Ao assumir oficialmente a presidência da XP nesta quarta-feira, 12, Thiago Maffra personifica a maior virada estratégica da companhia dos últimos 20 anos, com a plataforma de investimento transformando-se em empresa de tecnologia. Será seu mais importante papel no comando da XP - transformar a XP na maior fintech do mundo.
Há sete anos na XP, Maffra mergulhou nos últimos três, como diretor de tecnologia, no papel de construir a transformação, na qual as linhas de negócios e serviços passaram a ser pensadas e executadas a partir de sua área. A XP cresceu tanto em tecnologia que, desde o ano passado, metade de todos seus funcionários é da área.
Desde seu nascimento, a XP teve a cara do empreendedor jovem e obstinado Guilherme Benchimol, causador de uma revolução no cenário de investimento brasileiro. "A tecnologia antes atendia as áreas de negócios. Quando o diretor de tecnologia é colocado para conduzir o negócio, invertemos essa lógica, para que a tecnologia atenda o cliente", disse Benchimol na terça-feira, 11, na entrevista de apresentação de Maffra. "Nesse sentido, Maffra está mais bem preparado para os próximos 20 anos de transformação tecnológica da empresa."
Se a tecnologia será o fio condutor da estratégia, o coração dos negócios ainda estará nas mãos de Benchimol, como presidente do conselho de administração. Bem como na de outros executivos de peso à frente de verticais para onde a empresa dará suas próximas braçadas. Entre eles, o ex-presidente do JPMorgan José Berenguer, que está dando vida ao negócio de atacado, um dos canais por meio dos quais a XP pretende avançar sobre a receita dos bancos.
Mas é Maffra, de 37 anos, que vai comandar a maior plataforma de investimento do Brasil, com mais de R$ 700 bilhões em ativos sob custódia e listada na Bolsa norte-americana Nasdaq há pouco mais de um ano. Em sua primeira conversa com a imprensa, ele reiterou vários mantras repetidos pelo setor. "Como fizemos em investimento nos últimos 20 anos, queremos ser disruptivos nos serviços bancários", disse.
Ele falou dos R$ 800 bilhões em receitas que as instituições financeiras conseguiram com seus serviços no ano passado e confirmou o objetivo de ampliar a participação da XP nela. "Temos 1% (dessas receitas) e há R$ 700 bilhões nos quais começamos a colocar o pé. Não existe uma timeline para avançar, mas nossa ideia é conquistar (parte desses recursos) no médio prazo."
Segundo ele, a XP deve lançar, nos próximos meses, o banco digital completo para pessoas físicas e, em um futuro não muito distante, para pessoas jurídicas. Nas duas vertentes, a XP pretende usar ferramentas como o Pix e o open banking para viabilizar a plataforma bancária, dentro da cultura "asset light", o que quer dizer sem utilizar o balanço do banco em empréstimos.
De acordo com Maffra, a XP tem acesso ao mercado, por meio do qual deve captar para conceder crédito.
O modelo segue o de instituições no exterior, nas quais a XP tem espelhado grande parte de seus negócios, sobretudo após o IPO (oferta inicial de ações, da sigla em inglês), que a colocou em contato próximo a grandes investidores e com os quais várias experiências são trocadas. Com isso, a XP quer se distanciar do rótulo de banco tradicional e promete oferecer produtos e serviços mais baratos, para mudar a configuração do serviço bancário no Brasil.
A tarefa não será fácil. Os grandes bancos têm se posicionado na defesa dos novos entrantes em várias frentes e atuado para não perder terreno, com o lançamento de plataformas de investimento e bancos digitais em empresas apartadas, para se movimentar mais rápido. A XP enfrenta a concorrência também de outras plataformas, que têm aos poucos ganho os holofotes.
Não é surpresa, portanto, que recentemente tenham surgido informações de que a XP se posicionou como interessada na subsidiária do Credit Suisse no Brasil, caso a matriz decida vender a unidade como parte de uma estratégia para repor prejuízos tomados lá fora. Mas, quando a isso, Benchimol disse: "Não posso me manifestar".