Ceron diz que grau de investimento será ‘legado’ do governo e defende eliminar ‘ruídos’ com mercado


Para secretário do Tesouro, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública ‘idealmente’ num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB

Por Amanda Pupo e Fernanda Trisotto

BRASÍLIA - O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reconheceu nesta quinta-feira, 3, que políticas concebidas para ficar “fora do Orçamento” criam insegurança, ainda que tenham impacto “diminuto”. Ele comentou a necessidade de eliminação desses ruídos que podem atrapalhar o processo de recuperação da confiança sobre o fiscal e o alcance do grau de investimento soberano.

“Isso (recuperação fiscal) não é um desafio só da Fazenda, nem só da equipe econômica, nem só do governo. Tem de fazer esse debate, eliminar tudo o que causa ruído e incerteza no mercado. Ter grau de investimento é um legado que deixaremos”, disse Ceron, para quem tudo o que “atrapalha” o alcance do grau de investimento deveria ser debatido com “cuidado”.

O secretário disse que a elevação da nota do Brasil pela Moody’s, que deixa o País a um passo do grau de investimento, é uma “grande oportunidade” para a sociedade e os Poderes fecharem um “pacto” pelo equilíbrio fiscal. “Na minha modesta opinião, abriu-se janela por pacto da sociedade, com Poderes, mercado financeiro, para que o País atinja grau de investimento”, afirmou em entrevista à imprensa sobre os dados do Tesouro de agosto.

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Segundo Ceron, crescimento de gastos do BPC continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo ele, o Congresso e o Judiciário entenderam a importância da agenda fiscal, o que se reflete nos resultados que o País apresenta. “Nós vamos dar esse meio passo que falta, isso vai gerar a expectativa de que, ao longo de 2025, ou no começo de 2026, o grau de investimento virá. Se essa expectativa se materializar, nós já começamos a colher os benefícios disso hoje. Começa a atrair capital, não residentes começam a retornar para o País, isso já gera efeitos em termos de atração de investimentos, seja investimento financeiro, seja investimento produtivo, com reflexo em câmbio, inflação, crescimento econômico”, disse.

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Ele afirmou que prefere observar esse caminho até o grau de investimento não como um “desafio”, mas como uma oportunidade, porque, para ele, o País pode suportar os ajustes necessários para recuperar o “selo de bom pagador”. Ceron afirmou que, para isso, o Brasil precisa “tão somente” garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, a tendência sustentável de crescimento dos gastos e o atingimento das metas fiscais previstas. “Estamos a pequeno passo, uma oportunidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável.”

Ele também afirmou que não vê como um brasileiro não possa estar feliz com o resultado da Moody’s. “A Moody’s foi clara ao colocar que há avanços, mas frisando que materialização do grau de investimento depende do compromisso fiscal”, afirmou o secretário, para quem a elevação da nota é um voto de confiança no País, e não em um governo. Ele ressaltou que a melhora do ambiente econômico vai se refletir em queda da taxa de juros, que incide sobre a dívida pública. “Quanto menor a dívida, menor o esforço fiscal que a sociedade precisa fazer para arcar com esses encargos”, afirmou.

Ceron disse ainda que, além de elevar a nota brasileira, a Moody’s colocou o País em perspectiva positiva, indicando que, num horizonte de até 18 meses, uma nova mudança do rating pode se materializar. “O País tem muito a comemorar. A decisão da Moody’s é muito relevante e há uma série de efeitos que serão colhidos em 2025. O País tem que comemorar, cresce e faz reformas institucionais, mas há desafios fiscais a serem endereçados”, disse.

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Estabilização da dívida

Para o secretário, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado.”

Ele lembrou que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

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“Estabilizar é o grande objetivo da política fiscal, sem dúvida nenhuma, estabilizar e depois começar a reduzir, o quanto mais próximo ou inferior a 80%, melhor. Então, como eu disse, agora é o momento de uma reflexão na sociedade do que falta fazer para a gente dar esse meio passo para o País recuperar o grau de investimento”, afirmou.

Ele defendeu também o debate sobre as medidas necessárias que conduzam a trajetória da dívida para uma estabilização, o que envolve um processo de crescimento das despesas obrigatória que seja compatível com o arcabouço fiscal. “É um necessário debate do quão importante é aproveitar essa oportunidade e fazer as medidas necessárias para que o País possa dar esse meio passo e mudar de patamar e voltar até o grau de investimento”, disse.

Ceron também defendeu que o governo está “muito atento” à gestão da dívida para tornar o mercado doméstico mais atrativo para os não-residentes. “Precisamos de estratégia coordenada na gestão da dívida tendo em vista retomada de grau de investimento. Isso tende a criar um fluxo de entrada de capital já se antecipando ao grau de investimento, se ele for crível”, avaliou.

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Críticas de economistas

O secretário afirmou que, embora respeite as opiniões sobre a situação fiscal do País, é preciso fazer um alerta sobre a possibilidade de essas avaliações conterem um “conflito de interesse”. O comentário foi direcionado às críticas feitas por economistas sobre a elevação da nota soberana brasileira pela Moody’s.

“Evito comentar opinião de A ou B, mas tem que alertar, tem que se tomar cuidado, as opiniões expressas em geral dificilmente têm a isenção necessária”, afirmou Ceron. Segundo ele, quem opina tem “posições armadas para lá ou para cá”, no mercado de câmbio ou de juros. “Absorvemos as opiniões e respeitamos, mas precisamos olhar essas opiniões com serenidade”, disse.

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Ceron também afirmou que, nas avaliações sobre a elevação do rating brasileiro, vê pouca discussão qualitativa sobre a metodologia usada pelas agências, o que acaba resultando num debate “superficial”. “Precisamos de debate qualificado sobre isso. Se são opinião da academia ou mercado ou se há conflito de interesse...”, disse o secretário, segundo quem o “plano de voo” do governo sempre foi “muito claro”.

Crescimento ‘preocupante’ do BPC

O secretário afirmou que a trajetória de crescimento de gastos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto. Enquanto as despesas previdenciárias apresentaram uma acomodação, com alta de 3,7% no mês retrasado, o BPC continua crescendo. No acumulado do ano, o aumento no benefício é de 16,6%. “É um grande fator que tem chamado atenção com crescimento expressivo”, avaliou.

Já os benefícios previdenciários cresceram 3,4% entre janeiro e agosto. Segundo ele, o patamar mais equilibrado de crescimento da Previdência também foi observado em setembro. “Despesa previdenciária está retornando para um patamar mais equilibrado, observamos entre julho e setembro”, disse Ceron, pontuando ainda que o mês passado também seguiu a mesma dinâmica de acomodação da base fiscal.

Dentro dos benefícios previdenciários, Ceron observou que o gasto foi pressionado pela elevação de despesas com sentenças judiciais e precatórios, com alta de 40,1%.

Apesar do avanço de 2% nas despesas gerais em agosto, o secretário comentou que haveria um decréscimo real dos gastos se não fosse o pagamento para o fundo eleitoral. “Afetou de forma substancial o resultado do mês”, disse.

Redesenho do vale-gás

Ceron disse que a reformulação da proposta de financiamento da política do auxílio-gás é positiva para o Brasil do ponto de vista fiscal e que o debate está sendo feito com “serenidade”. Ele não antecipou o novo desenho para colocar o benefício dentro do Orçamento porque as alternativas estão sendo discutidas e dependem da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ceron reconheceu que a proposta anterior, que pretendia usar recursos do Fundo Social, gerou incertezas que não valem o custo da insegurança fiscal. “Ele tem uma dimensão muito pequena do ponto de vista de Orçamento para criar o ruído que tem gerado. Vale o governo fazer um esforço para adicionar dentro dos outros regulamentos fiscais já existentes para evitar, para tirar essa incerteza. Por mais que haja o compromisso de isso não virar um precedente, de fato ele tem uma dimensão pequena do ponto de vista fiscal”, disse Ceron, reconhecendo a preocupação porque, em outros momentos da história do País, “algo pequeno acabou se transformando em grande” e criou novos problemas.

Além do auxílio-gás, Ceron foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 e a interpretação de que um de seus dispositivos permite destinar até 25% do superávit de fundos públicos ao financiamento de projetos ligados a ações de enfrentamento, mitigação e adaptação a mudanças climáticas.

Para Ceron, há uma compreensão “equivocada” sobre a previsão da PEC. “Do ponto de vista patrimonial, não há alteração. Claro que há uma discussão de qual é o impacto em termos de subsídio implícito, obviamente você tem um diferencial de taxa, mas tirando isso, não é um recurso que tem um subterfúgio ou que está fora do regulamento, é uma despesa orçamentária como qualquer outra dentro da regra do orçamento, mas é uma despesa orçamentária financeira. O que está previsto na PEC é a possibilidade de você ter esse instrumento à disposição em caso de novas catástrofes”, disse Ceron, citando o caso do Rio Grande do Sul.

“Nós agimos muito rápido por ser uma situação excepcional e por não termos instrumentos preparados para reagir, então nós tínhamos que reconstruir isso do dia para a noite.”

Ceron alegou que não há nenhuma criação de fundo ou autorização nova para o BNDES. “É uma salvaguarda que fica à disposição”, defendeu. Por fim, o secretário afirmou que o Brasil tem grande oportunidade na transição para uma economia de baixo carbono e que precisa aproveitar essa janela sem criar qualquer tipo de ruído ou impacto na trajetória da dívida ou dos juros. “É um compromisso que temos”, disse.

BRASÍLIA - O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reconheceu nesta quinta-feira, 3, que políticas concebidas para ficar “fora do Orçamento” criam insegurança, ainda que tenham impacto “diminuto”. Ele comentou a necessidade de eliminação desses ruídos que podem atrapalhar o processo de recuperação da confiança sobre o fiscal e o alcance do grau de investimento soberano.

“Isso (recuperação fiscal) não é um desafio só da Fazenda, nem só da equipe econômica, nem só do governo. Tem de fazer esse debate, eliminar tudo o que causa ruído e incerteza no mercado. Ter grau de investimento é um legado que deixaremos”, disse Ceron, para quem tudo o que “atrapalha” o alcance do grau de investimento deveria ser debatido com “cuidado”.

O secretário disse que a elevação da nota do Brasil pela Moody’s, que deixa o País a um passo do grau de investimento, é uma “grande oportunidade” para a sociedade e os Poderes fecharem um “pacto” pelo equilíbrio fiscal. “Na minha modesta opinião, abriu-se janela por pacto da sociedade, com Poderes, mercado financeiro, para que o País atinja grau de investimento”, afirmou em entrevista à imprensa sobre os dados do Tesouro de agosto.

Segundo Ceron, crescimento de gastos do BPC continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo ele, o Congresso e o Judiciário entenderam a importância da agenda fiscal, o que se reflete nos resultados que o País apresenta. “Nós vamos dar esse meio passo que falta, isso vai gerar a expectativa de que, ao longo de 2025, ou no começo de 2026, o grau de investimento virá. Se essa expectativa se materializar, nós já começamos a colher os benefícios disso hoje. Começa a atrair capital, não residentes começam a retornar para o País, isso já gera efeitos em termos de atração de investimentos, seja investimento financeiro, seja investimento produtivo, com reflexo em câmbio, inflação, crescimento econômico”, disse.

Ele afirmou que prefere observar esse caminho até o grau de investimento não como um “desafio”, mas como uma oportunidade, porque, para ele, o País pode suportar os ajustes necessários para recuperar o “selo de bom pagador”. Ceron afirmou que, para isso, o Brasil precisa “tão somente” garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, a tendência sustentável de crescimento dos gastos e o atingimento das metas fiscais previstas. “Estamos a pequeno passo, uma oportunidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável.”

Ele também afirmou que não vê como um brasileiro não possa estar feliz com o resultado da Moody’s. “A Moody’s foi clara ao colocar que há avanços, mas frisando que materialização do grau de investimento depende do compromisso fiscal”, afirmou o secretário, para quem a elevação da nota é um voto de confiança no País, e não em um governo. Ele ressaltou que a melhora do ambiente econômico vai se refletir em queda da taxa de juros, que incide sobre a dívida pública. “Quanto menor a dívida, menor o esforço fiscal que a sociedade precisa fazer para arcar com esses encargos”, afirmou.

Ceron disse ainda que, além de elevar a nota brasileira, a Moody’s colocou o País em perspectiva positiva, indicando que, num horizonte de até 18 meses, uma nova mudança do rating pode se materializar. “O País tem muito a comemorar. A decisão da Moody’s é muito relevante e há uma série de efeitos que serão colhidos em 2025. O País tem que comemorar, cresce e faz reformas institucionais, mas há desafios fiscais a serem endereçados”, disse.

Estabilização da dívida

Para o secretário, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado.”

Ele lembrou que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

“Estabilizar é o grande objetivo da política fiscal, sem dúvida nenhuma, estabilizar e depois começar a reduzir, o quanto mais próximo ou inferior a 80%, melhor. Então, como eu disse, agora é o momento de uma reflexão na sociedade do que falta fazer para a gente dar esse meio passo para o País recuperar o grau de investimento”, afirmou.

Ele defendeu também o debate sobre as medidas necessárias que conduzam a trajetória da dívida para uma estabilização, o que envolve um processo de crescimento das despesas obrigatória que seja compatível com o arcabouço fiscal. “É um necessário debate do quão importante é aproveitar essa oportunidade e fazer as medidas necessárias para que o País possa dar esse meio passo e mudar de patamar e voltar até o grau de investimento”, disse.

Ceron também defendeu que o governo está “muito atento” à gestão da dívida para tornar o mercado doméstico mais atrativo para os não-residentes. “Precisamos de estratégia coordenada na gestão da dívida tendo em vista retomada de grau de investimento. Isso tende a criar um fluxo de entrada de capital já se antecipando ao grau de investimento, se ele for crível”, avaliou.

Críticas de economistas

O secretário afirmou que, embora respeite as opiniões sobre a situação fiscal do País, é preciso fazer um alerta sobre a possibilidade de essas avaliações conterem um “conflito de interesse”. O comentário foi direcionado às críticas feitas por economistas sobre a elevação da nota soberana brasileira pela Moody’s.

“Evito comentar opinião de A ou B, mas tem que alertar, tem que se tomar cuidado, as opiniões expressas em geral dificilmente têm a isenção necessária”, afirmou Ceron. Segundo ele, quem opina tem “posições armadas para lá ou para cá”, no mercado de câmbio ou de juros. “Absorvemos as opiniões e respeitamos, mas precisamos olhar essas opiniões com serenidade”, disse.

Ceron também afirmou que, nas avaliações sobre a elevação do rating brasileiro, vê pouca discussão qualitativa sobre a metodologia usada pelas agências, o que acaba resultando num debate “superficial”. “Precisamos de debate qualificado sobre isso. Se são opinião da academia ou mercado ou se há conflito de interesse...”, disse o secretário, segundo quem o “plano de voo” do governo sempre foi “muito claro”.

Crescimento ‘preocupante’ do BPC

O secretário afirmou que a trajetória de crescimento de gastos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto. Enquanto as despesas previdenciárias apresentaram uma acomodação, com alta de 3,7% no mês retrasado, o BPC continua crescendo. No acumulado do ano, o aumento no benefício é de 16,6%. “É um grande fator que tem chamado atenção com crescimento expressivo”, avaliou.

Já os benefícios previdenciários cresceram 3,4% entre janeiro e agosto. Segundo ele, o patamar mais equilibrado de crescimento da Previdência também foi observado em setembro. “Despesa previdenciária está retornando para um patamar mais equilibrado, observamos entre julho e setembro”, disse Ceron, pontuando ainda que o mês passado também seguiu a mesma dinâmica de acomodação da base fiscal.

Dentro dos benefícios previdenciários, Ceron observou que o gasto foi pressionado pela elevação de despesas com sentenças judiciais e precatórios, com alta de 40,1%.

Apesar do avanço de 2% nas despesas gerais em agosto, o secretário comentou que haveria um decréscimo real dos gastos se não fosse o pagamento para o fundo eleitoral. “Afetou de forma substancial o resultado do mês”, disse.

Redesenho do vale-gás

Ceron disse que a reformulação da proposta de financiamento da política do auxílio-gás é positiva para o Brasil do ponto de vista fiscal e que o debate está sendo feito com “serenidade”. Ele não antecipou o novo desenho para colocar o benefício dentro do Orçamento porque as alternativas estão sendo discutidas e dependem da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ceron reconheceu que a proposta anterior, que pretendia usar recursos do Fundo Social, gerou incertezas que não valem o custo da insegurança fiscal. “Ele tem uma dimensão muito pequena do ponto de vista de Orçamento para criar o ruído que tem gerado. Vale o governo fazer um esforço para adicionar dentro dos outros regulamentos fiscais já existentes para evitar, para tirar essa incerteza. Por mais que haja o compromisso de isso não virar um precedente, de fato ele tem uma dimensão pequena do ponto de vista fiscal”, disse Ceron, reconhecendo a preocupação porque, em outros momentos da história do País, “algo pequeno acabou se transformando em grande” e criou novos problemas.

Além do auxílio-gás, Ceron foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 e a interpretação de que um de seus dispositivos permite destinar até 25% do superávit de fundos públicos ao financiamento de projetos ligados a ações de enfrentamento, mitigação e adaptação a mudanças climáticas.

Para Ceron, há uma compreensão “equivocada” sobre a previsão da PEC. “Do ponto de vista patrimonial, não há alteração. Claro que há uma discussão de qual é o impacto em termos de subsídio implícito, obviamente você tem um diferencial de taxa, mas tirando isso, não é um recurso que tem um subterfúgio ou que está fora do regulamento, é uma despesa orçamentária como qualquer outra dentro da regra do orçamento, mas é uma despesa orçamentária financeira. O que está previsto na PEC é a possibilidade de você ter esse instrumento à disposição em caso de novas catástrofes”, disse Ceron, citando o caso do Rio Grande do Sul.

“Nós agimos muito rápido por ser uma situação excepcional e por não termos instrumentos preparados para reagir, então nós tínhamos que reconstruir isso do dia para a noite.”

Ceron alegou que não há nenhuma criação de fundo ou autorização nova para o BNDES. “É uma salvaguarda que fica à disposição”, defendeu. Por fim, o secretário afirmou que o Brasil tem grande oportunidade na transição para uma economia de baixo carbono e que precisa aproveitar essa janela sem criar qualquer tipo de ruído ou impacto na trajetória da dívida ou dos juros. “É um compromisso que temos”, disse.

BRASÍLIA - O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reconheceu nesta quinta-feira, 3, que políticas concebidas para ficar “fora do Orçamento” criam insegurança, ainda que tenham impacto “diminuto”. Ele comentou a necessidade de eliminação desses ruídos que podem atrapalhar o processo de recuperação da confiança sobre o fiscal e o alcance do grau de investimento soberano.

“Isso (recuperação fiscal) não é um desafio só da Fazenda, nem só da equipe econômica, nem só do governo. Tem de fazer esse debate, eliminar tudo o que causa ruído e incerteza no mercado. Ter grau de investimento é um legado que deixaremos”, disse Ceron, para quem tudo o que “atrapalha” o alcance do grau de investimento deveria ser debatido com “cuidado”.

O secretário disse que a elevação da nota do Brasil pela Moody’s, que deixa o País a um passo do grau de investimento, é uma “grande oportunidade” para a sociedade e os Poderes fecharem um “pacto” pelo equilíbrio fiscal. “Na minha modesta opinião, abriu-se janela por pacto da sociedade, com Poderes, mercado financeiro, para que o País atinja grau de investimento”, afirmou em entrevista à imprensa sobre os dados do Tesouro de agosto.

Segundo Ceron, crescimento de gastos do BPC continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo ele, o Congresso e o Judiciário entenderam a importância da agenda fiscal, o que se reflete nos resultados que o País apresenta. “Nós vamos dar esse meio passo que falta, isso vai gerar a expectativa de que, ao longo de 2025, ou no começo de 2026, o grau de investimento virá. Se essa expectativa se materializar, nós já começamos a colher os benefícios disso hoje. Começa a atrair capital, não residentes começam a retornar para o País, isso já gera efeitos em termos de atração de investimentos, seja investimento financeiro, seja investimento produtivo, com reflexo em câmbio, inflação, crescimento econômico”, disse.

Ele afirmou que prefere observar esse caminho até o grau de investimento não como um “desafio”, mas como uma oportunidade, porque, para ele, o País pode suportar os ajustes necessários para recuperar o “selo de bom pagador”. Ceron afirmou que, para isso, o Brasil precisa “tão somente” garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, a tendência sustentável de crescimento dos gastos e o atingimento das metas fiscais previstas. “Estamos a pequeno passo, uma oportunidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável.”

Ele também afirmou que não vê como um brasileiro não possa estar feliz com o resultado da Moody’s. “A Moody’s foi clara ao colocar que há avanços, mas frisando que materialização do grau de investimento depende do compromisso fiscal”, afirmou o secretário, para quem a elevação da nota é um voto de confiança no País, e não em um governo. Ele ressaltou que a melhora do ambiente econômico vai se refletir em queda da taxa de juros, que incide sobre a dívida pública. “Quanto menor a dívida, menor o esforço fiscal que a sociedade precisa fazer para arcar com esses encargos”, afirmou.

Ceron disse ainda que, além de elevar a nota brasileira, a Moody’s colocou o País em perspectiva positiva, indicando que, num horizonte de até 18 meses, uma nova mudança do rating pode se materializar. “O País tem muito a comemorar. A decisão da Moody’s é muito relevante e há uma série de efeitos que serão colhidos em 2025. O País tem que comemorar, cresce e faz reformas institucionais, mas há desafios fiscais a serem endereçados”, disse.

Estabilização da dívida

Para o secretário, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado.”

Ele lembrou que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

“Estabilizar é o grande objetivo da política fiscal, sem dúvida nenhuma, estabilizar e depois começar a reduzir, o quanto mais próximo ou inferior a 80%, melhor. Então, como eu disse, agora é o momento de uma reflexão na sociedade do que falta fazer para a gente dar esse meio passo para o País recuperar o grau de investimento”, afirmou.

Ele defendeu também o debate sobre as medidas necessárias que conduzam a trajetória da dívida para uma estabilização, o que envolve um processo de crescimento das despesas obrigatória que seja compatível com o arcabouço fiscal. “É um necessário debate do quão importante é aproveitar essa oportunidade e fazer as medidas necessárias para que o País possa dar esse meio passo e mudar de patamar e voltar até o grau de investimento”, disse.

Ceron também defendeu que o governo está “muito atento” à gestão da dívida para tornar o mercado doméstico mais atrativo para os não-residentes. “Precisamos de estratégia coordenada na gestão da dívida tendo em vista retomada de grau de investimento. Isso tende a criar um fluxo de entrada de capital já se antecipando ao grau de investimento, se ele for crível”, avaliou.

Críticas de economistas

O secretário afirmou que, embora respeite as opiniões sobre a situação fiscal do País, é preciso fazer um alerta sobre a possibilidade de essas avaliações conterem um “conflito de interesse”. O comentário foi direcionado às críticas feitas por economistas sobre a elevação da nota soberana brasileira pela Moody’s.

“Evito comentar opinião de A ou B, mas tem que alertar, tem que se tomar cuidado, as opiniões expressas em geral dificilmente têm a isenção necessária”, afirmou Ceron. Segundo ele, quem opina tem “posições armadas para lá ou para cá”, no mercado de câmbio ou de juros. “Absorvemos as opiniões e respeitamos, mas precisamos olhar essas opiniões com serenidade”, disse.

Ceron também afirmou que, nas avaliações sobre a elevação do rating brasileiro, vê pouca discussão qualitativa sobre a metodologia usada pelas agências, o que acaba resultando num debate “superficial”. “Precisamos de debate qualificado sobre isso. Se são opinião da academia ou mercado ou se há conflito de interesse...”, disse o secretário, segundo quem o “plano de voo” do governo sempre foi “muito claro”.

Crescimento ‘preocupante’ do BPC

O secretário afirmou que a trajetória de crescimento de gastos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto. Enquanto as despesas previdenciárias apresentaram uma acomodação, com alta de 3,7% no mês retrasado, o BPC continua crescendo. No acumulado do ano, o aumento no benefício é de 16,6%. “É um grande fator que tem chamado atenção com crescimento expressivo”, avaliou.

Já os benefícios previdenciários cresceram 3,4% entre janeiro e agosto. Segundo ele, o patamar mais equilibrado de crescimento da Previdência também foi observado em setembro. “Despesa previdenciária está retornando para um patamar mais equilibrado, observamos entre julho e setembro”, disse Ceron, pontuando ainda que o mês passado também seguiu a mesma dinâmica de acomodação da base fiscal.

Dentro dos benefícios previdenciários, Ceron observou que o gasto foi pressionado pela elevação de despesas com sentenças judiciais e precatórios, com alta de 40,1%.

Apesar do avanço de 2% nas despesas gerais em agosto, o secretário comentou que haveria um decréscimo real dos gastos se não fosse o pagamento para o fundo eleitoral. “Afetou de forma substancial o resultado do mês”, disse.

Redesenho do vale-gás

Ceron disse que a reformulação da proposta de financiamento da política do auxílio-gás é positiva para o Brasil do ponto de vista fiscal e que o debate está sendo feito com “serenidade”. Ele não antecipou o novo desenho para colocar o benefício dentro do Orçamento porque as alternativas estão sendo discutidas e dependem da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ceron reconheceu que a proposta anterior, que pretendia usar recursos do Fundo Social, gerou incertezas que não valem o custo da insegurança fiscal. “Ele tem uma dimensão muito pequena do ponto de vista de Orçamento para criar o ruído que tem gerado. Vale o governo fazer um esforço para adicionar dentro dos outros regulamentos fiscais já existentes para evitar, para tirar essa incerteza. Por mais que haja o compromisso de isso não virar um precedente, de fato ele tem uma dimensão pequena do ponto de vista fiscal”, disse Ceron, reconhecendo a preocupação porque, em outros momentos da história do País, “algo pequeno acabou se transformando em grande” e criou novos problemas.

Além do auxílio-gás, Ceron foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 e a interpretação de que um de seus dispositivos permite destinar até 25% do superávit de fundos públicos ao financiamento de projetos ligados a ações de enfrentamento, mitigação e adaptação a mudanças climáticas.

Para Ceron, há uma compreensão “equivocada” sobre a previsão da PEC. “Do ponto de vista patrimonial, não há alteração. Claro que há uma discussão de qual é o impacto em termos de subsídio implícito, obviamente você tem um diferencial de taxa, mas tirando isso, não é um recurso que tem um subterfúgio ou que está fora do regulamento, é uma despesa orçamentária como qualquer outra dentro da regra do orçamento, mas é uma despesa orçamentária financeira. O que está previsto na PEC é a possibilidade de você ter esse instrumento à disposição em caso de novas catástrofes”, disse Ceron, citando o caso do Rio Grande do Sul.

“Nós agimos muito rápido por ser uma situação excepcional e por não termos instrumentos preparados para reagir, então nós tínhamos que reconstruir isso do dia para a noite.”

Ceron alegou que não há nenhuma criação de fundo ou autorização nova para o BNDES. “É uma salvaguarda que fica à disposição”, defendeu. Por fim, o secretário afirmou que o Brasil tem grande oportunidade na transição para uma economia de baixo carbono e que precisa aproveitar essa janela sem criar qualquer tipo de ruído ou impacto na trajetória da dívida ou dos juros. “É um compromisso que temos”, disse.

BRASÍLIA - O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reconheceu nesta quinta-feira, 3, que políticas concebidas para ficar “fora do Orçamento” criam insegurança, ainda que tenham impacto “diminuto”. Ele comentou a necessidade de eliminação desses ruídos que podem atrapalhar o processo de recuperação da confiança sobre o fiscal e o alcance do grau de investimento soberano.

“Isso (recuperação fiscal) não é um desafio só da Fazenda, nem só da equipe econômica, nem só do governo. Tem de fazer esse debate, eliminar tudo o que causa ruído e incerteza no mercado. Ter grau de investimento é um legado que deixaremos”, disse Ceron, para quem tudo o que “atrapalha” o alcance do grau de investimento deveria ser debatido com “cuidado”.

O secretário disse que a elevação da nota do Brasil pela Moody’s, que deixa o País a um passo do grau de investimento, é uma “grande oportunidade” para a sociedade e os Poderes fecharem um “pacto” pelo equilíbrio fiscal. “Na minha modesta opinião, abriu-se janela por pacto da sociedade, com Poderes, mercado financeiro, para que o País atinja grau de investimento”, afirmou em entrevista à imprensa sobre os dados do Tesouro de agosto.

Segundo Ceron, crescimento de gastos do BPC continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo ele, o Congresso e o Judiciário entenderam a importância da agenda fiscal, o que se reflete nos resultados que o País apresenta. “Nós vamos dar esse meio passo que falta, isso vai gerar a expectativa de que, ao longo de 2025, ou no começo de 2026, o grau de investimento virá. Se essa expectativa se materializar, nós já começamos a colher os benefícios disso hoje. Começa a atrair capital, não residentes começam a retornar para o País, isso já gera efeitos em termos de atração de investimentos, seja investimento financeiro, seja investimento produtivo, com reflexo em câmbio, inflação, crescimento econômico”, disse.

Ele afirmou que prefere observar esse caminho até o grau de investimento não como um “desafio”, mas como uma oportunidade, porque, para ele, o País pode suportar os ajustes necessários para recuperar o “selo de bom pagador”. Ceron afirmou que, para isso, o Brasil precisa “tão somente” garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, a tendência sustentável de crescimento dos gastos e o atingimento das metas fiscais previstas. “Estamos a pequeno passo, uma oportunidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável.”

Ele também afirmou que não vê como um brasileiro não possa estar feliz com o resultado da Moody’s. “A Moody’s foi clara ao colocar que há avanços, mas frisando que materialização do grau de investimento depende do compromisso fiscal”, afirmou o secretário, para quem a elevação da nota é um voto de confiança no País, e não em um governo. Ele ressaltou que a melhora do ambiente econômico vai se refletir em queda da taxa de juros, que incide sobre a dívida pública. “Quanto menor a dívida, menor o esforço fiscal que a sociedade precisa fazer para arcar com esses encargos”, afirmou.

Ceron disse ainda que, além de elevar a nota brasileira, a Moody’s colocou o País em perspectiva positiva, indicando que, num horizonte de até 18 meses, uma nova mudança do rating pode se materializar. “O País tem muito a comemorar. A decisão da Moody’s é muito relevante e há uma série de efeitos que serão colhidos em 2025. O País tem que comemorar, cresce e faz reformas institucionais, mas há desafios fiscais a serem endereçados”, disse.

Estabilização da dívida

Para o secretário, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado.”

Ele lembrou que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

“Estabilizar é o grande objetivo da política fiscal, sem dúvida nenhuma, estabilizar e depois começar a reduzir, o quanto mais próximo ou inferior a 80%, melhor. Então, como eu disse, agora é o momento de uma reflexão na sociedade do que falta fazer para a gente dar esse meio passo para o País recuperar o grau de investimento”, afirmou.

Ele defendeu também o debate sobre as medidas necessárias que conduzam a trajetória da dívida para uma estabilização, o que envolve um processo de crescimento das despesas obrigatória que seja compatível com o arcabouço fiscal. “É um necessário debate do quão importante é aproveitar essa oportunidade e fazer as medidas necessárias para que o País possa dar esse meio passo e mudar de patamar e voltar até o grau de investimento”, disse.

Ceron também defendeu que o governo está “muito atento” à gestão da dívida para tornar o mercado doméstico mais atrativo para os não-residentes. “Precisamos de estratégia coordenada na gestão da dívida tendo em vista retomada de grau de investimento. Isso tende a criar um fluxo de entrada de capital já se antecipando ao grau de investimento, se ele for crível”, avaliou.

Críticas de economistas

O secretário afirmou que, embora respeite as opiniões sobre a situação fiscal do País, é preciso fazer um alerta sobre a possibilidade de essas avaliações conterem um “conflito de interesse”. O comentário foi direcionado às críticas feitas por economistas sobre a elevação da nota soberana brasileira pela Moody’s.

“Evito comentar opinião de A ou B, mas tem que alertar, tem que se tomar cuidado, as opiniões expressas em geral dificilmente têm a isenção necessária”, afirmou Ceron. Segundo ele, quem opina tem “posições armadas para lá ou para cá”, no mercado de câmbio ou de juros. “Absorvemos as opiniões e respeitamos, mas precisamos olhar essas opiniões com serenidade”, disse.

Ceron também afirmou que, nas avaliações sobre a elevação do rating brasileiro, vê pouca discussão qualitativa sobre a metodologia usada pelas agências, o que acaba resultando num debate “superficial”. “Precisamos de debate qualificado sobre isso. Se são opinião da academia ou mercado ou se há conflito de interesse...”, disse o secretário, segundo quem o “plano de voo” do governo sempre foi “muito claro”.

Crescimento ‘preocupante’ do BPC

O secretário afirmou que a trajetória de crescimento de gastos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto. Enquanto as despesas previdenciárias apresentaram uma acomodação, com alta de 3,7% no mês retrasado, o BPC continua crescendo. No acumulado do ano, o aumento no benefício é de 16,6%. “É um grande fator que tem chamado atenção com crescimento expressivo”, avaliou.

Já os benefícios previdenciários cresceram 3,4% entre janeiro e agosto. Segundo ele, o patamar mais equilibrado de crescimento da Previdência também foi observado em setembro. “Despesa previdenciária está retornando para um patamar mais equilibrado, observamos entre julho e setembro”, disse Ceron, pontuando ainda que o mês passado também seguiu a mesma dinâmica de acomodação da base fiscal.

Dentro dos benefícios previdenciários, Ceron observou que o gasto foi pressionado pela elevação de despesas com sentenças judiciais e precatórios, com alta de 40,1%.

Apesar do avanço de 2% nas despesas gerais em agosto, o secretário comentou que haveria um decréscimo real dos gastos se não fosse o pagamento para o fundo eleitoral. “Afetou de forma substancial o resultado do mês”, disse.

Redesenho do vale-gás

Ceron disse que a reformulação da proposta de financiamento da política do auxílio-gás é positiva para o Brasil do ponto de vista fiscal e que o debate está sendo feito com “serenidade”. Ele não antecipou o novo desenho para colocar o benefício dentro do Orçamento porque as alternativas estão sendo discutidas e dependem da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ceron reconheceu que a proposta anterior, que pretendia usar recursos do Fundo Social, gerou incertezas que não valem o custo da insegurança fiscal. “Ele tem uma dimensão muito pequena do ponto de vista de Orçamento para criar o ruído que tem gerado. Vale o governo fazer um esforço para adicionar dentro dos outros regulamentos fiscais já existentes para evitar, para tirar essa incerteza. Por mais que haja o compromisso de isso não virar um precedente, de fato ele tem uma dimensão pequena do ponto de vista fiscal”, disse Ceron, reconhecendo a preocupação porque, em outros momentos da história do País, “algo pequeno acabou se transformando em grande” e criou novos problemas.

Além do auxílio-gás, Ceron foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 e a interpretação de que um de seus dispositivos permite destinar até 25% do superávit de fundos públicos ao financiamento de projetos ligados a ações de enfrentamento, mitigação e adaptação a mudanças climáticas.

Para Ceron, há uma compreensão “equivocada” sobre a previsão da PEC. “Do ponto de vista patrimonial, não há alteração. Claro que há uma discussão de qual é o impacto em termos de subsídio implícito, obviamente você tem um diferencial de taxa, mas tirando isso, não é um recurso que tem um subterfúgio ou que está fora do regulamento, é uma despesa orçamentária como qualquer outra dentro da regra do orçamento, mas é uma despesa orçamentária financeira. O que está previsto na PEC é a possibilidade de você ter esse instrumento à disposição em caso de novas catástrofes”, disse Ceron, citando o caso do Rio Grande do Sul.

“Nós agimos muito rápido por ser uma situação excepcional e por não termos instrumentos preparados para reagir, então nós tínhamos que reconstruir isso do dia para a noite.”

Ceron alegou que não há nenhuma criação de fundo ou autorização nova para o BNDES. “É uma salvaguarda que fica à disposição”, defendeu. Por fim, o secretário afirmou que o Brasil tem grande oportunidade na transição para uma economia de baixo carbono e que precisa aproveitar essa janela sem criar qualquer tipo de ruído ou impacto na trajetória da dívida ou dos juros. “É um compromisso que temos”, disse.

BRASÍLIA - O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reconheceu nesta quinta-feira, 3, que políticas concebidas para ficar “fora do Orçamento” criam insegurança, ainda que tenham impacto “diminuto”. Ele comentou a necessidade de eliminação desses ruídos que podem atrapalhar o processo de recuperação da confiança sobre o fiscal e o alcance do grau de investimento soberano.

“Isso (recuperação fiscal) não é um desafio só da Fazenda, nem só da equipe econômica, nem só do governo. Tem de fazer esse debate, eliminar tudo o que causa ruído e incerteza no mercado. Ter grau de investimento é um legado que deixaremos”, disse Ceron, para quem tudo o que “atrapalha” o alcance do grau de investimento deveria ser debatido com “cuidado”.

O secretário disse que a elevação da nota do Brasil pela Moody’s, que deixa o País a um passo do grau de investimento, é uma “grande oportunidade” para a sociedade e os Poderes fecharem um “pacto” pelo equilíbrio fiscal. “Na minha modesta opinião, abriu-se janela por pacto da sociedade, com Poderes, mercado financeiro, para que o País atinja grau de investimento”, afirmou em entrevista à imprensa sobre os dados do Tesouro de agosto.

Segundo Ceron, crescimento de gastos do BPC continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto Foto: Wilton Junior/Estadão

Segundo ele, o Congresso e o Judiciário entenderam a importância da agenda fiscal, o que se reflete nos resultados que o País apresenta. “Nós vamos dar esse meio passo que falta, isso vai gerar a expectativa de que, ao longo de 2025, ou no começo de 2026, o grau de investimento virá. Se essa expectativa se materializar, nós já começamos a colher os benefícios disso hoje. Começa a atrair capital, não residentes começam a retornar para o País, isso já gera efeitos em termos de atração de investimentos, seja investimento financeiro, seja investimento produtivo, com reflexo em câmbio, inflação, crescimento econômico”, disse.

Ele afirmou que prefere observar esse caminho até o grau de investimento não como um “desafio”, mas como uma oportunidade, porque, para ele, o País pode suportar os ajustes necessários para recuperar o “selo de bom pagador”. Ceron afirmou que, para isso, o Brasil precisa “tão somente” garantir o cumprimento do arcabouço fiscal, a tendência sustentável de crescimento dos gastos e o atingimento das metas fiscais previstas. “Estamos a pequeno passo, uma oportunidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável.”

Ele também afirmou que não vê como um brasileiro não possa estar feliz com o resultado da Moody’s. “A Moody’s foi clara ao colocar que há avanços, mas frisando que materialização do grau de investimento depende do compromisso fiscal”, afirmou o secretário, para quem a elevação da nota é um voto de confiança no País, e não em um governo. Ele ressaltou que a melhora do ambiente econômico vai se refletir em queda da taxa de juros, que incide sobre a dívida pública. “Quanto menor a dívida, menor o esforço fiscal que a sociedade precisa fazer para arcar com esses encargos”, afirmou.

Ceron disse ainda que, além de elevar a nota brasileira, a Moody’s colocou o País em perspectiva positiva, indicando que, num horizonte de até 18 meses, uma nova mudança do rating pode se materializar. “O País tem muito a comemorar. A decisão da Moody’s é muito relevante e há uma série de efeitos que serão colhidos em 2025. O País tem que comemorar, cresce e faz reformas institucionais, mas há desafios fiscais a serem endereçados”, disse.

Estabilização da dívida

Para o secretário, é importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado.”

Ele lembrou que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

“Estabilizar é o grande objetivo da política fiscal, sem dúvida nenhuma, estabilizar e depois começar a reduzir, o quanto mais próximo ou inferior a 80%, melhor. Então, como eu disse, agora é o momento de uma reflexão na sociedade do que falta fazer para a gente dar esse meio passo para o País recuperar o grau de investimento”, afirmou.

Ele defendeu também o debate sobre as medidas necessárias que conduzam a trajetória da dívida para uma estabilização, o que envolve um processo de crescimento das despesas obrigatória que seja compatível com o arcabouço fiscal. “É um necessário debate do quão importante é aproveitar essa oportunidade e fazer as medidas necessárias para que o País possa dar esse meio passo e mudar de patamar e voltar até o grau de investimento”, disse.

Ceron também defendeu que o governo está “muito atento” à gestão da dívida para tornar o mercado doméstico mais atrativo para os não-residentes. “Precisamos de estratégia coordenada na gestão da dívida tendo em vista retomada de grau de investimento. Isso tende a criar um fluxo de entrada de capital já se antecipando ao grau de investimento, se ele for crível”, avaliou.

Críticas de economistas

O secretário afirmou que, embora respeite as opiniões sobre a situação fiscal do País, é preciso fazer um alerta sobre a possibilidade de essas avaliações conterem um “conflito de interesse”. O comentário foi direcionado às críticas feitas por economistas sobre a elevação da nota soberana brasileira pela Moody’s.

“Evito comentar opinião de A ou B, mas tem que alertar, tem que se tomar cuidado, as opiniões expressas em geral dificilmente têm a isenção necessária”, afirmou Ceron. Segundo ele, quem opina tem “posições armadas para lá ou para cá”, no mercado de câmbio ou de juros. “Absorvemos as opiniões e respeitamos, mas precisamos olhar essas opiniões com serenidade”, disse.

Ceron também afirmou que, nas avaliações sobre a elevação do rating brasileiro, vê pouca discussão qualitativa sobre a metodologia usada pelas agências, o que acaba resultando num debate “superficial”. “Precisamos de debate qualificado sobre isso. Se são opinião da academia ou mercado ou se há conflito de interesse...”, disse o secretário, segundo quem o “plano de voo” do governo sempre foi “muito claro”.

Crescimento ‘preocupante’ do BPC

O secretário afirmou que a trajetória de crescimento de gastos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) continua preocupante, com elevação de 14,5% em agosto. Enquanto as despesas previdenciárias apresentaram uma acomodação, com alta de 3,7% no mês retrasado, o BPC continua crescendo. No acumulado do ano, o aumento no benefício é de 16,6%. “É um grande fator que tem chamado atenção com crescimento expressivo”, avaliou.

Já os benefícios previdenciários cresceram 3,4% entre janeiro e agosto. Segundo ele, o patamar mais equilibrado de crescimento da Previdência também foi observado em setembro. “Despesa previdenciária está retornando para um patamar mais equilibrado, observamos entre julho e setembro”, disse Ceron, pontuando ainda que o mês passado também seguiu a mesma dinâmica de acomodação da base fiscal.

Dentro dos benefícios previdenciários, Ceron observou que o gasto foi pressionado pela elevação de despesas com sentenças judiciais e precatórios, com alta de 40,1%.

Apesar do avanço de 2% nas despesas gerais em agosto, o secretário comentou que haveria um decréscimo real dos gastos se não fosse o pagamento para o fundo eleitoral. “Afetou de forma substancial o resultado do mês”, disse.

Redesenho do vale-gás

Ceron disse que a reformulação da proposta de financiamento da política do auxílio-gás é positiva para o Brasil do ponto de vista fiscal e que o debate está sendo feito com “serenidade”. Ele não antecipou o novo desenho para colocar o benefício dentro do Orçamento porque as alternativas estão sendo discutidas e dependem da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ceron reconheceu que a proposta anterior, que pretendia usar recursos do Fundo Social, gerou incertezas que não valem o custo da insegurança fiscal. “Ele tem uma dimensão muito pequena do ponto de vista de Orçamento para criar o ruído que tem gerado. Vale o governo fazer um esforço para adicionar dentro dos outros regulamentos fiscais já existentes para evitar, para tirar essa incerteza. Por mais que haja o compromisso de isso não virar um precedente, de fato ele tem uma dimensão pequena do ponto de vista fiscal”, disse Ceron, reconhecendo a preocupação porque, em outros momentos da história do País, “algo pequeno acabou se transformando em grande” e criou novos problemas.

Além do auxílio-gás, Ceron foi questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 e a interpretação de que um de seus dispositivos permite destinar até 25% do superávit de fundos públicos ao financiamento de projetos ligados a ações de enfrentamento, mitigação e adaptação a mudanças climáticas.

Para Ceron, há uma compreensão “equivocada” sobre a previsão da PEC. “Do ponto de vista patrimonial, não há alteração. Claro que há uma discussão de qual é o impacto em termos de subsídio implícito, obviamente você tem um diferencial de taxa, mas tirando isso, não é um recurso que tem um subterfúgio ou que está fora do regulamento, é uma despesa orçamentária como qualquer outra dentro da regra do orçamento, mas é uma despesa orçamentária financeira. O que está previsto na PEC é a possibilidade de você ter esse instrumento à disposição em caso de novas catástrofes”, disse Ceron, citando o caso do Rio Grande do Sul.

“Nós agimos muito rápido por ser uma situação excepcional e por não termos instrumentos preparados para reagir, então nós tínhamos que reconstruir isso do dia para a noite.”

Ceron alegou que não há nenhuma criação de fundo ou autorização nova para o BNDES. “É uma salvaguarda que fica à disposição”, defendeu. Por fim, o secretário afirmou que o Brasil tem grande oportunidade na transição para uma economia de baixo carbono e que precisa aproveitar essa janela sem criar qualquer tipo de ruído ou impacto na trajetória da dívida ou dos juros. “É um compromisso que temos”, disse.

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