The Economist: a economia mundial está ‘desafiando a gravidade’ com um otimismo exagerado


Alicerces do crescimento atual parecem instáveis; ameaças não faltam, entre elas as taxas de juros mais altas por mais tempo

Por The Economist
Atualização:

Mesmo com as guerras se intensificando e o clima geopolítico ficando mais sombrio, a economia mundial tem sido uma fonte incontrolável de alegria. Há apenas um ano, todos concordavam que as taxas de juros elevadas desencadeariam em pouco tempo uma recessão. Agora, até os otimistas estão confusos. A economia dos Estados Unidos acelerou no terceiro trimestre, crescendo num ritmo impressionante de 4,9% ao ano.

Em todo o mundo, a inflação está caindo, o desemprego continua em grande parte baixo e os maiores bancos centrais talvez tenham interrompido seu aperto monetário. A China, assolada por uma crise imobiliária, provavelmente se beneficiará de um estímulo discreto. No entanto, infelizmente, essa alegria não deve durar muito. Os alicerces do crescimento atual parecem instáveis. Observe com atenção: não faltam ameaças.

A economia forte tem encorajado apostas de que as taxas de juros, embora não estejam mais subindo depressa, não vão cair muito. Na semana passada, o Banco Central Europeu e o Federal Reserve, o BC americano, mantiveram as taxas estáveis. Como consequência, os rendimentos dos investimentos de longo prazo aumentaram consideravelmente.

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O governo dos EUA agora deve pagar 5% para pegar empréstimos por 30 anos, ante apenas 1,2% no ápice da recessão da pandemia. Até mesmo as economias conhecidas por suas taxas de juros baixas têm observado aumentos significativos. Há pouco tempo, os custos para empréstimos na Alemanha eram negativos, agora os rendimentos dos títulos de dez anos do país estão em aproximadamente 3%. O Banco do Japão praticamente abriu mão de sua promessa de fixar os custos de empréstimos de dez anos em 1%.

Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião da semana passada Foto: Samuel Corum/Bloomberg

Algumas pessoas, entre elas Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, dizem que essas taxas de juros maiores são algo positivo – um reflexo de uma economia mundial bastante saudável. Na verdade, elas representam uma ameaça. Como as taxas de juros devem permanecer mais altas, as políticas econômicas atuais falharão, assim como o crescimento que fomentaram.

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Para entender por que as condições favoráveis de hoje não podem continuar, considere um motivo para a economia americana, em particular, estar se saindo melhor que o esperado. Seus consumidores estão gastando o dinheiro que acumularam durante a pandemia com benefícios e ao permanecerem em casa. Acreditava-se que esse dinheiro extra já tinha acabado. Mas dados recentes sugerem que as famílias ainda têm US$ 1 trilhão, o que explica por que estão conseguindo se safar economizando menos de suas rendas do que em qualquer momento da década de 2010.

Quando essas reservas restantes diminuírem, as taxas de juros altas começarão a incomodar, obrigando os consumidores a gastar menos. E, como já explicamos, começarão a surgir problemas em toda a economia mundial se as taxas continuarem altas por mais tempo. Na Europa e nos EUA, as falências das empresas já estão aumentando; até aquelas que conseguiram taxas de juros baixas ao emitir títulos de dívida de longo prazo precisarão, com o tempo, enfrentar os custos maiores de financiamento.

Preços dos imóveis cairão à medida que reagem às hipotecas mais caras Foto: Charlie Riedel/AP Photo
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Os preços dos imóveis cairão, pelo menos em termos ajustados pela inflação, à medida que reagem às hipotecas mais caras. E os bancos detentores de títulos de longo prazo – que foram amparados por empréstimos de curto prazo, inclusive do Fed – terão de levantar capital ou se unir para tapar os buracos em seus balanços devido às taxas mais elevadas.

A generosidade fiscal contribuiu para esse período de energia extra na economia mundial. Isso parece insustentável num mundo com taxas mais altas por mais tempo. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e o Japão provavelmente devem apresentar déficits por volta de 5% do PIB em 2023. Nos 12 meses até setembro, o déficit dos EUA foi de espantosos US$ 2 trilhões; ou 7,5% do PIB, depois dos ajustes de distorções contábeis – quase o dobro do esperado em meados de 2022.

Num momento em que o desemprego está baixo, esse tipo de empréstimo é surpreendentemente imprudente. No geral, a dívida pública no mundo rico hoje está maior, em porcentagem de PIB, do que em qualquer outra época desde as Guerras Napoleônicas.

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Quando as taxas de juros estavam baixas, mesmo as dívidas gigantescas eram administráveis. Agora que elas subiram, os juros estão estourando os orçamentos. Portanto, o aumento prolongado das taxas de juros ameaça colocar os governos contra os bancos centrais combatendo a inflação. Janet Yellen já se sentiu obrigada a defender que os títulos do Tesouro americano não têm prêmio de risco, e Jerome Powell, presidente do Fed, insistiu que o banco nunca reduziria as taxas e deixaria a inflação disparar para aliviar a pressão sobre o orçamento do governo.

Independentemente do que Powell diga, um período com taxas de juros maiores por mais tempo levaria os investidores a questionar as promessas dos governos, tanto de manter a inflação baixa, como de pagar suas dívidas. As participações do BCE já estão ficando distorcidas em relação à dívida pública italiana, que o banco apoia tacitamente – uma tarefa que se tornou muito mais difícil num mundo com taxas de juros altas.

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Mesmo quando os rendimentos dos títulos do governo japonês foram insignificantes 0,8% no ano passado, 8% do orçamento do Japão foi destinado ao pagamento de juros. Imaginem a pressão se os rendimentos atingirem até mesmo os níveis relativamente baixos da Alemanha. Alguns governos teriam de continuar a apertar os cintos, como consequência. Mas fazer isso talvez provoque problemas na economia.

Essas tensões tornam difícil entender como a economia mundial conseguiria talvez conquistar tudo que os mercados esperam atualmente dela: uma fuga da recessão, inflação baixa, dívidas enormes e taxas de juros altas, tudo ao mesmo tempo. É mais provável que um período prolongado de taxas mais altas a prejudique, provocando uma fragilidade econômica que permita aos bancos centrais reduzir as taxas sem a inflação disparar.

Uma possibilidade mais esperançosa é que o crescimento da produtividade aumente, talvez graças à inteligência artificial generativa. O consequente aumento das rendas e das receitas tornaria as taxas mais elevadas suportáveis. De fato, os números divulgados em 2 de novembro devem mostrar que a produtividade dos EUA cresceu no terceiro trimestre.

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O potencial da IA para desencadear novos ganhos de produtividade pode explicar por que as prolongadas taxas de juros elevadas até agora não desencorajaram os mercados. Não fossem as avaliações crescentes de sete empresas de tecnologia, entre elas a Microsoft e a Nvidia, o índice S&P 500 de ações americanas teria caído este ano.

Mantenha o foco

Em contraponto a essa esperança, porém, está um mundo perseguido por ameaças ao crescimento da produtividade. Donald Trump está prometendo novas tarifas drásticas caso volte à Casa Branca. Os governos estão cada vez mais mudando os mercados com a política industrial.

As despesas públicas estão aumentando em termos de porcentagem da economia conforme as populações envelhecem, a transição para a energia verde começa e os conflitos em todo o mundo exigem mais gastos com defesa. Diante de tudo isso, qualquer um apostando que a economia mundial pode simplesmente seguir em frente assim está se arriscando muito.

Mesmo com as guerras se intensificando e o clima geopolítico ficando mais sombrio, a economia mundial tem sido uma fonte incontrolável de alegria. Há apenas um ano, todos concordavam que as taxas de juros elevadas desencadeariam em pouco tempo uma recessão. Agora, até os otimistas estão confusos. A economia dos Estados Unidos acelerou no terceiro trimestre, crescendo num ritmo impressionante de 4,9% ao ano.

Em todo o mundo, a inflação está caindo, o desemprego continua em grande parte baixo e os maiores bancos centrais talvez tenham interrompido seu aperto monetário. A China, assolada por uma crise imobiliária, provavelmente se beneficiará de um estímulo discreto. No entanto, infelizmente, essa alegria não deve durar muito. Os alicerces do crescimento atual parecem instáveis. Observe com atenção: não faltam ameaças.

A economia forte tem encorajado apostas de que as taxas de juros, embora não estejam mais subindo depressa, não vão cair muito. Na semana passada, o Banco Central Europeu e o Federal Reserve, o BC americano, mantiveram as taxas estáveis. Como consequência, os rendimentos dos investimentos de longo prazo aumentaram consideravelmente.

O governo dos EUA agora deve pagar 5% para pegar empréstimos por 30 anos, ante apenas 1,2% no ápice da recessão da pandemia. Até mesmo as economias conhecidas por suas taxas de juros baixas têm observado aumentos significativos. Há pouco tempo, os custos para empréstimos na Alemanha eram negativos, agora os rendimentos dos títulos de dez anos do país estão em aproximadamente 3%. O Banco do Japão praticamente abriu mão de sua promessa de fixar os custos de empréstimos de dez anos em 1%.

Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião da semana passada Foto: Samuel Corum/Bloomberg

Algumas pessoas, entre elas Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, dizem que essas taxas de juros maiores são algo positivo – um reflexo de uma economia mundial bastante saudável. Na verdade, elas representam uma ameaça. Como as taxas de juros devem permanecer mais altas, as políticas econômicas atuais falharão, assim como o crescimento que fomentaram.

Para entender por que as condições favoráveis de hoje não podem continuar, considere um motivo para a economia americana, em particular, estar se saindo melhor que o esperado. Seus consumidores estão gastando o dinheiro que acumularam durante a pandemia com benefícios e ao permanecerem em casa. Acreditava-se que esse dinheiro extra já tinha acabado. Mas dados recentes sugerem que as famílias ainda têm US$ 1 trilhão, o que explica por que estão conseguindo se safar economizando menos de suas rendas do que em qualquer momento da década de 2010.

Quando essas reservas restantes diminuírem, as taxas de juros altas começarão a incomodar, obrigando os consumidores a gastar menos. E, como já explicamos, começarão a surgir problemas em toda a economia mundial se as taxas continuarem altas por mais tempo. Na Europa e nos EUA, as falências das empresas já estão aumentando; até aquelas que conseguiram taxas de juros baixas ao emitir títulos de dívida de longo prazo precisarão, com o tempo, enfrentar os custos maiores de financiamento.

Preços dos imóveis cairão à medida que reagem às hipotecas mais caras Foto: Charlie Riedel/AP Photo

Os preços dos imóveis cairão, pelo menos em termos ajustados pela inflação, à medida que reagem às hipotecas mais caras. E os bancos detentores de títulos de longo prazo – que foram amparados por empréstimos de curto prazo, inclusive do Fed – terão de levantar capital ou se unir para tapar os buracos em seus balanços devido às taxas mais elevadas.

A generosidade fiscal contribuiu para esse período de energia extra na economia mundial. Isso parece insustentável num mundo com taxas mais altas por mais tempo. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e o Japão provavelmente devem apresentar déficits por volta de 5% do PIB em 2023. Nos 12 meses até setembro, o déficit dos EUA foi de espantosos US$ 2 trilhões; ou 7,5% do PIB, depois dos ajustes de distorções contábeis – quase o dobro do esperado em meados de 2022.

Num momento em que o desemprego está baixo, esse tipo de empréstimo é surpreendentemente imprudente. No geral, a dívida pública no mundo rico hoje está maior, em porcentagem de PIB, do que em qualquer outra época desde as Guerras Napoleônicas.

Quando as taxas de juros estavam baixas, mesmo as dívidas gigantescas eram administráveis. Agora que elas subiram, os juros estão estourando os orçamentos. Portanto, o aumento prolongado das taxas de juros ameaça colocar os governos contra os bancos centrais combatendo a inflação. Janet Yellen já se sentiu obrigada a defender que os títulos do Tesouro americano não têm prêmio de risco, e Jerome Powell, presidente do Fed, insistiu que o banco nunca reduziria as taxas e deixaria a inflação disparar para aliviar a pressão sobre o orçamento do governo.

Independentemente do que Powell diga, um período com taxas de juros maiores por mais tempo levaria os investidores a questionar as promessas dos governos, tanto de manter a inflação baixa, como de pagar suas dívidas. As participações do BCE já estão ficando distorcidas em relação à dívida pública italiana, que o banco apoia tacitamente – uma tarefa que se tornou muito mais difícil num mundo com taxas de juros altas.

Mesmo quando os rendimentos dos títulos do governo japonês foram insignificantes 0,8% no ano passado, 8% do orçamento do Japão foi destinado ao pagamento de juros. Imaginem a pressão se os rendimentos atingirem até mesmo os níveis relativamente baixos da Alemanha. Alguns governos teriam de continuar a apertar os cintos, como consequência. Mas fazer isso talvez provoque problemas na economia.

Essas tensões tornam difícil entender como a economia mundial conseguiria talvez conquistar tudo que os mercados esperam atualmente dela: uma fuga da recessão, inflação baixa, dívidas enormes e taxas de juros altas, tudo ao mesmo tempo. É mais provável que um período prolongado de taxas mais altas a prejudique, provocando uma fragilidade econômica que permita aos bancos centrais reduzir as taxas sem a inflação disparar.

Uma possibilidade mais esperançosa é que o crescimento da produtividade aumente, talvez graças à inteligência artificial generativa. O consequente aumento das rendas e das receitas tornaria as taxas mais elevadas suportáveis. De fato, os números divulgados em 2 de novembro devem mostrar que a produtividade dos EUA cresceu no terceiro trimestre.

O potencial da IA para desencadear novos ganhos de produtividade pode explicar por que as prolongadas taxas de juros elevadas até agora não desencorajaram os mercados. Não fossem as avaliações crescentes de sete empresas de tecnologia, entre elas a Microsoft e a Nvidia, o índice S&P 500 de ações americanas teria caído este ano.

Mantenha o foco

Em contraponto a essa esperança, porém, está um mundo perseguido por ameaças ao crescimento da produtividade. Donald Trump está prometendo novas tarifas drásticas caso volte à Casa Branca. Os governos estão cada vez mais mudando os mercados com a política industrial.

As despesas públicas estão aumentando em termos de porcentagem da economia conforme as populações envelhecem, a transição para a energia verde começa e os conflitos em todo o mundo exigem mais gastos com defesa. Diante de tudo isso, qualquer um apostando que a economia mundial pode simplesmente seguir em frente assim está se arriscando muito.

Mesmo com as guerras se intensificando e o clima geopolítico ficando mais sombrio, a economia mundial tem sido uma fonte incontrolável de alegria. Há apenas um ano, todos concordavam que as taxas de juros elevadas desencadeariam em pouco tempo uma recessão. Agora, até os otimistas estão confusos. A economia dos Estados Unidos acelerou no terceiro trimestre, crescendo num ritmo impressionante de 4,9% ao ano.

Em todo o mundo, a inflação está caindo, o desemprego continua em grande parte baixo e os maiores bancos centrais talvez tenham interrompido seu aperto monetário. A China, assolada por uma crise imobiliária, provavelmente se beneficiará de um estímulo discreto. No entanto, infelizmente, essa alegria não deve durar muito. Os alicerces do crescimento atual parecem instáveis. Observe com atenção: não faltam ameaças.

A economia forte tem encorajado apostas de que as taxas de juros, embora não estejam mais subindo depressa, não vão cair muito. Na semana passada, o Banco Central Europeu e o Federal Reserve, o BC americano, mantiveram as taxas estáveis. Como consequência, os rendimentos dos investimentos de longo prazo aumentaram consideravelmente.

O governo dos EUA agora deve pagar 5% para pegar empréstimos por 30 anos, ante apenas 1,2% no ápice da recessão da pandemia. Até mesmo as economias conhecidas por suas taxas de juros baixas têm observado aumentos significativos. Há pouco tempo, os custos para empréstimos na Alemanha eram negativos, agora os rendimentos dos títulos de dez anos do país estão em aproximadamente 3%. O Banco do Japão praticamente abriu mão de sua promessa de fixar os custos de empréstimos de dez anos em 1%.

Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião da semana passada Foto: Samuel Corum/Bloomberg

Algumas pessoas, entre elas Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, dizem que essas taxas de juros maiores são algo positivo – um reflexo de uma economia mundial bastante saudável. Na verdade, elas representam uma ameaça. Como as taxas de juros devem permanecer mais altas, as políticas econômicas atuais falharão, assim como o crescimento que fomentaram.

Para entender por que as condições favoráveis de hoje não podem continuar, considere um motivo para a economia americana, em particular, estar se saindo melhor que o esperado. Seus consumidores estão gastando o dinheiro que acumularam durante a pandemia com benefícios e ao permanecerem em casa. Acreditava-se que esse dinheiro extra já tinha acabado. Mas dados recentes sugerem que as famílias ainda têm US$ 1 trilhão, o que explica por que estão conseguindo se safar economizando menos de suas rendas do que em qualquer momento da década de 2010.

Quando essas reservas restantes diminuírem, as taxas de juros altas começarão a incomodar, obrigando os consumidores a gastar menos. E, como já explicamos, começarão a surgir problemas em toda a economia mundial se as taxas continuarem altas por mais tempo. Na Europa e nos EUA, as falências das empresas já estão aumentando; até aquelas que conseguiram taxas de juros baixas ao emitir títulos de dívida de longo prazo precisarão, com o tempo, enfrentar os custos maiores de financiamento.

Preços dos imóveis cairão à medida que reagem às hipotecas mais caras Foto: Charlie Riedel/AP Photo

Os preços dos imóveis cairão, pelo menos em termos ajustados pela inflação, à medida que reagem às hipotecas mais caras. E os bancos detentores de títulos de longo prazo – que foram amparados por empréstimos de curto prazo, inclusive do Fed – terão de levantar capital ou se unir para tapar os buracos em seus balanços devido às taxas mais elevadas.

A generosidade fiscal contribuiu para esse período de energia extra na economia mundial. Isso parece insustentável num mundo com taxas mais altas por mais tempo. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e o Japão provavelmente devem apresentar déficits por volta de 5% do PIB em 2023. Nos 12 meses até setembro, o déficit dos EUA foi de espantosos US$ 2 trilhões; ou 7,5% do PIB, depois dos ajustes de distorções contábeis – quase o dobro do esperado em meados de 2022.

Num momento em que o desemprego está baixo, esse tipo de empréstimo é surpreendentemente imprudente. No geral, a dívida pública no mundo rico hoje está maior, em porcentagem de PIB, do que em qualquer outra época desde as Guerras Napoleônicas.

Quando as taxas de juros estavam baixas, mesmo as dívidas gigantescas eram administráveis. Agora que elas subiram, os juros estão estourando os orçamentos. Portanto, o aumento prolongado das taxas de juros ameaça colocar os governos contra os bancos centrais combatendo a inflação. Janet Yellen já se sentiu obrigada a defender que os títulos do Tesouro americano não têm prêmio de risco, e Jerome Powell, presidente do Fed, insistiu que o banco nunca reduziria as taxas e deixaria a inflação disparar para aliviar a pressão sobre o orçamento do governo.

Independentemente do que Powell diga, um período com taxas de juros maiores por mais tempo levaria os investidores a questionar as promessas dos governos, tanto de manter a inflação baixa, como de pagar suas dívidas. As participações do BCE já estão ficando distorcidas em relação à dívida pública italiana, que o banco apoia tacitamente – uma tarefa que se tornou muito mais difícil num mundo com taxas de juros altas.

Mesmo quando os rendimentos dos títulos do governo japonês foram insignificantes 0,8% no ano passado, 8% do orçamento do Japão foi destinado ao pagamento de juros. Imaginem a pressão se os rendimentos atingirem até mesmo os níveis relativamente baixos da Alemanha. Alguns governos teriam de continuar a apertar os cintos, como consequência. Mas fazer isso talvez provoque problemas na economia.

Essas tensões tornam difícil entender como a economia mundial conseguiria talvez conquistar tudo que os mercados esperam atualmente dela: uma fuga da recessão, inflação baixa, dívidas enormes e taxas de juros altas, tudo ao mesmo tempo. É mais provável que um período prolongado de taxas mais altas a prejudique, provocando uma fragilidade econômica que permita aos bancos centrais reduzir as taxas sem a inflação disparar.

Uma possibilidade mais esperançosa é que o crescimento da produtividade aumente, talvez graças à inteligência artificial generativa. O consequente aumento das rendas e das receitas tornaria as taxas mais elevadas suportáveis. De fato, os números divulgados em 2 de novembro devem mostrar que a produtividade dos EUA cresceu no terceiro trimestre.

O potencial da IA para desencadear novos ganhos de produtividade pode explicar por que as prolongadas taxas de juros elevadas até agora não desencorajaram os mercados. Não fossem as avaliações crescentes de sete empresas de tecnologia, entre elas a Microsoft e a Nvidia, o índice S&P 500 de ações americanas teria caído este ano.

Mantenha o foco

Em contraponto a essa esperança, porém, está um mundo perseguido por ameaças ao crescimento da produtividade. Donald Trump está prometendo novas tarifas drásticas caso volte à Casa Branca. Os governos estão cada vez mais mudando os mercados com a política industrial.

As despesas públicas estão aumentando em termos de porcentagem da economia conforme as populações envelhecem, a transição para a energia verde começa e os conflitos em todo o mundo exigem mais gastos com defesa. Diante de tudo isso, qualquer um apostando que a economia mundial pode simplesmente seguir em frente assim está se arriscando muito.

Mesmo com as guerras se intensificando e o clima geopolítico ficando mais sombrio, a economia mundial tem sido uma fonte incontrolável de alegria. Há apenas um ano, todos concordavam que as taxas de juros elevadas desencadeariam em pouco tempo uma recessão. Agora, até os otimistas estão confusos. A economia dos Estados Unidos acelerou no terceiro trimestre, crescendo num ritmo impressionante de 4,9% ao ano.

Em todo o mundo, a inflação está caindo, o desemprego continua em grande parte baixo e os maiores bancos centrais talvez tenham interrompido seu aperto monetário. A China, assolada por uma crise imobiliária, provavelmente se beneficiará de um estímulo discreto. No entanto, infelizmente, essa alegria não deve durar muito. Os alicerces do crescimento atual parecem instáveis. Observe com atenção: não faltam ameaças.

A economia forte tem encorajado apostas de que as taxas de juros, embora não estejam mais subindo depressa, não vão cair muito. Na semana passada, o Banco Central Europeu e o Federal Reserve, o BC americano, mantiveram as taxas estáveis. Como consequência, os rendimentos dos investimentos de longo prazo aumentaram consideravelmente.

O governo dos EUA agora deve pagar 5% para pegar empréstimos por 30 anos, ante apenas 1,2% no ápice da recessão da pandemia. Até mesmo as economias conhecidas por suas taxas de juros baixas têm observado aumentos significativos. Há pouco tempo, os custos para empréstimos na Alemanha eram negativos, agora os rendimentos dos títulos de dez anos do país estão em aproximadamente 3%. O Banco do Japão praticamente abriu mão de sua promessa de fixar os custos de empréstimos de dez anos em 1%.

Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião da semana passada Foto: Samuel Corum/Bloomberg

Algumas pessoas, entre elas Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, dizem que essas taxas de juros maiores são algo positivo – um reflexo de uma economia mundial bastante saudável. Na verdade, elas representam uma ameaça. Como as taxas de juros devem permanecer mais altas, as políticas econômicas atuais falharão, assim como o crescimento que fomentaram.

Para entender por que as condições favoráveis de hoje não podem continuar, considere um motivo para a economia americana, em particular, estar se saindo melhor que o esperado. Seus consumidores estão gastando o dinheiro que acumularam durante a pandemia com benefícios e ao permanecerem em casa. Acreditava-se que esse dinheiro extra já tinha acabado. Mas dados recentes sugerem que as famílias ainda têm US$ 1 trilhão, o que explica por que estão conseguindo se safar economizando menos de suas rendas do que em qualquer momento da década de 2010.

Quando essas reservas restantes diminuírem, as taxas de juros altas começarão a incomodar, obrigando os consumidores a gastar menos. E, como já explicamos, começarão a surgir problemas em toda a economia mundial se as taxas continuarem altas por mais tempo. Na Europa e nos EUA, as falências das empresas já estão aumentando; até aquelas que conseguiram taxas de juros baixas ao emitir títulos de dívida de longo prazo precisarão, com o tempo, enfrentar os custos maiores de financiamento.

Preços dos imóveis cairão à medida que reagem às hipotecas mais caras Foto: Charlie Riedel/AP Photo

Os preços dos imóveis cairão, pelo menos em termos ajustados pela inflação, à medida que reagem às hipotecas mais caras. E os bancos detentores de títulos de longo prazo – que foram amparados por empréstimos de curto prazo, inclusive do Fed – terão de levantar capital ou se unir para tapar os buracos em seus balanços devido às taxas mais elevadas.

A generosidade fiscal contribuiu para esse período de energia extra na economia mundial. Isso parece insustentável num mundo com taxas mais altas por mais tempo. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e o Japão provavelmente devem apresentar déficits por volta de 5% do PIB em 2023. Nos 12 meses até setembro, o déficit dos EUA foi de espantosos US$ 2 trilhões; ou 7,5% do PIB, depois dos ajustes de distorções contábeis – quase o dobro do esperado em meados de 2022.

Num momento em que o desemprego está baixo, esse tipo de empréstimo é surpreendentemente imprudente. No geral, a dívida pública no mundo rico hoje está maior, em porcentagem de PIB, do que em qualquer outra época desde as Guerras Napoleônicas.

Quando as taxas de juros estavam baixas, mesmo as dívidas gigantescas eram administráveis. Agora que elas subiram, os juros estão estourando os orçamentos. Portanto, o aumento prolongado das taxas de juros ameaça colocar os governos contra os bancos centrais combatendo a inflação. Janet Yellen já se sentiu obrigada a defender que os títulos do Tesouro americano não têm prêmio de risco, e Jerome Powell, presidente do Fed, insistiu que o banco nunca reduziria as taxas e deixaria a inflação disparar para aliviar a pressão sobre o orçamento do governo.

Independentemente do que Powell diga, um período com taxas de juros maiores por mais tempo levaria os investidores a questionar as promessas dos governos, tanto de manter a inflação baixa, como de pagar suas dívidas. As participações do BCE já estão ficando distorcidas em relação à dívida pública italiana, que o banco apoia tacitamente – uma tarefa que se tornou muito mais difícil num mundo com taxas de juros altas.

Mesmo quando os rendimentos dos títulos do governo japonês foram insignificantes 0,8% no ano passado, 8% do orçamento do Japão foi destinado ao pagamento de juros. Imaginem a pressão se os rendimentos atingirem até mesmo os níveis relativamente baixos da Alemanha. Alguns governos teriam de continuar a apertar os cintos, como consequência. Mas fazer isso talvez provoque problemas na economia.

Essas tensões tornam difícil entender como a economia mundial conseguiria talvez conquistar tudo que os mercados esperam atualmente dela: uma fuga da recessão, inflação baixa, dívidas enormes e taxas de juros altas, tudo ao mesmo tempo. É mais provável que um período prolongado de taxas mais altas a prejudique, provocando uma fragilidade econômica que permita aos bancos centrais reduzir as taxas sem a inflação disparar.

Uma possibilidade mais esperançosa é que o crescimento da produtividade aumente, talvez graças à inteligência artificial generativa. O consequente aumento das rendas e das receitas tornaria as taxas mais elevadas suportáveis. De fato, os números divulgados em 2 de novembro devem mostrar que a produtividade dos EUA cresceu no terceiro trimestre.

O potencial da IA para desencadear novos ganhos de produtividade pode explicar por que as prolongadas taxas de juros elevadas até agora não desencorajaram os mercados. Não fossem as avaliações crescentes de sete empresas de tecnologia, entre elas a Microsoft e a Nvidia, o índice S&P 500 de ações americanas teria caído este ano.

Mantenha o foco

Em contraponto a essa esperança, porém, está um mundo perseguido por ameaças ao crescimento da produtividade. Donald Trump está prometendo novas tarifas drásticas caso volte à Casa Branca. Os governos estão cada vez mais mudando os mercados com a política industrial.

As despesas públicas estão aumentando em termos de porcentagem da economia conforme as populações envelhecem, a transição para a energia verde começa e os conflitos em todo o mundo exigem mais gastos com defesa. Diante de tudo isso, qualquer um apostando que a economia mundial pode simplesmente seguir em frente assim está se arriscando muito.

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