Terceiro setor se volta para o ensino médio


Organizações não governamentais dão apoio à educação e concentram esforços na capacitação e no ensino profissionalizante

Por Andrea Vialli

O chamado terceiro setor - que reúne as organizações não governamentais e sem fins lucrativos, institutos e fundações ligadas a empresas - há tempos elegeu a educação como área prioritária para suas ações. De um total de 134 instituições mapeadas pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), 82% investem em programas educativos ou de apoio à educação pública, segundo estudo concluído em 2010 e que está sendo atualizado. O ensino fundamental ainda recebe mais de 80% dos investimentos sociais, mas cresce o apoio ao ensino médio - 75% das entidades direcionam recursos para este fim - e também ao ensino profissionalizante (39% das instituições).

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A atenção ao ensino médio e profissionalizante não ocorre à toa. O maior déficit educacional brasileiro está concentrado no ensino médio: de um universo de 3,8 milhões de crianças e jovens que estão fora da escola hoje, 1,7 milhão se encontra na faixa etária entre 15 e 17 anos - o que representa grave risco para a economia brasileira no médio e longo prazos. Na prática, alertam especialistas, o Brasil desperdiça o chamado bônus demográfico - situação em que a população economicamente ativa supera a de dependentes, como crianças e idosos.

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"O maior gargalo da educação brasileira está, sem dúvida, no ensino médio. Já estamos desperdiçando o bônus demográfico e colocando sob ameaça os recentes ganhos de mobilidade social e redução das desigualdades registrados nos últimos anos", afirma Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco - braço social da instituição financeira que em 2008 foi incorporado pelo banco Itaú e investe em projetos voltados para jovens na área de educação e gestão escolar.

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Para Henriques, que trabalhou nos Ministérios de Assistência Social (2003 a 2004) e Educação (2004 a 2007) e foi um dos responsáveis por desenhar o programa Bolsa Família, o Brasil precisa acelerar o processo de tornar a escola um ambiente mais atraente para o jovem - e isso passa pela ajuda das organizações não governamentais.

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"A fronteira educacional avança no mundo e o Brasil está lento. Nossos jovens estão ficando para trás na corrida pelo conhecimento e boas oportunidades de trabalho", diz Henriques. "Para acelerar esse processo é preciso política pública, mas o terceiro setor pode ajudar com métricas inovadoras e apoio à gestão escolar para que as iniciativas bem-sucedidas ganhem escala."

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Reforço. Um dos programas que Henriques coordena no Instituto Unibanco tem foco no aprimoramento da gestão escolar no ensino médio. A ideia é apoiar a gestão da escola e a capacitação dos docentes, para que os professores se dediquem 100% à tarefa de reforçar a aprendizagem dos alunos.

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A experiência positiva em escolas de São Paulo e Minas Gerais fez com que a metodologia utilizada se tornasse política pública: este ano, o instituto assinou um convênio com o MEC para expandir o programa para mais cinco Estados e 3.715 escolas. O plano é beneficiar 3 milhões de estudantes até 2016, com melhoria nos índices de aprovação e nos indicadores de qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O Instituto Ayrton Senna, que nasceu do desejo do tetracampeão do automobilismo de reduzir as disparidades sociais no Brasil, é outra entidade do terceiro setor cujo trabalho influencia políticas públicas. Fundado em 1994, logo após a morte de Senna, e gerenciado pela irmã dele, Viviane Senna, o instituto se notabilizou por trabalhar em parcerias com a rede pública de ensino. Introduziu programas de reforço escolar - para ajudar alunos repetentes, em defasagem de aprendizado e com dificuldades no processo de alfabetização -, gestão escolar e treinamentos para uso de tecnologia em sala de aula, entre outros. Em 18 anos, atingiu a marca de 2 milhões de estudantes beneficiados, em 1.300 escolas em todo o País. "Esse é o trabalho que o terceiro setor pode fazer pela educação: mostrar que o ensino público pode ser de qualidade", diz Inês Kisil Miskalo, coordenadora da área de educação formal do Instituto Ayrton Senna.

Segundo ela, as metodologias utilizadas pelo instituto acabaram se disseminando no boca a boca dos professores e secretários de Educação. "As boas práticas se espalham entre as escolas, os professores vão se apropriando daquele conhecimento e isso acaba contaminando positivamente toda a comunidade", conta Inês. Há casos de municípios, como a pequena Castelo do Piauí (PI), de 18 mil habitantes, em que a melhoria na educação pública influenciou a articulação de outras secretarias, como Saúde e Assistência Social, e a uma melhoria ampla nos indicadores sociais, como redução da mortalidade infantil e da gravidez na adolescência.

Ensino profissionalizante. Além do investimento social privado, outra vertente em que as ONGs atuam é no ensino profissionalizante e capacitação para os jovens entrarem no mercado de trabalho. Um exemplo é a Espro (Ensino Social Profissionalizante), entidade ligada ao Rotary Clube, que atua na capacitação profissional de jovens desde 1979 e é mantida com recursos da iniciativa privada. Nas unidades de formação, os jovens têm contato com noções básicas sobre o mercado de trabalho e também podem fazer cursos na área de práticas bancárias, varejo, técnicas administrativas, gestão hospitalar, entre outros.

O Espro também funciona como um banco de jovens talentos para as empresas contratarem aprendizes como forma de cumprir a Lei do Aprendiz (nº 10.097/00), que estabelece que todas as empresas de médio e grande portes devem ter no seu quadro de funcionários uma porcentagem de 5% a 15% de aprendizes entre 16 e 24 anos.

"O crescimento econômico dos últimos anos ajudou a ampliar os postos de trabalho, mas o acesso ao primeiro emprego ainda é difícil para a maioria dos jovens", afirma Marinus Jan van der Molen, superintendente executivo do Espro. Com dez centros de formação só na cidade de São Paulo e sete filiais nas principais regiões metropolitanas, o Espro já auxiliou na formação de mais de 60 mil jovens.

O chamado terceiro setor - que reúne as organizações não governamentais e sem fins lucrativos, institutos e fundações ligadas a empresas - há tempos elegeu a educação como área prioritária para suas ações. De um total de 134 instituições mapeadas pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), 82% investem em programas educativos ou de apoio à educação pública, segundo estudo concluído em 2010 e que está sendo atualizado. O ensino fundamental ainda recebe mais de 80% dos investimentos sociais, mas cresce o apoio ao ensino médio - 75% das entidades direcionam recursos para este fim - e também ao ensino profissionalizante (39% das instituições).

A atenção ao ensino médio e profissionalizante não ocorre à toa. O maior déficit educacional brasileiro está concentrado no ensino médio: de um universo de 3,8 milhões de crianças e jovens que estão fora da escola hoje, 1,7 milhão se encontra na faixa etária entre 15 e 17 anos - o que representa grave risco para a economia brasileira no médio e longo prazos. Na prática, alertam especialistas, o Brasil desperdiça o chamado bônus demográfico - situação em que a população economicamente ativa supera a de dependentes, como crianças e idosos.

"O maior gargalo da educação brasileira está, sem dúvida, no ensino médio. Já estamos desperdiçando o bônus demográfico e colocando sob ameaça os recentes ganhos de mobilidade social e redução das desigualdades registrados nos últimos anos", afirma Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco - braço social da instituição financeira que em 2008 foi incorporado pelo banco Itaú e investe em projetos voltados para jovens na área de educação e gestão escolar.

Para Henriques, que trabalhou nos Ministérios de Assistência Social (2003 a 2004) e Educação (2004 a 2007) e foi um dos responsáveis por desenhar o programa Bolsa Família, o Brasil precisa acelerar o processo de tornar a escola um ambiente mais atraente para o jovem - e isso passa pela ajuda das organizações não governamentais.

"A fronteira educacional avança no mundo e o Brasil está lento. Nossos jovens estão ficando para trás na corrida pelo conhecimento e boas oportunidades de trabalho", diz Henriques. "Para acelerar esse processo é preciso política pública, mas o terceiro setor pode ajudar com métricas inovadoras e apoio à gestão escolar para que as iniciativas bem-sucedidas ganhem escala."

Reforço. Um dos programas que Henriques coordena no Instituto Unibanco tem foco no aprimoramento da gestão escolar no ensino médio. A ideia é apoiar a gestão da escola e a capacitação dos docentes, para que os professores se dediquem 100% à tarefa de reforçar a aprendizagem dos alunos.

A experiência positiva em escolas de São Paulo e Minas Gerais fez com que a metodologia utilizada se tornasse política pública: este ano, o instituto assinou um convênio com o MEC para expandir o programa para mais cinco Estados e 3.715 escolas. O plano é beneficiar 3 milhões de estudantes até 2016, com melhoria nos índices de aprovação e nos indicadores de qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O Instituto Ayrton Senna, que nasceu do desejo do tetracampeão do automobilismo de reduzir as disparidades sociais no Brasil, é outra entidade do terceiro setor cujo trabalho influencia políticas públicas. Fundado em 1994, logo após a morte de Senna, e gerenciado pela irmã dele, Viviane Senna, o instituto se notabilizou por trabalhar em parcerias com a rede pública de ensino. Introduziu programas de reforço escolar - para ajudar alunos repetentes, em defasagem de aprendizado e com dificuldades no processo de alfabetização -, gestão escolar e treinamentos para uso de tecnologia em sala de aula, entre outros. Em 18 anos, atingiu a marca de 2 milhões de estudantes beneficiados, em 1.300 escolas em todo o País. "Esse é o trabalho que o terceiro setor pode fazer pela educação: mostrar que o ensino público pode ser de qualidade", diz Inês Kisil Miskalo, coordenadora da área de educação formal do Instituto Ayrton Senna.

Segundo ela, as metodologias utilizadas pelo instituto acabaram se disseminando no boca a boca dos professores e secretários de Educação. "As boas práticas se espalham entre as escolas, os professores vão se apropriando daquele conhecimento e isso acaba contaminando positivamente toda a comunidade", conta Inês. Há casos de municípios, como a pequena Castelo do Piauí (PI), de 18 mil habitantes, em que a melhoria na educação pública influenciou a articulação de outras secretarias, como Saúde e Assistência Social, e a uma melhoria ampla nos indicadores sociais, como redução da mortalidade infantil e da gravidez na adolescência.

Ensino profissionalizante. Além do investimento social privado, outra vertente em que as ONGs atuam é no ensino profissionalizante e capacitação para os jovens entrarem no mercado de trabalho. Um exemplo é a Espro (Ensino Social Profissionalizante), entidade ligada ao Rotary Clube, que atua na capacitação profissional de jovens desde 1979 e é mantida com recursos da iniciativa privada. Nas unidades de formação, os jovens têm contato com noções básicas sobre o mercado de trabalho e também podem fazer cursos na área de práticas bancárias, varejo, técnicas administrativas, gestão hospitalar, entre outros.

O Espro também funciona como um banco de jovens talentos para as empresas contratarem aprendizes como forma de cumprir a Lei do Aprendiz (nº 10.097/00), que estabelece que todas as empresas de médio e grande portes devem ter no seu quadro de funcionários uma porcentagem de 5% a 15% de aprendizes entre 16 e 24 anos.

"O crescimento econômico dos últimos anos ajudou a ampliar os postos de trabalho, mas o acesso ao primeiro emprego ainda é difícil para a maioria dos jovens", afirma Marinus Jan van der Molen, superintendente executivo do Espro. Com dez centros de formação só na cidade de São Paulo e sete filiais nas principais regiões metropolitanas, o Espro já auxiliou na formação de mais de 60 mil jovens.

O chamado terceiro setor - que reúne as organizações não governamentais e sem fins lucrativos, institutos e fundações ligadas a empresas - há tempos elegeu a educação como área prioritária para suas ações. De um total de 134 instituições mapeadas pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), 82% investem em programas educativos ou de apoio à educação pública, segundo estudo concluído em 2010 e que está sendo atualizado. O ensino fundamental ainda recebe mais de 80% dos investimentos sociais, mas cresce o apoio ao ensino médio - 75% das entidades direcionam recursos para este fim - e também ao ensino profissionalizante (39% das instituições).

A atenção ao ensino médio e profissionalizante não ocorre à toa. O maior déficit educacional brasileiro está concentrado no ensino médio: de um universo de 3,8 milhões de crianças e jovens que estão fora da escola hoje, 1,7 milhão se encontra na faixa etária entre 15 e 17 anos - o que representa grave risco para a economia brasileira no médio e longo prazos. Na prática, alertam especialistas, o Brasil desperdiça o chamado bônus demográfico - situação em que a população economicamente ativa supera a de dependentes, como crianças e idosos.

"O maior gargalo da educação brasileira está, sem dúvida, no ensino médio. Já estamos desperdiçando o bônus demográfico e colocando sob ameaça os recentes ganhos de mobilidade social e redução das desigualdades registrados nos últimos anos", afirma Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco - braço social da instituição financeira que em 2008 foi incorporado pelo banco Itaú e investe em projetos voltados para jovens na área de educação e gestão escolar.

Para Henriques, que trabalhou nos Ministérios de Assistência Social (2003 a 2004) e Educação (2004 a 2007) e foi um dos responsáveis por desenhar o programa Bolsa Família, o Brasil precisa acelerar o processo de tornar a escola um ambiente mais atraente para o jovem - e isso passa pela ajuda das organizações não governamentais.

"A fronteira educacional avança no mundo e o Brasil está lento. Nossos jovens estão ficando para trás na corrida pelo conhecimento e boas oportunidades de trabalho", diz Henriques. "Para acelerar esse processo é preciso política pública, mas o terceiro setor pode ajudar com métricas inovadoras e apoio à gestão escolar para que as iniciativas bem-sucedidas ganhem escala."

Reforço. Um dos programas que Henriques coordena no Instituto Unibanco tem foco no aprimoramento da gestão escolar no ensino médio. A ideia é apoiar a gestão da escola e a capacitação dos docentes, para que os professores se dediquem 100% à tarefa de reforçar a aprendizagem dos alunos.

A experiência positiva em escolas de São Paulo e Minas Gerais fez com que a metodologia utilizada se tornasse política pública: este ano, o instituto assinou um convênio com o MEC para expandir o programa para mais cinco Estados e 3.715 escolas. O plano é beneficiar 3 milhões de estudantes até 2016, com melhoria nos índices de aprovação e nos indicadores de qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O Instituto Ayrton Senna, que nasceu do desejo do tetracampeão do automobilismo de reduzir as disparidades sociais no Brasil, é outra entidade do terceiro setor cujo trabalho influencia políticas públicas. Fundado em 1994, logo após a morte de Senna, e gerenciado pela irmã dele, Viviane Senna, o instituto se notabilizou por trabalhar em parcerias com a rede pública de ensino. Introduziu programas de reforço escolar - para ajudar alunos repetentes, em defasagem de aprendizado e com dificuldades no processo de alfabetização -, gestão escolar e treinamentos para uso de tecnologia em sala de aula, entre outros. Em 18 anos, atingiu a marca de 2 milhões de estudantes beneficiados, em 1.300 escolas em todo o País. "Esse é o trabalho que o terceiro setor pode fazer pela educação: mostrar que o ensino público pode ser de qualidade", diz Inês Kisil Miskalo, coordenadora da área de educação formal do Instituto Ayrton Senna.

Segundo ela, as metodologias utilizadas pelo instituto acabaram se disseminando no boca a boca dos professores e secretários de Educação. "As boas práticas se espalham entre as escolas, os professores vão se apropriando daquele conhecimento e isso acaba contaminando positivamente toda a comunidade", conta Inês. Há casos de municípios, como a pequena Castelo do Piauí (PI), de 18 mil habitantes, em que a melhoria na educação pública influenciou a articulação de outras secretarias, como Saúde e Assistência Social, e a uma melhoria ampla nos indicadores sociais, como redução da mortalidade infantil e da gravidez na adolescência.

Ensino profissionalizante. Além do investimento social privado, outra vertente em que as ONGs atuam é no ensino profissionalizante e capacitação para os jovens entrarem no mercado de trabalho. Um exemplo é a Espro (Ensino Social Profissionalizante), entidade ligada ao Rotary Clube, que atua na capacitação profissional de jovens desde 1979 e é mantida com recursos da iniciativa privada. Nas unidades de formação, os jovens têm contato com noções básicas sobre o mercado de trabalho e também podem fazer cursos na área de práticas bancárias, varejo, técnicas administrativas, gestão hospitalar, entre outros.

O Espro também funciona como um banco de jovens talentos para as empresas contratarem aprendizes como forma de cumprir a Lei do Aprendiz (nº 10.097/00), que estabelece que todas as empresas de médio e grande portes devem ter no seu quadro de funcionários uma porcentagem de 5% a 15% de aprendizes entre 16 e 24 anos.

"O crescimento econômico dos últimos anos ajudou a ampliar os postos de trabalho, mas o acesso ao primeiro emprego ainda é difícil para a maioria dos jovens", afirma Marinus Jan van der Molen, superintendente executivo do Espro. Com dez centros de formação só na cidade de São Paulo e sete filiais nas principais regiões metropolitanas, o Espro já auxiliou na formação de mais de 60 mil jovens.

O chamado terceiro setor - que reúne as organizações não governamentais e sem fins lucrativos, institutos e fundações ligadas a empresas - há tempos elegeu a educação como área prioritária para suas ações. De um total de 134 instituições mapeadas pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), 82% investem em programas educativos ou de apoio à educação pública, segundo estudo concluído em 2010 e que está sendo atualizado. O ensino fundamental ainda recebe mais de 80% dos investimentos sociais, mas cresce o apoio ao ensino médio - 75% das entidades direcionam recursos para este fim - e também ao ensino profissionalizante (39% das instituições).

A atenção ao ensino médio e profissionalizante não ocorre à toa. O maior déficit educacional brasileiro está concentrado no ensino médio: de um universo de 3,8 milhões de crianças e jovens que estão fora da escola hoje, 1,7 milhão se encontra na faixa etária entre 15 e 17 anos - o que representa grave risco para a economia brasileira no médio e longo prazos. Na prática, alertam especialistas, o Brasil desperdiça o chamado bônus demográfico - situação em que a população economicamente ativa supera a de dependentes, como crianças e idosos.

"O maior gargalo da educação brasileira está, sem dúvida, no ensino médio. Já estamos desperdiçando o bônus demográfico e colocando sob ameaça os recentes ganhos de mobilidade social e redução das desigualdades registrados nos últimos anos", afirma Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco - braço social da instituição financeira que em 2008 foi incorporado pelo banco Itaú e investe em projetos voltados para jovens na área de educação e gestão escolar.

Para Henriques, que trabalhou nos Ministérios de Assistência Social (2003 a 2004) e Educação (2004 a 2007) e foi um dos responsáveis por desenhar o programa Bolsa Família, o Brasil precisa acelerar o processo de tornar a escola um ambiente mais atraente para o jovem - e isso passa pela ajuda das organizações não governamentais.

"A fronteira educacional avança no mundo e o Brasil está lento. Nossos jovens estão ficando para trás na corrida pelo conhecimento e boas oportunidades de trabalho", diz Henriques. "Para acelerar esse processo é preciso política pública, mas o terceiro setor pode ajudar com métricas inovadoras e apoio à gestão escolar para que as iniciativas bem-sucedidas ganhem escala."

Reforço. Um dos programas que Henriques coordena no Instituto Unibanco tem foco no aprimoramento da gestão escolar no ensino médio. A ideia é apoiar a gestão da escola e a capacitação dos docentes, para que os professores se dediquem 100% à tarefa de reforçar a aprendizagem dos alunos.

A experiência positiva em escolas de São Paulo e Minas Gerais fez com que a metodologia utilizada se tornasse política pública: este ano, o instituto assinou um convênio com o MEC para expandir o programa para mais cinco Estados e 3.715 escolas. O plano é beneficiar 3 milhões de estudantes até 2016, com melhoria nos índices de aprovação e nos indicadores de qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

O Instituto Ayrton Senna, que nasceu do desejo do tetracampeão do automobilismo de reduzir as disparidades sociais no Brasil, é outra entidade do terceiro setor cujo trabalho influencia políticas públicas. Fundado em 1994, logo após a morte de Senna, e gerenciado pela irmã dele, Viviane Senna, o instituto se notabilizou por trabalhar em parcerias com a rede pública de ensino. Introduziu programas de reforço escolar - para ajudar alunos repetentes, em defasagem de aprendizado e com dificuldades no processo de alfabetização -, gestão escolar e treinamentos para uso de tecnologia em sala de aula, entre outros. Em 18 anos, atingiu a marca de 2 milhões de estudantes beneficiados, em 1.300 escolas em todo o País. "Esse é o trabalho que o terceiro setor pode fazer pela educação: mostrar que o ensino público pode ser de qualidade", diz Inês Kisil Miskalo, coordenadora da área de educação formal do Instituto Ayrton Senna.

Segundo ela, as metodologias utilizadas pelo instituto acabaram se disseminando no boca a boca dos professores e secretários de Educação. "As boas práticas se espalham entre as escolas, os professores vão se apropriando daquele conhecimento e isso acaba contaminando positivamente toda a comunidade", conta Inês. Há casos de municípios, como a pequena Castelo do Piauí (PI), de 18 mil habitantes, em que a melhoria na educação pública influenciou a articulação de outras secretarias, como Saúde e Assistência Social, e a uma melhoria ampla nos indicadores sociais, como redução da mortalidade infantil e da gravidez na adolescência.

Ensino profissionalizante. Além do investimento social privado, outra vertente em que as ONGs atuam é no ensino profissionalizante e capacitação para os jovens entrarem no mercado de trabalho. Um exemplo é a Espro (Ensino Social Profissionalizante), entidade ligada ao Rotary Clube, que atua na capacitação profissional de jovens desde 1979 e é mantida com recursos da iniciativa privada. Nas unidades de formação, os jovens têm contato com noções básicas sobre o mercado de trabalho e também podem fazer cursos na área de práticas bancárias, varejo, técnicas administrativas, gestão hospitalar, entre outros.

O Espro também funciona como um banco de jovens talentos para as empresas contratarem aprendizes como forma de cumprir a Lei do Aprendiz (nº 10.097/00), que estabelece que todas as empresas de médio e grande portes devem ter no seu quadro de funcionários uma porcentagem de 5% a 15% de aprendizes entre 16 e 24 anos.

"O crescimento econômico dos últimos anos ajudou a ampliar os postos de trabalho, mas o acesso ao primeiro emprego ainda é difícil para a maioria dos jovens", afirma Marinus Jan van der Molen, superintendente executivo do Espro. Com dez centros de formação só na cidade de São Paulo e sete filiais nas principais regiões metropolitanas, o Espro já auxiliou na formação de mais de 60 mil jovens.

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