chuvas. Estamos dando um tiro no pé.c

O Brasil precisa superar divergências ideológicas para não perder a oportunidade gigante de liderar a transição internacional para a economia sustentável. “Temos todo capital ambiental para tanto”, opina Roberto Klabin, defendendo colaboração entre iniciativa privada, governo, sociedade em geral para que haja avanço. “Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões.

Klabin é cofundador da SOS Mata Atlântica e criador da Caiman, uma fazenda que não produz gado ou produtos agrícolas e “se concentra na produção da natureza”, interrompida mais uma vez pelas queimadas recentes que varreram 80% da propriedade. “Se o agro responsável não tiver a visão de ajudar os governos a combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse”, afirmou, nesta conversa com o Estadão.

O Brasil tem todo o capital ambiental para liderar o processo de transição, de ser a economia sustentável n.º 1 do mundo. Há alguma chance de a gente perder o bonde?

O Brasil ainda não percebeu o potencial ambiental que tem. Temos um patrimônio espetacular em florestas, água, clima, terras, matriz energética. Nós ainda não entendemos o tamanho desse tesouro, em função da dificuldade de explicar os atributos naturais e como eles podem ser transformados em desenvolvimento sustentável. Explicar o papel das pessoas, por que a Floresta Amazônica tem um papel tão fundamental na regulação do clima, e suplantar questões ideológicas que fazem com que muitas vezes a gente não consiga chegar a um entendimento. E isso não diz apenas respeito à população em geral, mas principalmente às lideranças. Temos ainda líderes no Brasil que pensam como se estivessem no século 20.

Roberto Klabin defende que economia brasileira caminhe na direção ambiental com participação de governo, sociedade e setor privado Foto: Denise Andrade/Estadão

Quem tem de liderar a questão ambiental?

Acho que tem de haver um trabalho entre iniciativa privada, governo, sociedade. Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões. O pessoal do agro se sente ofendido pelo pessoal ambiental, o pessoal ambiental não está devidamente assistido pelas políticas governamentais. Um número diminuto de pessoas no agro cria situações criminosas, mais no caso específico da Amazônia, que prejudica o agro que faz as coisas corretas.

Devem se comunicar melhor? Contar o que estão fazendo?

Acredito que vamos ficar cada vez mais ameaçados por legislações internacionais que vão criar todo tipo de impeditivo para exportação de produtos agrícolas brasileiros. A Europa vai ser muito mais restritiva. Se o agro responsável não tiver essa visão de ajudar os governos e combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse. O Ministério do Meio Ambiente foi praticamente desmontado no governo Bolsonaro. Neste governo, estão tentando remontá-lo, mas, mesmo assim, a velocidade é muito lenta. Você tem um Congresso eminentemente agro, com uma visão ideológica de que qualquer coisa que venha da questão ambiental é uma coisa da esquerda. E a esquerda também não valoriza a questão ambiental, a ponto de tornar isso parte da agenda de desenvolvimento.

Você é um ambientalista de primeira hora, foi um dos fundadores do SOS Mata Atlântica. É também empresário. Você teve essa visão antes das outras pessoas?

Quando eu estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o Fabio Feldman (advogado, ambientalista e ex-deputado federal) me convidou para entrar numa luta contra o (projeto do) aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto, que é uma região de mananciais. A partir dali, eu me envolvi com essa questão, com o Fabio e outros ambientalistas, e fundamos a SOS Mata Atlântica em 1986. O Rodrigo Mesquita, que foi a pessoa idealizadora da criação da entidade, o Fabio, eu, o João Paulo Capobianco, Mario Mantovani e vários outros entramos e fundamos a entidade. Não vi nada antes dos outros, me envolvi nessa questão e me apaixonei. Sou empresário. Tenho no Pantanal um projeto que é fazenda, hotel e tudo mais. Quando eu era menino e passava férias no Pantanal, não conseguia entender por que as pessoas ali só conseguiam ver o Pantanal como lugar para criação de gado. Quando a fazenda foi dividida entre a família e eu peguei um pedaço, pensei: ‘Vou criar um projeto baseado num tripé que tenha conservação, turismo de observação de fauna selvagem e pecuária’. Esse projeto é pioneiro em ecoturismo no Brasil, pioneiro na observação de fauna selvagem, principalmente de onças. Tenho lá uma arca de Noé, e vou me dedicar a consolidá-la, apesar de toda essa mudança climática que no Pantanal acarreta incêndios dramáticos como o deste ano.

Esses incêndios poderiam ter sido evitados?

Praticamente, 99% dos incêndios são de origem humana. Na Amazônia e em São Paulo, nos canaviais, foram de origem criminosa. No Pantanal, não. O Pantanal você pode ter alguma origem criminosa de um indivíduo que aproveita um fogo que começou para queimar a sua área sem licença, mas é burrice. O incêndio que atingiu a (pousada) Caiman começou com um caminhão que explodiu e queimou 300 mil hectares.

O que você espera da COP-30, em Belém?

Acho que vai ser muito importante para o Brasil reafirmar o protagonismo. Temos a maior floresta tropical do mundo, que nós podemos conservá-la. Desde 1970, destruímos na Floresta Amazônica uma área equivalente à soma de, mais ou menos, Inglaterra e França. E as pessoas ficaram mais ricas? Não. Desmatamento não trouxe desenvolvimento. A Floresta Amazônica funciona como um ar-condicionado do mundo. Ela tem a capacidade de influenciar o clima em função da transpiração e da regulação dos ciclos de água. Quando você destrói a floresta, muda o ciclo de chuvas. Estamos dando um tiro no pé.c

O Brasil precisa superar divergências ideológicas para não perder a oportunidade gigante de liderar a transição internacional para a economia sustentável. “Temos todo capital ambiental para tanto”, opina Roberto Klabin, defendendo colaboração entre iniciativa privada, governo, sociedade em geral para que haja avanço. “Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões.

Klabin é cofundador da SOS Mata Atlântica e criador da Caiman, uma fazenda que não produz gado ou produtos agrícolas e “se concentra na produção da natureza”, interrompida mais uma vez pelas queimadas recentes que varreram 80% da propriedade. “Se o agro responsável não tiver a visão de ajudar os governos a combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse”, afirmou, nesta conversa com o Estadão.

O Brasil tem todo o capital ambiental para liderar o processo de transição, de ser a economia sustentável n.º 1 do mundo. Há alguma chance de a gente perder o bonde?

O Brasil ainda não percebeu o potencial ambiental que tem. Temos um patrimônio espetacular em florestas, água, clima, terras, matriz energética. Nós ainda não entendemos o tamanho desse tesouro, em função da dificuldade de explicar os atributos naturais e como eles podem ser transformados em desenvolvimento sustentável. Explicar o papel das pessoas, por que a Floresta Amazônica tem um papel tão fundamental na regulação do clima, e suplantar questões ideológicas que fazem com que muitas vezes a gente não consiga chegar a um entendimento. E isso não diz apenas respeito à população em geral, mas principalmente às lideranças. Temos ainda líderes no Brasil que pensam como se estivessem no século 20.

Roberto Klabin defende que economia brasileira caminhe na direção ambiental com participação de governo, sociedade e setor privado Foto: Denise Andrade/Estadão

Quem tem de liderar a questão ambiental?

Acho que tem de haver um trabalho entre iniciativa privada, governo, sociedade. Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões. O pessoal do agro se sente ofendido pelo pessoal ambiental, o pessoal ambiental não está devidamente assistido pelas políticas governamentais. Um número diminuto de pessoas no agro cria situações criminosas, mais no caso específico da Amazônia, que prejudica o agro que faz as coisas corretas.

Devem se comunicar melhor? Contar o que estão fazendo?

Acredito que vamos ficar cada vez mais ameaçados por legislações internacionais que vão criar todo tipo de impeditivo para exportação de produtos agrícolas brasileiros. A Europa vai ser muito mais restritiva. Se o agro responsável não tiver essa visão de ajudar os governos e combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse. O Ministério do Meio Ambiente foi praticamente desmontado no governo Bolsonaro. Neste governo, estão tentando remontá-lo, mas, mesmo assim, a velocidade é muito lenta. Você tem um Congresso eminentemente agro, com uma visão ideológica de que qualquer coisa que venha da questão ambiental é uma coisa da esquerda. E a esquerda também não valoriza a questão ambiental, a ponto de tornar isso parte da agenda de desenvolvimento.

Você é um ambientalista de primeira hora, foi um dos fundadores do SOS Mata Atlântica. É também empresário. Você teve essa visão antes das outras pessoas?

Quando eu estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o Fabio Feldman (advogado, ambientalista e ex-deputado federal) me convidou para entrar numa luta contra o (projeto do) aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto, que é uma região de mananciais. A partir dali, eu me envolvi com essa questão, com o Fabio e outros ambientalistas, e fundamos a SOS Mata Atlântica em 1986. O Rodrigo Mesquita, que foi a pessoa idealizadora da criação da entidade, o Fabio, eu, o João Paulo Capobianco, Mario Mantovani e vários outros entramos e fundamos a entidade. Não vi nada antes dos outros, me envolvi nessa questão e me apaixonei. Sou empresário. Tenho no Pantanal um projeto que é fazenda, hotel e tudo mais. Quando eu era menino e passava férias no Pantanal, não conseguia entender por que as pessoas ali só conseguiam ver o Pantanal como lugar para criação de gado. Quando a fazenda foi dividida entre a família e eu peguei um pedaço, pensei: ‘Vou criar um projeto baseado num tripé que tenha conservação, turismo de observação de fauna selvagem e pecuária’. Esse projeto é pioneiro em ecoturismo no Brasil, pioneiro na observação de fauna selvagem, principalmente de onças. Tenho lá uma arca de Noé, e vou me dedicar a consolidá-la, apesar de toda essa mudança climática que no Pantanal acarreta incêndios dramáticos como o deste ano.

Esses incêndios poderiam ter sido evitados?

Praticamente, 99% dos incêndios são de origem humana. Na Amazônia e em São Paulo, nos canaviais, foram de origem criminosa. No Pantanal, não. O Pantanal você pode ter alguma origem criminosa de um indivíduo que aproveita um fogo que começou para queimar a sua área sem licença, mas é burrice. O incêndio que atingiu a (pousada) Caiman começou com um caminhão que explodiu e queimou 300 mil hectares.

O que você espera da COP-30, em Belém?

Acho que vai ser muito importante para o Brasil reafirmar o protagonismo. Temos a maior floresta tropical do mundo, que nós podemos conservá-la. Desde 1970, destruímos na Floresta Amazônica uma área equivalente à soma de, mais ou menos, Inglaterra e França. E as pessoas ficaram mais ricas? Não. Desmatamento não trouxe desenvolvimento. A Floresta Amazônica funciona como um ar-condicionado do mundo. Ela tem a capacidade de influenciar o clima em função da transpiração e da regulação dos ciclos de água. Quando você destrói a floresta, muda o ciclo de chuvas. Estamos dando um tiro no pé.c

O Brasil precisa superar divergências ideológicas para não perder a oportunidade gigante de liderar a transição internacional para a economia sustentável. “Temos todo capital ambiental para tanto”, opina Roberto Klabin, defendendo colaboração entre iniciativa privada, governo, sociedade em geral para que haja avanço. “Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões.

Klabin é cofundador da SOS Mata Atlântica e criador da Caiman, uma fazenda que não produz gado ou produtos agrícolas e “se concentra na produção da natureza”, interrompida mais uma vez pelas queimadas recentes que varreram 80% da propriedade. “Se o agro responsável não tiver a visão de ajudar os governos a combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse”, afirmou, nesta conversa com o Estadão.

O Brasil tem todo o capital ambiental para liderar o processo de transição, de ser a economia sustentável n.º 1 do mundo. Há alguma chance de a gente perder o bonde?

O Brasil ainda não percebeu o potencial ambiental que tem. Temos um patrimônio espetacular em florestas, água, clima, terras, matriz energética. Nós ainda não entendemos o tamanho desse tesouro, em função da dificuldade de explicar os atributos naturais e como eles podem ser transformados em desenvolvimento sustentável. Explicar o papel das pessoas, por que a Floresta Amazônica tem um papel tão fundamental na regulação do clima, e suplantar questões ideológicas que fazem com que muitas vezes a gente não consiga chegar a um entendimento. E isso não diz apenas respeito à população em geral, mas principalmente às lideranças. Temos ainda líderes no Brasil que pensam como se estivessem no século 20.

Roberto Klabin defende que economia brasileira caminhe na direção ambiental com participação de governo, sociedade e setor privado Foto: Denise Andrade/Estadão

Quem tem de liderar a questão ambiental?

Acho que tem de haver um trabalho entre iniciativa privada, governo, sociedade. Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões. O pessoal do agro se sente ofendido pelo pessoal ambiental, o pessoal ambiental não está devidamente assistido pelas políticas governamentais. Um número diminuto de pessoas no agro cria situações criminosas, mais no caso específico da Amazônia, que prejudica o agro que faz as coisas corretas.

Devem se comunicar melhor? Contar o que estão fazendo?

Acredito que vamos ficar cada vez mais ameaçados por legislações internacionais que vão criar todo tipo de impeditivo para exportação de produtos agrícolas brasileiros. A Europa vai ser muito mais restritiva. Se o agro responsável não tiver essa visão de ajudar os governos e combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse. O Ministério do Meio Ambiente foi praticamente desmontado no governo Bolsonaro. Neste governo, estão tentando remontá-lo, mas, mesmo assim, a velocidade é muito lenta. Você tem um Congresso eminentemente agro, com uma visão ideológica de que qualquer coisa que venha da questão ambiental é uma coisa da esquerda. E a esquerda também não valoriza a questão ambiental, a ponto de tornar isso parte da agenda de desenvolvimento.

Você é um ambientalista de primeira hora, foi um dos fundadores do SOS Mata Atlântica. É também empresário. Você teve essa visão antes das outras pessoas?

Quando eu estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o Fabio Feldman (advogado, ambientalista e ex-deputado federal) me convidou para entrar numa luta contra o (projeto do) aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto, que é uma região de mananciais. A partir dali, eu me envolvi com essa questão, com o Fabio e outros ambientalistas, e fundamos a SOS Mata Atlântica em 1986. O Rodrigo Mesquita, que foi a pessoa idealizadora da criação da entidade, o Fabio, eu, o João Paulo Capobianco, Mario Mantovani e vários outros entramos e fundamos a entidade. Não vi nada antes dos outros, me envolvi nessa questão e me apaixonei. Sou empresário. Tenho no Pantanal um projeto que é fazenda, hotel e tudo mais. Quando eu era menino e passava férias no Pantanal, não conseguia entender por que as pessoas ali só conseguiam ver o Pantanal como lugar para criação de gado. Quando a fazenda foi dividida entre a família e eu peguei um pedaço, pensei: ‘Vou criar um projeto baseado num tripé que tenha conservação, turismo de observação de fauna selvagem e pecuária’. Esse projeto é pioneiro em ecoturismo no Brasil, pioneiro na observação de fauna selvagem, principalmente de onças. Tenho lá uma arca de Noé, e vou me dedicar a consolidá-la, apesar de toda essa mudança climática que no Pantanal acarreta incêndios dramáticos como o deste ano.

Esses incêndios poderiam ter sido evitados?

Praticamente, 99% dos incêndios são de origem humana. Na Amazônia e em São Paulo, nos canaviais, foram de origem criminosa. No Pantanal, não. O Pantanal você pode ter alguma origem criminosa de um indivíduo que aproveita um fogo que começou para queimar a sua área sem licença, mas é burrice. O incêndio que atingiu a (pousada) Caiman começou com um caminhão que explodiu e queimou 300 mil hectares.

O que você espera da COP-30, em Belém?

Acho que vai ser muito importante para o Brasil reafirmar o protagonismo. Temos a maior floresta tropical do mundo, que nós podemos conservá-la. Desde 1970, destruímos na Floresta Amazônica uma área equivalente à soma de, mais ou menos, Inglaterra e França. E as pessoas ficaram mais ricas? Não. Desmatamento não trouxe desenvolvimento. A Floresta Amazônica funciona como um ar-condicionado do mundo. Ela tem a capacidade de influenciar o clima em função da transpiração e da regulação dos ciclos de água. Quando você destrói a floresta, muda o ciclo de chuvas. Estamos dando um tiro no pé.c

O Brasil precisa superar divergências ideológicas para não perder a oportunidade gigante de liderar a transição internacional para a economia sustentável. “Temos todo capital ambiental para tanto”, opina Roberto Klabin, defendendo colaboração entre iniciativa privada, governo, sociedade em geral para que haja avanço. “Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões.

Klabin é cofundador da SOS Mata Atlântica e criador da Caiman, uma fazenda que não produz gado ou produtos agrícolas e “se concentra na produção da natureza”, interrompida mais uma vez pelas queimadas recentes que varreram 80% da propriedade. “Se o agro responsável não tiver a visão de ajudar os governos a combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse”, afirmou, nesta conversa com o Estadão.

O Brasil tem todo o capital ambiental para liderar o processo de transição, de ser a economia sustentável n.º 1 do mundo. Há alguma chance de a gente perder o bonde?

O Brasil ainda não percebeu o potencial ambiental que tem. Temos um patrimônio espetacular em florestas, água, clima, terras, matriz energética. Nós ainda não entendemos o tamanho desse tesouro, em função da dificuldade de explicar os atributos naturais e como eles podem ser transformados em desenvolvimento sustentável. Explicar o papel das pessoas, por que a Floresta Amazônica tem um papel tão fundamental na regulação do clima, e suplantar questões ideológicas que fazem com que muitas vezes a gente não consiga chegar a um entendimento. E isso não diz apenas respeito à população em geral, mas principalmente às lideranças. Temos ainda líderes no Brasil que pensam como se estivessem no século 20.

Roberto Klabin defende que economia brasileira caminhe na direção ambiental com participação de governo, sociedade e setor privado Foto: Denise Andrade/Estadão

Quem tem de liderar a questão ambiental?

Acho que tem de haver um trabalho entre iniciativa privada, governo, sociedade. Não adianta um ficar acusando o outro de inação, incompetência. A gente tem todo esse potencial e fica se perdendo em discussões. O pessoal do agro se sente ofendido pelo pessoal ambiental, o pessoal ambiental não está devidamente assistido pelas políticas governamentais. Um número diminuto de pessoas no agro cria situações criminosas, mais no caso específico da Amazônia, que prejudica o agro que faz as coisas corretas.

Devem se comunicar melhor? Contar o que estão fazendo?

Acredito que vamos ficar cada vez mais ameaçados por legislações internacionais que vão criar todo tipo de impeditivo para exportação de produtos agrícolas brasileiros. A Europa vai ser muito mais restritiva. Se o agro responsável não tiver essa visão de ajudar os governos e combater a destruição ambiental, vamos pagar o preço desse desinteresse. O Ministério do Meio Ambiente foi praticamente desmontado no governo Bolsonaro. Neste governo, estão tentando remontá-lo, mas, mesmo assim, a velocidade é muito lenta. Você tem um Congresso eminentemente agro, com uma visão ideológica de que qualquer coisa que venha da questão ambiental é uma coisa da esquerda. E a esquerda também não valoriza a questão ambiental, a ponto de tornar isso parte da agenda de desenvolvimento.

Você é um ambientalista de primeira hora, foi um dos fundadores do SOS Mata Atlântica. É também empresário. Você teve essa visão antes das outras pessoas?

Quando eu estava na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o Fabio Feldman (advogado, ambientalista e ex-deputado federal) me convidou para entrar numa luta contra o (projeto do) aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto, que é uma região de mananciais. A partir dali, eu me envolvi com essa questão, com o Fabio e outros ambientalistas, e fundamos a SOS Mata Atlântica em 1986. O Rodrigo Mesquita, que foi a pessoa idealizadora da criação da entidade, o Fabio, eu, o João Paulo Capobianco, Mario Mantovani e vários outros entramos e fundamos a entidade. Não vi nada antes dos outros, me envolvi nessa questão e me apaixonei. Sou empresário. Tenho no Pantanal um projeto que é fazenda, hotel e tudo mais. Quando eu era menino e passava férias no Pantanal, não conseguia entender por que as pessoas ali só conseguiam ver o Pantanal como lugar para criação de gado. Quando a fazenda foi dividida entre a família e eu peguei um pedaço, pensei: ‘Vou criar um projeto baseado num tripé que tenha conservação, turismo de observação de fauna selvagem e pecuária’. Esse projeto é pioneiro em ecoturismo no Brasil, pioneiro na observação de fauna selvagem, principalmente de onças. Tenho lá uma arca de Noé, e vou me dedicar a consolidá-la, apesar de toda essa mudança climática que no Pantanal acarreta incêndios dramáticos como o deste ano.

Esses incêndios poderiam ter sido evitados?

Praticamente, 99% dos incêndios são de origem humana. Na Amazônia e em São Paulo, nos canaviais, foram de origem criminosa. No Pantanal, não. O Pantanal você pode ter alguma origem criminosa de um indivíduo que aproveita um fogo que começou para queimar a sua área sem licença, mas é burrice. O incêndio que atingiu a (pousada) Caiman começou com um caminhão que explodiu e queimou 300 mil hectares.

O que você espera da COP-30, em Belém?

Acho que vai ser muito importante para o Brasil reafirmar o protagonismo. Temos a maior floresta tropical do mundo, que nós podemos conservá-la. Desde 1970, destruímos na Floresta Amazônica uma área equivalente à soma de, mais ou menos, Inglaterra e França. E as pessoas ficaram mais ricas? Não. Desmatamento não trouxe desenvolvimento. A Floresta Amazônica funciona como um ar-condicionado do mundo. Ela tem a capacidade de influenciar o clima em função da transpiração e da regulação dos ciclos de água. Quando você destrói a floresta, muda o ciclo de chuvas. Estamos dando um tiro no pé.c

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