BRASÍLIA E SÃO PAULO- O Tesouro Nacional informou, por meio de nota, o cancelamento do seu tradicional leilão de títulos públicos, que estava previsto para ocorrer nesta quinta-feira, 19. A decisão ocorre depois de um dia de alta volatilidade nas negociações de títulos. Nesta terça-feira, 17, houve quatro “circuit breakers” na plataforma. Ou seja, as negociações foram suspensas por um período em função da alta volatilidade das taxas dos títulos públicos: os Prefixados e IPCA+ atingiram níveis recordes e, no fechamento da sessão, pagavam retornos prefixados de 15,33% e 7,58% ao ano nos vencimentos mais curtos, respectivamente.
O Tesouro informou que, em vez do tradicional leilão da quinta-feira, durante toda esta semana (quarta, 18; quinta, 19; e sexta, 20) realizará leilões de compra e venda desses papéis em condições da oferta que serão divulgadas somente nos dias de realização. Nas palavras da instituição, por meio de nota, ”o objetivo da atuação é oferecer suporte ao mercado de títulos públicos, assegurando seu bom funcionamento e o de mercados correlatos”.
É a primeira vez desde maio de 2020, durante a pandemia de covid-19, que o órgão cancela um leilão tradicional de títulos públicos. Antes, cancelamentos haviam ocorrido também em momentos como a greve nacional de caminhoneiros e na crise política do Michel Temer (MDB) que teve como estopim o vazamento de uma conversa do empresário Joesley Batista com o então presidente.
A escalada dos juros ocorre em função dos temores relacionados à questão fiscal do País, com a incerteza sobre o pacote de corte de gastos enviado ao Congresso pelo governo.
Busca ‘por normalidade’
Ao anunciar o cancelamento do leilão de títulos prefixados desta quinta-feira e três operações de recompra e venda de títulos públicos entre esta quarta e sexta-feira, o Tesouro Nacional barra uma espiral negativa no mercado financeiro diz o estrategista de renda fixa da Necton Investimentos Fernando Ferez.
“Acho que a ideia foi tentar colocar um parâmetro de compra e venda nos títulos para voltar a uma normalidade”, afirma.
Ferez pondera que o Tesouro ainda dará os detalhes sobre os papéis que vai recomprar e vender, além dos vencimentos. Os resultados devem servir de termômetro para ver se havia demanda de investidores por saída de posições compradas em títulos. Se ofertar NTN-Fs, por exemplo, indicaria de estrangeiros, mas NTN-Bs, de locais.
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Segundo o estrategista, o mercado estava ficando disfuncional, com liquidez reduzida e spreads largos, num ambiente de alta volatilidade, sem referência.
Num primeiro momento, a resposta do Tesouro deve aliviar a pressão, evitando abertura adicional das taxas de juros negociadas no mercado futuro. A melhora efetiva, contudo, depende do cenário político, principalmente tramitação de medidas fiscais, considera.
Banco Central intervém no câmbio
Em seu front, na tentativa de conter a disparada do dólar, o Banco Central tem intervindo com a realização de leilões. Nesta terça-feira, 17, em que a moeda americana chegou à marca inédita de R$ 6,20, o BC fez pela manhã e depois do meio-dia leilões de moeda americana à vista e vendeu um lote de US$ 1,272 bilhão no primeiro e US$ 2,015 bilhões no segundo.
Este é o quarto dia útil seguido com leilão de dólares pelo BC — na segunda-feira, 16, o montante oferecido ao mercado foi de US$ 4,62 bilhões. Apesar dos leilões, o dólar voltou a registrar recorde no fechamento, a R$ 6,0961, alta de 0,04%.